E a vida continua

022 – Capítulo 22 – Bases de novo porvir – parte 1

Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo – CVDEE

Sala de Estudos André Luiz

Livro em estudo: E a vida continua (Editora FEB)

Autor: Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier

Tema: Capítulo 22 – Bases de novo porvir – parte 1


Bases de novo porvir

No dia imediato, a conferência com Ribas.
Ernesto e Evelina confiaram-lhe sucinto relatório da visita realizada na véspera, a que o mentor deu ou­vidos atentos.
Esmerando-se no aproveitamento das horas, o sá­bio amigo requisitou um grupo de fichas, alinhadas em arquivo próximo, e iniciou o trabalho mais importante da entrevista, analisando a situação de Túlio Mancini. Considerou que o jovem realmente evidenciava redu­zido progresso; entretanto, isso não invalidava o com­promisso da senhora Serpa, cujo auxílio junto dele não devia esmorecer, organizando-se-lhe o renascimento próximo.
Estabelecendo bases para o futuro, ele, Ribas, tra­çara um programa de ação imediata e mais claramente definida para os dois amigos, em cujo desempenho se lhes aplicassem as forças com a eficiência precisa. Evelina permaneceria, a sós, ao pé de Mancini, conti­nuando a presidir-lhe, quanto possível, a renovação men­tal, ao passo que Ernesto se encaminharia diariamente ao plano físico, de maneira a colaborar, no limite de seus recursos, a benefício de Desidério e de Elisa, carecedores de urgente e fraternal socorro.
Entendera-se com diversos diretores de serviço, do­miciliados em Esferas Superiores, e granjeara autori­dade suficiente para funcionar na solução dos problemas alusivos aos renascimentos que se fizessem neces­sários, em favor do reequilíbrio do grupo.
A moça, porém, no registrar-lhe as instruções, ra­ciocinou, pesarosa:
— Instrutor Ribas, não me será concedido, então, visitar meu pai e abraçá-lo agora? O senhor compreende as minhas saudades...
— Entendo, sim, mas a condição atual de Desidé­rio não nos aconselha espontaneidade nas atitudes. Para ajudá-lo com segurança, é imperioso examinar préviamente as nossas menores manifestações.
— Mesmo as minhas?
— Até mesmo as suas maneiras de filha entram em linha de conta. Aquele rebelde e nobre coração que lhe serviu de pai possui qualidades notáveis, que serão desentranhadas em momento oportuno. Convém, filha, não venhamos a estragar as oportunidades. Paciên­cia...
— Como assim?
— Ele deve reencontrá-la em momento de mais alta compreensão. Fantini assisti-lo-á, diariamente, através da palavra edificante, em tarefa idêntica ao apostolado doméstico que a sua dedicação desenvolve no amparo a Mancini, empenhando-se a despertá-lo para as alegrias da Espiritualidade Maior, ao mesmo tempo em que, nesse mister, ambos aprenderão a read­quirir o respeito e o afeto mútuos...
Depois de um sorriso amistoso:
— Não é isso mesmo que sucede a você, em relação a Túlio?
Evelina aquiesceu, compreensiva.
— Isso, entretanto — prolongou-se o mentor —, não obstará sua intervenção nos acontecimentos, quando as circunstâncias no-la sugiram. Você pode e deve efe­tivamente rever seu pai terrestre; no entanto, a sua influência filial, a nosso ver, precisa ser usada em favor dele mesmo...
A senhora calou-se e Fantini aparteou:
— Instrutor, se não sou importuno, estimaria sa­ber se o mensageiro de sua confiança inspecionou a si­tuação de nossos companheiros na residência do Gua­rujá...
— Sim, mas não foram achados ali. Estão em São Paulo.
— Na casa de Vila Mariana?
— Caio e Vera, sim...
— E Elisa?
— Há precisamente seis dias foi internada para tratamento numa clínica de saúde mental.
— Meu Deus!... Como as coisas se modificam!... Instada por Serpa, a filha assumiu responsabili­dades e a doente não pôde resistir. As notícias rece­bidas, no entanto, destacam enorme gravidade nos prog­nósticos, quanto à nova posição orgânica de Elisa. Sou constrangido a comunicar-lhes que a enferma piorou muito, quanto ao processo obsessivo de que é vítima, e, à face dos recursos circulatórios precários, surgiu-lhe uma trombose cerebral progressiva, indicando desen­carnação próxima. Tudo isso, após terrível desgosto...
— Que desgosto? — interpelou Fantini, atônito. O instrutor, imperturbável:
— Averiguamos que Serpa, de algumas semanas para cá, pressionou Vera para que se retirasse da ge­nitora a faculdade de dirigir os próprios negócios. Ad­vogado de muitas relações, muniu-se de influências di­versas e, assim que convenceu a futura sogra a hospi­talizar-se para tratamento, assegurando não passaria de dois a três dias, obteve, com as certidões devidas, o despacho da autoridade competente, favorável aos seus propósitos. E apresentou esses propósitos aos amigos, em todas as providências, como sendo da jovem a quem promete desposar. Claro que o choque para Elisa foi algo de muito doloroso, ao reconhecer, na instituição de saúde em que se encontra, a impossibilidade de mo­bilizar os seus recursos econômicos. Isso porque, apesar de obsessa, está perfeitamente lúcida. Para nós, é a criatura de mediunidade torturada, com fenômenos psí­quicos por agora incompreensíveis a quantos lhe des­frutam a convivência... Para Serpa e Vera, é um caso de senilidade precoce...
— Caio, então... agora...
A frase hesitante de Ernesto esmoreceu-lhe na boca.
Ribas, no entanto, completou-a:
— É o procurador de nossa doente e da filha, com poderes legais para manejar-lhes todos os bens...
Ante os dois interlocutores, espantados:
— A vista dos fatos e admitindo o imperativo de nosso entendimento tão arejado quanto possível, é for­çoso informar você, Fantini, de que os seus terrenos em Santos já foram vendidos, anteontem, conforme re­soluções de Serpa, que se investiu na posse de alguns milhões de cruzeiros, a título de corretagem. Não digo isso como quem julga o comportamento menos feliz de um companheiro, mas sim porque necessitamos planejar o futuro, com a obrigação de nos determos em minu­dências mesmo indesejáveis...
— Que ladrão!... — o grito acusativo de Ernesto vibrou, insopitado.
— Meu Deus!... Mais uma vez, Caio, malfeitor!
Ribas fixou um gesto de paternal benevolência e opôs a contradita:
— Evitemos a crueldade, fujamos de qualquer vio­lência. Indispensável envolver Serpa e Vera em ondas de nossa melhor simpatia.
— Porquê? — bradou Fantini, desolado.
— Vocês não devem esquecer que os dois, na equi­pe doméstica, são amigos providenciais.
Se vocês ope­rarem com segurança, no apoio afetivo de que Caio não prescinde, esposarâ Vera e será o pai de Mancini na existência próxima. Sem dúvida, agindo assim, resga­tará o débito que lhe é próprio, porqüanto, havendo subtraído Túlio à vida física, é obrigado a restituir-lhe esse mesmo patrimônio, segundo os princípios de causa e efeito. Além disso, porém, tranquilizará Evelina, en­carregando-se no mundo da reeducação de um Espírito, cujo destrambelho emotivo tanto trabalho vem custando à nossa amiga.
— Entendo tudo isso, mas... — abalançava-se Fantini a interpor argumento menos favorável, que Ribas cortou, esclarecendo:
— Sei, Fantini, o que você pensa. Você, apegado ainda à família consanguínea que o Senhor lhe em­prestou na Terra, reconhece que Serpa começou a apo­derar-se daquilo que foi sua razoável fortuna. Você, indiscutivelmente, não se deve iludir. Assim como já negociou os lotes que lhe pertenciam em Santos, disporá talvez de todo o material que você aprecia ainda como sendo os seus apartamentos de aluguel em São Paulo, a sua residência de Guarujá, as suas apólices, as suas jóias, os seus depósitos bancários e até mesmo o seu pequeno mundo doméstico de Vila Mariana... Aceite a realidade, meu amigo. Todas as suas propriedades no campo físico, mediante a desencarnação, passaram ao domínio de outras vontades e ao controle de outras mãos. A vida reclama o que nos empresta, dando-nos em troca, seja onde seja, o que fazemos dela, junto dos outros... Todas as transformações a que nos referi­mos virão, na certa, logo Caio consiga fazer de sua filha a esposa legítima. Entretanto, abstenhamo-nos de classificá-lo por ladrão e malfeitor. Ele é, sim, um filho de Deus, tanto quanto nós, sacando no futuro. Toma hoje, por empréstimo, à sua viúva e à sua filha os recursos que você lhes deixou, por fruto de uma existência imensamente laboriosa, julgando que realiza brilhante proeza de inteligência... Entretanto, a pessoa enganada é ele mesmo, o nosso pobre amigo...
— Mas, como?
O mentor, sereno, clareou o assunto:
— Supondo senhorear largos créditos, Caio apenas assume largas dívidas, perante as Divinas Leis. Reten­do os patrimônios materiais de Elisa e Vera, experi­mentará, instintivamente, a fome de ação para enrique­cer-se cada vez mais. Apaixonar-se-à pelo dinheiro e tão cedo se sentirá saciado. Ao invés de aproveitar as alegrias da vida simples, andará distante da verdadeira felicidade, escravizado que ficará, por muito tempo, à ambição de ganhar e ganhar, amontoar e amontoar... E isso tudo, no fim, será revertido em benefício... Sabe de quem?
— Estimaria saber... — apontou Ernesto, esto­magado.
— Dos seus familiares, meu caro, e principalmente de Elisa, a quem ele presentemente impele à desencar­nação prematura, com apontamentos insensatos, sequio­so de lhe governar as vantagens econômicas em regime de ilusória impunidade.
— Oh! Explique-nos!... — solicitou Ernesto, an­sioso.
Ribas apanhou pequeno mapa, dentre os papéis que compulsava, e elucidou, indicando figurações aqui e ali:
— A desencarnação de Elisa está prevista para bre­ves dias, mas o renascimento dela, depois de reequilí­brio seguro em nossa estância, poderá ocorrer, confor­me nosso esquema, dentro de cinco a seis anos. Com a permissão de nossos Maiores, será ela filha de Serpa e Vera, se vocês trabalharem no socorro a ambos, com muito amor... Renascerá depois de Mancini, que lhes será o primogênito... Como é fácil de perceber, daqui a trinta anos, mais ou menos, ocasião considerada pro­vável para o retorno de Caio à Vida Espiritual, devol­verá ele à sogra espoliada — então sua filha — tanto quanto a Vera Celina, na condição de viúva, todos os patrimônios de que hoje se apropria. E restitui-los-á positivamente aumentados, acrescidos de grandes ren­dimentos, ao mesmo tempo em que terá trabalhado o bas­tante para legar a Túlio, na existência nova, uma si­tuação material invejável...
Diante de Evelina e Ernesto estupefatos com a segurança das Leis de Deus, Ribas pareceu encerrar os estudos, advertindo:
— Longe de nós a intenção de categorizar Serpa à conta de larápio ou delinquente; ele é nosso aliado, nosso amigo. O que nos compete fazer, de imediato, é rogar ao Senhor fortalecê-lo com a bênção da saúde física e da euforia espiritual, a fim de que viva tran­quilo, no casulo terrestre, por muitos e muitos anos.
E, sorrindo:
— Chegará o tempo em que vocês dois se apres­tarão, quanto possível, a fim de resguardar-lhe as ga­rantias pessoais e ampliar-lhe os lucros dignos, de ma­neira a proteger o futuro dos entes caros. Imploremos a Deus faça dele um homem rico e bondoso, diligente e realizador. Precisamos dele e, consequentemente, Caio precisa de nós.
Notando a senhora Serpa que a conversação des­cambava para o término, apressou-se a dizer:
— Instrutor, e meu pai? Venho sonhando para ele o regresso ao berço terreno. .
— Isso igualmente já consta de nosso esquema. Sabíamos, Evelina, que você, filha dedicada e amorosa, cogitaria de ajudá-lo... Fomos informados de que você ontem já lançou no coração materno a idéia-semente que frutificará com o Amparo Divino, suplicando à nos­sa irmã Brígida o recolha, no lar, como menino perfi­lhado. Seu apelo foi muito feliz e, com semelhante medida, Amâncio Terra, seu padrasto, receberá o so­corro merecido. Em verdade, ele exterminou o corpo de Desidério, seu pai, alucinado na paixão que lhe enceguecia o espírito, e apossou-se-lhe da casa e dos recursos... É um homem ateu e evidentemente cri­minoso, mas profundamente humano e caritativo. Re­colheu os bens de seu pai; no entanto, ao dilatá-los, com administração judiciosa e profícua, fêz-se o esteio eco­nômico para mais de duzentos espíritos reencarnados, os seus servidores e rendeiros, com os descendentes res­pectivos... Há mais de vinte anos, a todos protege, com a vigilância de um pai atento e bom. Nunca abandonou os que enfermassem, nunca desprezou os caídos em prova, nunca deixou crianças ao desamparo... Sim!... Ele assassinou Desidério, seu pai, e respon­derá por essa falta, nos tribunais da vida, mas escra­vizou-se a Brígida, sua genitora, de quem procura sa­tisfazer os menores desejos na posição de marido ho­nesto e fiel... Tantas preces sobem do mundo, a favor dele, para a Infinita Misericórdia de Deus, pelas con­solações e alegrias que espalha, que chegou a merecer mais amplas atenções de nossos Maiores... Fomos recomendados ontem para que a sua filial rogativa seja atendida no momento oportuno... E quanto a seu pai, segundo a sua petição, retornará, com a Bênção do Senhor, ao convívio do homem que ainda odeia, mas aprenderá a ver-lhe as qualidades nobres e amá-lo-á enternecidamente, como a um pai verdadeiro, de quem receberá abnegação e ternura, apoio e bons exemplos.
Ribas silenciou por momentos e, em seguida, acen­tuou, qual se estivesse respondendo a certas dúvidas dos ouvintes:
— É inegável que Amâncio possui apenas mais dez anos de permanência no corpo físico, de acordo com os dados esclarecedores que nos foram enviados, com objetivos de estudo; no entanto, para um homem com os serviços prestados que ele tem, não nos será difícil obter, junto aos Poderes Superiores, moratória de quin­ze a vinte anos a mais, prolongando-se-lhe o tempo na existência atual... Á face de tudo isso, esperamos pos­sa ele realmente conquistar do Senhor a felicidade de receber Desidério por filho — através do concurso de um casal humilde —, a fim de conferir-lhe vida nova e devolver-lhe, no porvir, todos os bens de que foi, um dia, despojado...
Esteja certa, Evelina, de que seu pai, reorientado pelo verdugo de outro tempo, hoje transfigurado em obreiro do bem, na escola do trabalho, será um homem equilibrado e com todos os recursos para ser feliz.

QUESTÕES PARA ESTUDO E DIÁLOGO VIRTUAL

1) Por que Ernesto passou a ajudar diretamente Desidério, em vez de Evelina sua filha?
2) O que aconteceu com Elisa, mãe de Vera Celina?
3) Caio ao receber autorização de Vera Celina, passa a administrar todos os bens de sua mãe (Elisa). Por que o instrutor Ribas diz para Ernesto não nutrir raiva e auxiliá-lo confiando na Justiça Divina?
4) Qual o planejamento foi realizado para auxiliar Desidério (pai de Evelina), Elisa (mãe de Evelina) e Túlio?
5) Por que Amâncio merecia moratória enquanto encarnado se ele assassinou Desidério?


Um abraço Fraterno,
Equipe André Luiz

Conclusão

Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo – CVDEE

Sala de Estudos André Luiz

Livro em estudo: E a vida continua (Editora FEB)

Autor: Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier

Tema: Capítulo 22 – Bases de novo porvir – parte 1


CONCLUSÃO

1) Por que Ernesto passou a ajudar diretamente Desidério, em vez de Evelina sua filha?
Porque Desidério ainda encontrava-se em desequilíbrio. Era preciso um planejamento atendo com ações dirigidas, sem espontaneidade. Desse modo, Evelina surgiria em momento oportuno. O amparo de Ernesto a Desidério, era também um modo reparação de si próprio.

2) O que aconteceu com Elisa, mãe de Vera Celina?
Elisa foi internada em uma clínica de saúde mental sob a alegação de que estava senil, desequilibrada. Mas, esta situação foi sugerida por Caio Serpa que obteve uma procuração para administrar todos os bens de Elisa.

3) Caio ao receber autorização de Vera Celina, passa a administrar todos os bens de sua mãe (Elisa). Por que o instrutor Ribas diz para Ernesto não nutrir raiva e auxiliá-lo confiando na Justiça Divina?
A Justiça Divina sempre se cumpre. Caio retirou todos os bens de Elisa, causando-lhe desgosto e apressando-lhe a desencarnação. Contudo, ele a receberia como filha anos seguintes, devolvendo-lhe todos os bens retirados.

4) Qual o planejamento foi realizado para auxiliar Desidério (pai de Evelina), Elisa (mãe de Evelina) e Túlio?
Desidério reencarnaria como filho adotivo de Brígida e Desidério.
Elisa e Túlio reencarnariam como filhos de Caio e Vera Celina.

5) Por que Amâncio merecia moratória enquanto encarnado se ele assassinou Desidério?
Embora Amâncio tenha cometido um assassinato, ele auxiliou muitas famílias amparando-as sempre que preciso e com isso conquistando simpatia dos amigos espirituais. Através de suas ações, muitas preces eram realizadas em favor dele.

Um abraço Fraterno,
Equipe André Luiz