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123a – Tema: Páscoa, Família e Espiritismo - nosso papo e textos

Tema: Páscoa, Família e Espiritismo
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> 1. Como você comemora a Páscoa?
R - Como todo dia, procuro viver de acordo com as orientações Doutrinárias.
> 2. Na sua opinião, como nós, espíritas, deveríamos comemorar essa data?
R - Renovando os votos de querermos realizar a reforma intima, pois umdia CONSEGUIREMOS, Jesus vive.
> 3. Quando ensinamos às crianças o verdadeiro significado da Páscoa, devemos ou não parar de lhes dar os famosos Ovos de Páscoa?
R - Com certeza, e devemos aproveitar para o trabalho de conscientização incentivando permanentemente para o CONHECER JESUS.
> 4. O que vc pensa sobre a Malhação de Judas?
R - Atividade de mentes ociosas, nada sério.

Muita Paz
Ataide

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Eis, Gente Linda do coração, tudo joiinha com vcs? 😉
Tô atrasadinha pra postar a conclusao do nosso tema Divórcio e família, mas enviarei atrasadinho na segunda-feira, e contando com a compreensão de vcs, tá bom? :-))
Quanto ao nosso tema dessa semana : Páscoa, Família e Espiritismo, A Simone Sampaio enviou um texto pra sala Evangelize, onde é nosso tema tb por lá até amanhã, que achei muito legal e estou colocando aqui pra nossa reflexao tá legal? (Quem recebeu por lá perdoe-me a repetiçao tá bao? ;-))
Noite estreladinha de felicidade procês
beijocas mineiras com carinho no coração
Visão espírita da páscoa

Disponível em: http://www.abrade.com.br/pascoa.html

Eis-nos, uma vez mais, às vésperas de mais uma Páscoa. Nosso pensamento e nossa emoção, ambos cristãos, manifestam nossa sensibilidade psíquica. Deixando de lado o apelo comercial da data, e o caráter de festividade familiar, a exemplo do Natal, nossa atenção e consciência espíritas requerem uma explicação plausível do significado da data e de sua representação perante o contexto filosófico-científico-moral da Doutrina Espírita.

Deve-se comemorar a Páscoa? Que tipo de celebração, evento ou homenagem é permitida nas instituições espíritas? Como o Espiritismo visualiza o acontecimento da paixão, crucificação, morte e ressurreição de Jesus?

Em linhas gerais, as instituições espíritas não celebram a Páscoa, nem programam situações específicas para _marcar_ a data, como fazem as demais religiões ou filosofias _cristãs_. Todavia, o sentimento de religiosidade que é particular de cada ser-Espírito, é, pela Doutrina Espírita, respeitado, de modo que qualquer manifestação pessoal ou, mesmo, coletiva, acerca da Páscoa não é proibida, nem desaconselhada.

O certo é que a figura de Jesus assume posição privilegiada no contexto espírita, dizendo-se, inclusive, que a moral de Jesus serve de base para a moral do Espiritismo. Assim, como as pessoas, via de regra, são lembradas, em nossa cultura, pelo que fizeram e reverenciadas nas datas principais de sua existência corpórea (nascimento e morte), é absolutamente comum e verdadeiro lembrarmo-nos das pessoas que nos são caras ou importantes nestas datas. Não há, francamente, nenhum mal nisso.

Mas, como o Espiritismo não tem dogmas, sacramentos, rituais ou liturgias, a forma de encarar a Páscoa (ou a Natividade) de Jesus, assume uma conotação bastante peculiar. Antes de mencionarmos a significação espírita da Páscoa, faz-se necessário buscar, no tempo, na História da Humanidade, as referências ao acontecimento.

A Páscoa, primeiramente, não é, de maneira inicial, relacionada ao martírio e sacrifício de Jesus. Veja-se, por exemplo, no Evangelho de Lucas (cap. 22, versículos 15 e 16), a menção, do próprio Cristo, ao evento: _Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes da minha paixão. Porque vos declaro que não tornarei a comer, até que ela se cumpra no Reino de Deus._ Evidente, aí, a referência de que a Páscoa já era uma _comemoração_, na época de Jesus, uma festa cultural e, portanto, o que fez a Igreja foi _aproveitar-se_ do sentido da festa, para adaptá-la, dando-lhe um novo significado, associando-o à _imolação_ de Jesus, no pós-julgamento, na execução da sentença de Pilatos.

Historicamente, a Páscoa é a junção de duas festividades muito antigas, comuns entre os povos primitivos, e alimentada pelos judeus, à época de Jesus. Fala-se do _pesah_, uma dança cultural, representando a vida dos povos nômades, numa fase em que a vinculação à terra (com a noção de propriedade) ainda não era flagrante. Também estava associada à _festa dos ázimos_, uma homenagem que os agricultores sedentários faziam às divindades, em razão do início da época da colheita do trigo, agradecendo aos Céus, pela fartura da produção agrícola, da qual saciavam a fome de suas famílias, e propiciavam as trocas nos mercados da época. Ambas eram comemoradas no mês de abril (nisan) e, a partir do evento bíblico denominado _êxodo_ (fuga do povo hebreu do Egito), em torno de 1441 a.C., passaram a ser reverenciadas juntas. É esta a Páscoa que o Cristo desejou comemorar junto dos seus mais caros, por ocasião da última ceia.

Logo após a celebração, foram todos para o Getsêmani, onde os discípulos invigilantes adormeceram, tendo sido o palco do beijo da traição e da prisão do Nazareno.

Mas há outros elementos _evangélicos_ que marcam a Páscoa. Isto porque as vinculações religiosas apontam para a quinta e a sexta-feira santas, o sábado de aleluia e o domingo de páscoa. Os primeiros relacionam-se ao _martírio_, ao sofrimento de Jesus _ tão bem retratado neste último filme hollyodiano (A Paixão de Cristo, segundo Mel Gibson) _, e os últimos, à ressurreição e a ascensão de Jesus.

No que concerne à ressurreição, podemos dizer que a interpretação tradicional aponta para a possibilidade da mantença da estrutura corporal do Cristo, no post-mortem, situação totalmente rechaçada pela ciência, em virtude do apodrecimento e deterioração do envoltório físico. As Igrejas cristãs insistem na hipótese do Cristo ter _subido aos Céus_ em corpo e alma, e fará o mesmo em relação a todos os _eleitos_ no chamado _juízo final_. Isto é, pessoas que morreram, pelos séculos afora, cujos corpos já foram decompostos e reaproveitados pela terra, ressurgirão, perfeitos, reconstituindo as estruturas orgânicas, do dia do julgamento, onde o Cristo, separá justos e ímpios.

A lógica e o bom-senso espíritas abominam tal teoria, pela impossibilidade física e pela injustiça moral. Afinal, com a lei dos renascimentos, estabelece-se um critério mais justo para aferir a _competência_ ou a _qualificação_ de todos os Espíritos. Com _tantas oportunidades quanto sejam necessárias_, no _nascer de novo_, é possível a todos progredirem.

Mas, como explicar, então as _aparições_ de Jesus, nos quarenta dias póstumos, mencionadas pelos religiosos na alusão à Páscoa?

A fenomenologia espírita (mediúnica) aponta para as manifestações psíquicas descritas como mediunidades. Em algumas ocasiões, como a conversa com Maria de Magdala, que havia ido até o sepulcro para depositar algumas flores e orar, perguntando a Jesus _ como se fosse o jardineiro _ após ver a lápide removida, _para onde levaram o corpo do Raboni_, podemos estar diante da _materialização_, isto é, a utilização de fluido ectoplásmico _ de seres encarnados _ para possibilitar que o Espírito seja visto (por todos). Igual circunstância se dá, também, no colóquio de Tomé com os demais discípulos, que já haviam _visto_ Jesus, de que ele só acreditaria, se _colocasse as mãos nas chagas do Cristo_. E isto, em verdade, pelos relatos bíblicos, acontece. Noutras situações, estamos diante de uma outra manifestação psíquica conhecida, a mediunidade de vidência, quando, pelo uso de faculdades mediúnicas, alguém pode ver os Espíritos.

A Páscoa, em verdade, pela interpretação das religiões e seitas tradicionais, acha-se envolta num preocupante e negativo contexto de culpa. Afinal, acredita-se que Jesus teria padecido em razão dos _nossos_ pecados, numa alusão descabida de que todo o sofrimento de Jesus teria sido realizado para _nos salvar_, dos nossos próprios erros, ou dos erros cometidos por nossos ancestrais, em especial, os _bíblicos_ Adão e Eva, no Paraíso. A presença do _cordeiro imolado_, que cumpre as profecias do Antigo Testamento, quanto à perseguição e violência contra o _filho de Deus_, está flagrantemente aposta em todas as igrejas, nos crucifixos e nos quadros que relatam _ em cores vivas _ as fases da via sacra.

Esta tradição judaico-cristã da _culpa_ é a grande diferença entre a Páscoa tradicional e a Páscoa espírita, se é que esta última existe. Em verdade, nós espíritas devemos reconhecer a data da Páscoa como a grande _ e última lição _ de Jesus, que vence as iniqüidades, que retorna triunfante, que prossegue sua cátedra pedagógica, para asseverar que _permaneceria eternamente conosco_, na direção bussolar de nossos passos, doravante.

Nestes dias de festas materiais e/ou lembranças do sofrimento do Rabi, possamos nós encarar a Páscoa como o momento de transformação, a vera evocação de liberdade, pois, uma vez despojado do envoltório corporal, pôde Jesus retornar ao Plano Espiritual para, de lá, continuar _coordenando_ o processo depurativo de nosso orbe. Longe da remissão da celebração de uma festa pastoral ou agrícola, ou da libertação de um povo oprimido, ou da ressurreição de Jesus, possa ela ser encarada por nós, espíritas, como a vitória real da vida sobre a morte, pela certeza da imortalidade e da reencarnação, porque a vida, em essência, só pode ser conceituada como o amor, calcado nos grandes exemplos da própria existência de Jesus, de amor ao próximo e de valorização da própria vida.

Nesta Páscoa, assim, quando estiveres junto aos teus mais caros, lembra-te de reverenciar os belos exemplos de Jesus, que o imortalizam e que nos guiam para, um dia, também estarmos na condição experimentada por ele, qual seja a de _sermos deuses_, _fazendo brilhar a nossa luz_.

Comemore, então, meu amigo, uma _outra_ Páscoa. A sua Páscoa, a da sua transformação, rumo a uma vida plena.

- Marcelo Henrique (SC)
E-mail: cellosc@bol.com.br

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Bom dia, queridos amigos da sala. Boa semana a todos e que Jesus lhes abençoe. Seguem, abaixo, minhas considerações.
Sheila - MG

1. Como você comemora a Páscoa? Para mim é um dia normal como os outros. Faço meu trabalho em casa (pois é feriado) e minhas atividades na casa espírita. Para mim não há diferença alguma.

2. Na sua opinião, como nós, espíritas, deveríamos comemorar essa data? Não incentivando a compra de ovinhos de chocolate, porque a páscoa não é isso. Deveríamos mostrar a todos que estão conosco que é mais um dia em nossas vidas, como todos os outros, que devemos nos lembrar do Cristo e agradecer por um dia ele ter estado entre nós.

3. Quando ensinamos às crianças o verdadeiro significado da Páscoa, devemos ou não parar de lhes dar os famosos Ovos de Páscoa? Eu acho que não há nenhum problema em dar ovos de páscoa. O que é preciso é ensinar aos filhos e demais que a páscoa não e distribuição de ovos de chocolate e sim a comemoração da grande verdade - imortalidade do espírito, que foi o que Jesus quis nos ensinar.

4. O que vc pensa sobre a Malhação de Judas? Uma infantilidade dos espíritos que ainda fazem isso. Judas a muito tempo já resgatou esta dívida com sua consciência e hoje é um espírito de altissimo escol. Nós devemos parar para pensar como estamos atrasados na nossa caminhada evolutiva e fazermos algo para nos ajudar e ajudar os companheiros em humanidade terrena evoluir.
Sheila
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Uma boa semana a todos os colegas! Ai vão minhas respostas! Abraços! Paulo Afonso


1. Como você comemora a Páscoa?
Para mim não há diferença, considero um domingo melhor. Como já fui católico, lembro-me que para eles é a data máxima, até mais que o Natal, pois é lembrada a ressureição de Cristo, como ensina a doutrina católica, eles creem que todos nós, no final dos tempos vamos ressucitar. Com todo o carinho que temos com nossos irmãos desta crença, por nossa vez acreditamos na reencarnação como oportunidade de aprendermos e evoluirmos!

2. Na sua opinião, como nós, espíritas, deveríamos comemorar essa data?
Lembrando do nosso mestre Jesus, que veio nos ensinar a mensagem do Amor, mas a humanidade ainda não estava preparada para absorver seus ensinamentos e ele acabou morrendo de forma cruel, mas sua mensagem continua a ecoar pelo mundo, e nós seus seguidores temos que levar seus ensinamentos adiante, principalmente pelo nosso exemplo



3. Quando ensinamos às crianças o verdadeiro significado da Páscoa, devemos ou não parar de lhes dar os famosos Ovos de Páscoa?

Creio que sim, até porque podemos explorar seu lado lúdico, usando-o para falar da páscoa, porém sem exageros, combiando com os tios e avós para que a criança não receba de forma exagerada, perdendo assim seu sentido.

4. O que vc pensa sobre a Malhação de Judas?

É interessante como nós às vezes temos necessidade de escolher pessoas para projetar nossas mazelas, às vezes um politico, um estadista, uma nação, para ser nossos judas para malhar, ao passo que devemos como o mestre disse, olhar primeiro a trave que está em nosso olho...
Quanto à malhação de judas, penso que dissemina em nossas crianças e jovens a idéia da violencia da vingança ao invés do perdão à esta figura de Judas que representa aspectos sombrios da própria humanidade.

Paulo Afonso
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Boa Noite Pessoal. Abaixo minha participação. Boa semana para todos. Vanda.

1. Como você comemora a Páscoa?
R: Antes de ter minha filha, apenas seguia a tradição da minha família, que é católica, com a troca de ovos de chocolate. Eu, particularmente, achava confuso o significado da Páscoa na tradição católica, até conhecer o espiritismo, quando teve lógica para mim, a questão da "ressurreição" de Jesus. Assim como outras datas comemorativas de ordem religiosa, tornaram-se comerciais e poucas são as pessoas que se lembram de ao menos fazer uma prece, se ligar ao Alto e pensar nos ensinamentos de Jesus nesta oportunidade. É isto que quero ensinar para minha filha!

2. Na sua opinião, como nós, espíritas, deveríamos comemorar essa data?
R: Como mais uma oportunidade de reflexão sobre os ensinamentos de Jesus; como mais uma oportunidade de ensinar aos nossos filhos; aos nossos "próximos"; aos nossos familiares e amigos, enfim, à tantos quantos tivermos a oportunidade, sobre a mais bela lição e demonstração de Jesus sobre o amor universal e o perdão.

3. Quando ensinamos às crianças o verdadeiro significado da Páscoa, devemos ou não parar de lhes dar os famosos Ovos de Páscoa?
R: Embora seja um ritual que mal há na troca de ovos de páscoa. Assim como não vamos parar de trocar presentes no Natal. A infância é a fase mais linda de nossas vidas e as fantasias fazem parte dela. Seria crueldade dizer à minha filha que coelhinho da pascoa e papai noel não existem... além de ser uma oportunidade linda para reunirmos nossas famílias e falar de Jesus para nossos pequenos.

4. O que vc pensa sobre a Malhação de Judas?
R: Sempre achei um absurdo, mesmo antes de conhecer o espiritismo. Me incomoda ver as crianças malhando um boneco, que figura um ser humano. É tornar letra morta os ensinamentos de Jesus: perdoai vossos inimigos; Amai vossos inimigos. É uma cena deprimente que remonta aos tempos bárbaros.
Vanda
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Aleluia!!!
(Diálogo com Judas Iscariotes)
JAYME PAULO FILGUEIRA

Era um sábado ao CRISTO consagrado.
Aleluia! Gritavam com ufania.
Buscando ver o foco da alegria,
Aproximei-me calmo e recatado.
E lá estava erguido, faces mudas,
Olhos horrendos, peito comprimido,
Pobre boneco, símile de Judas,
O traidor do CRISTO prometido.
Sob os ápodos, risos e pedradas
Que atingiam seu cenho inexpressivo,
Ia perdendo suas vestes costuradas,
Sobre o seu corpo mole e convulsivo.
Analisando o quadro pesaroso
Que o próprio tempo teima em reeditar,
Senti-me triste, muito desejoso
De com o próprio Judas dialogar.
Leve pancada no ombro então senti;
Virando as costas, lépido e curioso,
Estranho vulto branco percebi
Com ar tranqüilo, a rir, bem venturoso,
"Eu sou o Judas, réprobo e execrado,
Perpetuado nestas encenações,
Por cometer um erro no passado
Já resgatado em mil reencarnações.
Sei que traí o CRISTO, é bem verdade,
E que me expus ao ódio prazenteiro,
Mas ignora a pobre Humanidade,
Não delatei o CRISTO por dinheiro.
Eu via nele a força, a liberdade;
O cetro forte, a hora que surgia;
Marechal poderoso da verdade;
Valente Rei que um trono assumiria!
Via-O à frente de bravos Generais,
A comandar a luta vingativa
Que levaria Roma e os seus chacais
À escravidão merecida e aflitiva!

Demorava demais este momento!
Concluí, então: é só acioná-lO!
Pô-lO, frente a frente ao padecimento
E nas mãos dos seus algozes jogá-lO!
Cruel engano vi ter cometido!!!
Pois, na verdade, não era a missão
De JESUS ser guerreiro destemido,
Massacrar o inimigo sem perdão!
Era outra sua mensagem redentora,
Cheia de paz, de amor e de uniões,
Longe do ódio, da ira destruidora
Que o PRÍNCIPE trazia aos seus irmãos.
E, assim foi, ante o quadro de tortura
Que infligiram ao SANTO REDENTOR
Que mergulhou nas trevas da loucura,
Meu coração remoído de pavor.
DEUS DO CÉU!!! Como agir pra desfazer
Tanta desgraça urdida em minha mente,
Dando às aves de rapina o prazer
De flagelar o corpo de um inocente?!
Aturdido por remorsos, corri
Ao Templo negro da vil delação
E aos pés dos abutres arremeti,
As sujas moedas da minha traição.
Depois, já numa expressão derradeira,
Mordaz idéia ocorreu-me: Fugir!
E nos galhos nodosos da figueira
Fiz minhalma sofrida sucumbir!"
Calou-se. E o alarido dos que gritavam,
Gozando a cena da lapidação,
Turvou-me os olhos que a Judas buscavam.
Não mais o vi, voltou para a amplidão.

Reformador 07/2000

abraços
Márcio
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Judas Iscariotes

(Comunicação mediúnica, recebida em P. Leopoldo, no dia 19 de abril de1935 por Francisco Cândido Xavier, extraído do livro "Notáveis reportagens com Chico Xavier", Editora IDE - Instituto de Difusão Espírita )

Silêncio augusto cai sobre a Cidade Santa. A antiga capital da Judéia parece dormir o seu sono de muitos séculos. Além, descansa Getsêmani, onde o Divino Mestre chorou numa longa noite de agonia; acolá, está o Gólgota sagrado, e em cada coisa silenciosa há um traço da Paixão que as épocas guardarão para sempre. E, em meio de todo o cenário, como um veio cristalino de lágrimas, passa o Cedron silencioso, como se as suas águas mudas, buscando o Mar Morto, quisessem esconder das vistas dos homens os segredos insondáveis do Nazareno.
Foi assim, numa destas noites, que vi Jerusalém, vivendo a sua eternidade de maldições. Os Espíritos podem vibrar em contato direto com a História. Buscando uma relação mais íntima com a cidade dos profetas, procurava observar o passado vivo dos Lugares Santos. Parece que as mãos iconoclastas de Tito por ali passaram como executoras de um decreto irrevogável. Por toda parte ainda persiste um sopro de destruição e desgraça. Legiões de duendes, embuçados nas suas vestimentas antigas, percorrem as ruínas sagradas e, no meio das fatalidades que pesam sobre o império morto dos judeus, não ouvem os homens os gemidos da humanidade invisível.
Nas margens caladas do Cedron, não longe talvez do lugar sagrado onde o Salvador esteve com os discípulos, divisei um homem sentado sobre uma pedra. De sua expressão fisionômica irradiava-se cativante simpatia.
-Sabe quem é este? -murmurou alguém aos meus ouvidos.
-Este é Judas...
-Judas?
-Sim. Os Espíritos apreciam, às vezes, não obstante o progresso que já alcançaram, volver atrás, visitando os sítios onde se engrandeceram ou prevaricaram, sentindo-se repentinamente transportados aos tempos idos.
Então, mergulham o pensamento no passado, regressando ao presente, dispostos ao heroísmo necessário do futuro. Judas costuma vir à Terra, nos dias em que se comemora a Paixão de Nosso Senhor, meditando nos seus atos de antanho...
Aquela figura de homem magnetizava-me. Não estou ainda livre da curiosidade do repórter, mas entre as minhas maldades de pecador e a perfeição de Judas existia um abismo. Meu atrevimento, porém, e a santa humildade do seu coração ligaram-se, para que eu o entrevistasse, procurando ouvi-lo:
-O senhor é de fato o ex., filho de Iscariotes? -perguntei.
-Sim, sou Judas -respondeu aquele homem triste, enxugando uma lágrima nas dobras de sua longa túnica. -Como o Jeremias, das Lamentações, contemplo às vezes esta Jerusalém arruinada meditando no juízo dos homens transitórios...
-É uma verdade tudo quanto reza o Novo Testamento a respeito da sua personalidade, na tragédia da condenação de Jesus?
-Em parte... Os escribas que redigiram os Evangelhos não atenderam às circunstâncias e às tricas políticas que, acima dos meus atos, predominaram na nefanda crucificação. Pôncio Pilatos e o tetrarca da Galiléia, além dos seus interesses individuais na questão, tinham ainda a seu cargo salvaguardar os interesses do Estado romano, empenhado em satisfazer às aspirações religiosas dos anciãos judeus. Sempre a mesma história. O Sinedrim desejava 9 reino do Céu, pelejando por Jeová a ferro e fogo; Roma queria o reino da Terra. Jesus estava entre essas forças antagônicas, com a sua pureza imaculada. Ora, eu era um dos apaixonados pelas idéias socialistas do Mestre; porém, o meu excessivo zelo pela doutrina me fez sacrificar o seu fundador. Acima dos corações, eu via a política, única arma com a qual poderia triunfar e Jesus não obteria nenhuma vitória com o seu desprendimento das riquezas. Com as suas teorias nunca poderia conquistar as rédeas do poder, já que em seu manto de pobre, se sentia possuído de um santo horror à propriedade. Planejei, então, uma revolta surda, como se projeta hoje em dia na Terra a queda de um chefe de Estado. O Mestre passaria a um plano secundário e eu arranjaria colaboradores para uma obra vasta e enérgica, como a que fez mais tarde Constantino Primeiro, o Grande, depois de vencer Maxêncio às portas de Roma, o que, aliás, apenas serviu para desvirtuar o Cristianismo. Entregando,. pois, o Mestre a Caifás, não julguei que as coisas atingissem um fim tão lamentável e, ralado de remorsos, presumi que o suicídio era a única maneira de me redimir aos seus olhos.
-E chegou a salvar-se pelo arrependimento?
-Não. Não consegui. O remorso é uma força preliminar para os trabalhos reparadores. Depois da minha morte trágica, submergi-me em séculos de sofrimento expiatório da minha falta. Sofri horrores nas perseguições infligidas em Roma, aos adeptos da doutrina de Jesus e as minhas provas culminaram em uma fogueira inquisitorial, onde, imitando o Mestre, fui traído, vendido e usurpado. Vítima da felonia e da traição deixei na Terra os derradeiros resquícios do meu crime, na Europa do século XV.
Desde esse dia em que me entreguei por amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que me aviltavam, com resignação e piedade pelos meus verdugos, fechei o ciclo das minhas dolorosas reencarnações na Terra, sentindo na fronte o ósculo de perdão da minha própria consciência...
-E está hoje meditando nos dias que se foram... -pensei com tristeza.
-Sim... estou recapitulando os fatos como se passaram. E agora, irmimado com Ele, que se acha no seu luminoso Reino das Alturas, que ainda não é deste mundo, sinto nestas estradas o sinal de seus passos divinos. Vejo-o ainda na cruz, entregando a Deus o seu Destino... Sinto a clamorosa injustiça dos companheiros que o abandonaram inteiramente e me vem uma recordação carinhosa das poucas mulheres que o ampararam no doloroso transe. Em todas as homenagens a Ele prestadas, eu sou sempre a figura repugnante do traidor. Olho complacentemente os que me acusam sem refletir se podem atirar a primeira pedra... Sobre o meu nome pesa a maldição milenária, como sobre estes sítios cheios de miséria e de infortúnio. Pessoalmente, porém estou saciado de justiça, porque já fui absolvido pela minha consciência, no tribunal dos suplícios redentores.
Quanto ao Divino Mestre -continuou Judas com os seus prantos -, infinita é a sua misericórdia e não só para comigo, porque, se recebi trinta moedas vendendo-o aos seus algozes, há muito séculos Ele está sendo criminosamente vendido no mundo, a grosso e a retalho, por todos os preços, em todos os padrões do ouro amoedado...
-É verdade -concluí -e os novos negociadores do Cristo não se enforcam depois de vendê-lo.
Judas afastou-se, tomando a direção do Santo Sepulcro, e eu, confundido nas sombras invisíveis para o mundo, vi que no céu brilhavam algumas estrelas sobre as nuvens pardacentas e tristes, enquanto o Cedron rolava na sua quietude como um lençol de águas mortas, procurando um mar morto.


Humberto de Campos

(abraços , Márcio)

Conclusão