E a vida continua

009 – Capítulo 9– Irmão Cláudio

Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo – CVDEE

Sala de Estudos André Luiz

Livro em estudo: E a vida continua (Editora FEB)

Autor: Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier

Tema: Capítulo 9– Irmão Cláudio

Estudos

Finda a aula e, recomendados pela senhora Tambu­rini, que não pudera acompanhar a reunião, Fantini e a senhora Serpa se demoraram em companhia do Irmão Cláudio, que os recebeu carinhosamente na intimidade.
Não residia ali, explicou.
O Instituto desdobrava serviços em todo o prédio, ocupando-lhe as dependências. Ainda assim, que os ami­gos se sentissem convidados para alguns dedos de prosa, em casa, onde, junto da esposa, teria prazer em recebê-los. Já que a senhora Tamburini o indicara, como sendo um explicador capaz de prestar-lhes informes, em torno de problemas que reputavam importantes, punha-se-lhes à disposição para atender no que lhe fôsse possível, con­quanto se reconhecesse inabilitado a satisfazer como de­sejaria.
Tudo isso era dito, cortesmente, em recinto enlua­rado, no jardim da instituição, onde pequenos grupos de estudantes se espalhavam, aqui e além.
Ladeando mesa fixa, conversava o trio, animada­mente. Tão grande e tão manifesta a familiaridade em pauta, que nada faria supor estivesse integrando um quadro que não fôsse essencialmente terrestre. Em ra­zão disso, não obstante a fisionomia cismativa de Ernesto, exprimindo incerteza e ansiedade, via-se Evelina senhora de si, absolutamente convencida de que se achava num recanto autêntico do mundo que sempre lhe fôra habitual.
— Compreendo que se proponham a saber algo da nova residência — expôs Irmão Cláudio, imperturbável —, porqüanto a irmã Celusa Tamburini notificou que estão ambos despertos no hospital, de alguns dias para cá.
— Sim, é bem isso — confirmou Ernesto —, e somos gratos pela atenção que nos dispensa.
— Professor — interveio a senhora Serpa, confiante —, são tantos os comentários absurdos que já ouvimos, em nossos poucos dias de contacto com o novo meio, que, de minha parte, estimaria estar informada se dispomos da liberdade de perguntar ao senhor tudo, tudo o que nos causa espécie.
— Oh! claramente. Indaguem tudo, embora não me veja capaz de a tudo responder.
Convocado a exprimir-se pelo olhar percuciente do amigo, volveu Ernesto à palavra:
— Evelina, quanto me ocorre, tem o espírito domi­nado por uma questão capital. Isso lhe parecerá, talvez, uma criancice de doentes mentais, que, às vezes, temos ambos a impressão de ser, mas temos escutado, em cir­cunstâncias diversas, a afirmativa de que somos mortos em recuperação num ambiente que não mais pertence aos homens de carne e osso... A princípio, rimo-nos franca­mente, categorizando isso à conta de grossa tolice; en­tretanto, as opiniões se avolumam.
A própria senhora Tamburini está certa de que já cruzámos as fronteiras da morte, como quem vara uma noite de sono... Que nos diz a isso, professor?
Irmão Cláudio esboçou significativa expressão fa­cial, em que a admiração se misturava à piedade e obtem­perou, sem cerimônia:
— Estarão vocês em condições de acreditar em mi­nha palavra, se lhes ratificar a notícia de que respiramos em plena Esfera Espiritual?
— Mas, professor... — clamou Evelina, lívida.
— Entendo — certificou ele, sorrindo —, a senhora, muito mais que o nosso irmão Ernesto, opõe firme recusa mental à verdade, à vista de suas convicções religiosas, louváveis mas provisórias, convicções que jazem sõlida­mente estruturadas em seu espírito... Apesar de tudo, porém, tenho a obrigação de assegurar-lhes que não mais pisamos a Terra que nos era comum e sim um departa­mento da Vida Espiritual.
E ela:
— Meu Deus, como pode ser isso?
— Irmã Evelina, trabalhe com a própria mente. Se não abordássemos a Crosta Planetária pelo regaço materno, com o período da infância, logo após, constran­gendo-nos a longos serviços de readaptação, não seria a mesma coisa?
— Mas, a Terra... eu conheço.
— Puro engano. Classificamos a paisagem terres­tre e os pertences que lhe dizem respeito, submetidos aos conceitos de quantos estiveram nela antes de nós, ocor­rendo análogas circunstâncias no ambiente a que nos acolhemos agora, e onde contamos com geólogos e geógrafos eméritos... Na realidade, porém, tanto lá quanto aqui, conhecemos, na essência, muito pouco acerca do meio em que vivemos. Em suma, analisamos e reanali­samos coisas e princípios que já encontrámos feitos...
— Entretanto, no mundo, como entendemos o mundo, guardamos a certeza de permanecer sobre bases de maté­ria sólida...
— Irmã Evelina, quem lhe disse que não moramos lá, na arena terrestre, detidos igualmente num certo grau da escala de impressão do nosso Espírito eterno? Qualquer aprendiz de ciência elementar, no Planeta, não desconhece que a chamada matéria densa não é senão a energia radiante condensada. Em última análise, chegaremos ­ a saber que a matéria é luz coagulada, substân­cia divina, que nos sugere a onipresença de Deus.
— O senhor quer afirmar mesmo que não estamos agora domiciliados no plano físico? — voltou Fantini a manifestar-se.
— Chame-se a este mundo em que existimos, neste momento, «outra vida», «outro lado», «região extra-física» ou «esfera do Espírito», estamos num centro de atividade tão material quanto aquele em que se movimen­tam os homens, nossos irmãos ainda encarnados, condi­cionados ao tipo de impressões que ainda lhes governam, quase que de todo, os recursos sensoriais. O mundo terrestre é aquilo que o pensamento do homem faz dele. Aqui, é a mesma coisa. A matéria se resume a energia. Cá e lá, o que se vê é a projeção temporária de nossas criações mentais...
— Então, morrer?... qual a novidade em torno disso? qual o maior interesse em nos reconhecermos re­divivos?
— As incógnitas da vida exterior, com os desafios delas resultantes, são as mesmas; entretanto, se a cria­tura aspira efetivamente a realizar uma tomada de contas encontra neste novo mundo surpresas, muito fascinantes, no estudo e redescoberta de si mesma. Somos, cada um de nós, um astro de inteligência a perquirir e a aper­feiçoar por nós próprios.
Ernesto sustentou o interrogatório
— Todos os mortos estarão em todos os lugares da Terra, em condições idênticas às nossas?
— Impossível. Revejamos, superficialmente, a Hu­manidade encarnada em si e perceberemos algo do as­sunto. Contamos na Terra, de onde somos egressos, milhões de pessoas sensatas e espiritualmente desequi­libradas, sadias e enfermas, instruídas e ignorantes, relativamente sublimadas e outras tantas ainda excessi­vamente animalizadas, confiantes e descrentes, amadu­recidas na evolução ou iniciantes nela. Impraticável categorizá-las, depois da morte, segundo um critério exclusivo. Cada qual estará em seu grupo e cada grupo em sua comunidade ou faixa de afinidades.
Nada fácil padronizar as situações dos Espíritos desencarnados. Basta recordar que 150.000 pessoas, aproximadamente, por dia, saem da circulação do ambiente físico, na média flutuante de 100 por minuto, largando afetos, realiza­ções, compromissos, problemas... Ora, todos são filhos de Deus e recebem de Deus atenções e providências, aná­logas do ponto de vista do amor com que somos envol­vidos na Criação, embora diversas nos modos múltiplos em que se exprimem.
Razoável reconhecer que por muito se enfeitem, externamente, com as honras que lhes são prestadas pelos entes queridos, quando se despedem do mundo, os homens, quaisquer que sejam, chegam aqui como são... Porque hajam desencarnado, o louco não adquire o juízo, de um dia para outro, e nem o ignorante obtém a sabedoria por osmose. Depois da morte, somos o que fizemos de nós, na realidade interna, e colocamo­-nos em lugar compatível com as possibilidades de recuperação ou com as oportunidades de serviço que venhamos a demonstrar.
— Estamos diante de trabalho imenso... — anotou Fantini, espantado.
— Sim, no mundo dos homens, uma criatura não se modifica, de improviso, por haver atravessado o oceano, de um continente para outro... Acontece o mesmo, nos domínios do espírito.
— Há tempos — sublinhou Ernesto — li mensagens de entidades desencarnadas, merecedoras de crédito, re­lacionando os sofrimentos e conflitos que experimentaram em regiões inferiores, individualidades, aliás, que me pareceram senhorear largo patrimônio de recursos intelectuais.
— Nada de admirar. Por imposição de nossas ne­cessidades, nós mesmos estamos residindo em zona des­sas, na vizinhança das criaturas encarnadas.
— Refiro-me às regiões tenebrosas ou infelizes, re­lativamente às quais ouvi tantas dissertações e onde se desarvoram tantos irmãos nossos...
— Fantini, precisamos certificar-nos — clareou o mentor — de que esses lugares não são infelizes, de vez que infortunados são os irmãos que os povoam... Os jardins e pomares que enriqueçam um manicômio dei­xarão de ser jardins e pomares porque existam enfermos a desfrutar-lhes as emanações nutrientes?
— ?
— Pois é, meu caro, as áreas do espaço, às vezes enormes, ocupadas por legiões de criaturas padecentes ou desequilibradas, estão circunscritas e policiadas, por maiores que sejam, funcionando à maneira dos sítios terrestres, utilizados por grandes instituições para a recuperação dos enfermos da mente. Você não ignora que existem doentes da alma, consumindo larga faixa da existência nos hospícios acolhedores da Terra. Isso acontece aqui também. Ladeando o nosso vilarejo, te­mos vasto território, empregado no asilo a irmãos desa­justados, aos milhares, mantidos e vigiados por muitas organizações de beneficência, que trabalham no socorro fraternal.
Evelina, que não acreditava no que ouvia, objurgou, insatisfeita:
— Mas... se nos achamos num plano espiritual, que dizer das construções sólidas, vinculadas à arquite­tura terrestre, com que somos defrontados?
— Nenhum espanto, quando ponderarmos que os edifícios no mundo dos homens nascem do pensamento que os esculpe e da matéria que obedece aos projetos elaborados. Aqui verificamos o mesmo processo, dife­rindo apenas as condições da matéria, que se evidencia mais intensivamente maleável à influência da idéia do­minante. Reflitamos no progresso da indústria de plás­ticos, na atualidade do plano físico de onde viemos e perceberemos, com mais segurança, as possibilidades imensas para as edificações delicadas e complexas em nosso domicílio de agora. Naturalmente, também aqui estamos subordinados ainda às técnicas, às vocações, às competências pessoais e às criações estilísticas, no cír­culo das conquistas espirituais de cada um. O arquiteto que planeia uma casa e o obreiro que lhe cumpre as ordens, não servirão, de imediato, em lugar do diretor da manufatura de tecidos e do operário que lhe atende as determinações. Ainda aqui, o escritor não faz a obra do músico, em ação de improviso. Somos criaturas em evolução, sem havermos atingido ainda a posição dos gênios polimorfos, apesar de esses gênios existirem igual­mente aqui.
A senhora Serpa não conseguia ocultar a increduli­dade.
— Tudo parece inverossímil — asseverou.
— Nada se nos afigura mais inverossímil que a ver­dade — objetou Irmão Cláudio —; no entanto, porque prefiramos, por muito tempo, a ilusão em lugar dela, a realidade não deixa de ser o que é.
O professor discorreu, ainda, por dilatados minutos, referentemente à vida e às condições da estância em que se demoravam, mas, por fim, Evelina se viu entontecida, fatigada, provisoriamente inabilitada a mais amplas ila­ções, e, moça de fé profunda, valeu-se de um intervalo na conversação, procurando saber:
— Irmão Cláudio, não posso duvidar de suas afir­mações, embora me custe a crer que estamos na posição de pessoas desencarnadas, conforme as suas expressões. Esteja certo de que não desejo perder, de modo algum, a sua orientação; contudo, gostaria de tomar contacto com um sacerdote, um padre católico, por exemplo... Ficaria feliz se pudesse entregar-me à prática da confissão, permutar idéias livremente com um diretor da fé que me formou o caráter, sem qualquer constrangimento da vida social...
O amigo bondoso sorriu compreensivo e esclareceu:
— A Igreja aqui está positivamente renovada, posto que possamos encontrar representantes de todas as re­ligiões terrestres, aferrados a dogmas, concepções estrei­tas, preconceitos e tiranias diversas do fanatismo, nas áreas vizinhas em que se congregam milhares e milhares de inteligências rebeldes e perturbadas. Aqui, própria-mente, os sacerdotes não a ouviriam em confissão de natureza religiosa. Enviá-la-iam a um dos nossos institutos de psiquiatria protetora, em que a irmã pode e deve ter a sua ficha para receber a assistência necessaria...
— Para tratamento? — aparteou Fantini.
— Tratamento e auxílio. Uma carteira de identifi­cação para serviços de amparo e análise, numa casa de supervisão espiritual das que me refiro, é valioso do­cumento para que não estejamos aqui, nos primeiros tempos de adaptação, num lugar intermediário entre planos inferiores e superiores, sem a assistência justa. É indispensável nos poupemos, tanto quanto possível, a dissabores desnecessários.
— Oh! — exclamou Ernesto, entusiasmado —, esse tipo de confissão me interessa... Se estamos mortos...
— O seu se — obtemperou o mentor bem-humorado — demonstra que você e Evelina me consideram um contador de histórias inverídicas... Vocês ambos estão desencarnados com raízes pregadas no chão da Terra; todavia, isto é natural. Aguardemos o tempo.
Em meio de puras vibrações de confiança e simpa­tia, a senhora Serpa e o amigo solicitaram o apoio do mentor, a fim de que pudessem realizar contactos com alguma das instituições psiquiátricas da cidade, ficando estabelecido que atenderiam a isso, tão logo a adminis­tração do hospital o consentisse.

ESTUDO E DIÁLOGO VIRTUAL

1) Como o irmão Cláudio apresenta a matéria?
2) Existe um padrão para analisarmos a desencarnação? Justifique?
3) Como entender uma “construção sólida” no plano espiritual?
4) Que comparação Cláudio faz com as regiões de sofrimento e a Terra?


Um abraço a todos,
Equipe André Luiz

Conclusão

Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo – CVDEE

Sala de Estudos André Luiz

Livro em estudo: E a vida continua (Editora FEB)

Autor: Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier

Tema: Capítulo 9– Irmão Cláudio

CONCLUSÃO

1) Como o irmão Cláudio apresenta a matéria?
Claudio apresenta a matéria como “energia condensada”. A matéria existe em estados que não somos capazes de perceber com os sentidos do corpo, podendo ser manipulada pelos Espíritos desencarnados para realizarem diferentes construções no mundo espiritual.
Toda matéria é derivada de um elemento único no universo, chamado de Fluido Cósmico Universal que é designado por Claudio como “luz coagulada, substância divina, que nos sugere a onipresença de Deus.”

2) Existe um padrão para analisarmos a desencarnação? Justifique?
Não. Cada Espírito é herdeiro de si mesmo e após a desencarnação estará no grupo de Espíritos com os quais mantém afinidade. Não é possível estabelecer padrões para a desencarnação, pois a situação do Espírito está de acordo com seu estado evolutivo, seu esforço em se modificar ou em permanecer na ignorância.

3) Como entender uma “construção sólida” no plano espiritual?
A matéria possui em estados diversos não perceptíveis aos sentidos físicos. No mundo espiritual é maleável e pode ser modificada pela ação do pensamento e da vontade do Espírito.

4) Que comparação Cláudio faz com as regiões de sofrimento e a Terra?
Assim como na Terra há instituições destinadas a pessoas desequilibradas necessitando de recuperação, o mesmo acontece no mundo espiritual que possui regiões destinadas destinadas a Espíritos em desequilíbrio provisório.


Um abraço a todos,
Equipe André Luiz