E a vida continua

016 – Capítulo 16 – Trabalho renovador

Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo – CVDEE

Sala de Estudos André Luiz

Livro em estudo: E a vida continua (Editora FEB)

Autor: Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier

Tema: Capítulo 16 – Trabalho renovador


ESTUDO

Vida nova começou para Evelina e Ernesto, espe­cialmente para Evelina.
Indispensável auxiliar Túlio, abençoá-lo, renová-lo. Para isso, os dois amigos se matricularam em co­légio de estudos preparatórios de mais altas ciências do espírito. Radiantes de esperança e entusiasmo, adquiriam conhecimentos em torno de evangelização, reforma ín­tima, sintonia mental, afeição, agressividade, autocon­trole, obsessão, reencarnação.
A fim de conversar construtivamente com aquele que se lhe extraviara à conta pessoal, a senhora Serpa munia-se de instruções com que lhe pudesse ganhar o raciocínio. Competia-lhe o esforço mais grave, desfazer-lhe na mente o quisto de ilusões que ela própria criara. Fantini, contudo, que se compadecera fundamente do rapaz menos feliz, de acordo com avisos do Instituto de Proteção, poderia acompanhá-la a pequena distância, com a obrigação de intervir quando necessário.
No dia marcado para início da tarefa, a subdividir-se em visitas de esclarecimento e enfermagem três vezes por semana, Ribas seguiu em pessoa os dois obreiros para o refúgio de saúde mental em que os novos deveres se lhes impunham.
Integrando diminuta comunidade de enfermos da alma, o jovem Mancini se achava recluso em solitária dependência que o Instrutor informou estar erguida àbase de material isolante contra o impacto de vibrações suscetíveis de agravar-lhe a sede de companhias menos recomendáveis.
O orientador apresentou ambos os companheiros às autoridades e auxiliares do pouso de reajuste e, tanto Evelina quanto Ernesto, sob o beneplácito da simpatia geral, puseram mãos à obra.
Túlio acolheu, encantado, a presença da moça e, de começo, reafirmava-lhe os protestos de devoção afe­tiva em ditirambos de lealdade e ternura.
A senhora Serpa, no entanto, redobrou cautelas emolduradas de carinho, suplicando a inspiração da Vida Maior, para não falhar na missão que abraçara.
Os diálogos terapêuticos prosseguiam, pontualmente. Apesar disso, Mancini não se desfixava da paixão que o absorvia, lembrando um barco chumbado ao solo, inca­paz de afastar-se do cais.
Principiasse Evelina a preparar clima adequado às lições e ele choramingava, à maneira de criança doente. Declarava-se indisposto e inabilitado para o estudo, des­considerado, ofendido nos brios próprios. Asseverava-se infenso a qualquer ponderação filosófica, alegando não sentir inclinação para assuntos de fé. Insistia em reco­nhecer-se unicamente um homem-homem, na definição dele mesmo, e, nessa condição, não queria uma enfer­meira ou preceptora, mesmo solícita quanto a moça se revelava, e sim uma companheira, a mulher dos seus sonhos.
Evelina ouvia pacientemente os remoques e lamen­tações incessantes, aparando-lhe os golpes e podando-lhe as impressões destrutivas, sempre assistida por Ernesto que lhe supervisionava os esforços com generosa atenção. Imbuída das responsabilidades que lhe assinalavam agora a vida e sendo criatura profundamente emotiva, a senhora Serpa concentrava-se, de modo constante, no esposo, nele investindo toda a carga de seus potenciais afetivos. Para sentir-se na posição de tutora maternal de Mancini, ex­perimentava a necessidade de ser mais entranhadamente a mulher de Caio.
Por essa razão, mentalizava-lhe a imagem, a cada passo, endereçando-lhe em silêncio os seus mais belos pensamentos de amor. É verdade que Serpa não lhe havia sido o consorte ideal. Além disso, sabia-o agora homicida, com refinados recursos de inte­ligência para ocultar-se. Evelina, porém, humana quanto qualquer ser humano, ponderava, de si para consigo, que ele se fizera criminoso por amá-la. Eliminara a exis­tência de Túlio para disputar-lhe o coração, em agoniado lance afetivo. Aspirava a revê-lo em pessoa, haurir-lhe o calor da presença, a fim de revigorar-se para os emba­tes morais a que se confiava; entretanto, por mais soli­citassem permissão para visitar a família terrena, Fan­tini e ela obtinham regularmente a mesma resposta dos mentores: «muito cedo».
Reconfortavam-se, por isso, com estudo e trabalho. De vez em vez, o tête-ã-tête entre ambos. As confi­dências.
Ernesto falava enternecidamente da esposa Elisa e da filha Celina. Sensibilizado, entretecia no mágico pai­nel da saudade a imagem das duas por espelhos crista­linos de amor, em que se comprazia mirar-se, conquanto a filha o tratasse, muitas vezes, com rebeldia cruel... Decerto que a viúva e a jovem não arrostavam difIcul­dades materiais de vulto maior. Legara-lhes renda expressiva. Boa casa. Algum dinheiro em mãos honestas a fornecer-lhes pensão sólida e os seguros em que mon­tara a defensiva doméstica.
Mas... e a ausência? Indagava-se, constantemente, junto da amiga que se lhe transformara em irmã de to­das as horas. A ausência, a distância!...
Perdiam-se os dois em conjeturas, prelibando alegrias de reencontro. Achavam-se suficientemente informados de que entre eles e os amados do mundo se levantava agora o muro das vibrações diferentes. Em vista disso mesmo, não mais lhes seria possível retomar-lhes a atenção como quem volta de uma viagem. Competia-lhes a obrigação da conformidade, perante quaisquer transfor­mações a que se lançassem. Nesse sentido, até ali, ha­viam registrado as mais diversas narrações de mortos que procediam da Terra, desacoroçoados e tristes, ante a impossibilidade de serem vistos, ouvidos, assinalados, tocados pelos parentes. Muitos voltavam consolados e esperançosos, como que libertos de laços e algemas que lhes fôssem pesados aos corações, mas outros muitos re­gressavam desencantados e sorumbáticos, evidenciando pouca disposição para conversar. Referiam-se a amigos e a mudanças radicais na vida caseira, mencionavam de­sastres e falências na ordem afetiva de almas inolvidá­veis. Eles dois, porém, se identificavam otimistas, con­fiantes. Evelina entusiasmava-se, derramando-se em no­bres impressões, diante de Ernesto, atento. Caio, na opinião dela, caíra em deslizes; todavia, reabilitara-se-lhe no conceito de esposa pelo alto gabarito de ternura e ab­negação a que se elevara, durante os dias últimos da enfermidade que lhe fora fatal ao corpo físico. Em ver­dade, podia ter sido desleal, durante algum tempo, lá isso podia. Era um homem com as exigências naturais da vida comum e obviamente se distraía, enquanto lhe aguardava a cura e o refazimento, mas à frente da mor­te, diante da longa separação .... modificara-se, parecia haver recuperado a condição do noivo, amoroso, terno... E Evelina, ao contemplá-lo com os olhos da imaginação, supunha-o agoniado e infeliz, no anseio de livrar-se da carne, a fim de reacolhê-la nos braços. Antecipava opi­niões, enquanto Fantini lhe guardava, com interesse, a doce expectativa. Solenizando alegações, asseverava que Serpa cometera até mesmo a loucura de eliminar a pre­sença de Túlio, no intuito de desposá-la. Fora isso ter­rível calamidade, fora. No fundo, porém, Evelina mos­trava traços inequívocos da vaidade de sentir-se querida. Declarava, resoluta, que tal qual se esforçava por Man­cini, desvelar-se-ia, mais tarde, por Serpa. Esmerar-se-ia em ajudá-lo em qualquer reparação que se fizesse pre­cisa.
Ernesto volvia, então, a biografar-se, contando his­tórias do lar. Amava a esposa, entranhadamente, e con­fessava que praticara muitos disparates, quando mais moço, de maneira a preservar a tranquilidade doméstica. E a filha? Celina era uma bênção que lhe acalentara o coração na madureza. Sempre terna, compreensiva, de­votada. Sonhara para ela um marido bom, amigo; no entanto, deixara-a aos vinte e dois de idade sem casa­mento à vista. Conquanto a dor de pai, distanciado de casa, depunha na filha a maior confiança. Não lhe te­mia o futuro. Além de provida com mesada apreciável, lecionava Inglês com mestria. Ganhava dinheiro e sabia guardar.
Mantinham-se, desse modo, sucessivas conversações entre os dois. Sentimentais. Saudosistas.
Passados seis meses de atenção e doutrinação, a benefício de Túlio, Ribas veio examiná-lo em pessoa, segundo promessa havida.
Após verificar a pontualidade e a eficiência de Eve­lina, através de anotações referendadas pelas autorida­des orientadoras da casa, penetrou o aposento do en­fermo, categorizado para ele como médico em acurada ins­peção. Ao primeiro olhar, porém, reconheceu que Man­cini apresentava escasso proveito com as lições rece­bidas.
Apático, denunciava na mente uma ideia central:
Evelina. E com Evelina no miolo das mais profundas cogitações, vinham as ideias-satélites: o anseio de trans­formá-la em objeto de posse única, o tiro de Caio, o de­sejo de vingança e as escuras alusões da autopiedade.
Ribas não descobria a mais ligeira fresta, naquele coração pesado de angústia, para filtrar um só raio de otimismo e esperança.
Ás primeiras manifestações do inquérito afetivo, res­pondeu ao Instrutor, com a tristeza de um doente que se sabe sem cura:
— Qual, doutor, sem Evelina comigo, nada consigo entender. Se ouço Evangelho, penso que ela — ela só — é o anjo capaz de salvar-me; se anoto ensinamentos, acerca de autocontrole, vejo-a no pensamento, como sen­do a única alavanca, bastante forte para governar-me; se escuto exortações à fé, acabo querendo-a para meu reconforto exclusivo; se recebo esclarecimentos em torno de obsessão, termino a aula confessando a mim mesmo que, se pudesse, largaria este hospital a fim de persegui­-la e tomá-la em meus braços, ainda que para isso de­vesse caminhar até os derradeiros confins do mundo!...
O mentor sorriu, paternal, e aconselhou calma, equi­líbrio.
— Reflitamos, meu filho, que somos espíritos eter­nos. Urge conservar serenidade, paciência...
Felicidade é obra do tempo, com a bênção de Deus.
O rapaz revidou ácido, irreverente. Não pedira, não aceitava conselhos.
Hábil psicólogo, Ribas despediu-se.
Á noite, esteve com os amigos e elogiou o trabalho de Evelina.
A empresa de reeducação fora efetuada com segu­rança. Túlio, entretanto, não reagira construtivamente. Mostrava-se abúlico, embutido nas fantasias que estabe­lecera em prejuízo próprio.
E terminou dizendo para Fantini e a senhora Serpa que o ouviam, atentos:
— Não vejo qualquer interesse para Mancini na permanência aqui. Forçoso envidarmos esforços para que aceite, voluntàriamente, a miniaturização. (1)
— Renascer? — redarguiu Evelina, assustada. —Será preciso tanto?
E Ribas:
— Nosso amigo está mentalmente enfermo, profun­damente enfermo, traumatizado, angustiado, fixado.
O remédio será começar de novo... Ainda assim, terá dificuldades e desajustes pela frente.
O benévolo mentor não traçou advertências, nem articulou qualquer sugestão. E tanto Ernesto, quanto Evelina, enfronhados agora nos imperativos e provas da reencarnação, silenciaram de chofre, pensando, pen­sando...

(1) Miniaturização ou restringimento, no Plano Espiritual, significa estágio preparatório para nova reencarnação. — Nota do autor espiritual.


QUESTÕES PARA ESTUDO E DIÁLOGO VIRTUAL

1) Por que razão Túlio Mancini encontrava-se em local com “material isolante”?

2) Ernesto e Evelina não receberam permissão para visitar os familiares na Terra. Por que muitas vezes, nossos familiares desencarnados não podem nos visitar, mesmo que desejem?

3) Que tipo de recurso Ribas vê como necessário para a reabilitação de Túlio, uma vez que ele pouco absorve das lições ministradas por Evelina?


Um abraço a todos!
Equipe André Luiz

Conclusão

Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo – CVDEE

Sala de Estudos André Luiz

Livro em estudo: E a vida continua (Editora FEB)

Autor: Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier

Tema: Capítulo 16 – Trabalho renovador


CONCLUSÃO

1) Por que razão Túlio Mancini encontrava-se em local com “material isolante”?
Túlio Mancini esta em desequilíbrio, sem ainda conseguir se desvencilhar da paixão que nutria por Evelina. Como medida de proteção, estava em local com material isolante para neutralizar vibrações inferiores que pudessem agravar seu estado.

2) Ernesto e Evelina não receberam permissão para visitar os familiares na Terra. Por que muitas vezes, nossos familiares desencarnados não podem nos visitar, mesmo que desejem?
Após a desencarnação, o Espírito precisa adaptar-se a sua nova realidade espiritual. Muitas vezes, os familiares encarnados tomam decisões ou passam por dificuldades que podem abalar o Espírito desencarnado, deixando-o "preso" no lar sem ajudar e ser ajudado. Como medida de proteção e apoio, os Espíritos Superiores autorizam a visita quando percebem que o Espírito encontra-se mais fortalecido moralmente e em condições de compreender as decisões dos familiares sem grande apego e desequilíbrio.

3) Que tipo de recurso Ribas vê como necessário para a reabilitação de Túlio, uma vez que ele pouco absorve das lições ministradas por Evelina?
Apesar de toda proteção que vem recebendo regularmente, Túlio mostra-se refratário as orientações de Evelina. Desse modo, Ribas propõe uma nova encarnação para que ele continue a progredir moralmente.


Um abraço a todos!
Equipe André Luiz