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014g – Tema: Missão da Maternidade - texto 06
A mãe que desistiu do céu
Mário B. Tamássia
Página do livro de mesmo nome
Editado pelo Instituto de difusão Espírita - IDE
www.ide.org.br
Se soubéssemos respeitar o sentimento materno, não erraríamos tanto durante a nossa existência, pois que todo e qualquer insucesso e desventura que nos ferem, ferem, em maior grau, nossa mãe.
Têm sido as mães dos presidiários as figuras mais comoventes deste triste desvão da vida, a que damos o nome de cárcere. Nas audiências do Conselho Carcerário de Campinas, onde servimos muitos anos, as mães dos encarcerados sempre nos impressionaram sobremaneira.
Desde o momento em que o seu filho é detido e indiciado, a mãe começa a sofrer, como se lhe tivessem lancetando o coração. Quando então o Juiz da Vara Criminal exaura nos autos o despacho condenatório, ela começa a morrer. Entra em agonia.
O pano de boca do palco judiciário esconde, atrás da ribalta, e longe dos olhos do público, um drama familiar que vai se prolongar por largos anos, e às vezes para sempre, no qual os figurantes são criaturas inocentes que não infringiram lei alguma: a esposa, os filhos menores, o pai e a mãe do delinqüente. Nos quadros da via crucis poderão faltar todos, mas, nunca a mãe.
Com que tenacidade, suportando toda sorte de humilhações, ela, tão frágil, pleiteia, explica, perambula pelos corredores do Palácio da Justiça, ou batendo à porta da cadeia, enfrenta leoninamente guardas, carcereiros, delegados, escrivães, a fim de conseguir um benefício para o seu filho ou um amparo. Nenhum advogado melhor, mais eficiente, a tal ponto que mães simplórias, e até analfabetas, com o perpassar do tempo, acabam entendendo de prisão albergue, domiciliar, livramento condicional, reunificação de processos, anistia ou perempção. Algumas sabem de cor inúmeros artigos do Código Penal!
Uma velhinha surrada e moída, a quem perguntei se morava longe, respondeu-me: "Não. Moro pertinho da cadeia, apenas vinte quilômetros daqui." E de que forma a senhora vai e vem? "Vou a pé. Somos pobres."
Olhei bem para ela. Era mãe de um presidiário e a imagem da desolação. Pálida, anêmica e encarquilhada, vinha todos os dias, mesmo que fosse para ficar sentada na escadaria externa da cadeia.
Quando, nesse emaranhado processual, os protagonistas vacilam, na fase preparatória, a mãe nunca o faz: "O meu filho é bom, muito bom mesmo..."
No olhar destas mães, há tanta grandeza, quanto naquele de Jesus, virando-se para Dimas, o bom ladrão. "Não há dor igual à minha dor", teria exclamado Maria diante do filho supliciado. E acredito piamente que teria sofrido muito menos, se fosse ela a condenada ao madeiro infamante.
Ah! nossas mães, simples ou doutas, ricas ou pobres, vestindo andrajos ou arminhos! Mesmo depois que os seus olhos carnais se fecham com a morte, continuam no Além a velar por nós. Nas notícias que chegam à Terra, através das mensagens recebidas por Chico Xavier, os mortos contam que uma santa lhes apareceu no portal da vida, para recebê-los com muito amor, e era simplesmente a sua mãe que partira antes.
Registra J. Doillet, na obra "Que é um Santo?", o fato de que, desde o tempo do Império Romano, nas catacumbas, os vivos se dirigiam às mães, no epitáfio, pedindo para que elas, no Além, os protegessem na Terra. Assim, alinha tais evocações, entre as quais esta: "Mãe Ercília, que te foste, intercede por nós..."
Uma passagem é bem conhecida, acerca de certa mãe que, tendo morrido em santidade, foi conduzida ao céu e recebida carinhosamente pela comunidade espiritual. Pelo tanto que lutara em vida, com nobreza e abnegação, colocaram-na em lugar aprazível, florido, cheio de encanto, musicalidade e conforto, cercada de almas angélicas, solícitas em servi-la. Ela, no entanto, se revelou inquieta e logo mostrou a razão, perguntando ansiosa: "Onde se encontra o meu filho Ditinho, que morreu bem antes do que eu?"
O guia espiritual, esclareceu-a: "Ele está nas zonas inferiores purgatoriais."
_ "Então _ disse a mãe _ me perdoem. Não posso ficar aqui no céu e meu filho no inferno. Vou-me embora par ajudá-lo. Coitado do Ditinho, ele deve estar precisando de mim."
A todos do Grupo, com carinho.
José Valdir
Conclusão