E a vida continua

008 – Capítulo 8 – Encontro de cultura

Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo – CVDEE

Sala de Estudos André Luiz

Livro em estudo: E a vida continua (Editora FEB)

Autor: Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier

Tema: Capítulo 8 – Encontro de cultura

Estudos

Ernesto Fantini e a senhora Serpa usufruiam horas e horas de confortadora intimidade no pátio, mantendo interessantes conversações.
Mais de quinze dias haviam transcorrido sobre o primeiro reencontro. Evelina, tanto quanto o amigo, já se familiarizara com os banhos terapêuticos e ambos já haviam entrado em contacto com a senhora Tamburini, que Alzira indicava como sendo a pessoa mais culta de suas relações. Essa prestimosa criatura lhes hipote­cara a promessa de conduzi-los, tão logo possível, ao Ins­tituto de Ciências do Espírito, que funcionava ali mes­mo, num dos recantos do grande jardim.
Sem qualquer dúvida, para os dois, as considerações da senhora Tamburini eram, até então, as mais esclare­cedoras que tinham ouvido. No tête-â-tête quase diário, solicitava-lhes maior reflexão em torno da matéria, a escalonar-se em diversos graus de condensação, e mais amplo exame das percepções da mente, a se alterarem, conforme os princípios de relatividade; noutros lances dos repetidos entendimentos, rogava-lhes estudar neles próprios a extrema leveza de que se viam possuidos, a agilidade do corpo sutil que envergavam agora e a ma­neira singular em que exprimiam o pensamento, como se as ideias se lhes esguichassem do cérebro, em forma de imagens, acima das suas possibilidades habituais de contensão. Que se detivessem também a perquirir na­quele novo clima de vida as ocorrências telepáticas, a se erigirem, ali, em fenômeno corriqueiro, apesar de não prescindirem da linguagem articulada. Bastava maior grau de afinidade, entre as pessoas, para que se entendessem harmoniosamente, em derredor dos assun­tos mais complexos, com o mínimo de palavras.
Acolhiam satisfeitos as judiciosas apreciações da senhora Tamburini, que aceitava plenamente a convicção de serem criaturas desencarnadas em algum departa­mento do Mundo Espiritual; entretanto, não obstante o respeito que lhes mereciam, não logravam admiti-las por verdade inconteste.
Evelina, sentada no chão relvoso, ao pé de Fantini que se acomodava num pequeno escabelo, iniciou o diá­logo, avaliando, cismarenta:
— De fato, a cada dia me sinto mais leve, sempre mais leve. E, com isso, vou perdendo o controle de mim mesma. Noto que os meus sentimentos sobem do coração para o cérebro, à maneira das águas de um manancial profundo ao jorro da fonte... Na cabeça, observo que as emoções se transfiguram em pensamentos que me escor­rem imediatamente para os lábios em forma de palavras, a partirem de mim, quais as correntes líquidas que se estendem, para além do nascedouro, terra avante...
— Bem lembrado. Você definiu com precisão meu próprio estado de espírito.
- Mas, escute Ernesto — advertiu a moça, tocando a base de árvore robusta —, que vê aqui?
— Um tronco.
— E ali, no canteiro mais próximo?
— Cravos.
— Seria este o Mundo Espiritual se a matéria e a natureza estão presentes em tudo, segundo as conhe­cemos?
— Concordo em que para nós dois, que não possui­mos estudos claros, com referência às nossas atuais con­dições, tudo isto aqui é absurdo, alucinante, mas...
— Mas?...
— Sim, nada podemos afiançar, de afogadilho.
— Você está influenciado pelas ideias da Tambu­rini?
— Não tanto. Faço minhas próprias ilações.
- Ouça, Ernesto. Se estamos mortos para os entes que amamos, porque não nos vieram ainda buscar os seres queridos de nossas famílias, aqueles que nos prece­deram na vida nova? Nossos avós, por exemplo, e os amigos íntimos que todos vimos morrer?...
— E quem disse a você que eles já não terão vindo?
— Como justificar esta alegação?
— Recorde, Evelina, as lições elementares de casa. Um televisor capta imagens que não vemos e no-las transmite com absoluta lealdade. Um rádio-mirim assi­nala mensagens que não escutamos e no-las entrega com a maior clareza. É muito provável estejamos sendo vistos e ouvidos, sem que tenhamos, até agora, desper­tado a faculdade precisa de escutar e enxergar neste plano.
- Ernesto, e as orações? Se somos Espíritos liber­tos do chamado corpo carnal, alguém no mundo ter-se-á lembrado de nós em prece... Sua senhora, sua filha, meus pais, meu esposo...
— Não conhecemos o mecanismo das relações espi­rituais, nem temos qualquer estudo de ciências da alma. Quem afirmará que não estaremos ambos sendo susten­tados pela força das orações daqueles que amamos ou daqueles outros... que ainda nos amem...
— Que quer dizer?
— Que contas já nos foram apresentadas neste hos­pital? a que e a quem devemos os cuidados e gentilezas que nos são dispensados, diàriamente? não compramos as nossas roupas novas e nem as utilidades que usufrui­mos... Você, tanto quanto eu, já endereçamos a alguma enfermeira aquela conhecida pergunta: «quem paga»?
— Já indaguei...
— Qual foi a resposta?
— «Aqueles que vos amam.»
— Quem são esses, no seu modo de ver?
— Em meu caso, meu esposo e meus pais...
— Tenho minhas dúvidas. De início, supus estivés­semos em recuperação num instituto de saúde mental; entretanto, cada dia que passa nos surpreende em nível mais alto de consciência, no que diz respeito aos nossos raciocínios. Se nos demorássemos num hospício, depois de algum colapso nervoso, a nossa restauração não se faria assim tão rápida...
Quebrou-se, porém, o fio da interessante conver­sação.
A senhora Tamburini abordou-os, à pressa, a fim de avisar que o encontro de cultura espiritual estava mar­cado para a noite que se avizinhava e urgia se apres­tassem.
Munidos do necessário consentimento, ei-los que se dirigem para a organização, às sete da noite, junto da amiga, que os recomenda à estima do mentor em ser­viço, o Irmão Cláudio.
Acolhidos com simpatia no recinto, onde se insta­lavam vinte e três pessoas, notaram a presença de enor­me globo que, decerto, se prestaria como ponto de parti­da para valioso aprendizado.
O orientador principiou a reunião, notificando que a turma estaria em aula dialogada e que não era, ali, senão um companheiro dos demais, com erros, hipóteses, aproximações e acertos, em tudo aquilo que viesse a dizer.
— Qual é o tema, professor? — sindicou senhora distinta.
— “Da existência na Terra.”
Em seguida ao esclarecimento, o diretor do grupo teceu preciosos comentários, em torno das funções do orbe terrestre na economia cósmica, e prosseguiu:
— Reflitamos, meus amigos. Quem de nós, na atua­lidade de nossos conhecimentos incompletos, conseguirá deitar sabedoria, no campo da inteligência, tão-só pelo testemunho das impressões pessoais? Não ignoramos que a Terra é um gigantesco engenho no Espaço, transpor­tando consigo quase três bilhões de pessoas físicas, con­duzindo-as pelas vias do Universo, sem que saibamos, ainda, ao certo, em que base de força se dependura, in­formando-nos ünicamente de que semelhante colosso rea­liza, ao redor do Sol, uma órbita elíptica com a veloci­dade média de 108.000 quilômetros por hora; enquanto certas regiões do Planeta se encontram aprumadas perante o zênite, em outras, as criaturas se acham de cabeça para baixo, diante do nadir, sem que ninguém dê por isso; até ontem, qualquer pessoa asseverava que a matéria densa de uma paisagem se constituía de ele­mentos sólidos em repouso; hoje, porém, qualquer jovem estudante sabe que essas impressões são imaginárias, de vez que a matéria, em toda parte, se dissolve num misto de elétrons, prótons, nêutrons e dêuterons, encerrando-se em energia e luz; qualquer homem reside num corpo do qual se faz inquilino, respira e atende aos impositivos da nutrição, sem maior esforço de sua parte. De que maneira dogmatizar afirmativas sobre causas, proces­sos, acrisolamento e finalidade de nossa existência ter­restre pelos acanhados recursos dos sentidos comuns?
Estabelecendo-se comprida pausa, aventou um ca­valheiro:
— Professor, com estas deduções, o senhor quer dizer...
— Que a vida na Terra deve ser interpretada como um trabalho especial para o espírito. Cada qual nasce para determinada tarefa, com possibilidades de evolver para outras, sempre mais importantes, e que, por isso mesmo, não será possível arrebatar às criaturas os prin­cípios religiosos de que dispõem, sem prejuízos calami­tosos para elas próprias. A ciência avançará, desven­dando segredos do Universo, resolvendo problemas e suscitando desafios novos a sua capacidade de investi­gação; no entanto, a fé sustentará o homem nas reali­zações e provas que é chamado a atravessar. O Espírito renasce no mundo físico, tantas vezes quantas se façam necessárias para utilizar-se, aperfeiçoar-se, lucificar-se; e, à medida que se aprimora, vai percebendo que a existência carnal é um ofício ou missão a desempenhar, de que dará ele a conta certa ao término da empreitada.
O explicador revelava tamanha altura cultural, atra­vés da exposição em andamento, que raros apartes se fizeram ouvir.
Sem desviar, por isso, a espinha dorsal da preleção que pretendia, indubitàvelmente, preparar os ouvintes para a aceitação pacífica do novo estado espiritual a que se haviam transferido, comentou:
— Se as leis do Senhor se manifestam claras e magnânimas, em todos os departamentos da experiência física, estaríamos, acaso, desprezados por Deus, quando ultrapassamos as fronteiras da morte? Referimo-nos, aterrados, ao aniquilamento das vidas humanas, quando as guerras varrem a face do Planeta; entretanto, que concluir acerca dessas mesmas vidas humanas, a se ex­tinguirem, metodicamente, nas épocas de paz? Conservar­-se-ia o Senhor indiferente aos nossos destinos, em al­gum lugar do Universo? Ele, que inspira a graduação do alimento para a criança e para o adulto, relegaria ao abandono a criatura desencarnada, quando a criatura vestida de agentes físicos vive e age numa esfera de ação, na qual os fatores de previsão e proteção ofere­cem, todos os dias, os mais belos espetáculos de gran­deza?
Ninguém, ali, penetrava, a fundo, o caráter sibilino daquelas alegações. Os circunstantes, pelo menos em maioria, não se apercebiam de que estavam sendo ades­trados, delicadamente, a fim de admitirem a realidade espiritual, sem barulho.
Surgindo mais ampla quota de silêncio, em virtude de achar-se o professor interessado em averiguar posi­ções geográficas, no globo à vista, Evelina cobrou ânimo e perguntou:
— Irmão Cláudio, todas as pessoas registrarão sen­sações iguais entre si, depois da morte?
— Não. Cada qual de nós é um mundo por si e, em razão disso, cada individualidade, após largar o carro físico, encontrará emoções, lugares, pessoas, afinidades e oportunidades, conforme desempenhou o oficio, ou me­lhor, os deveres que lhe competiam durante a existência, na Terra.
Ninguém pode conhecer o que não estuda, nem reter qualidades que não adquiriu.
Cláudio entreteceu, ainda, apontamentos ricos de beleza e de lógica e, ao término da brilhante tertúlia, Ernesto e Evelina estavam reconfortados e felizes, ao modo de viajantes, sedentos de valores da alma, depois de se abeberarem numa fonte de luz.

ESTUDO E DIÁLOGO VIRTUAL

1) Que diferença Ernesto e Evelina começam a experimentar em relação a linguagem após a desencarnação?

2) Como podemos entender o fato de existirem construções e árvores na cidade espiritual em que todos se encontram desencarnados?

3) De acordo com o diretor do grupo que realizava a palestra, que importância podemos identificar na ciência e na fé perante o mundo?

4) Comente a afirmativa: “Cada qual de nós é um mundo por si e, em razão disso, cada individualidade, após largar o carro físico, encontrará emoções, lugares, pessoas, afinidades e oportunidades, conforme desempenhou o oficio, ou me­lhor, os deveres que lhe competiam durante a existência, na Terra.”


Um abraço a todos, Karina.
Equipe André Luiz

Conclusão

Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo – CVDEE

Sala de Estudos André Luiz

Livro em estudo: E a vida continua (Editora FEB)

Autor: Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier

Tema: Capítulo 8 – Encontro de cultura

CONCLUSÃO

1) Que diferença Ernesto e Evelina começam a experimentar em relação a linguagem após a desencarnação?
O pensamento se exteriorizava com tanta naturalidade que se tornavam mais frequentes a telepatia, embora ainda utilizassem a linguagem articulada. Ambos sentiam que as ideias fluiam do cérebro em forma de imagens acima das possibilidades de contenção.

2) Como podemos entender o fato de existirem construções e árvores na cidade espiritual em que todos se encontram desencarnados?
A matéria existe em estados que não somos capazes de perceber com os sentidos físicos. Assim, como o homem cria com a matéria bruta, os Espíritos realizam criações no mundo espiritual através do pensamento e a vontade.

Sugestão de leitura: Cap. 8 - Do Laboratório do Mundo Invisível em ‘O Livro dos Médiuns’.


3) De acordo com o diretor do grupo que realizava a palestra, que importância podemos identificar na ciência e na fé perante o mundo?
A ciência avançará desvendando segredos do universo, no entanto, a fé sustentará o homem nas suas realizaçõe e provas que é chamado a atravessar.

4) Comente a afirmativa: “Cada qual de nós é um mundo por si e, em razão disso, cada individualidade, após largar o carro físico, encontrará emoções, lugares, pessoas, afinidades e oportunidades, conforme desempenhou o oficio, ou me­lhor, os deveres que lhe competiam durante a existência, na Terra.”
O Espírito após a morte do corpo físico continua a ser o mesmo, buscando lugares e Espíritos com os quais mantem afinidade.

Um abraço a todos,
Equipe André Luiz