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067b – Comportamento Jovem : O Jovem e a Religião - textos

(enviado pela Lu CVDEE)
Os trechos são do livro Adolescente, mas de passagem , do Paulo R. Santos.
8. - A religião e as questões espirituais
"O amterialismo fez com que o homem abandonasse a religião. Muitos passaram a ver nela um desagradável fator de limitação; além de desagradável, desencessário. (...). A religião tem, portanto, finalidade pedagógica.
(...)
A influência dos meios de comunicação sobre os jovens tem sido, na maioria das vezes, negativa. Apresenta-se o viver como um processo de consumir. Tudo aquilo que não tinha sentido prático ou que implica em limitações, autocontrole, normalmente é apresentado como fora de moda. Nesse contexto, a religião é vista como um fator inibidor, alienante ou que deixa a pessoa exposta ao rídiculo. Assumir a sua essência religiosa implica opor-se à direção geral das coisas. (...). A melhor religião é a que o torna melhor e esta, geralmente, é uma concepção original, íntima.
(...)
As religiões podem estar em decadência e fora de moda, entretanto a religiosidade nunca estará.(...)
(...) Não se entenda que a religiosidade é ou deva ser um sedativo da consciência. É apenas o reconhecimento de um traço comum da espécie humana; o reconhecimento de que trazemos algo que nos liga ao Criador, dentro de nós. Se a religião está fora de moda, que fiquemos fora de moda emocional e psiquicamente saudáveis, cuidando para não cairmos nos extremos do fanatismo religioso, do pieguismo ou das pregações moralistas, tão graves quanto os efeitos do materialismo.
A religiosidade bem compreendida e bem vivida não impede o jovem de amar e ser amado, de divertir-se e viver plenamente a vida. Pelo contrário, é fator de equilíbrio que, muitas vezes, o auxiliará a enxergar com mais clareza situações e pessoas, avaliando com mais segurança e decidindo com sensatez."
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(Enviado por Lu CVDEE)
Trechos da Joanna de Ângelis, no livro Adolescência e Vida
19 . O Adolescente e a Religião
"A religião desempenha um papel importante na formação moral e cultural do adolescente, por propiciar-lhe a visão da imortalidade, dilatando-lhe a compreensão em torno da realidade da vida e dos seus objetivos essenciais.
A religião é portadora de significativa contribuição ética e espiritual no desenvolvimento do caráter e na afirmação da personalidade do jovem em desenvolvimento. Através de seus postulados básicos, o educando nela haure a consciência de si e o começo do amadurecimento dos valores significativos, que se lhe incorporarão em definitivo, estabelecendo-lhe paradigmas de comportamento para toda a existência. Mesmo quando, na fase adulta, por esta ou aquela razão, a religião é contestada, ou colocada em plano secundário, ou mesmo combatida, nos alicerces do inconsciente permanecem os seus paradigmas que, de uma fora ou de outra forma, conduzem o indivíduo nos momentos de decisão significativa ou quando necessita mudar de rumo, ressurgindo informações arquivadas que contribuirão para a decisão mais feliz.
(...)
É relevante o papel da religião na individuação do ser, que não permite a dissociação de valores morais, culturais e espirituais, reunindo-os em um todo harmônico que lhe proporciona a plenitude.
Na adolescência, os ideais estão em desabrochamento, abrindo campo para os postulados religiosos que, bem direcionados, norteiam com segurança os passos juvenis, poupando o iniciante nas experiências humanas a muitos dissabores e insucessos nas diferentes áreas do comportament, incluindo aquele de natureza sexual.
Não será por intermédio de castração psicológica , da proibição, mas do esclarecimento quanto aos valores reais e aos aparentes, aos significados do prazer imediato e à felicidade legítima, futura, predispondo-o à disciplina dos desejos, ao equilíbrio da conduta, que resultarão no bem-estar, na alegria espontânea sem condimentos de sensualidade e de servidão aos vícios. Simultaneamente, a proposta religiosa esclarece que o ser é portador de uma destinação superior, que lhe cumpre enfrentar, movimentando os recursos que lhe jazem latentes e convocando-o para o auto-aprimoramento.
Quando o adolescente não encontra os paradigmas da religião, torna-se amargo e inapto para enfrentar desafios, fugindo com facilidade para a rebeldia ou o sarcasmo, portas de acesso à delinquência e ao desespero.
Não descatarmos os males produzidos pela intolerância religiosa, pelo fanatismo de alguns dos seus membros, sacerdotes e pastores, mas essas são falhas humanas e não da doutrina em si mesma. A interpretação dos conteúdos religiosos sobre os conflitos e dramas pessoas daqueles que os expõem, mas, no seu âmago, todos preconizam o amor, a solidariedade, o perdão, a humildade, a transformação moral para melhor, a caridade, que ficam à margem quando as paixões humanas tomam posse das situação de relevo e comando, fazendo desses indivíuos condutores espirituais, que pensam pelos fiéis, conduzindo-os com a dureza dos seus estados neuróticos e frustrações lamentáveis, tornando a religião uma caricatura perniciosa dela mesma ou um instrumento de controle da conduta e da personalidade dos seus membros.
A religião objetiva, essencialmente, conduzir ou reencaminhar a criatura ao Criador, auxiliando-a a reconhecer a sua procedência divina, que ficou separara pela rebeldia da própria conduta, graças ao livre-arbítrio, à opção de ser feliz conforme o seu padrão imediatista, vinculado ao instinto, em detrimento da sublimação dos desejos, que permitiriam alcançar a paz de consciência.
Direcionada ao adolescente, a religião marcha com ele pelos labirintos das perquirições e deve estar aberta a discutir todas as colocações que o perturbam ou o despertam, de tal forma que se lhe torne auxiliar valiosa para as decisões livres que deve assumir, de maneira a estar em paz interior.
(...)
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(Enviado por Rosane)

Ensino Religioso sem Proselitismo. É Possível?
Dora Incontri Pós-doutoranda FEUSP
Apoio Fapesp Alessandro César Bigheto
Pedagogo

Se entendermos a religiosidade como autêntica dimensão humana, cujo cultivo é necessário para a plena realização do homem, então será óbvia a necessidade de contemplarmos também este aspecto na proposta de sua educação.
Presentes em todas as culturas, entre todos os povos, de todos os tempos, e assumindo diversas formas de devoção, doutrinas e princípios éticos, buscando o sentido da vida e a transcendência em relação à morte, as religiões têm suas especificidades, mas têm também um patamar comum de moralidade e busca humana, onde é possível e urgente estabelecer um diálogo respeitoso e solidário. O reconhecimento de uma raiz comum, profundamente humana e, por isso mesmo, divina, é vital para que o diálogo se projete além de uma conversa cordialmente superficial, para se tornar uma vivência enriquecedora.
Diz um autor contemporâneo que “a única esperança real por uma tolerância verdadeira está em descobrir o que ‘nós’ temos em comum e também em respeitar a diversidade” (LYON, 1998:117).
A Constituição Brasileira garante a liberdade de culto e a nova Lei de Diretrizes e Bases abre espaço para um ensino religioso interconfessional (Art.33). Nova redação foi dada a esse artigo, em 20/12/96, para assegurar “o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo”. No âmbito estadual, a resolução de 27/7/2001, do conselho Estadual de Educação, regulamenta este artigo e propõe um programa aberto:
“O ensino religioso nas escolas deve, antes de tudo, fundamentar-se nos princípios da cidadania e do entendimento do outro. O conhecimento religioso não deve ser um aglomerado de conteúdos que visam evangelizar ou procurar seguidores de doutrinas, nem associado à imposição de dogmas, rituais ou orações, mas um caminho a mais para o saber sobre as sociedades humanas e sobre si mesmo.”
Assim, conhecer o universo religioso, delimitando as próprias crenças, em relação às crenças diferentes, admitindo que todas elas têm valor intrínseco, e procurar um diálogo saudável entre as diversas tradições pode fazer o homem situar-se no mundo de forma muito mais segura e fraterna. Saber que as respostas e os cultos da fé que integram a nossa identidade têm eco entre outras identidades religiosas pode aumentar a nossa própria fé e ao mesmo tempo nos fazer mais compreensivos e empáticos com a riqueza e a beleza das religiões do planeta. Como diz Berkenbrock: “É importante que o diálogo inter-religioso seja impulsionado pelo desejo de um melhor entendimento humano (…) que contribua para uma melhor convivialidade humana.” (BERKENBROCK, 1996: 327). Mas também: “O encontro com o diferente pode apontar para a própria identidade e levar a perguntar justamente sobre o específico dela.” (BERKENBROCK, 1996: 320)
Assim, o ensino religioso, sem nenhum propósito doutrinante de uma determinada visão religiosa, de maneira respeitosa e reverente para com o domínio de cada culto e de cada doutrina, deve incentivar e desencadear no aluno um processo de conhecimento e vivência de sua própria religião, mas também um interesse por outras formas de religiosidade.
Poderíamos, pois, teorizar que o ensino religioso deveria ter como objetivos orientadores: 1) despertar e cultivar a religiosidade do aluno; 2) levá-lo à compreensão da importância do fenômeno religioso em sua própria vida e na história humana; 3) trazer conhecimento sobre as diferentes formas de religiosidade, dentro de seus respectivos contextos culturais e históricos; 4) criar um espírito de fraternidade e tolerância entre as diferentes religiões; 5) sensibilizar o aluno em relação aos princípios morais, propostos pelas religiões, promovendo ao mesmo tempo uma reflexão sobre eles.
Sendo a religião um fenômeno humano abrangente, que está entranhado em todas as áreas da cultura, suas diversas facetas permitem perfeitamente a interdisciplinaridade no seu tratamento. Assim, ao mesmo tempo que o ensino religioso serve para ampliar o universo cultural do aluno, este ensino se torna muito mais consistente, enraizando-se nas múltiplas áreas do conhecimento. Cumpre-se assim a proposta do Forum Nacional Permanente do Ensino Religioso:
“…a abordagem didática se dá numa seqüência cognitiva, possibilitando a continuidade das aprendizagens que deve considerar: a bagagem cultural religiosa do educando, seus conhecimentos anteriores; a complexidade dos assuntos religiosos, principalmente devido à pluraridade; a possibilidade de aprofundamento.” (Forum, 1998:39)

Conclusão