Nos Domínios da Mediunidade
022 – Emersão do Passado
Emersão do Passado
Resumo do Capítulo
Em companhia do Assistente, tornamos à segunda reunião semanal do grupo presidido pelo irmão Raul Silva, a cuja organização nosso orientador não regateava simpatia e confiança.
(...)
Duas senhoras, seguidas pelos respectivos esposos, e um cavalheiro de fisionomia fatigada integravam a equipe dos que receberiam assistência.
Os médiuns da casa desempenharam caridosa tarefa, emprestando as suas possibilidades para a melhoria de várias entidades transviadas na sombra e no sofrimento, com a colaboração eficiente de Dona Celina à frente do serviço.
Solucionados diversos problemas alusivos ao programa da noite, eis que uma das senhoras enfermas cai em pranto convulsivo, exclamando:
- Quem me socorre ? quem me socorre ?...
E comprimindo o peito com as mãos, acrescentava em tom comovedor:
- Covarde ! porque apunhalar, assim, uma indefesa mulher ? serei totalmente culpada ? meu sangue condenará seu nome infeliz...
Raul, com a serenidade habitual, abeirou-se dela e consolou-a com carinho:
- Minha irmã, o perdão é o remédio que nos recompõe a alma doente... Não admita que o desespero lhe subjugue as energias!... Guardar ofensas é conservar a sombra. Esqueçamos o mal para que a luz do bem nos felicite o caminho...
- Olvidar? nunca... O senhor sabe o que vem a ser uma lâmina enterrada em sua carne ? sabe o que seja a calamidade de um homem que nos suga a existência para arremessar-nos à miséria, comprazendo-se, depois disso, em derramar-nos o próprio sangue ?
- Sim, sim, ninguém lhe contraria o direito à justiça, segundo as suas afirmações, entretanto, não será mais aconselhável aguardar o pronunciamento da Bondade Divina ? Quem de nós está sem mácula ?
- Esperar, esperar?! há quanto tempo não faço outra coisa ! Em vão procuro reaver a alegria... Por mais me dedique ao trabalho de romper com o pretérito, vivo a carregar a sombra de minhas recordações, como quem traz no próprio peito o sepulcro dos sonhos mortos... Tudo por causa dele... Tudo pelo malvado que me arruinou o destino...
E a pobre criatura prorrompeu em soluços, enquanto um homem desencarnado, não longe, fitava-a com inexprimível desalento.
Perplexos, Hilário e eu lançamos um olhar indagador ao Assistente, que nos percebeu a estranheza, porquanto a enferma, sem a presença da mulher invisível que parecia personificar, prosseguia em aflitiva posição de sofrimento.
- Não vejo a entidade de quem a nossa irmã se faz intérprete - alegou Hilário, curioso.
- Sim - disse por minha vez -; observo em nossa vizinhança um triste companheiro desencarnado, mas se ele estivesse telepaticamente ligado à nossa amiga, decerto a mensagem definiria a palavra de um homem, sem as características femininas da lamentação que registramos... Em verdade, não notamos aqui qualquer laço magnético que nos induza a assinalar fluidos teledinâmicos sobre a mente da médium...
Áulus afagou a fronte da doente em lágrimas, como se lhe auscultasse o pensamento, e explicou:
- Estamos diante do passado de nossa companheira. A mágoa e o azedume, tanto quanto a personalidade supostamente exótica de que dá testemunho, tudo procede dela mesma... Ante a aproximação de antigo desafeto, que ainda a persegue de nosso plano, revive a experiência dolorosa que lhe ocorreu, em cidade do Velho Mundo, no século passado, e entra em seguida a padecer insopitável melancolia.
Recomeçou a luta na carne, na presente reencarnação, possuída de novas esperanças, contudo, tão logo experimenta a visitação espiritual do antigo verdugo, que a ela se enleia, através de vigorosos laços de amor e ódio, perturba-se-lhe a vida mental, necessitada de mais ampla reeducação. É um caso no qual se faz possível a colheita de valiosos ensinamentos.
(...)
- Isso quer dizer que nossa irmã imobilizou grande coeficiente de forças do seu mundo emotivo, em torno da experiência a que nos referimos, a ponto de semelhante cristalização mental haver superado o choque biológico do renascimento no corpo físico, prosseguindo quase que intacta. Fixando-se nessa lembrança, quando instada de mais perto pelo companheiro que lhe foi irrefletido algoz, passa a comportar-se qual se estivesse ainda no passado que teima em ressuscitar. É então que se dá a conhecer como personalidade diferente, a referir-se à vida anterior.
Sorrindo, paternal, considerou:
- Sem dúvida, em tais momentos, é alguém que volta do pretérito a comunicar-se com o presente, porque ao influxo das recordações penosas de que se vê assaltada, centraliza todos os seus recursos mnemônicos tão-somente no ponto nevrálgico em que viciou o pensamento. Para o psiquiatra comum é apenas uma candidata à insulinoterapia ou ao eletrochoque, entretanto, para nós, é uma enferma espiritual, uma consciência torturada, exigindo amparo moral e cultural para a renovação íntima, única base sólida que lhe assegurará o reajustamento definitivo.
Analisei-a, com atenção, e concluí:
- Mediunicamente falando, vemos aqui um processo de autêntico animismo. Nossa amiga supõe encarnar uma personalidade diferente, quando apenas exterioriza o mundo de si mesma...
- Poderíamos, então, classificar o fato no quadro da mistificação inconsciente ? - interferiu Hilário, indagador.
Áulus meditou um minuto e ponderou:
- Muitos companheiros matriculados no serviço de implantação da Nova Era, sob a égide do Espiritismo, vêm convertendo a teoria animista num travão injustificável a lhes congelarem preciosas oportunidades de realização do bem; portanto, não nos cabe adotar como justas as palavras "mistificação inconsciente ou subconsciente" para batizar o fenômeno. Na realidade, a manifestação decorre dos próprios sentimentos de nossa amiga, arrojados ao pretérito, de onde recolhe as impressões deprimentes de que se vê possuída, externando-as no meio em que se encontra. E a pobrezinha efetua isso quase na posição de perfeita sonâmbula, porquanto se concentra totalmente nas recordações que já assinalamos, como se reunisse todas as energias da memória numa simples ferida, com inteira despreocupação das responsabilidades que a reencarnação atual lhe confere. Achamo-nos, por esse motivo, perante uma doente mental, requisitando-nos o maior carinho para que se recupere. Para sanar-lhe a inquietação, todavia, não nos bastam diagnósticos complicados ou meras definições técnicas no campo verbalista, se não houver o calor da assistência amiga.
Nosso orientador fez ligeira pausa, acariciando a enferma, e enquanto Raul Silva continuava a doutriná-la e a consolá-la, notificou-nos, bondoso:
- Deve ser tratada com a mesma atenção que ministramos aos sofredores que se comunicam. É também um Espírito imortal, solicitando-nos concurso e entendimento para que se lhe restabeleça a harmonia. A idéia de mistificação talvez nos impelisse a desrespeitosa atitude diante do seu padecimento moral. Por isso, nessas circunstâncias, é preciso armar o coração de amor, a fim de que possamos auxiliar e compreender. Um doutrinador sem tato fraterno apenas lhe agravaria o problema, porque, a pretexto de servir à verdade, talvez lhe impusesse corretivo inoportuno ao invés de socorro providencial. Primeiro, é preciso remover o mal, para depois fortificar a vítima na sua própria defesa. Felizmente o nosso Raul assimila as correntes espirituais que prevalecem aqui, tornando-se o enfermeiro ideal para as situações dessa ordem.
Hilário, tanto quanto eu, edificado com os ensinamentos ouvidos, perguntou, respeitoso:
- E podemos considerá-la médium, mesmo assim ?
- Como não ? Um vaso defeituoso pode ser consertado e restituído ao serviço. Naturalmente, agóra a paciência e a caridade necessitam agir para salva-la. Nossa irmã deve ser ouvida na posição em que se revela, como sendo em tudo a desventurada mulher de outro tempo, e recebida por nós nessa base, para que use o remédio moral que lhe estendemos, desligando-se enfim do passado... O assunto não comporta desmentido, porque indiscutivelmente essa mulher existe ainda nela mesma. A personalidade antiga não foi tão eclipsada pela matéria densa como seria de desejar.. Ela renasceu pela carne, sem renovar-se em espírito...
O Assistente fixou o gesto de quem mergulhava na própria consciência e sonda de suas reflexões e falou, qual se o fizesse de si para consigo:
- Ela representa milhares de criaturas aos nossos olhos !... Quantos mendigos arrastam na Terra o esburacado manto da fidalguia efêmera que envergaram outrora ! Quantos escravos da necessidade e da dor trazem consigo a vaidade e o orgulho dos poderosos senhores que já foram em outras épocas!... quantas almas conduzidas à ligação consangüínea caminham do berço ao túmulo, transportando quistos invisíveis de aversão e ódio aos próprios parentes, que lhes foram duros adversários em existências pregressas !...Todos podemos cair em semelhantes estados se não aprendemos a cultivas o esquecimento do mal, em marcha incessante com o bem...
Nessa altura, Raul Silva, na condição de hábil psicólogo, convidou a doente ao benefício da prece.
Competia-lhe a ela suplicar ao Céu a graça do olvido. Cabia-lhe expungir o passado da imaginação, de maneira a pacificar-se. E, singularmente comovido, recomendou-lhe repetir em companhia dele as frases sublimes da oração dominical.
A pobre senhora acompanhou-o docilmente.
Ao término da súplica, mostrava-se mais tranqüila.
O prestimoso amigo, traduzindo a colaboração do mentor que o acompanhava, solícito, rogou-lhe considerar, acima de tudo, o impositivo do perdão aos inimigos para a reconquista da paz e, em lágrimas, a enferma desligou-se das impressões que a imobilizavam no pretérito, tornando à posição normal.
Enquanto Silva lhe aplicava passes de reconforto, o Assistente comentou:
- Outra não pode ser, por enquanto, a intervenção assistência em sen benefício. Pela enfermagem espiritual bem conduzida, reajustar-se-á pouco a pouco, retomando o império sobre si mesma e capacitando-se para o desempenho de valiosas tarefas mediúnicas mais tarde.
Estimaríamos a possibilidade de continuar analisando o caso sob nossa vista, contudo, a outra senhora doente passou de improviso ao transe agitado e era preciso estudar, fazendo o melhor.
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
1. Qual o fenômeno mental característico tratado no presente capítulo ?
2. Como explicar o fato de acontecimentos ocorridos em vidas passadas manifestarem-se no presente, em forma de perturbações ?
3. Explique e comente as seguintes passagens:
3.a) "Isso quer dizer que nossa irmã imobilizou grande coeficiente de forças do seu mundo emotivo, em torno da experiência a que nos referimos, a ponto de semelhante cristalização mental haver superado o choque biológico do renascimento no corpo físico, prosseguindo quase que intacta. Fixando-se nessa lembrança, quando instada de mais perto pelo companheiro que lhe foi irrefletido algoz, passa a comportar-se qual se estivesse ainda no passado que teima em ressuscitar. É então que se dá a conhecer como personalidade diferente, a referir-se à vida anterior".
3.b) "Muitos companheiros matriculados no serviço de implantação da Nova Era, sob a égide do Espiritismo, vêm convertendo a teoria animista num travão injustificável a lhes congelarem preciosas oportunidades de realização do bem; portanto, não nos cabe adotar como justas as palavras "mistificação inconsciente ou subconsciente" para batizar o fenômeno. Na realidade, a manifestação decorre dos próprios sentimentos de nossa amiga, arrojados ao pretérito, de onde recolhe as impressões deprimentes de que se vê possuída, externando-as no meio em que se encontra. E a pobrezinha efetua isso quase na posição de perfeita sonâmbula, porquanto se concentra totalmente nas recordações que já assinalamos, como se reunisse todas as energias da memória numa simples ferida, com inteira despreocupação das responsabilidades que a reencarnação atual lhe confere."
3.c) "Para o psiquiatra comum é apenas uma candidata à insulinoterapia ou ao eletrochoque; entretando, para nós, é uma enferma espiritual, uma consciência torturada, exigindo amparo moral e cultural para a renovação íntima, única base sólida que lhe assegurará o reajustamento definitivo".
4. Pode o animismo ser considerado uma mistificação ?
5. Como pode o doutrinador diferenciar o animismo do mediunismo ? Explique.
6. A pessoa que é instrumento de manifestações anímicas também pode ser considerada como médium ?
7. Qual a importância do perdão aos inimigos para o equilíbrio espiritual ?
Conclusão
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
1. Qual o fenômeno mental característico tratado no presente capítulo?
R - O capítulo em estudo trata do fenômeno denominado animismo, que se caracteriza por ser produzido pelo próprio
espírito encarnado, sem expressar a vontade de uma inteligência externa.
2. Como explicar o fato de acontecimentos ocorridos em vidas passadas manifestarem-se no presente,
em forma de perturbações?
R - Esse fenômeno acontece quando o espírito imobiliza seu pensamento e suas emoções em função de um fato
vivenciado em experiência passada. Fixando seu pensamento fortemente em torno desse fato, mesmo com a
reencarnação, o esquecimento do passado não funciona integralmente, voltando o espírito a rememorá-lo ante a
ocorrência de determinadas situações, como, no caso presente, a aproximação daquele que também foi protagonista
do fato. Geralmente, acontece em relação a fatos que são extremamente traumáticos ao espírito, que lhe causaram
grande sofrimento e dor.
3. Explique e comente as seguintes passagens:
3.a) "Isso quer dizer que nossa irmã imobilizou grande coeficiente de forças do seu mundo emotivo, em
torno da experiência a que nos referimos, a ponto de semelhante cristalização mental haver superado
o choque biológico do renascimento no corpo físico, prosseguindo quase que intacta. Fixando-se nessa
lembrança, quando instada de mais perto pelo companheiro que lhe foi irrefletido algoz, passa a comportar-
-se qual se estivesse ainda no passado que teima em ressuscitar. É então que se dá a conhecer como
personalidade diferente, a referir-se à vida anterior".
R - A mulher que se manifestava cristalizou seu pensamento e suas emoções em torno da morte violenta do corpo
físico, motivo de sua desencarnação em vida pretérita. De tal modo deixou-se fixar no fato que, conforme explicou
Áulus, nem mesmo " ... o choque biológico do renascimento no corpo físico ..." logrou trazer o esquecimento do
passado, que lhe facilitaria o processo renovador. Diante da aproximação daquele que foi seu algoz no trágico
acontecimento, transportou-se àquela época, assumindo a personalidade que representou naquela encarnação e,
assim, exteriorizando seus sentimentos.
3.b) "Muitos companheiros matriculados no serviço de implantação da Nova Era, sob a égide do Espiritismo,
vêm convertendo a teoria animista num travão injustificável a lhes congelarem preciosas oportunidades de
realização do bem; portanto, não nos cabe adotar como justas as palavras "mistificação inconsciente ou
subconsciente" para batizar o fenômeno. Na realidade, a manifestação decorre dos próprios sentimentos
de nossa amiga, arrojados ao pretérito, de onde recolhe as impressões deprimentes de que se vê possuída,
externando-as no meio em que se encontra. E a pobrezinha efetua isso quase na posição de perfeita
sonâmbula, porquanto se concentra totalmente nas recordações que já assinalamos, como se reunisse todas
as energias da memória numa simples ferida, com inteira despreocupação das responsabilidades que a
reencarnação atual lhe confere."
R - Áulus tenta demonstrar que a qualificação de mistificação para o episódio é inconveniente, uma vez que se trata
de uma manifestação espontânea e que espelha a real situação mental daquela mulher. A manifestação resulta dos
sentimentos alimentados durante anos em seu psiquismo e que vieram à tona ante a aproximação do desafeto.
3.c) "Para o psiquiatra comum é apenas uma candidata à insulinoterapia ou ao eletrochoque; entretanto,
para nós, é uma enferma espiritual, uma consciência torturada, exigindo amparo moral e cultural para a
renovação íntima, única base sólida que lhe assegurará o reajustamento definitivo".
R - A ciência humana em geral e, em particular, a medicina terrena, vêem o problema unicamente sob a ótica da
matéria corporal. Se examinada por um médico psiquiatra comum, como disse o Assistente, com toda certeza, seria
diagnosticada uma enfermidade no cérebro, mais um caso clínico a receber tratamento medicamentoso. O plano
espiritual, no entanto, com uma visão mais ampla do ser integral, pôde perceber que a enfermidade não era corporal,
mas mental, vale dizer, espiritual. O tratamento de que necessitava a enferma era de natureza moral, que a levasse
a uma renovação interior, possibilitando-lhe o reequilíbrio espiritual.
4. Pode o animismo ser considerado uma mistificação?
R - O animismo, assim como o mediunismo, é um fenômeno natural, que não pode ser considerado mistificação. O
que o difere é o fato de, no fenômeno anímico, a pessoa manifestar idéias e sentimentos oriundos de si própria, que
são recolhidos no passado e que manteve fixados em seu psiquismo, apesar da renovação corporal. Sendo uma
manifestação natural e espontânea, como a narrada no presente capítulo, não pode o animismo ser considerado uma
mistificação. O espírito que se manifesta através de um fenômeno anímico, demonstrando o seu sofrimento, é tão
merecedor de tratamento caridoso e esclarecedor quanto o que se manifesta pela via mediúnica.
5. Como pode o doutrinador diferenciar o animismo do mediunismo? Explique.
R - Ao doutrinador encarnado é tarefa das mais difíceis fazer esta distinção. Cada caso tem a sua peculiaridade
e não se pode estabelecer uma regra geral para distingui-los. Ambos os fenômenos podem se apresentar de tal modo
interligados que se torna impossível a separação do que é resultado de um ou de outro. Mesmo no fenômeno
mediúnico, há uma grande influência do médium, que pode, inclusive, não expressar fielmente a vontade do
espírito comunicante. Por outro lado, o fenômeno anímico também pode receber a influência de desencarnados.
Desse modo, é praticamente impossível se fazer, com segurança, a distinção entre um e outro. O plano espiritual
superior, com a faculdade que tem de penetrar na mente de outro espírito, conhecendo-lhe o arquivo mental, como já
vimos em diversas passagens desta obra, pode reconhecer, mais facilmente, quando a manifestação é anímica ou
mediúnica, como o fez Áulus.
6. A pessoa que é instrumento de manifestações anímicas também pode ser considerada como médium?
R - Aquele que produz uma manifestação anímica pura, sem qualquer influência do plano espiritual, não pode ser
considerado médium, no sentido restrito do termo, que Kardec utiliza no Livro dos Médiuns. Qualquer pessoa,
sendo ou não portadora de mediunidade ostensiva, pode produzir um fenômeno anímico. O animismo, como temos
visto, caracteriza-se por ser um fenômeno produzido pelo próprio espírito encarnado, sem que expresse a
manifestação de uma inteligência estranha, o que caracterizaria o fenômeno como mediúnico. Todavia, como vimos
acima, na prática, tanto pode ocorrer uma manifestação predominantemente anímica, mas sob influencia pelo plano
espiritual, como uma manifestação mediúnica influenciada pelo médium. Segundo o assistente Áulus, no caso em
questão, a a senhora enferma era portadora de mediunidade ostensiva, provavelmente, médium ainda carecedora de
educação mediúnica, tanto que a qualificou como um "vaso defeituoso", que "pode ser consertado e restituído ao
serviço".
7. Qual a importância do perdão aos inimigos para o equilíbrio espiritual?
R - Ao ser indagado por Pedro se, quando um irmão pecar contra nós, devemos perdoar até sete vezes, Jesus
respondeu-lhe que devemos perdoar não sete vezes, mas até setenta vezes sete, ou seja, sempre.
Quando se cria uma desavença ou uma desafeição para com um irmão, independentemente de quem deu causa,
um elo fluídico é formado entre os espíritos envolvidos na relação conflituosa, que os prende, um ao outro, numa
permanente troca de energias negativas. Enquanto não se reconciliam e alimentam a animosidade, essa troca de
energias negativas perdura, influenciando em ambos. Hoje, a Ciência já comprova que o estado emocional
ocasionado por circunstâncias como essas podem gerar um número grande de doenças, não apenas psicológicas
mas, até, no organismo físico, como tumores, doenças cardíacas, etc.
Quando se perdoa ou se roga o perdão, aquele que assim age se libera desse elo malévolo, libertando-se da
ação fluídica negativa gerada pela desafeição. Toda a carga negativa provocada pela desafeição fica agindo
apenas naquele que não quis ou que não soube perdoar ou ser perdoado.
QUESTÕES SURGIDAS DURANTE O ESTUDO
1. Podemos dizer que o animismo é (ou também é) provocado pela fixação mental?
R - A fixação mental pode ser uma das causas da manifestação anímica, porém, não é a única. No caso narrado
no capítulo presente, sim, a fixação mental em fato passado foi que deu causa ao fenômeno anímico. No entanto,
o espírito encarnado pode deixar aflorar um idioma ou uma ciência que tenha conhecido em experiência passada,
por exemplo. Nesta hipótese, não se trata de fixação mental, mas de recordação espontânea do passado.
2. Podemos dizer que o médium com animismo é um médium desajustado?
R - Como vimos acima, todo fenômeno mediúnico sofre alguma influência do médium no ato da recepção do
pensamento do comunicante. No entanto, quando o médium deixa que os seus pensamentos ou seus sentimentos
predominem na comunicação caracteriza-se um desajuste, devendo o trabalhador passar por um tratamento que lhe
devolva o equilíbrio.
3. Será que podemos dizer que, em realidade, na prática, não temos como diferenciar um do outro ? Ou não
existiria um separado do outro?
R - Já vimos a dificuldade que é fazer-se a distinção entre um e outro fenômeno. Não há um meio absolutamente
seguro para se reconhecer quando o fenômeno é anímico ou mediúnico. Os nossos pensamentos e sentimentos
são intrínsecos, isto é, fluem de dentro para fora, vêm do nosso cérebro. O pensamento do espírito é extrínseco,
vem de fora para dentro. Os nossos estão sempre de acordo com o grau de evolução que já alcançamos, traduzindo
nossas inclinações e têm sempre o mesmo conteúdo moral e intelectual. Já os pensamentos vindos do plano
espiritual são diferentes quanto à forma e ao conteúdo, variando conforme o espírito que se comunica.
A maneira do médium adquirir a capacidade de distinguir se o pensamento é seu ou do espírito é estudar a doutrina
e manter um padrão comportamental compatível com os seus ensinamentos morais, que são os do Cristo