Nos Domínios da Mediunidade

018 – Apontamentos à margem

APONTAMENTOS À MARGEM

" Dona Ambrosina continuava psicografando várias mensagens, endereçadas aos presentes.
E um dos oradores, sob a influência de benigno mentor da Espiritualidade, salientava a necessidade de conformação
com as Leis Divinas para que a nossa vida mental se refaça, fazendo jus a bênçãos renovadoras.
Alguns encarnados jaziam impermeáveis e sonolentos, vampirizados por obsessores caprichosos que os acompanhavam
de perto, entretanto, muitos desencarnados de mediana compreensão ouviam, solícitos, e sinceramente aplicados
ao ensino consolador.
Gabriel, de olhos percucientes e lúcidos, a tudo presidia com firmeza.
Nenhuma ocorrência, por mínima que fosse, lhe escapava à percepção.
Aqui, a um leve sinal seu, entidades escarnecedoras eram exortadas à renovação de atitude, ali, socorriam-se doentes
que ele indicava com silencioso gesto de recomendação.
Era o pulso de comando, forte e seguro, sustentando a harmonia e a ordem, na exaltação do trabalho.
Contemplamos a mesa enorme em que a direção se processava com equilíbrio irrepreensível e, fitando a médium,
rodeada de apetrechos do serviço, em atividade constante, Hilário perguntou ao nosso orientador:
- Por que tantas mensagens pessoais dos Espíritos amigos?
- São respostas reconfortantes a companheiros que lhes solicitam assistência e consolo.
- E essas respostas – continuou meu colega – traduzem equação definitiva para os problemas que expõem?
- Isso não – aclarou o Assistente, convicto -; entre o auxílio e a solução vai sempre alguma distância em qualquer
dificuldade, e não podemos esquecer que cada um de nós possui os seus próprios enigmas.
- Se é assim, por que motivo o intercâmbio? Se os desencarnados não podem oferecer uma conclusão pacífica aos
tormentos dos irmãos que ainda se demoram na carne, por que a porta aberta entre eles e nós?
- Não te esqueças do impositivo da cooperação na estrada de cada ser – disse Áulus com grave entono. – Na vida
eterna, a existência no corpo físico, por mais longa, é sempre curto período de aprendizagem. E não nos cabe olvidar
que a Terra é o campo onde ferimos a nossa batalha evolutiva. Dentro dos princípios de causa e efeito, adquirimos os
valores da experiência com que estruturamos a nossa individualidade para as Esferas Superiores. A mente, em verdade,
é o caminheiro buscando a meta da angelitude, contudo, não avançará sem auxílio. Ninguém vive só. Os pretensos
mortos precisam amparar os companheiros em estágios na matéria densa, porquanto em grande número serão
compelidos a novos mergulhos na experiência carnal. É da Lei que a sabedoria socorra a ignorância, que os melhores
ajudem aos menos bons. Os homens, cooperando com os Espíritos esclarecidos e benevolentes, atraem simpatias
preciosas para a vida espiritual, e as entidades amigas, auxiliando os reencarnados, estarão construindo facilidades
para o dia de amanhã, quando de volta à lide terrestre.
- Sim, sim, compreendo... – exclamou Hilário, reconhecido. – Entretanto, colocando-me na situação da criatura vulgar,
recordo-me de que no mundo habituamo-nos a esperar do Céu uma solução decisiva e absoluta para inúmeros problemas
que se nos deparam...
- Semelhante atitude, porém – acentuou o orientador -, decorre de antiga viciação mental no Planeta. Para maior clareza
do assunto, rememoremos a exemplificação do Divino Mestre. Jesus, o Governador Espiritual do Mundo, auxiliou a
doentes e aflitos, sem retira-los das questões fundamentais que lhes diziam respeito. Zaqueu, o rico prestigiado pela
visita que lhe foi feita, sentiu-se constrangido a modificar a sua conduta. Maria de Magdala, que lhe recebeu carinhosa
atenção, não ficou livre do dever de sustentar-se no árduo combate da renovação interior. Lázaro, reerguido das trevas
do sepulcro, não foi exonerado da obrigação de aceitar, mais tarde, o desafio da morte. Paulo de Tarso foi por Ele
distinguido com um apelo pessoal, às portas de Damasco, entretanto, por isso, o apóstolo não obteve dispensa dos
sacrifícios que lhe cabiam no desempenho da nova missão. Segundo reconhecemos, seria ilógico aguardar dos
desencarnados a liquidação total das lutas humanas. Isso significaria furtar o trabalho que corresponde ao sustento do
servidor, ou subtrair a lição ao aluno necessitado de luz.
A essa altura, não longe de nós, simpática senhora monologava em pensamento:
- Meu filho! Meu filho! Se você não está morto, visite-me! Venha! Venha! Estou morrendo de saudade, de angústia!...
fale-me alguma palavra pela qual nos entendamos... Se tudo não está acabado, aproxime-se da médium e comunique-se!
É impossível que você não tenha piedade...
As frases amargas, embora inarticuladas, atingiam-nos a audição, qual se fossem arremessadas ao ambiente em voz
abafadiça.
Leve rumor à retaguarda feriu-nos a atenção.
Um rapaz desencarnado apresentou-se em lastimáveis condições e avançou para a triste mulher, dominado por invencível atração.
Da boca amarfanhada escorria a amargura em forma de palavras comovedoras.
- Mãe! Mãe! – gritava de joelhos, qual se fora atormentada criança, conchegando-se-lhe ao regaço – não me abandone!...
Estou aqui, ouça-me! Não morri... perdoe-me, perdoe-me!... Sou um renegado, um náufrago!... Busquei a morte quando
eu deveria viver para o seu carinho! Agora sim! Vejo o sofrimento de perto e desejaria aniquilar-me para sempre, tal a
vergonha que me aflige o coração!...
A matrona não lhe via a figura agoniada, contudo, registrava-lhe a presença, através de intraduzível ansiedade, a
constringir-lhe o peito.
Dois vigilantes aproximaram-se, arrebatando o moço ao colo materno, e, ladeado por nossa vez o Assistente, que se
deu pressa em socorrer a senhora em lágrimas, ouvimo-la clamar, mentalmente:
- “Não será melhor segui-lo?! Morrer e descansar!... Meu filho, quero meu filho!...”
Áulus aplicou-lhe recursos magnéticos, com o que a desventurada criatura experimentou grande alívio, e, em seguida,
informou:
- Anotemos o caso desta pobre mãe desarvorada. O filho suicidou-se, há meses, e ainda não consegue forrar-se à
flagelação íntima. Em sua devoção afetiva, reclama-lhe a manifestação pessoal sem saber o que pede, porque a
chocante posição do rapaz constituir-lhe-ia pavoroso martírio. Não poderá, desse modo, recolher-lhe a palavra direta,
entretanto, ao contacto do trabalho espiritual que aqui se processa, incorporará energias novas para refazer-se
gradualmente.
- Decerto – acrescentou Hilário, com inteligência -, não terá resolvido o problema crucial da sensibilidade ferida, no
entanto, adquire forças para recuperar-se...
- Isso mesmo.
- Aliás – considerei a meu modo -, a mediunidade de hoje é, na essência, a profecia das religiões de todos os tempos.
- Sim – aprovou Áulus, prestimoso -, com a diferença de que a mediunidade hoje é uma concessão do Senhor à
Humanidade em geral, considerando-se a madureza do entendimento humano, à frente da vida. O fenômeno mediúnico
não é novo. Nova é tão-somente a forma de mobilização dele, porque o sacerdócio de várias procedências jaz, há
muitos séculos, detido nos espetáculos do culto exterior, mumificando indebitamente o corpo das revelações celestiais. Notadamente o Cristianismo,
que deveria ser a mais ampla e a mais simples das escolas de fé,há muito tempo como que se enquistou no
superficialismo dos templos. Era preciso, pois,libertar-lhes os princípios, a benefício do mundo que, cientificamente,
hoje se banha no clarão de nova era. Por esse motivo, o Governo oculto do Planeta deliberou que a mediunidade fosse
trazida do colégio sacerdotal à praça pública, a fim de que a noção da eternidade, através da sobrevivência da alma,
desperte a mente anestesiada do povo. É assim que Jesus nos reaparece, agora, não como fundador de ritos e
fronteiras dogmáticas, mas sim em sua verdadeira feição de Redentor da Alma Humana. Instrumento de Deus por
excelência, Ele se utilizou da mediunidade para acender a luz da sua Doutrina de Amor. Restaurando enfermos e
pacificando aflitos, em muitas ocasiões esteve em contacto com os chamados mortos, alguns dos quais não eram
senão almas sofredoras a vampirizarem obsidiados de diversos matizes. E, além de surgir em colóquio com Moisés materializado no Tabor, Ele mesmo é o
grande ressuscitado, legando aos homens o sepulcro vazio e acompanhando os discípulos com acendrado amor, para
que lhe continuassem o apostolado de bênçãos.
Hilário esboçou o sorriso de um estudante satisfeito com a lição, e exclamou:
- Ah! Sim, tenho a impressão de começar a compreender...
Os trabalhos da reunião tocavam a fase terminal.
Nosso orientador percebeu que Gabriel se dispunha a grafar a mensagem do encerramento e, respeitoso, pediu-lhe
cunhar alguns conceitos em derredor da mediunidade, ao que o supervisor aquiesceu, gentil.
Dona Ambrosina entrara em pausa ligeira para alguns momentos de recuperação.
O diretor da reunião rogou silêncio para o remate dos serviços, e, tão logo reverente quietação se fez na assembléia, o
condutor da casa controlou o cérebro da medianeira e tomou-lhe o braço, escrevendo aceleradamente.
Em minutos rápidos, os apontamentos da Gabriel estavam concluídos.
A médium levantou-se e passou a lê-los em voz alta:
- “Meus amigos – dizia o mentor -, é indispensável procurar na mediunidade não a chave falsa para certos arranjos
inadequados na Terra, mas sim o caminho direito de nosso ajustamento à vida superior.
“compreendendo assim a verdade, é necessário renovar a nossa conceituação de médium, para que não venhamos a
transformar companheiros de ideal e de luta em oráculos e adivinhos, com esquecimento de nossos deveres na elevação
própria.
“O Espiritismo, simbolicamente, é Jesus que retorna ao mundo, convidando-nos ao aperfeiçoamento individual, por
intermédio do trabalho construtivo e incessante
“Dentro das leis da cooperação, será justo aceitar o braço amigo que se nos oferece para a jornada salvadora, entretanto
é imprescindível não esquecer que cada qual de nós transporta consigo questões essenciais e necessidades intransferíveis.
“Desencarnados e encarnados, todos palmilhamos extenso campo de experimentações e de provas, condizentes com os impositivos de nosso crescimento para a imortalidade.
“Não atribuamos, assim, ao médium obrigações que nos competem, em caráter exclusivo, e nem aguardamos da
mediunidade funções milagreiras, porquanto só a nós cabe o serviço árduo da própria ascensão, na pauta das
responsabilidades que o conhecimento superior nos impõe.
“Diante de nossas assertivas, podereis talvez indagar, segundo os velhos hábitos que nos caracterizam a preguiça mental
na Terra: - Se o Espiritismo e a Mediunidade não nos solucionam os enigmas de maneira absoluta, que estarão ambos
fazendo no santuário religioso da Humanidade?
“Responder-vos-emos, todavia, que neles reencontramos pensamento puro do Cristo, auxiliando-nos a compreensão para
mais amplo discernimento da realidade. Neles recolhemos exatos informes, quanto à lei das compensações,
equacionando aflitivos problemas do ser, do destino e da dor e deixando-nos perceber, de alguma sorte, as infinitas
dimensões para as quais evolvemos. E a eles deveremos, acima de tudo, a luz para vencer os tenebrosos labirintos da
morte, a fim de que nos consorciemos, afinal, com as legítimas noções da consciência cósmica.
“Alcançadas semelhantes fórmulas de raciocínio, perguntaremos a vós outros por nossa vez:
- “Acreditais seja pouco revelar a excelsitude da Justiça? Admitis seja desprezível descortinar a vida em suas ilimitadas
facetas de evolução e eternidade?
“Reverenciemos, pois, o Espiritismo e a Mediunidade como dois altares vivos no templo da fé, através dos quais contemplaremos, de mais alto, a esfera das cogitações propriamente terrestres, compreendendo, por fim, que a glória
reservada ao espírito humano é sublime e infinita, no Reino Divino do Universo.”
A comunicação psicográfica tratou de outros assuntos e, finda a sua leitura, breve oração de reconhecimento foi
pronunciada. E, enquanto os assistentes tornavam à conversação livre, hilário e eu, ante os conceitos ouvidos, passamos
a profunda introversão para melhor aprender e meditar."


QUESTÕES PARA ESTUDO

1) Que benefícios o intercâmbio mediúnico pode trazer para encarnados e desencarnados?

2) Que lições podemos extrair das seguintes passagens evangélicas mencionadas por Áulus:

" Zaqueu, o rico prestigiado pela visita que lhe foi feita, sentiu-se constrangido a modificar a sua
conduta. Maria de Magdala, que lhe recebeu carinhosa atenção, não ficou livre do dever de sustentar-se
no árduo combate da renovação interior. Lázaro, reerguido das trevas do sepulcro, não foi exonerado
da obrigação de aceitar, mais tarde, o desafio da morte. Paulo de Tarso foi por Ele distinguido com
um apelo pessoal, às portas de Damasco, entretanto, por isso, o apóstolo não obteve dispensa dos
sacrifícios que lhe cabiam no desempenho da nova missão."

3) André Luiz narra o comparecimento de um espírito suicida, em estado de grande desequilíbrio, que fora evocado pela
mãe, presente à reunião. Quais as conseqüências ocasionadas pelo suicídio para o espírito?

4) Áulus explica que o fenômeno mediúnico não é novo e que "nova é tão somente a forma de mobilização dele." Que
esninamento pretendeu transmitir o orientador com essa afirmação? Como o Espiritismo se enquadra nesse ensino?

5) André Luiz finaliza o presente capítulo com a transcrição de uma mensagem final de Gabrioel, dirigente espiritual da
reunião. Vamos interpretar alguns trechos desta mensagem:

5.a) "...é indispensável procurar na mediunidade não a chave falsa para certos arranjos inadequados
na Terra, mas sim o caminho direito de nosso ajustamento à vida superior."

5.b) "O Espiritismo, simbolicamente, é Jesus que retorna ao mundo,..."

5.c) "Não atribuamos, assim, ao médium obrigações que nos competem, em caráter exclusivo, e nem
aguardamos da mediunidade funções milagreiras, porquanto só a nós cabe o serviço árduo da própria
ascensão, na pauta das responsabilidades que o conhecimento superior nos impõe."

5.d) "Diante de nossas assertivas, podereis talvez indagar, segundo os velhos hábitos que nos
caracterizam a preguiça mental na Terra: - Se o Espiritismo e a Mediunidade não nos solucionam os
enigmas de maneira absoluta, que estarão ambos fazendo no santuário religioso da Humanidade?
Responder-vos-emos, todavia, que neles reencontramos pensamento puro do Cristo, auxiliando-nos
a compreensão para mais amplo discernimento da realidade. Neles recolhemos exatos informes, quanto
à lei das compensações, equacionando aflitivos problemas do ser, do destino e da dor e deixando-nos
perceber, de alguma sorte, as infinitas dimensões para as quais evolvemos. E a eles deveremos, acima
de tudo, a luz para vencer os tenebrosos labirintos da morte, a fim de que nos consorciemos, afinal,
com as legítimas noções da consciência cósmica."



Conclusão

C O N C L U S Ã O


1) Que benefícios o intercâmbio mediúnico pode trazer para encarnados e desencarnados?

R - A humanidade é uma só. Encarnação e desencarnação são meros estados transitórios, fenômenos biológicos
ainda necessários ao espírito imortal em evolução. Ninguém evolui sozinho. Todos temos de evoluir juntos,
impulsionando ao progresso, simultaneamente, o Planeta Terra que nos abriga. Fazendo parte de uma única e
grande coletividade, encarnados e desencarnados têm seus destinos atrelados uns aos outros, influenciando-se
mutuamente.

Neste contexto, o intercâmbio mediúnico possibilita aos que se encontram encarnados colaborarem, como médiuns,
com os benfeitores do plano espiritual, no serviço de amparo e orientação aos que se encontram em trânsito pelo
mundo carnal. Colaborando com os Espíritos executores dos planos de Jesus, estarão se creditando a, no futuro,
quando retornarem ao plano espiritual, receberem o amparo tão necessário nesse momento de transição entre uma
e outra forma de vida. Como explicou Áulus, "os homens, cooperando com os Espíritos esclarecidos e benevolentes,
atraem simpatias preciosas para a vida espiritual, e as entidades amigas, auxiliando os reencarnados, estarão
construindo facilidades para o dia de amanhã, quando de volta à lide terrestre."

Martins Peralva, no livro "Estudando a Mediunidade", apresenta, no capítulo XXIX, um quadro em que sintetiza "os
principais benefícios da prática mediúnica com Jesus":

Para os encarnados:
Cooperação com encarnados e desencarnados, no serviço de reconforto e esclarecimento
Auto-educação, pela renovação dos sentimentos, com aproveitamento das mensagens de elevado teor
Construção de afeições preciosas no plano espiritual, consolidando, assim as bases da cooperação e da amizade superior.
Para os desencarnados:
Preparação de facilidades para os que tiverem de reiniciar o aprendizado, pela reencarnação, mediante o auxílio aos atuais desencarnados.
Auxílio a reencarnados e desencarnados no esforço de libertação das teias da ignorância e do sofrimento.
Transmissão, aos reencarnados, dos esclarecimentos edificantes dos grandes Instrutores que operam com Jesus na redenção da Humanidade.

2) Que lições podemos extrair das seguintes passagens evangélicas mencionadas por Áulus:

" Zaqueu, o rico prestigiado pela visita que lhe foi feita, sentiu-se constrangido a modificar a sua
conduta. Maria de Magdala, que lhe recebeu carinhosa atenção, não ficou livre do dever de sustentar-se
no árduo combate da renovação interior. Lázaro, reerguido das trevas do sepulcro, não foi exonerado
da obrigação de aceitar, mais tarde, o desafio da morte. Paulo de Tarso foi por Ele distinguido com um
apelo pessoal, às portas de Damasco, entretanto, por isso, o apóstolo não obteve dispensa dos sacrifícios
que lhe cabiam no desempenho da nova missão."

R - Áulus quis demonstrar que mesmo aqueles que, conhecendo os ensinamentos de Jesus, operaram
transformações em suas vidas, fizeram-no mediante esforço próprio, sem se isentarem de suas provas. O auxílio do
Alto sempre chegará, mas nunca nos carregará no colo. Os Espíritos amigos não nos trazem uma solução pronta.
Como bem mencionou André Luiz, equivocamo-nos quando "no mundo habituamo-nos a esperar do Céu uma solução
decisiva e absoluta para inúmeros problemas que se nos deparam...". Se os Espíritos pusessem termo às
dificuldades humanas que temos de experienciar na vida terrena, estariam furtando-nos o trabalho que sustentará o
nosso progresso e subtraindo a lição que necessitamos como aprendizes ainda imaturos.
Portanto, o mentor quis deixar claro que os desencarnados não podem oferecer uma solução concreta aos
sofrimentos dos encarnados, pois não é esse o papel que devem desempenhar na obra do Criador. O papel do plano espiritual é de cooperação, de fortalecimento, de sustentação na nossa fé, sem, contudo, eliminar uma prova que
seja pela qual devamos nos submeter. Zaqueu, Maria de Magdala, Lázaro e mais notadamente Paulo foram
iluminados pelos ensinos de Jesus e souberam assimilá-los, transformando-se profundamente. No entanto, ainda
assim, tiveram que passar por suas provas, como vemos com o exemplo de Paulo, submetido a dolorosos flagelos
até o sacrifício final, impostos pela incompreensão e falta de sensibilidade dos poderosos de então, enquanto
desempenhava a missão que lhe fora confiada pelo Cristo, de levar o Evangelho a todos os cantos do mundo onde
as precárias condições materiais da época o permitiam.


3) André Luiz narra o comparecimento de um espírito suicida, em estado de grande desequilíbrio, que fora evocado pela
mãe, presente à reunião. Quais as conseqüências ocasionadas pelo suicídio para o espírito?

R - Como é comum aos casos de suicídio, o rapaz evocado pela mãe apresentou-se na reunião em deplorável estado
de desequilíbrio, afirmando encontrar-se em grande sofrimento. Como demonstra o infeliz rapaz, a primeira grande
decepção com que se depara o suicida é constatar que continuava vivo e que o ato praticado de nada adiantou.
Experimentava o rapaz um sentimento de frustração, consciente que se encontrava de que o fim da vida física resultou absolutamente inútil. Já demonstrava arrependimento pelo desatinado ato e absorvia os efeitos da condenação imposta
sua consciência, ao declarar-se envergonhado. Ao invés de se livrar de um problema, adquiriu outro, provavelmente
ainda mais graves, com sofrimentos futuros indescritíveis. A vida física nos é concedida por Deus e somente a Ele
assiste o direito de definir o momento de dela nos retirar, conforme as leis cósmicas que comanda o Universo.

Uma vez mais recorremos a Martins Peralva, que, na obra acima citada, apresenta, no capítulo XXX, um breve resumo
das conseqüências que o ato do suicídio acarreta para o espírito infrator:

- Visão, pela própria alma, do corpo em decomposição;

- Flagelações nos planos inferiores;

- Frustrações de tentativas para a reencarnação;

- Reencarnações dolorosas, com agravamento das provas.


4) Áulus explica que o fenômeno mediúnico não é novo e que "nova é tão somente a forma de mobilização dele." Que
ensinamento pretendeu transmitir o orientador com essa afirmação? Como o Espiritismo se enquadra nesse ensino?

R - A mensagem do mentor é no sentido de que a mediunidade existe de todo o sempre. Vem de épocas remotas.
É uma faculdade inerente à condição humana. Todas as criaturas a possuem, umas, em estado de latência, quase
imperceptível; outras, de modo permanente e ostensivo. Conforme explicou, as castas sacerdotais de antigamente
a guardavam como um privilégio seu, utilizando-a em demonstrações nos culto exteriores, como forma de impor seu
domínio sobre as classes menos esclarecidas. Os profetas do passado, que aparecem com freqüência tanto no
Antigo como no Novo Testamento, eram inspirados por Espíritos Superiores. Tanto um como outro livro são obras
de origem mediúnica.

O uso da mediunidade, então, não tinha o mesmo caráter de ajuda, de comunhão espiritual, de intercâmbio com os
espíritos desencarnados, como hoje se pratica nos centros espíritas. Os portadores de mediunidade eram tidos como
pessoas especiais, dotadas de poderes sobrenaturais e a prática mediúnica se dava em ambientes fechados, restritos
a determinados grupos e com objetivos nem sempre nobres. Com o advento do Espiritismo, o fenômeno mediúnico
ganhou nova dimensão e seriedade, passando a ser uma conquista de toda a humanidade. O Espiritismo libertou os
seus princípios em benefício de todos, trazendo-os ao seio do povo. Tirou a mediunidade do campo do sobrenatural,
transformando-a num instrumento de comprovação da sobrevivência do espírito e da eternidade da Criação.

Para trazer esses novos conceitos à humanidade, Deus enviou ninguém menos que o próprio Jesus, Governador
Espiritual do Planeta, o Cristo Planetário, para que, com seus ensinamentos e, principalmente, com seu exemplo,
viesse conduzir a humanidade a ingressar numa nova era. Para tanto, legou-nos seu ensino moral, curou enfermos,
pacificou aflitos, fez paralíticos andarem, cegos enxergarem, aliviou obsediados e terminou por deixar o sepulcro vazio,
como forma de demonstrar a continuação da vida.


5) André Luiz finaliza o presente capítulo com a transcrição de uma mensagem final de Gabriel, dirigente espiritual da
reunião. Vamos interpretar alguns trechos desta mensagem:

5.a) "...é indispensável procurar na mediunidade não a chave falsa para certos arranjos inadequados
na Terra, mas sim o caminho direito de nosso ajustamento à vida superior."

R - A mediunidade deve ser usada para a prática da caridade. É uma oportunidade preciosa que é concedida ao
espírito como meio de impulsionar a sua evolução. Não nos é concedida para a busca de soluções para os problemas
do dia a dia, para as questões corriqueiras que a vida na matéria se nos apresenta e que temos de resolver por nós
mesmos. Tampouco deve ser exercitada com outra finalidade que não a prática da caridade. O médium que a utiliza
como meio de obter alguma vantagem pessoal, seja ela material ou não, ao invés de encontrar "o caminho direito
de nosso ajustamento à vida superior", como ensinou o Instrutor, estará encontrando o duro caminho da queda. "Dai
de graça o que de graça recebeste", como disse Jesus, é o mandamento primeiro do medianeiro.
.


5.b) "O Espiritismo, simbolicamente, é Jesus que retorna ao mundo,..."

R - Pouco antes de deixar a vida física, Jesus prometeu-nos que retornaria. As religiões que se formaram em torno de
seus ensinamentos interpretam essa promessa literalmente, como, aliás, desse modo interpretam todo o ensinamento
do Mestre. E estão aí, a aguardar uma nova vinda do Cristo à carne. Jesus, na realidade, nunca nos deixou. Está e
sempre esteve no meio de nós, como o guia e modelo da humanidade terrena, governando os destinos do Planeta e
nos enviando seus emissários, de tempos em tempos, para nos impulsionar o progresso.

O retorno prometido pelo Cristo não tem natureza material. É um retorno de natureza espiritual, como o foi todo o seu ensinamento. É o retorno de sua Doutrina, que não foi até hoje assimilada corretamente pelos homens. O Espiritismo,
como a Terceira Revelação das Leis de Deus, veio para relembrar os ensinamentos e o exemplo do Cristo, esclarecendo
sobre coisas que a humanidade, á época de sua passagem pela vida material, não estava ainda evoluída o suficiente
para compreender. Cumpre-se, com o seu advento, a promessa de Jesus de que retornaria ao mundo.


5.c) "Não atribuamos, assim, ao médium obrigações que nos competem, em caráter exclusivo, e nem
aguardamos da mediunidade funções milagreiras, porquanto só a nós cabe o serviço árduo da própria
ascensão, na pauta das responsabilidades que o conhecimento superior nos impõe."

R - Como temos visto, a mediunidade não é salvação para ninguém. Aliás, o Espiritismo nos ensina que ninguém salva
ninguém, nem mesmo os Espíritos amigos, que através do fenômeno mediúnico tanto nos auxiliam. A lei é de evolução
e a chamada "salvação", tão utilizada por alguns segmentos religiosos, nada mais é do que o alcance da perfeição
relativa a que estamos irreversivelmente destinados e da felicidade definitiva. No entanto, estas são conquistas próprias
do espírito imortal, que somente as alcançará através do árduo trabalho em busca da ascensão.

O médium é uma ferramenta preciosa de que os Espíritos benfeitores se utilizam para nos orientarem. São nossos
parceiros de luta evolutiva. Não são os nossos salvadores nem a mediunidade nosso porto milagroso. Mais uma vez
recordemos a lição de Jesus: "Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então
retribuirá a cada um segundo as suas obras."


5.d) "Diante de nossas assertivas, podereis talvez indagar, segundo os velhos hábitos que nos
caracterizam a preguiça mental na Terra: - Se o Espiritismo e a Mediunidade não nos solucionam os
enigmas de maneira absoluta, que estarão ambos fazendo no santuário religioso da Humanidade?
Responder-vos-emos, todavia, que neles reencontramos pensamento puro do Cristo, auxiliando-nos
a compreensão para mais amplo discernimento da realidade. Neles recolhemos exatos informes, quanto
à lei das compensações, equacionando aflitivos problemas do ser, do destino e da dor e deixando-nos
perceber, de alguma sorte, as infinitas dimensões para as quais evolvemos. E a eles deveremos, acima
de tudo, a luz para vencer os tenebrosos labirintos da morte, a fim de que nos consorciemos, afinal,
com as legítimas noções da consciência cósmica."

R - No Espiritismo e na Mediunidade encontramos os ensinamentos que, se colocados em prática, nos conduzirão ao
caminho da felicidade. Trazem-nos os ensinamentos de Jesus em espírito e verdade, o conhecimento de leis cósmica
que regem a matéria e a vida espiritual e que eram até então desconhecidas. Mostram-nos a nossa realidade
existencial, como os seres inteligentes do Universo, espíritos imortais em evolução. No entanto, como vimos nas
questões anteriores, o Espiritismo nem a mediunidade solucionam nossas dificuldades. Dificuldades temos que vencer,
usando o nosso livre-arbítrio. Ajudam-nos a nos transformar, mediante o consolo e o esclarecimento. Mas quem opera
essa transformação imprescindível somos nós. Com a certeza na vida futura que o Espiritismo comprova de modo tão
claro, o homem adquire força para seguir sua caminhada, certo de que um dia esse Deus interno que existe dentro de
nós resplenderá inteiramente e ofuscará de vez o homem velho que ainda trazemos conosco.