O Livro dos Espíritos

191 – C O N C L U S Ã O - Item VII

VII

" O Espiritismo se apresenta sob três aspectos diferentes: o das manifestações, o dos princípios e da filosofia que
delas decorrem e o da aplicação desses princípios. Daí, três classes, ou, antes, três graus de adeptos: 1° os que
crêem nas manifestações e se limitam a comprová-las; para esses, o Espiritismo é uma ciência experimental; 2° os
que lhe percebem as conseqüências morais; 3° os que praticam ou se esforçam por praticar essa moral. Qualquer
que seja o ponto de vista, científico ou moral, sob que considerem esses estranhos fenômenos, todos compreendem
constituírem eles uma ordem, inteiramente nova, de idéias que surge e da qual não pode deixar de resultar uma
profunda modificação no estado da Humanidade e compreendem que essa modificação não pode deixar de operar-
-se no sentido do bem.

Quanto aos adversários, também podemos classificá-los em três categorias. 1ª - A dos que negam sistematicamente
tudo o que é novo, ou deles não venha, e que falam sem conhecimento de causa. A esta classe pertencem todos os
que não admitem senão o que possa ter o testemunho dos sentidos. Nada viram, nada querem ver e ainda menos
aprofundar. Ficariam mesmo aborrecidos se vissem as coisas muito claramente, porque forçoso lhes seria convir em
que não têm razão. Para eles, o Espiritismo é uma quimera, uma loucura, uma utopia, não existe: está dito tudo. São
os incrédulos de caso pensado. Ao lado desses, podem colocar-se os que não se dignam de dar aos fatos a mínima
atenção, sequer por desencargo de consciência, a fim de poderem dizer: Quis ver e nada vi. Não compreendem que
seja preciso mais de meia hora para alguém se inteirar de uma ciência. 2ª- A dos que, sabendo muito bem o que
pensar da realidade dos fatos, os combatem, todavia, por motivos de interesse pessoal. Para estes, o Espiritismo
existe, mas lhes receiam as conseqüências. Atacam-no como a um inimigo. 3ª - A dos que acham na moral espírita
censura por demais severa aos seus atos ou às suas tendências. Tomado ao sério, o Espiritismo os embaraçaria; não
o rejeitam, nem o aprovam: preferem fechar os olhos. Os primeiros são movidos pelo orgulho e pela presunção; os
segundos, pela ambição; os terceiros, pelo egoísmo. Concebe-se que, nenhuma solidez tendo, essas causas de
oposição venham a desaparecer com o tempo, pois em vão procuraríamos uma quarta classe de antagonistas, a dos
que em patentes provas contrárias se apoiassem demonstrando estudo laborioso e porfiado da questão. Todos
apenas opõem a negação, nenhum aduz demonstração, séria e irrefutável.

Fora presumir da natureza humana supor que ela possa transformar-se de súbito, por efeito das idéias espíritas. A
ação que estas exercem não é certamente idêntica, nem do mesmo grau, em todos os que as professam. Mas, o
resultado dessa ação, qualquer que seja, ainda que extremamente fraco, representa sempre uma melhora. Será,
quando menos, o de dar a prova da existência de um mundo extracorpóreo, o que implica a negação das doutrinas
materialistas. Isto deriva da só observação dos fatos, porém, para os que compreendem o Espiritismo filosófico e
nele vêem outra coisa, que não somente fenômenos mais ou menos curiosos, diversos são os seus efeitos.

O primeiro e mais geral consiste e desenvolver o sentimento religioso até naquele que, sem ser materialista, olha
com absoluta indiferença para as questões espirituais. Daí lhe advém o desprezo pela morte. Não dizemos o desejo
de morrer; longe disso, porquanto o espírita defenderá sua vida como qualquer outro, mas uma indiferença que o
leva a aceitar, sem queixa, nem pesar, uma morte inevitável, como coisa mais de alegrar do que de temer, pela
certeza que tem do estado que se lhe segue.

O segundo efeito, quase tão geral quanto o primeiro, é a resignação nas vicissitudes da vida. O Espiritismo dá a
ver as coisas de tão alto, que, perdendo a vida terrena três quartas partes da sua importância, o homem não se
aflige tanto com as tribulações que a acompanham. Daí, mais coragem nas aflições, mais moderação nos desejos.
Daí, também, o banimento da idéia de abreviar os dias da existência, por isso que a ciência espírita ensina que,
pelo suicídio, sempre se perde o que se queria ganhar. A certeza de um futuro, que temos a faculdade de tornar
feliz, a possibilidade de estabelecermos relações com os entes que nos são caros, oferecem ao espírita suprema
consolação. O horizonte se lhe dilata ao infinito, graças ao espetáculo, a que assiste incessantemente, da vida de
além-túmulo, cujas misteriosas profundezas lhe é facultado sondar.

O terceiro efeito é o estimular no homem a indulgência para com os defeitos alheios. Todavia, cumpre dizê-lo,
o princípio egoísta e tudo que dele decorre são o que há de mais tenaz no homem e, por conseguinte, de mais
difícil de desarraigar. Toda gente faz voluntariamente sacrifícios, contanto que nada custem e de nada privem.
Para a maioria dos homens, o dinheiro tem ainda irresistível atrativo e bem poucos compreendem a palavra
supérfluo, quando de suas pessoas se trata. Por isso mesmo, a abnegação da personalidade constitui sinal de
grandíssimo progresso.


QUESTÕES PARA ESTUDO

1 - Quais os três aspectos destacados por Kardec como aqueles sob os quais que se apresenta o Espiritismo?

2 - E quanto aos seus contestadores, como Kardec os distingue?

3 - Como o Espiritismo pode contribuir para a transformação do homem?


Conclusão

1 - Quais os três aspectos destacados por Kardec como aqueles sob os quais que se apresenta o Espiritismo?

Kardec destaca, neste ítem, três aspectos diferentes e que motivaram os seguidores da doutrina que nascia: a)
as manifestações dos espíritos, que atraíram aqueles que se limitaram a comprová-las. Para esses, o Espiritismo
é uma ciência experimental; b) os princípios e a filosofia que decorrem dessas manifestações. São aqueles que
perceberam as suas conseqüências morais; e c) a aplicação desses princípios. São os que praticam ou se
esforçam para praticar a moral ensinada. Temos aí o tríplice aspecto do Espiritismo. Qualquer que seja o aspecto
sob o qual se veja a Doutrina - científico, filosófico ou moral - não se pode deixar de concluir que representa
uma nova ordem de idéias visando a transformação da humanidade.


2 - E quanto aos seus contestadores, como Kardec os distingue?

Quanto aos seus adversários, Kardec os classificou em três categorias. a) os que negam sistematicamente o
que é novo ou que deles não venha e que falam sem conhecimento de causa. A esta classe pertencem todos os
que não admitem senão o que possa ter o testemunho dos sentidos. Para esses, o Espiritismo é uma quimera,
uma loucura, uma utopia e não existe. São os incrédulos de caso pensado e os que não se dignam de sequer
examinarem os fatos; b) os que, sabendo da realidade dos fatos, os combatem por interesse pessoal, temendo-
-lhes as conseqüências. Por esse motivo, atacam-no como a um inimigo; e c) os que acham na moral espírita
censura por demais severa aos seus atos ou às suas tendências.

Ressalta Kardec que os primeiros são movidos pelo orgulho e pela presunção; os segundos, pela ambição e os
terceiros, pelo egoísmo e que todos apenas opõem a negação, nenhuma demonstração séria e irrefutável trazendo.


3 - Como o Espiritismo pode contribuir para a transformação do homem?

A transformação da humanidade proposta pela Doutrina não se dará de súbito. Como a natureza não dá saltos,
segundo nos ensinam os Espíritos, a mudança se dará de forma gradual: desenvolvendo o sentimento religioso
naqueles para quem as questões espirituais são indiferentes; mostrando a necessidade de resignação perante as
vicissitudes da vida e estimulando a prática da indulgência para com os erros alheios.