O Livro dos Espíritos

168 – Desgosto da vida. Suícidio - 2a. parte

a) Comete suicídio moral o homem que perece vítima de paixões que sabia lhe haviam de apressar o fim e
que já não podia resistir. É, nesse caso, duplamente culpado, pois há nele falta de coragem e bestialidade,
acrescidas do esquecimento de Deus. Nesse caso, é mais culpado do que aquele que tira a si mesmo a vida
por desespero, pois teve tempo de refletir sobre o suicídio.

b) É sempre culpado aquele que não aguarda o termo que Deus lhe marcou para a existência, ainda que a
morte fosse inevitável e que tenha abreviado a vida por apenas alguns instantes.

c) Não há culpabilidade quando não há intenção ou consciência perfeita da prática do mal, no caso de
imprudência que compromete a vida sem necessidade.

d) Os que se matam obedecendo a preconceito e, muitas das vezes, mais à força do que por vontade,
julgam cumprir um dever, o que descaracteriza o suicídio. Desculpam-no a nulidade moral e a ignorância que os caracterizam e que desaparecem com o advento da civilização.

e) Aqueles que se matam na esperança de ir juntar-se às pessoas que lhes eram caras e com cuja perda
não se conformam delas se afastam por longo tempo, em vez de com elas se reunirem. Deus não recompensa
um ato de covardia. Pagarão com aflições maiores do que as que pensaram abreviar e não terão, para
compensá-las, a satisfação que esperavam.

f) As conseqüências do suicídio para o espírito são diversas, não havendo penas determinadas. Há, porém,
uma a que o suicida não pode escapar: o desapontamento. Mas as conseqüências depende das circunstâncias.
Alguns expiam a falta de imediato; outros, em nova existência, que será pior do que aquela cujo curso
interromperam.


Comentário de Allan Kardec
" A observação, realmente, mostra que os efeitos do suicídio não são idênticos. Alguns há, porém, comuns a todos os casos de morte violenta e que são a conseqüência da interrupção brusca da vida. Há, primeiro, a persistência mais prolongada e tenaz do laço que une o Espírito ao corpo, prestar quase sempre esse laço na plenitude da sua força no momento em que é partido, ao passo que, no caso de morte natural, ele se enfraquece gradualmente e muitas vezes sedesfaz antes que a vida se haja extinguido completamente. As conseqüências deste estadode coisas são o prolongamento da perturbação espiritual, seguindo-se à ilusão em que, durante mais ou menos tempo, o Espírito se conserva de que ainda pertence ao número dosvivos. (155 e 165).

A afinidade que permanece entre o Espírito e o corpo produz nalguns suicidas, uma espécie de repercussão do estado do corpo no Espírito, que, assim, a seu mau grado, sente os efeitos da decomposição, donde lhe resulta uma sensação cheia de angústias e de horror,estado esse que também pode durar pelo tempo que devia durar a vida que sofreuinterrupção. Não é geral este efeito; mas, em caso algum, o suicida fica isento das conseqüências da sua falta de coragem e, cedo ou tarde, expia, de um modo ou de outro, a culpa em que incorreu. Assim é que certos Espíritos, que foram muito desgraçados na Terra, disseram ter-se suicidado na existência precedente e submetido voluntariamente a novas provas, para tentarem suportá-las com mais resignação. Em alguns, verifica-se uma espécie de ligação à matéria, de que inutilmente procuram desembaraçar- - se, a fim de voarem para mundos melhores, cujo acesso, porém, se lhes conserva interdito.

A religião, a moral, todas as filosofias condenam o suicídio como contrário às leisda Natureza. Todas nos dizem, em princípio, que ninguém tem o direito de abreviar voluntariamente a vida. Entretanto, por que não se tem esse direito? Por que não é livre o homem de por termo aos seus sofrimentos? Ao Espiritismo estava reservado demonstrar, pelo exemplo dos que sucumbiram, que o suicídio não é uma falta, somente por constituir infração de uma lei moral, consideração de pouco peso para certos indivíduos, mas também um ato estúpido, pois que nada ganha quem o pratica, antes o contrário é o que se dá, como no-lo ensinam, não a teoria, porém os fatos que ele nos põe sob as vistas."

QUESTÕES PARA ESTUD0

1 - Qual a circunstância que caracteriza o suicídio moral e por que ele também se constitui numa infração à lei natural?

2 - Podemos considerar suicídio a prática de atos que sabidamente podem abreviar a existência física, tais como o hábito do fumo, o consumo excessivo de alcóolicos e o uso de drogas?

3 - E a eutanásia, cuja prática vem sendo legalizada em alguns países, pode ser encarada como suicídio?

4 - Como podemos resumir a visão do Espiritismo a cerca do suicídio?


Conclusão

1 - Qual a circunstância que caracteriza o suicídio moral e por que ele também se constitui numa infração à lei natural?

O suicídio moral é aquele que resulta de paixões que levam o espírito encarnado à prática de atos que sabe lhe
irão abreviar a duração da vida de seu corpo físico. É também chamado "suicídio indireto".

2 - Podemos considerar suicídio a prática de atos que sabidamente podem abreviar a existência física, tais como o hábito do fumo, o consumo excessivo de alcóolicos e o uso de drogas?

Sem dúvida o hábito do fumo, o consumo desregrado de alimentos e alcóolicos e o uso de drogas são exemplos
clássicos do suicídio indireto. O espírito pode até não desejar o resultado, mas, tendo conhecimento das
conseqúências, assume o risco de produzi-las, levado pela paixão que se transforma em vício.


3 - E a eutanásia, cuja prática vem sendo legalizada em alguns países, pode ser encarada como suicídio?

Se realizada com a aquiescência do espírito desencarnante, para este, sem dúvida que sim. Afronta as leis divinas
aquele que não aguarda o termo marcado para a existência física. É uma demonstração de falta de resignação e
submissão à vontade de Deus, esta manifestada por suas leis sábias, eternas e soberanas. O terceiro que contribui
para esse ato, ainda que para as leis humanas possa não sê-lo, perante a Lei Maior é comparado ao mais comum
dos homicidas.


4 - Como podemos resumir a visão do Espiritismo a cerca do suicídio?

Conforme os Espíritos responderam a Allan Kardec, todo e qualquer ato que vise abreviar a permanência do
espírito no corpo carnal é um atentado às leis naturais. No caso de atingir a sua própria existência física, é
considerado suicídio. A graduação da falta, no entanto, varia de conformidade com a intenção, com a consciência
que o suicida tinha da prática do mal e com o seu nivel de conhecimento a respeito das leis divinas. O Espiritismo
não discrimina nem condena o suicida a uma punição eterna, como alguns segmentos religiosos que, sequer,
permitem lhe sejam dirigidas preces. Tampouco o exalta, como outros, que, por motivação religiosa ou política,
o considera no exercício de uma missão. Para a Doutrina Espírita, o suicida será sempre um infrator da Lei de
Deus. Mostra as conseqüências desse ato, sempre sofridas e que o suicida jamais atinge o fim almejado, que é
morrer. No entanto, demonstra que a misericórdia divina está sempre presente, a proporcionar novas oportunidades
de reajuste à Lei. Por essas razões, podemos afirmar que o conhecimento do Espiritismo é um antídoto infalível
contra essa prática.