E a vida continua
015 – Capítulo 15 – Momentos de análise
Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo – CVDEE
Sala de Estudos André Luiz
Livro em estudo: E a vida continua (Editora FEB)
Autor: Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier
Tema: Capítulo 15 – Momentos de análise
ESTUDO
Atendendo à solicitação de Ernesto e Evelina que ansiavam por esclarecimento, no embaraço que a presença de Túlio lhes impunha à cabeça, o Instrutor Ribas marcou-lhes encontro, de que se valeram pontualmente.
No ambiente acolhedor do Instituto, o amigo lhes ouviu pacientemente as arguições.
Que significa a perturbação do rapaz? como lograriam os dois, notadamente Evelina, auxiliá-lo corretamente? ser-lhes-ia lícito rogar ao Instituto alguma informação, quanto às acusações de Mancini contra Caio Serpa? estariam ambos capazes de assumir responsabilidades para ajudar ao moço infeliz?
Após ouvi-los, o orientador repartiu com eles um olhar de brandura e advertiu:
— Vocês já reiteraram diversos pedidos de acesso ao trabalho espiritual; não estranhem se chegou a hora de começar.
Depois de uma pausa, transformada em sorriso:
— Túlio Mancini é o marco de início da obra redentora que abraçam. Investiguem os próprios corações, especialmente nossa irmã Evelina, e verifiquem a pena que as dificuldades dele lhes causam. Onde o amor respira equilíbrio, não há dor de consciência e não existe dor de consciência sem culpa.
— Oh! Instrutor — clamou a senhora Serpa diga, por gentileza, tudo o que devo fazer!
— Falar-lhes-ei como a filhos, porque entre pais e filhos não prevalecem suscetibilidades.
Mudando de tom:
— Irmã Evelina, que sensações foram as suas, em se vendo a sós com o amigo recém-visto?
A moça, que formulara o intimo propósito de arrostar a verdade, fôssem quais fôssem as consequências, admitiu:
— Sim, ao rever-me a sós com ele, sem ninguém a observar-nos, como que me detive nas lembranças do passado, quando supunha haver achado nele o homem de minha preferência. Senti-me transportada à juventude, e então...
— E então — o mentor benevolente completou a frase reticenciosa — as suas próprias vibrações lhe encorajaram a agressividade afetiva.
— Entretanto, recordei, às súbitas, os meus compromissos conjugais e contive-me.
— Fêz muito bem — contrapesou Ribas —, ainda assim, o seu coração falou sem palavras, provocando novas sequências do desajuste emocional de que Mancini foi vítima, na experiência terrestre, em grande parte motivado por suas promessas não cumpridas.
Oh! meu Deus!...
— Não se aflija. Somos Espíritos endividados, perante as Leis Divinas, e estamos situados na faixa de expressiva transição, a transição do amor narcisista para o amor desinteressado. Temos teorias de santificação para o sentimento, mas, na essência, somos, na prática, simples iniciantes.
Na esfera dos pensamentos nobres, assimilamos o influxo dos Planos Gloriosos; todavia, no campo dos impulsos inferiores, carregamos ainda o imenso fardo de desejos deprimentes, que se constituem de vigorosos apelos à retaguarda.
Impressionado, Fantini aparteou:
— Quer dizer que o homem terreste...
— É um ser de inteligência refinada pelos poderes que adquiriu na caminhada evolutiva em que se empenha, desde muitos séculos, mas ainda oscilante, de modo geral, entre animalidade e humanização, conquanto os casos particulares de criaturas que já se encaminham da humanidade para a angelitude. A maioria de nós outros, os Espíritos capitulados na escola da Terra, nos achamos em trânsito da poligamia para a monogamia, com referência à devoção sexual. Decorre daí o impositivo de vigilância sobre nós mesmos, sabendo-se que o sexo é faculdade criativa, nos domínios do corpo e da alma.
Denotando, porém, o propósito de não se afastar do problema específico de Evelina:
— Compreensível, minha irmã, que você houvesse registrado o fenômeno da atração de que dá notícia e muitíssimo justa a continência a que se determinou, exortando o raciocínio claro e responsável a frenar o coração imaturo. Ninguém atingirá o porto da dignidade espontânea, sem viajar, por longo tempo, nas correntes da vida, aprendendo a manejar o leme da disciplina. Embora isso, porém, saibamos debitar a nós próprios os erros que perpetramos, no tocante aos valores afetivos, a fim de saná-los ou resgatá-los em momento oportuno;
— Devo reconhecer minha dívida para com Mancini, hipotecando-lhe noutro tempo tantos votos de felicidade que deixei para ele absolutamente vazios... — suspirou a senhora Serpa, desconsolada.
— Isso mesmo. Túlio terá cometido muitos disparates, até agora; no entanto, a sua consciência de mulher não se eximirá, com certeza, aos compromissos que lhe cabem no assunto.
— E de que modo apagar o meu débito?
— Auxiliando-o a limpar as próprias emoções, como se purificam as águas de um poço barrento.
Diante da inquietude que passou a desassossegar a jovem senhora:
— Nada de precipitação, nem de violência. Forçoso aceitar-nos tais quais somos e facear os problemas que nos advenham dos próprios desacertos. Não estudamos para chorar. A irmã está consciente de que cooperou no desastre moral do amigo em análise. Vejamos serena-mente o que lhe será possível fazer agora, de maneira a que se reponha na estrada certa.
— Pequenina quanto sou, que conseguiria realizar?
— Suplicou a moça, humilde.
Ribas recorreu a largo móvel em que se adivinhava complicada peça de arquivo e, sacando uma ficha, explicou que ali jaziam sumariados todos os informes que Evelina prestara em seu primeiro contacto com o Instituto. Em seguida, elucidou que, de posse da versão doada por ela mesma, acerca dos acontecimentos que lhe haviam atormentado a existência, ele, Ribas, providenciara a obtenção de conhecimentos complementares, alusivos à senda que ela escolhera trilhar. Viera, assim, a saber que Mancini efetivamente perdera o corpo físico pela ação delituosa de Serpa, que lograra ilaquear as autoridades humanas com um crime perfeito, no qual compusera com habilidade a tese de suicídio. Vítima da desencarnação prematura, perambulara o rapaz, algum tempo, à feição de sonâmbulo, na paisagem terrena que lhe servira de fundo à tragédia, sendo, mais tarde, recolhido, ali mesmo, na cidade de regeneração e refazimento em que lhe pesquisavam agora a situação. Aí convalescera por alguns meses; no entanto, a paixão que Evelina lhe insuflara levianamente na alma lhe fixara nela e em torno dela os pensamentos. À vista disso, tornara-se arredio ao próprio reerguimento, acabando por fugir no rumo do tenebroso distrito da inteligência desenfreada, onde se relegara, nos últimos anos, a desvarios diversos. Vinculado à moça que lhe acalentara em vão tantos sonhos de ventura e de afeto, viciara-se no território da sombra, desconsiderando a própria respeitabilidade. Retornando àquele pouso de consolação e reequilíbrio, por efeito do reencontro com a criatura que lhe permanecia na mente por eleita inesquecível, fora agraciado com novo ensejo de auto-reeducação.
A senhora Serpa e Ernesto assinalavam, atônitos, a exposição que primava por lógica irretorquível.
Às agoniadas inquirições da interessada, quanto ao comportamento que lhe competia adotar, Ribas aclarou:
— Podemos dizer-lhe, minha irmã, que, por seus méritos indiscutíveis, benfeitores e amigos de que dispõe na Espiritualidade Maior rogaram aos agentes da Divina Justiça não lhe permitissem a desencarnação sem começar o processo de sua reabilitação espiritual na Terra mesmo... Assim é que, através da onda mental dos remorsos que lhe ficaram, à face do suposto suicídio de Mancini, você atraiu para o próprio claustro materno o Espírito sofredor de um irmão suicida, sentenciado pela própria consciência a experimentar a provação de um corpo frustrado, de modo a valorizar com mais respeito o divino empréstimo da existência física. Como é fácil de ver, as angústias da maternidade malograda lhe foram extremamente úteis na Terra, por lhe haverem proporcionado ensejo a preciosas reparações.
— Entretanto — mencionou Fantini —, informãmo-nos de que Mancini não caiu por si próprio e sim pela arma do rival.
— Apesar disso — consertou Ribas —, não olvidemos que o moço empreendeu, antes, a lamentável tentativa, impulsionado pela ação da própria Evelina, dando a Serpa o molde do crime.
Esboçando sorriso benevolente:
— Estamos examinando, entre amigos, a lei de causa e efeito. Compreendamos que a justiça funciona em nós mesmos.
— Mas...
Fantini, admirado, iniciou debalde a tréplica vacilante. Ignorava como entretecer novas dúvidas, ante a conceituação racional que o mentor tranqüilamente patenteava.
Foi o próprio Ribas quem retomou o fio das justificações. anotando:
— Somos mecanicamente impelidos para pessoas e circunstâncias que se afinem conosco ou com os nossos problemas. Suscitando idéias de autodestruição na mente de um homem cujas atenções granjeara, Evelina transportou-se da irreflexão para o arrependimento, depois de verificar-lhe a derrocada moral numa empresa gorada de suicídio, procurada conscientemente.
Apenas aí, coagida pela compunção, nossa irmã percebeu que agira em prejuízo do rapaz de quem obtivera integral confiança, lesando, em consequência, a si própria. Lastimando Mancini, deplorava a si mesma e, nesse estado de emoções negativas, fêz-se vaso de uma entidade nas condições em que supunha haver precipitado o moço menos feliz. À vista disso, converteu-se automàticamente em desventurada mãe de um companheiro suicida, no anseio de expiar a própria falta.
Endereçando afetuoso olhar para a senhora Serpa:
— Enunciando inconscientemente o desejo de exculpar-se, o seu propósito alcançou o coração de amigos e benfeitores, no Mundo Espiritual, que lhe advogaram a concessão da bênção a que já nos referimos. Você padeceu, pois, antes da desencarnação, a pena de que se julgava merecedora, sequiosa que se achava de propiciar a Mancini a supressão do mal que lhe havia causado. Você não pagou em Túlio o débito em que se viu incursa, mas resgatou essa conta, junto a suicida anônimo, tão filho de Deus quanto nós, redimindo-se no foro íntimo, segundo a lei que rege a tranquilidade de consciência. E o irmão desconhecido, ao mesmo tempo que amargou a provação do berço prematuramente inutilizado, começou a ressarcir a dívida que assumira para consigo mesmo, aprendendo quanto custa e como custa o tesouro de um corpo físico, utensílio de aperfeiçoamento e progresso.
Ernesto e Evelina escutavam, surpresos.
— Cumpre-se a Eterna Justiça no mundo de cada um de nós — rematou o professor. — Deus não nos condena nem nos absolve. O Amor Universal está sempre pronto a soerguer-nos, instruir-nos, burilar-nos, elevar-nos, santificar-nos. O destino é a soma de nossos próprios atos, com resultados certos. Devemos sempre a nós mesmos as situações em que se nos enquadra a existência, porqüanto recolhemos da vida exatamente o que lhe damos de nós.
— E agora? — interrogou Evelina, espantada.
— As circunstâncias trouxeram-lhe o credor ao ambiente pessoal, porque você, minha irmã, está felizmente em posição de prosseguir no trabalho restaurador!
— Que fazer, meu amigo?
— Se você está realmente disposta a renovar o caminho, chegou o momento de ajudar Mancini a desvencilhar-se das ideias enfermiças que a sua conduta de moça menos responsável lhe instalou na cabeça, tornando-se presentemente para ele em devotada preceptora, a reformular-lhe a visão da vida, no plano espiritual.
— Não posso desempenhar, junto dele, o papel de companheira...
Ribas acarinhou-lhe a mão com ternura paterna e apontou:
— Se os erros da mulher não foram perpetrados, na categoria de parceira da vida sexual de um homem, ela não tem a obrigação de ser-lhe a esposa, tão-só porque lhe deva essa ou aquela indenização no reino do Espírito, sucedendo o mesmo ao homem, referentemente à mulher. Não obstante esse princípio, a lei de amor deve efetivar-se, independentemente das formas em que o amor se expresse.
E num tom de enternecimento profundo:
— Aqui mesmo, você pode regenerar o campo emotivo de Túlio e sublimar os seus próprios sentimentos em relação a ele, amparando-o e instruindo-o no grau de mentora maternal. Quase sempre, a recuperação de alguém é uma planta sublime da alma que sômente vinga porque a abnegação de outro alguém se dispõe a adubá-la com a proteção da ternura e com o orvalho das lágrimas...
Identificava-se Evelina banhada de esperança, Fantini mergulhou em alta meditação acerca das realidades eternas e Ribas, pressionado pelo horário que lhe convocava a presença em outros setores, prometeu continuar a esclarecedora conversação, logo lhes surgisse a desejada oportunidade, em momentos seguintes.
QUESTÕES PARA ESTUDO E DIÁLOGO VIRTUAL
1) Como Evelina contribui para a "afetividade agressiva" de Túlio ao lhe encontrar?
2) Como entender o aborto espontâneo de Evelina enquanto encarnada?
3) Como Evelina poderá ajudar Túlio, de acordo com o instrutor Ribas?
4) Comente: "Deus não nos condena nem nos absolve. O Amor Universal está sempre pronto a soerguer-nos, instruir-nos, burilar-nos, elevar-nos, santificar-nos."
Um abraço a todos,
Equipe André Luiz
Conclusão
Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo – CVDEE
Sala de Estudos André Luiz
Livro em estudo: E a vida continua (Editora FEB)
Autor: Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier
Tema: Capítulo 15 – Momentos de análise
QUESTÕES PARA ESTUDO E DIÁLOGO VIRTUAL
1) Como Evelina contribui para a "afetividade agressiva" de Túlio ao lhe encontrar?
Evelina mantém sintonia afetiva com Túlio e ao reencontrá-lo lembra-se do passado e de quando interessou-se por ele, mas ao mesmo tempo, sente-se culpada por ter-se casado com Caio Serpa.
As vibrações que emite perante Túlio que está em desequilíbrio, lhe despertam a agressividade afetiva.
2) Como entender o aborto espontâneo de Evelina enquanto encarnada?
Evelina arrepende-se de ter prejudicado Túlio, pois reconhece ter nutrido esperanças de um relacionamento que não se efetivou. O remorso por ter acreditado que ele se suicidou por sua causa, fez com que ela atraísse para si o Espírito de um suicida que passaria apenas pelo período de gestação para se reequilibrar.
Assim, o aborto espontâneo ocorreu como forma de reparação.
3) Como Evelina poderá ajudar Túlio, de acordo com o instrutor Ribas?
Será preciso ajudar Túlio a educar seus sentimentos. Não será preciso ser sua esposa, mas ajudá-lo com o amor fraternal.
4) Comente: "Deus não nos condena nem nos absolve. O Amor Universal está sempre pronto a soerguer-nos, instruir-nos, burilar-nos, elevar-nos, santificar-nos."
Cada Espírito está sempre amparado pelo amor e justiça Divina, respondendo por suas próprias ações e encontrando sempre a oportunidade de reparar e aprender perante cada erro cometido.
Um abraço a todos, Karina.
Equipe André Luiz