O Livro dos Espíritos
192 – C O N C L U S Ã O - Item VIII
VIII
Perguntam algumas pessoas: Ensinam os Espíritos qualquer moral nova, qualquer coisa superior ao que disse o Cristo? Se
a moral deles não é senão a do Evangelho, de que serve o Espiritismo? Este raciocínio se assemelha notavelmente ao do califa Omar, com relação à biblioteca de Alexandria: "Se ela não contém, dizia ele, mais do que o que está no Alcorão, é inútil. Logo deve ser queimada. Se contém coisa diversa, é nociva. Logo, também deve ser queimada."
Não, o Espiritismo não traz moral diferente da de Jesus. Mas, perguntamos, por nossa vez: Antes que viesse o Cristo, não tinham os homens a lei dada por Deus a Moisés? A doutrina do Cristo não se acha contida no Decálogo? Dir-se-á, por isso, que a moral de Jesus era inútil? Perguntaremos, ainda, aos que negam utilidade à moral espírita: Por que tão pouco praticada é a do Cristo? E por que, exatamente os que com justiça lhe proclamam a sublimidade, são os primeiros a violar- -lhe o preceito capital: o da caridade universal? Os Espíritos vêm não só confirmá-la, mas também mostrar-nos a sua utilidade prática. Tornam inteligíveis e patentes verdades que haviam sido ensinadas sob a forma alegórica. E, justamente com a moral, trazem-nos a definição dos mais abstratos problemas da psicologia.
Jesus veio mostrar aos homens o caminho do verdadeiro bem. Por que, tendo-o enviado para fazer lembrada sua lei que estava esquecida, não havia Deus de enviar hoje os Espíritos, a fim de a lembrarem novamente aos homens, e com maior precisão, quando eles a olvidam, para tudo sacrificar ao orgulho e à cobiça? Quem ousaria pôr limites ao poder de Deus
e traçar-Lhe normas? Quem nos diz que, como o afirmam os Espíritos, não estão chegando os tempos preditos e que não chegamos aos em que verdades mal compreendidas, ou falsamente interpretadas, devam ser ostensivamente reveladas
ao gênero humano, para lhe apressar o adiantamento? Não haverá alguma coisa de providencial nessas manifestações que se produzem simultaneamente em todos os pontos do globo?
Não é um único homem, um profeta quem nos vem advertir. A luz surge por toda parte. É todo um mundo novo que se desdobra às nossas vistas. Assim como a invenção do microscópio nos revelou o mundo dos infinitamente pequenos, de
que não suspeitávamos; assim como o telescópio nos revelou milhões de mundos de cuja existência também não suspeitávamos, as comunicações espíritas nos revelam o mundo invisível que nos cerca, nos acotovela constantemente e que, à nossa revelia, toma parte em tudo o que fazemos.
Decorrido que seja mais algum tempo, a existência desse mundo, que nos espera, se tornará tão incontestável como a
do mundo microscópico e dos globos disseminados pelo espaço. Nada, então, valerá onos terem feito conhecer um mundo todo: onos haverem iniciado nos mistéiros da vida de além-túmulo? É exato que essas descobertas, se se lhes pode dar
este nome, contrariam algum tanto certas idéias aceitas. Mas, não é real que todas as grandes descobertas científicas hão igualmente modificado, subvertido até, as mais correntes idéias? E o nosso amor-próprio não teve que se curvar diante
da evidência? O mesmo acontecerá com relação ao Espiritismo, que, em breve, gozará do direito de cidade entre os conhecimentos humanos.
As comunicações com os seres de além-túmulo deram em resultado fazer-nos compreender a vida futura, fazer-nos vê-la, iniciar-nos no conhecimento das penas e gozos que nos estão reservados, de acordo com os nossos méritos e, desse modo, encaminhar para o espiritualismo os que no homem somente viam a matéria, a máquina organizada. Razão, portanto, tivemos para dizer que o Espiritismo, com os fatos, matou o materialismo. Fosse este único resultado por ele produzido e já muita gratidão lhe deveria a ordem social. Ele, porém, faz mais: mostra os inevitáveis efeitos do mal e, conseguintemente, a necessidade do bem. Muito maior do que se pensa é, e cresce todos os dias, o número daqueles em que ele há melhorado os sentimentos, neutralizado as más tendências e desviado do mal. É que para esses o futuro deixou de ser coisa imprecisa, simples esperança, por se haver tornado uma verdade que se compreende e explica, quando se vêem e ouvem os que partiram lamentar-se ou felicitar-se pelo que fizeram na Terra. Quem disso é testemunha entra a refletir e sente a necessidade de a si mesmo se conhecer, julgar e emendar.
QUESTÕES PARA ESTUDO
1 - Como Kardec justifica a necessidade da revelação espírita, se a moral ensinada é a mesma do Cristo?
2 - De que modo o Espiritismo veio abalar as convicções materialistas?
Conclusão
Conclusão do estudo
1 - Como Kardec justifica a necessidade da revelação espírita, se a moral ensinada é a mesma do Cristo?
O Espiritismo veio ratificar o ensinamento moral de Jesus, que havia sido, ao mesmo tempo, esquecido e adulterado pelos homens, por intermédio das diversas religiões que se constituíram após a sua passagem pela carne. Relembrando aqueles ensinamentos, fez aumentar o número de seus seguidores, propagando pelo mundo a doutrina crística, através das múltiplas manifestações que se fizeram por toda a parte.
O Espiritismo, porém, não se limitou a reviver o ensinamento moral do Cristo. Acrescentou a ele o conhecimento dos princípios que regem as relações entre os dois planos de vida: o mundo espiritual e o material. Trouxe à luz, por meio das próprias leis da Natureza, a realidade do espírito, do seu passado e de seu futuro, das suas relações com o mundo material, do qual a humanidade tinha apenas vaga noção.
2 - De que modo o Espiritismo veio abalar as convicções materialistas?
O Espiritismo tornou-se um antídoto do materialismo ao comprovar, por meio das comunicações com os seres do além-túmulo, o prosseguimento da vida após a morte do corpo físico. Demonstrando a realidade da vida futura, fez o homem compreender as penas e gozos que lhe estão reservados, conforme o mérito de cada um. Com isso, fez com que aqueles que somente viam no homem a matéria abandonasse o materialismo e procurassem melhorar seus sentimentos e atitudes. Com a revelação espírita, o futuro deixou de ser algo incerto, tornando-se uma realidade cuja natureza depende unicamente de nós.