Nos Domínios da Mediunidade
026 – Psicometria
(...) defrontamos com um museu, a que se acolhiam alguns visitantes retardatários.
E o nosso orientador, como quem se dispunha a aproveitar as horas que nos restavam para dilatar observações e apontamentos, convidou-nos a entrar, exclamando:
- Numa instituição como esta, é possível realizar interessantíssimos estudos. Decerto, já ouviram referências à psicometria. Em boa expressão sinonímica, como o é usada na Psicologia experimental, significa “registro, apreciação da atividade intelectual”, entretanto, nos trabalhos mediúnicos, esta palavra designa a faculdade de ler impressões e recordações ao contacto de objetos comuns.
(...)
Verifiquei que algumas preciosidades, excetuando-se uma que outra, estavam revestidas de fluidos opacos, que formavam uma massa acinzentada ou pardacenta, na qual transpareciam pontos luminosos.
Notando-me a curiosidade, o instrutor aclarou, benevolente:
- Todos os objetos que você vê emoldurados por substâncias fluídicas acham-se fortemente lembrados ou visitados por aqueles que os possuíram.
Não longe, havia curioso relógio, aureolado de luminosa faixa branquicenta.
Áulus recomendou-me toca-lo e, quase instantaneamente, me assomou aos olhos mentais linda reunião familiar, em que veneranda casa se entretinha a palestrar com quatro jovens em pleno viço primaveril.
Com aquele quadro vivo a destacar-se ante a minha visão interior, examinei o recinto agradável e digno. O mobiliário austríaco imprimia sobriedade e nobreza ao conjunto, que jarrões de flores e telas valiosas enfeitavam.
O relógio lá se encontrava, dominando o ambiente, do cimo de velha parede caprichosamente adornada.
Registrando-me a surpresa, o Assistente adiante:
- Percebo a imagem sem o toque direto. O relógio pertenceu a respeitável família do século passado. Conserva as formas-pensamentos do casal que o adquiriu e que, de quando em quando, visita o museu para a alegria de recordar. É um objeto animado pelas reminiscências de seus antigos possuidores, reminiscências que se reavivam no tempo, através dos laços espirituais que ainda sustentam em torno do círculo afetivo que deixaram.
Hilário tateou a preciosidade e falou:
- Isso quer dizer que vemos imagens aqui impressas por eles, por intermédio de vibrações...
- Justamente – confirmou o orientador. – O relógio está envolvido pelas correntes mentais dos irmãos que ainda se apegam a ele, assim como o fio de cobre na condução da energia está sensibilizado pela corrente elétrica. Auscultando-o, na fase em que se encontra, relacionamo-nos, de imediato, com as recordações dos amigos que o estimam.
Hilário refletiu alguns momentos e observou:
- Então, se estivéssemos interessados em conhecer esses companheiros e encontrá-los, um objeto nessas condições seria um mediador para a realização de nossos desejos...
- Sim, perfeitamente – aprovou o instrutor -; usaríamos, para isso, alguma coisa em que a memória deles se concentra. Tudo o que se nos irradia do pensamento serve para facilitar essa ligação.
Áulus sorriu e comentou:
- O pensamento espalha nossas próprias emanações em toda parte a que se projeta. Deixamos vestígios espirituais, onde arremessamos os raios de nossa mente, assim como o animal deixa no próprio rastro o odor que lhe é característico, tornando-se, por esse motivo, facilmente abordável pela sensibilidade olfativa do cão. Quando libertados do corpo denso, aguçam-se-nos os sentidos e, esses fenômenos, dentro da esfera em que se nos limitam as possibilidades evolutivas.
(...)
- Imaginemos – disse por minha vez – que nos propuséssemos fixar a atenção num exame mais circunstanciado. Poderíamos, assim, conhecer a história da matéria que serve à formação de relógio que analisamos?
- Sem dúvida. Isso demandaria mais trabalho, mais tempo, contudo, é iniciativa perfeitamente viável.
(...)
Logo após, detivemo-nos a estudar primorosa tela do século XVIII, que não apresentava qualquer sinal de moldura fluídica.
Efetivamente, era uma preciosidade isolada.
Por ele, não nos foi possível estabelecer qualquer contacto espiritual de natureza exterior.
Áulus assumiu a atitude do professor benevolente que lhe era peculiar e explicou:
- Pesquisando mais intimamente, este quadro será interessante registro, oferecendo-nos informações acerca dos ingredientes que o constituem, entretanto, não funciona como “mediador de relações espirituais”, por achar-se plenamente esquecido pelo autor e por aqueles que provavelmente o possuíram...
(...)
Ao lado de extensa galeria, dois cavalheiros e três damas admiravam singular espelho, junto do qual se mantinha uma jovem desencarnada com expressões de grande tristeza.
Uma das senhoras teve palavras elogiosas para a beleza da moldura, e a moça, na feição de sentinela irritada, aproximou-se tateando-lhe os ombros.
A matrona tremeu, involuntariamente, sob inesperado calafrio, e falou para os companheiros:
- Aqui há um estranho sopro de câmara funerária. É melhor que saiamos... confiou-se o grupo a manifestações de bom-humor e retirou-se, acompanhando-a noutro rumo.
A entidade, que não nos assinalava intromissão, pareceu-nos contente com a solidão e passou a contemplar o espelho, sob estranha fascinação.
Áulus acariciou-a, de leve, tocou o objeto com atenção e comentou:
- Anotaram o fenômeno? Do pequeno conjunto de visitantes, a irmã que registrou a aproximação da jovem, sob nosso exame, é portadora de notável sensibilidade mediúnica. Se educasse as suas forças e sondasse o espelho, entraria em relação imediata com a moça que ainda se apega a ele desvairadamente. Receber-lhe-ia as confidências, conhecer-lhe-ia o drama íntimo, porque imediatamente lhe assimilaria a onda mental, senhoreando-lhe as imagens...
Hilário, incapaz de sofrear a curiosidade que nos esfogueava o cérebro, indagou sobre a moça. Que fazia ali, naquele túmulo de recordações? Por que se interessava, com tanta ânsia, por um simples espelho, sem maior significação?
O Assistente, como quem já esperava por nosso inquérito, respondeu sem pestanejar:
- Toquei o objeto para informar-me. Este espelho originalíssimo foi confiado à jovem por um rapaz que lhe prometeu casamento. Vejo-lhe a figura romântica nas reminiscências dela. Era filho de franceses asilados no Brasil, ao tempo da França Revolucionária de 1791. menino ainda, aportou no Rio e aí cresceu e se fez homem. Encontrou-a e conquistou-lhe o coração. Quando arquitetavam projetos de casamento, depois da mais íntima ligação afetiva, a família estrangeira, animada com os sucessos de Napoleão, na Europa, deliberou o retorno à pátria. O moço pareceu desolado, mas não desacatou a ordem paterna. Despediu-se da noiva e lhe implorou guardasse a peça como lembrança, até que pudesse voltar, e serem então felizes para sempre... Contudo, distraído na França pelos encantos de outra mulher, não mais regressou... Depressa esqueceu responsabilidades e compromissos, tornando-se diferente. A pobrezinha, no entanto, fixou-se na promessa ouvida e continua a espera-lo. O espelho é o penhor de sua felicidade. Imagino a longa viagem que terá feito no tempo, vigiando-o como sendo propriedade sua, até que a lembrança viesse por fim repousar no museu.
- O assunto – aventei, preocupado – compele-nos a refletir sobre as antigas histórias de jóias enfeitiçadas...
- Sim, sim – ponderou o Assistente -, a influência não procede das jóias, mas sim das forças que as acompanham.
Hilário, que meditava a lição maduramente, considerou:
- Se alguém pudesse adquirir a peça e conduzi-la consigo...
- Decerto – atalhou o instrutor – arcaria também com a presença da moça desencarnada.
- E isso seria justo?
Áulus esboçou leve sorriso e obtemperou:
- Hilário, a vida nunca se engana. É provável que alguém apareça por aqui e se extasie à frente do objeto, disputando-lhe a posse.
- Quem?
- O moço que empenhou a palavra, provocando a fixação mental dessa pobre criatura, ou a mulher que o afastou dos compromissos assumidos. Reencarnados, hoje ou amanhã, possivelmente um dia virão até aqui, tomando-a por filha ou companheira, no resgate do débito contraído.
- Mas não podemos aceitar a hipótese de a jovem desencarnada ser atraída por algum círculo de cura, desembaraçando-se da perturbação de que é vítima?
- Sim – concordou o orientador -, isso é também possível; entretanto, examinada a harmonia da Lei, o reencontro do trio é inevitável. Todos os problemas criados por nós não serão resolvidos senão por nós mesmos.
(...)
- E em nos referindo aos encarnados? – prosseguiu Hilário. – Qualquer pessoa, em se servindo de objetos pertencentes a outros, tais como vestuário, leitos ou adornos, pode sentir os reflexos daquele que os usaram?
- Perfeitamente. Contudo, para que os registrem devem ser portadores de aguçada sensibilidade psíquica. As marcas de nossa individualidade vibram onde vivemos e, por eles, provocamos o bem ou mal naqueles que entram e contacto conosco.
- E tudo o que observamos é mediunidade?!...
-Sim, apesar de os fatos dessa ordem serem arrolados, por experimentadores do mundo científico, sob denominações diversas, entre elas a “criptestesia pragmática”, a “metagnomia tátil”, a “telestesia”.
E, tomando-nos a dianteira para o retorno à via publica, rematou:
- Em tudo, vemos integração, afinidade, sintonia... E de uma coisa não tenhamos dúvida: através do pensamento, comungamos uns com os outros, em plena vida universal.
Questões para estudo:
1-Em si o que vem a ser psicometria?
2-O fenômeno da psicometria pode ser considerado como apego material praticado por certas entidades?
3-Baseado no trecho abaixo, podemos dizer que todos os objetos existentes hoje em nosso mundo físico é possível através de um exame mais apurado rever cenas de sua construção, como as pessoas que fizeram parte de sua história, mesmo sem vínculos diretos por partes das entidades?
"- Imaginemos – disse por minha vez – que nos propuséssemos fixar a atenção num exame mais circunstanciado. Poderíamos, assim, conhecer a história da matéria que serve à formação de relógio que analisamos?
- Sem dúvida. Isso demandaria mais trabalho, mais tempo, contudo, é iniciativa perfeitamente viável."
4-Quais os benefícios da mediunidade psicométrica?
5-Com determinadas entidades vinculadas a certos objetos podem assim obsediar quem vier a adquiri-los?
6-Houve com a jovem do espelho uma fixação mental como visto no capítulo anterior estudado?
7-Porque Áulus não precisou tocar no relógio para ver a história do mesmo?
8-Áulus no caso então seria um médium psicometra, ou isso só está vinculado a encarnados?
9-Somente pessoas sensíveis mediunicamente é que sentirão e sofrerão a influencia dos objetos vinculados as entidades?
Conclusão
1 - O que vem a ser psicometria?
R - Podemos definir a psicometria como o fenômeno pelo qual, mediante contacto com determinado objeto ou pela simples
presença deste, apreende-se, psiquicamente, a história do seu possuidor ou de pessoas que estiveram relacionadas com
ele, podendo se reconstituir os respectivos ambientes, os fatos, pensamentos e sensações por ele vivenciados no passado,
que esteja vivenciando no presente ou prenunciando acontecimentos futuros. É uma faculdade que pode se manifestar sob
a forma anímica ou mediúnica.
2 - O fenômeno da psicometria pode ser considerado como apego material praticado por certas entidades?
R - O fenômeno, como vimos, é a faculdade de apreender psiquicamente fatos relacionados a um determinado objeto e aos que o possuíram. O apego com que alguém, encarnado ou desencarnado, se entrega a um objeto é fator determinante das impressões psíquicas que nele são registradas e que possibilitam a manifestação do fenômeno.
Esclarece Martins Peralva que "quando tocamos num objeto, imantamo-lo com o fluido que nos é peculiar. E se, além do
simples toque ou uso, convertermos inadvertidamente esse objeto, seja um livro, uma caneta, uma jóia ou, em ponto maior,
uma casa ou um automóvel em motivo de obsessiva adoração, ampliando, excessivamente, as noções de posse ou
propriedade, o volume de energias fluídicas que sobre o mesmo projetamos é de tal maneira acentuado que a nossa própria mente ali ficará impressa" (em "Estudando a Mediunidade").
3 - Baseado no trecho abaixo, podemos dizer que todos os objetos existentes hoje em nosso mundo físico é
possível através de um exame mais apurado rever cenas de sua construção, como as pessoas que fizeram parte
de sua história, mesmo sem vínculos diretos por partes das entidades?
"- Imaginemos _ disse por minha vez _ que nos propuséssemos fixar a atenção num exame mais circunstanciado.
Poderíamos, assim, conhecer a história da matéria que serve à formação de relógio que analisamos?
- Sem dúvida. Isso demandaria mais trabalho, mais tempo, contudo, é iniciativa perfeitamente viável."
R - Segundo o instrutor Áulus, sim. Qualquer objeto pode servir como meio para se entrar em relação com as pessoas que
por ele se interessam e para se obter um registro de fatos da Natureza. Para uma melhor compreensão, o instrutor faz uma
comparação com o trabalho desenvolvido por um paleontologista, que reconstitui determinadas peças partindo de um simples
pedaço de osso. O exercício dessa faculdade, no entanto, esclarece, exige que se apure a sensibilidade de maneira mais
intensiva.
4 - Quais os benefícios da mediunidade psicométrica?
R - Como toda modalidade de mediunidade, ao portador de mediunidade de psicometria cabe direcioná-la para o bem ou para o mal, conforme determine o seu livre-arbítrio. Quando usada em favor do próximo necessitado, a mediunidade
psicométrica pode servir de importante instrumento de auxílio no tratamento de enfermidades da mente, na medida em
que possibilita a identificação de fixações que lhe antecederam o retorno ao mundo corporal.
5 - Com determinadas entidades vinculadas a certos objetos, podem assim obsediar quem vier a adquiri-los?
R - Alguém que adquira um objeto ao qual esteja fortemente ligado uma determinada entidade vai, sem duvida, levá-la para
o seu ambiente. A instalação ou não de um processo obsessivo, no entanto, vai depender se a pessoa que o adquiriu o
permitirá, pela sintonia vibratória em que se situe. Para que ocorra obsessão, como temos estudado, é indispensável que o obsediado permita o acesso do obsessor ao seu campo mental, o que pode se dar pela identidade quanto à natureza
de seus pensamentos, atos e sentimentos.
6 - Houve com a jovem do espelho uma fixação mental, como visto no capítulo anterior estudado?
R - Vimos em capítulo anterior que a fixação mental se dá quando o espírito, encarnado ou desencarnado, cristaliza seu psiquismo em torno de determinados fatos, acontecimentos ou sentimentos do passado, isolando-se do mundo externo
e passando a viver unicamente em função daquelas idéias, não se interessando por outro assunto. No caso da jovem do
espelho, narrado por André Luiz, seu estado de desequilíbrio é evidente. A fixação mental se deu em torno de uma decepção amorosa por ela vivenciada em passagem anterior pela Terra. O espelho em questão era para ela o símbolo da esperança
no retorno do jovem por quem se apaixonara e que a abandonara. Embora decorridos mais de um século, a moça ainda
não conseguira se libertar do trauma ocasionado pelo abandono, fixando-se no infausto acontecimento através do espelho que recebera de presente do antigo amor.
7 - Por que Áulus não precisou tocar no relógio para ver a história do mesmo?
R - Como todo fenômeno mediúnico, a psicometria tem o seu grau de desenvolvimento determinado de acordo com a evolução do espírito psicômetra. No caso de Áulus, pelo nível evolutivo em que se encontra, sua sensibilidade mediúnica
se encontra fortemente desenvolvida, permitindo-lhe que, ao simples olhar em direção ao objeto, sem precisar tocá-lo,
perceba, sem maiores dificuldades, as impressões psíquicas que se encontram nele registradas. André Luiz, por seu
turno, encontrando-se em escala evolutiva inferior, precisou tocar no objeto para ter as mesmas percepções.
8 - Áulus no caso então seria um médium psicômetra ou isso só está vinculado a encarnados?
R - A mediunidade é uma faculdade inerente ao espírito, independente da circunstância de estar ele encarnado ou não. Também no mundo espiritual, como temos visto, pratica-se a mediunidade. Com seu adiantado nível de evolução, Áulus
é um médium de grandes possibilidades, portando, dentre outras modalidades mediúnicas, a faculdade de psicometria.
9 - Somente pessoas sensíveis mediunicamente é que sentirão e sofrerão a influencia dos objetos vinculados às entidades?
R - Sendo a mediunidade uma faculdade inerente ao espírito, toda e qualquer pessoa pode sofrer influência de entidades
que se encontrem apegadas a determinados objetos. O grau dessa influência é proporcional ao do desenvolvimento de
sua sensibilidade mediúnica.