Do que falta

@ElyMatos

“(…) ela, porém, do que lhe falta, colocou tudo quanto tinha”

Marcos 12:44

Diante do gazofilácio, uma das caixas no Templo de Jerusalém usadas para recolher doações, Jesus observa uma viúva pobre colocar duas moedas. Valendo cerca de um quarto de centavo, a oferta da mulher contrastava com as muitas moedas colocadas pelos mais ricos. Chamando os discípulos, ele explica que ela havia colocado “mais que todos”, pois havia oferecido “do que lhe falta”.

A significativa passagem é comentada por Allan Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo , sob a perspectiva da caridade para com o próximo. Numa outra perspectiva, ela pode ser vista como um exercício da caridade para consigo mesmo. De que forma?

Basta refletirmos um pouco: como é possível oferecer do que nos falta? Se não tenho, como posso oferecer? Se saimos da questão material, percebemos que a observação de Jesus pode ser vista como um incentivo ao desenvolvimento de nossos valores morais. Se me falta, preciso adquirir para oferecer.

Muitas vezes falamos: “não tenho mais paciência para isso!” Mas é justamente nestes momentos que podemos tentar oferecer um pouco de paciência com quem está ao nosso lado.

Repetimos: “não tenho mais tempo para nada!”. Mas tempo é questão de prioridade. Nos períodos em que nos vemos “sem tempo” para os outros, somos convidados a reavaliar nossas prioridades. Geralmente, os verdadeiros ociosos são aqueles que estão muito ocupados consigo mesmos.
Às vezes sentimos: “me falta coragem para falar no grupo de estudos!”. Mas levantar a voz e oferecer sua opinião e ponto de vista para as outras pessoas, arriscando a ser criticado, é um ótimo exercício de combate ao orgulho.

Algumas pessoas dizem: “Não tenho o jeito para lidar com crianças (ou com idosos, ou com doentes)”. Mas não faltam vagas nas atividades da evangelização infantil e das visitas aos abrigos e hospitais, como oportunidades para acharmos o tal “jeito”.

Não se trata de termos “muitas” tarefas, mas do que estamos aprendendo com cada uma delas.

A verdade é que muitas vezes nos acomodamos nas conquistas já realizadas. Estamos no trabalho do bem, mas do bem sem desafios, do bem realizado burocraticamente, do bem que já sabemos fazer. Ou seja, como os ricos da passagem evangélica, oferecemos apenas daquilo que já temos. Porém, o convite do Evangelho é que ofereçamos mais, ainda que sejam apenas duas pequenas moedas.