O Livro dos Espíritos

150 – Conhecimento do futuro


a) O futuro não pode ser ao homem revelado, somente o permitindo Deus em casos raros e excepcionais,
pois se o conhecesse o homem negligenciaria do presente e não obraria com liberdade, dado que seria
dominado pela idéia de que uma determinada coisa tem de acontecer.

b) Quando o conhecimento do futuro facilita a execução de uma coisa em vez de atrapalhar, Deus permite
que seja revelado, a fim de obrigar o homem a agir de modo diverso que faria se não lhe fosse feita essa
revelação. A perspectiva de um acontecimento pode sugerir pensamentos bons ou inspirar bons sentimentos.
Se a predição não se cumpre, a maneira como suportará a decepção por não ocorrer o previsto constituir-
-se-á numa prova, que ele triunfará ou não, conforme suportá-la.

c) Mesmo sabendo Deus se o homem passará ou não pela prova, essa será sempre necessária para dar ao
homem a responsabilidade pelas sua ação, uma vez que tem a liberdade de fazer ou não determinada coisa.
Dotado da faculdade de escolher entre o bem e o mal, a prova tem por efeito submetê-lo à tentação do mal,
embora saiba Deus se ele se sairá bem ou não.

d) Kardec faz uma comparação para facilitar o entendimento da questão, citando uma situação comum em
nosso cotidiano: por muita capaz que seja um estudante, por mais certeza que tenha de que se sairá bem na
prova, não se lhe confere grau algum sem o exame, sem que à prova se submeta. O que acontece na vida
espiritual.

e) Vemos, portanto, como salienta Kardec, quão sábia é a Providência ao ocultar do homem o conhecimento
do futuro. A certeza de um acontecimento venturoso o levaria à inação; a de um acontecimento infeliz, ao
desânimo. Ambas as situações o paralisariam, tolhendo sua iniciativa e o seu livre-arbítrio. A fatalidade dos
acontecimentos impediria o homem de exercer suas faculdades, daí não lhe ser permitido conhecer o futuro,
salvo em casos excepcionais.


QUESTÃO PARA ESTUDO E PARTICIPAÇÃO:

Como interpretarmos o desconhecimento do futuro pelo homem? Podemos considerá-lo uma misericórdia de
Deus para com suas criaturas? Por que?

Conclusão


Como interpretarmos o desconhecimento do futuro pelo homem? Podemos considerá-lo uma misericórdia
de Deus para com suas criaturas? Por que?

A impossibilidade do homem conhecer o futuro é mais uma demonstração da sabedoria da Providência. O
conhecimento de um fato que viria acontecer paralisaria o homem, impedindo o andamento de todo o processo de aprendizado necessário à sua evolução. Se conhecesse antecipadamente um acontecimento
venturoso, o homem seria levado à inação. Sentir-se-ia desmotivado à luta que o levaria a fazer jus a esse
acontecimento desejado. Se, ao contrário, viesse a conhecer um fato futuro negativo, sentir-se-ia desmotivado
a lutar contra ele, pois a certeza desse acontecimento tornaria inútil qualquer ação para evitá-lo.

Podemos constatar isso no nosso cotidiano. Se alguém soubesse antecipadamente que ao longo de sua atual
existência terrena viria ser possuidor de grande riqueza, teria sua motivação para o estudo e para o trabalho
abalada, pois sentir-se-ia dispensado de estudar e trabalhar. Como evoluiria nestas condições? Por outro
lado, aquele que soubesse que futuramente viria sofrer, por força de necessidade provacional ou expiatória,
uma doença grave que o levasse à invalidez. Como suportaria viver aguardando esse acontecimento?

Portanto, temos que concluir, que, tanto numa como noutra hipótese, o conhecimento do futuro teria um efeito absolutamente prejudicial à humanidade, paralisando-a e, em conseqüência, impedindo que os espíritos que
aqui se encontram encarnados em busca de evolução passem pelas provas ou expiações necessárias ao seu
aprendizado. Além disso, sendo o nosso futuro a colheita do que hoje semeamos, nada há de fatal nem de
predeterminado, salvo as conseqüências de nosso agir e pensar.

No entanto, quando o conhecimento do futuro pode resultar em algum fato que venha trazer progresso para
a humanidade, a Espiritualidade Superior providencia, através de pessoas fisicamente dotadas para tanto,
que eles cheguem até nós. Tanto o Antigo Testamento como o Evangelho encontram-se repletos de passagens
nesse sentido, sendo a mais importante aquela que narra o aviso de um anjo do Senhor a José para que fugisse
com o filho recém-nascido, pois Herodes mandaria matá-lo. É um caso exemplar de um fato futuro dado a
conhecer e que, por isso mesmo, foi evitado, beneficiando toda a humanidade, com a vinda do Cristo.

Da mesma forma que o esquecimento do passado é uma prova da misericórdia de Deus, o conhecimento do
futuro também o é, pois nosso psiquismo não suportaria a vivência de acontecimentos de três épocas distintas
- passado, presente e futuro. Para que possamos passar pelas experiências de dor e de felicidade, ambas tão
indispensáveis ao nosso aprendizado, não temos como suportar o conhecimento do passado nem do futuro. É
necessário que se apaguem os fatos passados e que os fatos futuros nos sejam olvidados, para que possamos
construí-los através do nosso livre-arbítrio.