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095c – Tema:Família e a depressão à luz da Doutrina Espírita - nosso papo 3 COM textos

Desemprego, um dos vilões

Fonte: Globo Repórter

Depois de mais de 20 anos trabalhando como gerente em uma grande loja em Santos, São Paulo, José Ademar Denari viu-se desempregado da noite para o dia.

_A gente sempre pensa que o valor é o dinheiro. Então, para mim, o que valia na minha vida era o dinheiro_, admite ele.

O desemprego foi o estopim para a crise depressiva que durou anos e que o fazia chorar por piedade de si mesmo. No auge da angústia, ele saiu de casa, sem aviso prévio, sem deixar bilhete.

_A doença começou a piorar o relacionamento familiar. Eu não tinha vontade de conversar com filha, com esposa, com vizinho, com irmão, com ninguém. Fiz a mala, cheguei na rodoviária e fiquei olhando para cima, pensando o que eu ia fazer?_, conta José Ademar.

Isolamento, apatia, tristeza profunda, desânimo, culpa, sentimentos típicos da depressão, arruinaram a auto-estima de José Ademar.

_O difícil foi começar a ver que todo aquele pai que eu era, aquela casca que existia, aquela máscara de pai, estava desmontando, aquele gelo estava derretendo. Eu não tinha vontade de trabalhar, de sair na rua, de tomar banho, de escovar dente_, relata José Ademar.

Sem conseguir expressar o que sentia, envergonhado, sem lugar no mundo, José Ademar foi para São Paulo e passou a vagar pelas ruas.

_Onde eu poderia entrar? Na igreja. Aí, eu sentava na igreja e ficava. Sentava em uma, em outra, sentava na praça_, lembra ele.

Até que José Ademar encontrou quem o levasse a um psiquiatra e passou a se tratar com medicamentos. Fez psicoterapia e participou de grupos de auto-ajuda da Abrata, uma associação que ajuda as pessoas deprimidas e os seus familiares. Hoje, já se sente tão bem que trabalha lá como voluntário, apoiando quem ainda está na escuridão.

_Meu papel aqui é coordenar a reunião, para que através desse grupo, possamos ajudar os outros que estão precisando entender o que é depressão_, diz ele aos participantes.

José Ademar já compreendeu que sofre de uma doença crônica, complexa, sem causa conhecida, mas que pode ser tratada. Agora, vive sozinho na casa de campo do irmão, em Diadema, no ABC Paulista, mas não se sente isolado. Descobriu a vida lá fora e um mundo novo dentro de si.

_Eu fui conhecer a Avenida Paulista andando de madrugada. É um país gostoso, devemos parar de analisar as pessoas para analisar a vida. O que eu tenho é uma doença da alma, uma doença do coração. É uma doença que foi me deteriorando, foi me acabando, fui perdendo a minha dignidade, o meu nome, o meu amor, a expressão familiar, os títulos _ de pai, esposo, tio, profissional. Tudo isso eu fui perdendo_, lamenta José Ademar.

Três anos depois, José Ademar já está na fase das reconquistas. Decidiu ser calígrafo _ paixão da infância deixada de lado nos atropelos da vida adulta. Dá aulas de graça para idosos e ganha algum dinheiro com pequenas encomendas.

_Tenho que me sentir útil profissionalmente e financeiramente. É aí que está entrando a caligrafia. Eu faço convites de casamento, certidões, diplomas, homenagens_, explica José Ademar.

A recuperação de José Ademar veio firme, mas demorou um pouco. Foram três anos até reunir forças para voltar a sua cidade. Ele lembra que, à beira-mar, curtia a tristeza da depressão. Coisas que ficaram para trás.

_Que praia, que coisa mais linda! Parece que o sol veio me receber. Parece que Santos sabia que eu ia chegar e veio me receber de braços abertos_, exalta ele.

José Ademar voltou para enfrentar o maior desafio de sua recuperação: reencontrar a família. Ele vai levar a filha ao altar. Apreensivo, conversa com o mar.

_Estou esperando que todo mundo me receba como o mar está me recebendo. O que aconteceu a gente passa para trás. Eu estou até pedindo para ele me ajudar um pouquinho. Tenho que enfrentar, sou importante no casamento, vou ser importante até a hora de entregar a noiva. Depois de entregar a noiva, aí é só alegria, festa, felicidade, muitas emoções. Estão me achando com a aparência boa, e eu estou me sentindo bem, com o rosto bom, os olhos alegres. Quando você tem depressão, fica com uma cara de triste, e eu estou me sentindo muito bem. Estou até bonito_, orgulha-se José Ademar.

Abraços capixabas e recheados de humildade e paz.

Márcio de Mensisa
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Variações de humor

Richard Simonetti

- Eu estava muito bem , saudável , animado...De repente , sem motivo palpável ,
caí na "fossa" - uma angústia invencível , uma profunda sensação de infelicidade,
como se a vida não tivesse mais graça...

Queixas assim são freqüentes nas pessoas que procuram o Centro Espírita. Nesse estado toma corpo , não raro , a idéia de que a morte é a solução.

Conversávamos , certa feita , num hospital , com um rapaz que tentara o suicídio ingerindo substância tóxica. Socorrido a tempo , amargava sofrida recuperação.

Tentamos definir o motivo de tão grave iniciativa:

- Alguma desilusão sentimental?

- Absolutamente. Não tenho namorada.

- Problemas familiares?

- Pelo contrário. Dou-me muito bem com meus pais e irmãos.

- Perdeu o emprego?

- Trabalho há anos na mesma firma. O patrão parece contente comigo.

- Então , o que foi?

- É que eu estava entediado de viver. Entrei em estado de tristeza e achei que seria melhor morrer.

- Já se sentiu assim , anteriormente?

- Sim , de vez em quando...

*****

Em psicologia o paciente poderia ser definido como ciclotímico , alguém com temperamento sujeito a variações intensas de humor - alegria e tristeza , euforia e angústia , serenidade e tensão. Tem períodos de grande energia , confiança , exaltação , alternados com aflições. Muita disposição e iniciativas hoje; amanhã temores e inibições.

Os períodos negativos podem prolongar-se , instalando a depressão , a exigir tratamento especializado na área da psiquiatria. Como ela se alterna com estados de euforia , em que o paciente parece totalmente recuperado , sem que nada tenha ocorrido para justificar a mudança de humor , emprega-se a expressão "depressão endógena" , algo que tem sua origem nas tendências constitucionais herdadas , algo que faz parte da personalidade do indivíduo.

Há uma retificação a fazer. A tendência à depressão é uma herança , realmente , não de nossos pais , mas de nós mesmos , porquanto as características fundamentais de nossa personalidade representam , essencialmente , a soma de nossas experiências em vidas pretéritas.

O que fizemos no passado determina o que somos no presente. Poderíamos colocar em dúvida a justiça de Deus se assim não fosse, porquanto é inadmissível , além de não encontrar respaldo científico , a existência de uma herança psicológica embutida nos elementos genéticos.

O que pesa sobre nossos ombros , favorecendo os estados depressivos , é a carga dos desvios cometidos , das tendências inferiores desenvolvidas , dos vícios cultivados , do mal praticado. Há pessoas que , pressionadas por esse peso mergulham tão fundo na angústia que parecem cultivar a volúpia do sofrimento , com o que comprometem a própria estabilidade física , favorecendo a evolução de desajustes intermináveis.

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De certa forma somos todos ciclotímicos , temos variações de humor , sem que isso se constitua num estado mórbido: hoje em paz com a vida; amanhã brigados com a humanidade. Nas nuvens por algum tempo; depois na "fossa".

E nem sempre , como ocorre com o paciente ciclotímico , há justificativa para essa alternância. Pelo contrário : freqüentemente nosso humor opõe-se às circunstâncias , como o indivíduo plenamente realizado no terreno afetivo , social e profissional que , não obstante , experimenta períodos de angústia; no outro extremo , o doente preso ao leito , padecendo dores e incômodos , que tem momento de indefinível alegria e bem - estar.

Essa ciclotímia guarda relação com os processos de influência espiritual. Estados depressivos podem originar-se da atuação de Espíritos perturbados e perturbadores , que consciente ou inconscientemente nos assediam. Popularmente emprega-se o termo "encosto" para esse envolvimento.

Por outro lado , os estados de euforia , sem motivo aparente , resultam do contato com benfeitores espirituais que imprimem em nosso psiquismo algo de suas vibrações alentadoras.

- Hoje estou em estado de graça. Acordei bem disposto, feliz , sem nenhum "grilo" na cabeça - diz alguém , sem saber que tal disposição é fruto de ajuda recebida no plano espiritual durante as horas de sono físico , favorecendo-lhe um "alto astral".

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Importante lembrar , também , o ambiente como fator de indução que pode precipitar estados de depressão , ou euforia.

Num velório , onde os familiares do morto deixam-se dominar pelo desespero , em angústia extrema , marcada por gritos e choro convulsivo , muitas pessoas se sentirão deprimidas , porquanto os sentimentos negativos são tão contagiosos como uma gripe. Se não possuímos defesas espirituais tenderemos a assimilá-los com muita facilidade.

Inversamente , comparecendo a uma reunião de cunho religioso , onde se cultua a prece , no empenho de comunhão com a Espiritualidade , ouvindo exortações relacionadas com a virtude e o bem , experimentaremos maravilhosa sensação de paz , como se houvéssemos ingerido milagroso elixir.

Há outro aspecto muito interessante , abordado pelo Espírito François de Genève , no capítulo V , de "O Evangelho Segundo o Espiritismo": "Sabeis porque , às vezes , uma vaga tristeza se apodera dos vossos corações e vos leva a considerar amarga a vida? É que o vosso Espírito , aspirando à felicidade e à liberdade , se esgota , jungido ao corpo que lhe serve de prisão , em vãos esforços para sair dele. Reconhecendo inúteis esses esforços , cai no desânimo e , como o corpo lhe sofre a influência , toma-vos a lassidão , o abatimento , uma espécie de apatia e vos julgais infelizes. "Crede-me , resisti com energia a essas impressões , que vos enfraquecem a vontade. São inatas no espírito de todos os homens as aspirações por uma vida melhor ; mas , não a busqueis neste mundo e, agora , quando Deus vos envia os Espíritos que lhe pertencem , para vos instruírem acerca da felicidade que lhe vos reserva , aguardai pacientemente o anjo da libertação , para vos ajudar a romper os liames que vos mantém cativo o Espírito . Lembrai-vos de que , durante o vosso degredo na Terra , tendes que desempenhar uma missão de que não suspeitais , quer dedicando-vos à vossa família , quer cumprindo as diversas obrigações que Deus vos confiou . Se , no curso desse degredo-provação , exonerando-vos dos vossos encargos , sobre vós desabarem os cuidados , as inquietações e tribulações , sede fortes e corajosos para os suportar. Afrontai-os resolutos . Duram pouco e vos conduzirão à companhia dos amigos por quem chorais e que , jubilosos por ver-vos de novo entre eles , vos estenderão braços , a fim de guiar-vos a uma região inacessível às aflições da Terra."

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Podemos concluir , em resumo , que a ciclotimia de nossa personalidade ocorre em função de pressões ambientes , de influências espirituais , do peso do passado e das saudades do além.

E como superar as variações de humor , mantendo a serenidade e a paz em todas as situações ?

É evidente que não a faremos da noite para o dia , como quem opera um prodígio , mesmo porque isso envolve uma profunda mudança em nossa maneira de pensar e agir , o que pede o concurso do tempo.

Considerando , entretanto , que influências boas ou más passam necessariamente pelos condutos de nosso pensamento , podemos começar com o esforço por disciplinarmos nossa mente , não nos permitindo idéias negativas.

O apóstolo Paulo , orientando a comunidade cristã , em relação aos testemunhos necessários , ressalta bem isso , ao proclamar , na Epístola aos Felipenses (4:8):

"Tudo o que é verdadeiro , tudo o que é respeitável , tudo o que é justo , tudo o que é puro , tudo o que é amável , tudo o que é de boa fama , se alguma virtude há e se algum louvor existe , seja isso o que ocupe o vosso pensamento".

(Página extraída da obra Espírita: "Uma Razão Para Viver" )

Abraços capixabas e recheados de humildade e paz.

Márcio de Mensisa




Conclusão