Obreiros da Vida Eterna

019 – A Serva Fiel

(...) Atendendo a divisão de serviços, Jerônimo e eu,
continuamos em ação no instituto evangélico, onde a serva
leal de Jesus receberia a carta liberatória. Adelaide,
porém, não parecia depender de algemas físicas. Não
consegui, por minha vez, auscultar-lhe o espesso organismo,
porque a nobre missionária, em virtude do avançado
enfraquecimento do corpo, abandonava-o ao primeiro sinal de
nossa presença, colocando-se junto de nós, em sadia
palestra.
(...) Na antevéspera do desenlace tive ocasião de observar a
extrema simplicidade do abnegado Bezerra de Menezes, que se
encontrava em visita de reconforto junto à servidora fiel.
(...) _Ora, Adelaide _ considerou o apostolo da caridade _,
morrer é muito mais fácil que nascer. Para organizar, na
maioria das circunstancias, são precisos, geralmente
inúmeros cuidados; para desorganizar, contudo, basta por
vezes leve empurrão. Ajude a você mesma, libertando a mente
dos elos que a imantam a pessoas, acontecimentos, coisas e
situações da vida terrena. Não se detenha, quando for
chamada, não olhe para traz.
(...)
Espero _ asseverou a interlocutora, em tom grave _ que os
amigos me auxiliem. Sinto-me socorrida e amparada, mas ...
tenho medo de mim mesma.
Preocupada assim, minha amiga ? tornou o antigo médico,
satisfeito. Não vale a pena. Compreendo-lhe contudo a
ansiedade. Também passei por ai. Creia, entretanto, que a
lembrança de Jesus, ao pé de Lázaro, foi ajuda certa ao meu
coração, em transe igual. Busquei insular-me, cercar os
ouvidos aos chamamentos do sangue, fechar os olhos à visão
dos interesses terrenos, e a libertação, afinal, deu-se em
poucos segundos. Pensei nos ensinamentos do Mestre, ao
chamar Lázaro, de novo, à existência, e recordei-lhe as
palavras: - Lázaro, sai para fora ! Centralizando a atenção
na passagem evangélica, afastei-me do corpo grosseiro, sem
obstáculo algum.
(...)
Interrompeu-se a conversação, porque Adelaide foi obrigada a
reanimar repentinamente o corpo, a fim de receber a ultima
dose de medicação noturna. Ao regressar ao nosso plano,
Jerônimo ofereceu-lhe o braço amigo para rápida excursão ao
estabelecimento de Fabiano.
Irma Zenóbia desejava vê-lá antes do desenlace (...).
(...)
Depois de considerações convincentes por parte de Zenóbia,
que se esmerava em ministrar-lhe bom animo, Adelaide,
humilde, expôs-lhe as derradeiras dificuldades.
Ligara-se, fortemente, à obra iniciada nos círculos carnais
e sentia-se estreitamente ligada, não somente a obra, mas
também aos amigos e auxiliares. Por força de circunstancias
imperiosas, acumulava funções diversas no quadro geral de
serviços. Possuía toda uma equipe de irmãs dedicadíssimas,
que colaboravam com sincero desprendimento e alto valor
moral, no amparo a infância desvalida. Se estimava
profundamente as cooperadoras, era, igualmente, muito
querida de todas elas. (...) no intimo estava preparada; no
entanto, reconhecia a extensão e a complexidade dos óbices
mentais (...) Quanto menos se via presa ao corpo, mais se
ampliava a exigência dos parentes, dos amigos...Como
portar-se ante esta situação ? (...) Entretanto, ela mesma
reconhecia a imprestabilidade do aparelho físico. A máquina
fisiológica atingira o fim. Não conseguiria manter-se, ainda
mesmo que os recursos intersessórios lhe conseguissem uma
prorrogação de tempo.
(...)
- Reconheço os obstáculos, mas não se amofine. A morte é o
melhor antídoto da idolatria. Com a sua vinda operar-se -a
a necessária descentralização do trabalho, porque se dará a
imposição natural de novo esforço a cada um. Alegre-se minha
amiga, pela transformação que ocorrerá dentre em pouco.
(...)
Silenciou durante alguns momentos e notificou em seguida: -
Temos ainda a noite de amanha. Aproveita-lá-ei para
dirigir-me aos seus colaboradores, em apelo à compreensão
geral. Amigos nossos contribuirão para que se reunam em
assembléia, como se faz indispensável.
(...)
Em vista disto, iniciou-se, com grande facilidade, após a
meia noite, o trabalho preparatório para a grande reunião.
(...)
A diretora da organização transitória de Fabiana tomou o
lugar de orientação e, antes de interferir no assunto
principal que a trazia até ali, ergueu a destra, rogando
bênção divina para a comunidade que se reunia, atenciosa e
reverente.
(...)
Finda a saudação, pronunciada com formosa inflexão de
ternura, mudou o tom de voz e dirigiu-se aos ouvintes com
visível energia:
- Minhas irmãs, meus amigos, serei breve. Venho até aqui
somente fazer-vos um pequeno apelo. Não ignorais que nossa
Adelaide necessita passagem livre a caminho da
espiritualidade superior. Enferma desde muito, cooperou
conosco, anos consecutivos, dando-nos o melhor de suas
forças. (...)
Porque a detendes ? A dias o quarto de repouso físico da
doente que nos é tão amada permanece enlaçado com
pensamentos angustiosos.(...) Adelaide apenas restituirá a
maquinaria gasta à natureza. Continuará, porém,
contribuindo nos serviços da verdade e do amor, com ânimo
inextinguível.
(...)
Afirmais mentalmente que Adelaide é a viga mestra deste
pouso de amor, que surgirão dificuldades talvez invencíveis
para que seja substituída no leme da orientação geral (...)
Adelaide conhece sua condição de colaboradora leal e não
deseja lauréis de modo algum lhe pertencem. Aguarda, apenas,
que os companheiros de luta transfiram ao Cristo o
patrimônio do reconhecimento (...)
Logo após a orientadora terminou, orando (...)
(...)
Adelaide, ao retornar à matéria, respira radiante.
Entretanto, pelo soberano jubilo daquela hora, ganhou
tamanha energia no corpo perispiritual que o regresso às
células da carne foi complicado e doloroso.(...)
(...)
Depois da palavra esclarecida de Zenóbia, disse o mentor,
extinguiram-se as correntes mentais de retenção que a
mantinham pelo entendimento fraterno da comunidade
reconhecida. (...)
Não se incomode, minha amiga ! O casulo reduziu-se, mas suas
asas cresceram...pense agora no vôo que virá.
(...)
Adelaide, esforçou-se para mostrar satisfação no semblante,
(...) e rogou, tímida, que lhe fosse concedido o obséquio de
tentar, ela própria, a sós, a desencarnação dos laços mais
fortes, em esforço pessoal, expontâneo.
Jerônimo aquiesceu satisfeito.
(...)
A agonizante enfim estava livre.
Abriu-se a casa à visitação geral.
(...)
Depois de orar, fervorosamente, no ultimo pouso das células
exaustas, agradecendo-lhes o precioso concurso nos
abençoados anos de permanência na Crosta, Adelaide, serena e
confiante, cercada de numerosos amigos, partiu, em nossa
companhia, a caminho da Casa transitória, ponto de
referencia sentimental da grande caravana afetiva ...

Perguntas para nossa conversa em estudo:

Como podemos entender e como adequarmos as seguintes colocações à nossa vida
diária:

a) "morrer é muito mais fácil que nascer. Para organizar, na
maioria das circunstancias, são precisos, geralmente
inúmeros cuidados; para desorganizar, contudo, basta por
vezes leve empurrão. Ajude a você mesma, libertando a mente
dos elos que a imantam a pessoas, acontecimentos, coisas e
situações da vida terrena. Não se detenha, quando for
chamada, não olhe para traz."

b) "Sinto-me socorrida e amparada, mas ...
tenho medo de mim mesma."

c)"expôs-lhe as derradeiras dificuldades.
Ligara-se, fortemente, à obra iniciada nos círculos carnais
e sentia-se estreitamente ligada, não somente a obra, mas
também aos amigos e auxiliares. Por força de circunstancias
imperiosas, acumulava funções diversas no quadro geral de
serviços. Possuía toda uma equipe de irmãs dedicadíssimas,
que colaboravam com sincero desprendimento e alto valor
moral, no amparo a infância desvalida. Se estimava
profundamente as cooperadoras, era, igualmente, muito
querida de todas elas. (...) no intimo estava preparada; no
entanto, reconhecia a extensão e a complexidade dos óbices
mentais (...) Quanto menos se via presa ao corpo, mais se
ampliava a exigência dos parentes, dos amigos...Como
portar-se ante esta situação ? "

Conclusão

Como podemos entender e como adequarmos as seguintes colocações à nossa vida
diária:



a) "morrer é muito mais fácil que nascer. Para organizar, na maioria das circunstancias,
são precisos, geralmente inúmeros cuidados; para desorganizar, contudo, basta por vezes
leve empurrão. Ajude a você mesma, libertando a mente dos elos que a imantam a pessoas, acontecimentos, coisas e situações da vida terrena. Não se detenha, quando for chamada,
não olhe para traz."

Quando vamos (re)nascer, há todo um trabalho de projeto e
planejamento: como deverá ser nosso corpo físico, quais as situações pelas quais iremos
passar, quais as pessoas com quem deveremos conviver. Quais as opções que teremos
para escolher, como André Luiz mesmo nos trouxe nos outros livros estudados. Mas,
para retornar ao nosso lar real, que é o espiritual, antes da hora prevista, basta não
estarmos atentos aos cuidados que devemos ter com nosso corpo mental e com nosso
corpo espiritual. Ou, se chegou a hora, apenas nos desligarmos dos laços físicos e
mentais que nos prendem à terra.
Parece fácil, não é? Mas... se observarmos ainda nos é difícil
exercitar dessa forma aparentemente simplista.
Quanto à referência em libertar a mente dos elos em que estamos
presos a pessoas, acontecimentos, coisas e situações da vida terrena; reflito que como
somos sempre apegados às "minhas"ações, "minhas" coisas, "minha" família, "meus"
amigos, "Meu" pensamento, "minha" atitude... um tanto mais de "meus", "minhas"... e,
com isso, ante ações, atividades, exercícios, atitudes que temos ou fazemos acabamos
sempre achando que ninguém poderá fazer como nós fazemos, obter os resultados que
nós tivemos ou teríamos,como nos agarramos realmente a situações, fatos, coisas,
pessoas acontecimentos, num tal de nostagial e do tal do " se eu"...



b) "Sinto-me socorrida e amparada, mas ...tenho medo de mim mesma."

Pois é.. o tal medo de si mesmo... quantas vezes , apesar de todo
amparo ou apoio que temos e sentimos, não continuamos com medo, com receio, inseguros,
não é? E ainda mais, quando nos encontramos em viagem de volta ao lar real... onde não
mais teremos vestimentas , maquiagem, máscaras ou fantasias para amenizar o nosso
próprio eu...onde nos veremos frente a frente conosco mesmo com o filme real de nossos
próprios sentimentos...



c) "expôs-lhe as derradeiras dificuldades. Ligara-se, fortemente, à obra iniciada nos círculos
carnais e sentia-se estreitamente ligada, não somente a obra, mas também aos amigos e auxiliares. Por força de circunstancias imperiosas, acumulava funções diversas no quadro
geral de serviços. Possuía toda uma equipe de irmãs dedicadíssimas, que colaboravam
com sincero desprendimento e alto valor moral, no amparo a infância desvalida. Se estimava
profundamente as cooperadoras, era, igualmente, muito querida de todas elas. (...) no intimo
estava preparada; no entanto, reconhecia a extensão e a complexidade dos óbices mentais
(...) Quanto menos se via presa ao corpo, mais se ampliava a exigência dos parentes, dos amigos...Como portar-se ante esta situação ? "

É a tal da ligação ainda, não é? Tanto de um lado, quanto de outro.
O ter-se que se desligar da família, dos amigos de forma a que não se possa mais ter um
contato físico , do se ver com os olhos físicos, com o se tocar,se ouvir claramente a voz,
do abraço... , pois esse contato apenas troca de forma, passa a ser o espírito falando, o
espírito ouvindo, o espírito olhando, o espírito abraçando... mas isso ainda nos é difícil
poder realmente compreender a troca de contato físico pelo espiritual de uma forma mais
serena.