Educar

037a – Tema: Relacionamento Familiar - texto 01

Estamos sabendo aplicar o Espiritismo no nosso dia-a-dia?




Em todas as áreas do conhecimento, de modo geral, vivemos um período fértil de informações. Alguns autores estão mesmo a chamar de excesso de informações, cuja conseqüência maior são as informações de superfície, sem profundidade e que nos tomam tempo em demasia na sua leitura, aparentemente sem nada a nos acrescentar.

Na seara espírita, o contexto não é diferente, a literatura espírita a cada dia se amplia levando aos interessados o conhecimento espírita, entretanto, observa-se um fenômeno interessante e que merece a nossa atenção. Se de um lado há um volume grande de informação disponível sobre a proposta de vida que o Espiritismo nos oferece, por outro lado vemos os espíritas tão confusos, angustiados, deprimidos tais quais as pessoas não espíritas e que, portanto, desconhecem a nossa condição de espírito imortal, a necessidade do aprendizado evolutivo na vida diária e a vivência do amor fraterno.

Sendo bastante simplista, tal fato talvez esteja se dando pela dificuldade que estamos encontrando de construir uma ponte entre o conhecimento espírita e a vida diária, a fim de vivenciar nos acontecimentos do dia-a-dia o que aprendemos nos centros e nos livros espíritas.

O que está a ocorrer, me parece, é que estamos repassando o conteúdo espírita, mas não estamos ensinando como vivê-lo no dia-a-dia, restando-os dissociados da vida prática. Como por exemplo, estamos, tais quais médicos, dando o remédio para cura dos males, mas não estamos ensinando o modo e a utilização do mesmo, e assim com o remédio nas mãos, nós e as pessoas não sabemos a dosagem certa e a freqüência ideal para utilizarmos o remédio em nossa vida e buscarmos desta forma, a melhoria de nossa saúde.

Necessário que façamos a interiorização do que ensinamos, de que despertemos nas criaturas “os olhos de ver e os ouvidos de ouvir”, já mencionado por Jesus.

Que ao falarmos da importância do trabalho do bem para as criaturas, façamos uma pausa e perguntemos, por exemplo: O que você entende por Bem? Porque você acredita que praticando o bem será mais feliz? E se não desejar o praticar, quais as conseqüências em sua vida? Você teme a Deus se não praticar o bem? Teme o castigo Divino que poderá recair sobre você tão divulgado nas tradições judaicas-cristãs? Enfim, sendo sincero consigo mesmo, você pratica o bem por opção própria de vida, por que o bem lhe faz bem ou por medo, temor a Deus e ao castigo que pode abater-se sobre você? Ou por outra, o pratica estabelecendo uma troca de que o exercício do bem lhe dará um passaporte seguro para concretização da idéia salvacionista de um lugar melhor no mundo espiritual (salvação da alma)?

Tomemos outro exemplo, o caso Suzane, a moça que matou os pais. Nós como espíritas nos limitamos a reproduzir o comentário do fato, estarrecidos ou procurarmos explicações psicológicas, morais para o fato? E ainda... se você como espírita ou dirigente de um grupo de evangelho, fosse inquirido por um freqüentador ou amigo que lhe fizesse a seguinte pergunta: Á luz do evangelho, em que passagem de Jesus poderíamos aplicar este acontecimento ( o crime da moça que matou os pais)? Como a Doutrina Espírita encara este fato? Qual a mensagem moral e espírita que podemos extrair deste acontecimento?

Ou seja, somos convocados a aplicar o Espiritismo em um caso concreto de nossa vida diária e que abalou o Brasil no último mês.

Buscando uma resposta para este caso, seria possível dizer que podemos aplicar a frase contida no Livro dos Espíritos de que “de todo o mal, Deus sempre extrai o bem” e perguntaria : que bem podemos ver neste fato ? De mais imediato, a resposta poderia caminhar na direção que percebemos a nível nacional, uma preocupação de psicólogos, psiquiatras e pais ,de modo geral, buscando rever a forma de educar seus filhos, repensando valores e mesmo as possíveis conseqüências da falta deles em suas famílias, e assim a sociedade brasileira certamente sairá melhor, e evitaremos que o mal ali praticado atinja outros lares, repetindo-se e alastrando-se em efeito cascata.

A frase evangélica que me pareceria apropriada é aquela frase de Jesus que diz: “Ai do mundo por causa dos escândalos, pois é necessário que venham escândalos; mas, ai do homem por quem o escândalo venha”

Ou seja, o mundo, face ao nível evolutivo de seus habitantes, para se sensibilizar muitas vezes precisa ser abalado por crimes ou atitudes equivocadas, pois somente assim vai pensar ou repensar sobre seu comportamento e atitudes, e se não dependeria de cada um e da sua adoção de atitudes positivas a viabilizar um mundo melhor.

Na verdade, a pessoa pela qual vem o escândalo é apenas um símbolo exposto das mazelas que ainda habitam no interior dos homens, é o nosso espelho, aquilo que sabemos que ainda existe em nós ( nossas sombras) e que algum de nós o poderá praticar em dada circunstância e porque nos vemos projetado no outro, nos chocamos, surgindo daí a preocupação em melhorar a si mesmo e aos que estão ao seu redor, para que tais fatos sejam evitados e se possível, não voltem a acontecer.

Então, é necessário a partir destes pequenos exemplos que aprendamos a fazer a ponte, a ligação do conteúdo espírita aos fatos do dia-a-dia , a fim de que tenhamos convicção profunda que efetivamente estamos esclarecendo consciências e não apenas retransmitindo conhecimento teórico de dificultosa utilidade prática.

Aplicar o Espiritismo nos fatos e na vida diária é urgente e necessário no projeto de construção de uma sociedade melhor, rumo ao mundo de regeneração.

Eulaide Maria-Manaus/Am.



Conclusão