A Gênese

118 – Teoria da presciência (3ª pte)

Teoria da presciência
3ª parte

13. - Os acontecimentos que envolvem interesses gerais da Humanidade têm a regulá-los a Providência. Quando uma coisa está nos desígnios de Deus, ela se cumpre a despeito de tudo, ou por um meio, ou por outro. Os homens concorrem para que ela se execute; nenhum, porém, é indispensável, pois, do contrário, o próprio Deus estaria à mercê das suas criaturas. Se faltar aquele a quem incumba a missão de a executar, outro será dela encarregado. Não há missão fatal; o homem tem sempre a liberdade de cumprir ou não a que lhe foi confiada e que ele voluntariamente aceitou. Se não o faz, perde os benefícios que daí lhe resultariam e assume a responsabilidade dos atrasos que possam resultar da sua negligência ou da sua má-vontade. Se se tornar um obstáculo a que ela se cumpra, está em Deus afastá-lo com um sopro.
14. - Pode, portanto, ser certo o resultado final de um acontecimento, por se achar este nos desígnios de Deus; como, porém, quase sempre, os pormenores e o modo de execução se encontram subordinados às circunstâncias e ao livre-arbítrio dos homens, podem ser eventuais as sendas e os meios. Está nas possibilidades dos Espíritos prevenir-nos do conjunto, se convier que sejamos avisados; mas, para determinarem lugar e data, fora mister conhecessem previamente a decisão que tomará este ou aquele indivíduo. Ora, se essa decisão ainda não lhe estiver na mente, poderá, tal venha ela a ser, apressar ou demorar a realização do fato, modificar os meios secundários de ação, embora o mesmo resultado chegue sempre a produzir-se. É assim, por exemplo, que, pelo conjunto das circunstâncias, podem os Espíritos prever que uma guerra se acha mais ou menos próxima, que é inevitável, sem, contudo, poderem predizer o dia em que começará, nem os incidentes pormenorizados que possam ser modificados pela vontade dos homens.
15. - Para determinação da época dos acontecimentos futuros, será preciso, ao demais, se leve em conta uma circunstância inerente à natureza mesma dos Espíritos.
O tempo, como o espaço, não pode ser avaliado senão com o auxílio de pontos de referências que o dividam em períodos que se contem. Na Terra, a divisão natural do tempo em dias e anos tem a marcá-la o levantar e o pôr do Sol, assim como a duração do movimento de translação do planeta terreno. As unidades de medida do tempo necessariamente variam conforme os mundos,
pois que são diferentes os períodos astronômicos. Assim, por exemplo, em Júpiter, os dias eqüivalem a dez das horas terrestres e os anos a mais de doze anos nossos.
Há, pois, para cada mundo, um modo diferente de computar-se a duração, de acordo com a natureza das revoluções astrais que nele se efetuam. Já haverá aí uma dificuldade para que Espíritos que não conheçam o nosso mundo determinem datas com relação a nós. Além disso, fora dos mundos, não existem tais meios de apreciação. Para um Espírito, no espaço, não há levantar nem pôr de Sol a marcar os dias, nem revolução periódica a marcar os anos; só há, para ele, a duração e o espaço infinitos. (Cap. VI, nos 1 e seguintes.) Aquele, portanto, que jamais houvesse vindo à Terra nenhum conhecimento possuiria dos nossos cálculos que, aliás, lhe seriam completamente inúteis. Mais ainda: aquele que jamais houvesse encarnado em nenhum mundo, nenhuma noção teria das frações da duração. Quando um Espírito estranho à Terra vem aqui manifestar-se, não pode assinar
datas aos acontecimentos, senão identificando-se com os nossos usos; ora, isso sem dúvida lhe é possível, porém, as mais das vezes, ele nenhuma utilidade descobre nessa identificação.
16. - Os Espíritos, que formam a população invisível do nosso globo, onde eles já viveram e onde continuam a imiscuir-se na nossa vida, estão naturalmente identificados com os nossos hábitos, cuja lembrança conservam na erraticidade. Poderão, por conseguinte, com maior facilidade, determinar datas aos acontecimentos futuros, desde que os conheçam; mas, além de que isso nem sempre lhes é permitido, eles se vêem impedidos pela razão de que, sempre que as circunstâncias de minúcias estão subordinadas ao livre-arbítrio e à decisão eventual do homem, nenhuma data precisa existe realmente, senão depois que o acontecimento se tenha dado.
Eis aí por que as predições circunstanciadas não podem apresentar cunho de certeza e somente como prováveis devem ser acolhidas, mesmo que não tragam eiva que as torne legitimamente suspeitas. Por isso mesmo, os Espíritos verdadeiramente ponderados nada nunca predizem para épocas determinadas, limitando-se a prevenir-nos do seguimento das coisas que convenha conheçamos. Insistir por obter informes precisos é expor-se às mistificações dos Espíritos levianos que predizem tudo o que se queira, sem se preocuparem com a verdade, divertindo-se com os terrores e as decepções que causem.
17. - A forma geralmente empregada até agora nas predições faz delas verdadeiros enigmas, as mais das vezes indecifráveis. Essa forma misteriosa e cabalística, de que Nostradamus nos oferece o tipo mais completo, lhes dá certo prestígio perante o vulgo, que tanto mais valor lhes atribui, quanto mais incompreensíveis se mostrem. Pela sua ambigüidade, elas se prestam a
interpretações muito diferentes, de tal sorte que, conforme o sentido que se atribua a certas palavras alegóricas ou convencionais, conforme a maneira por que se efetue o cálculo, singularmente complicado, das datas e, com um pouco de boa-vontade, nelas
se encontra quase tudo o que se queira.

Seja como for, não se pode deixar de convir em que algumas apresentam caráter sério e confundem pela sua veracidade. É provável que a forma velada tenha tido, em certo tempo, sua razão de ser e mesmo sua necessidade.
Hoje, as circunstâncias são outras; o positivismo do século dar-se-ia mal com a linguagem sibilina. Dal vem que presentemente as predições já não se revestem dessas formas singulares; nada têm de místicas as que os Espíritos fazem; eles usam a linguagem de toda gente, como o teriam feito quando vivos na Terra, porque não deixaram de pertencer à Humanidade. Avisam-nos das coisas futuras, pessoais ou gerais, quando necessário, na medida da perspicácia de que são dotados, como o fariam conselheiros e amigos. Suas previsões, pois, são antes advertências, do que predições propriamente ditas, as quais implicariam numa fatalidade absoluta. Além disso, quase sempre motivam a opinião que manifestam, por não quererem que o homem anule
a sua razão sob uma fé cega e desejarem. que este último lhe aprecie a exatidão.

18. - A Humanidade contemporânea também conta seus profetas. Mais de um escritor, poeta, literato, historiador ou filósofo hão traçado, em seus escritos, a marcha futura de acontecimentos a cuja realização agora assistimos.
Essa aptidão, sem dúvida, decorre, muitas vezes, da retidão do juízo, no deduzir as conseqüências lógicas do presente; mas, doutras vezes, também resulta de uma especial clarividência inconsciente, ou de uma inspiração vinda do exterior. O que tais homens fizeram quando vivos, podem, com razão mais forte e maior exatidão, fazer no estado de Espíritos livres, quando não têm a visão espiritual obscurecida pela matéria.

QUESTÕES PARA ESTUDO

a) Pode o homem deixar de cumprir uma missão que lhe seja confiada por Deus? Quais seriam as conseqüências?

b) Por que os Espíritos não podem precisar a época dos acontecimentos futuros, mesmo aqueles que representam os desígnios de Deus?

c) Qual o significado do tempo para o homem e para o espírito desencarnado?

d) Quais as diferenças apontadas por Kardec entre as antigas predições e as que são hoje feitas pelos Espíritos?

Conclusão

C O N C L U S Ã O

Quando um acontecimento está nos desígnios de Deus, ele se cumpre a despeito de tudo. Se faltar aquele a quem incumba a missão de o executar, outro será dela encarregado pois não há missão fatal. O homem tem sempre a liberdade de cumprir ou não a que lhe foi confiada e que ele voluntariamente aceitou.

QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

a) Pode o homem deixar de cumprir uma missão que lhe seja confiada por Deus? Quais seriam as conseqüências?

R - Quando um acontecimento está determinado pela Providência, terá que se cumprir, podendo o homem concorrer para que ele aconteça. Contudo, ninguém é indispensável para que este desígnio se cumpra, pois, se assim fosse, Deus seria dependente de suas criaturas. O homem terá sempre o livre-
-arbítrio para cumprir ou não a missão que lhe foi confiada e que foi por ele aceita antes de reencarnar. Se deixar de executá-la, estará faltando à sua missão e outro, então, será encarregado de cumpri-la. Aquele que não o fez, em conseqüência, perde os benefícios que resultariam se a cumprisse, além de responder pelo atraso que possa ter sido provocado por sua negligência ou má-vontade. Tornando-se um obstáculo para que ela se cumpra, Deus o afastará.

b) Por que os Espíritos não podem precisar a época dos acontecimentos futuros, mesmo aqueles que representam os desígnios de Deus?

R - Conforme seja conveniente, os espíritos podem nos prevenir acerca de um determinado acontecimento. Entretanto, quando os detalhes e o modo de execução dependem de circunstâncias e do livre-arbítrio dos homens para determinarem a época e o lugar em que aconteceriam, seria necessário que os Espíritos conhecessem previamente o pensamento daqueles que seriam agentes da sua execução. Conforme decisão a ser tomada por estes, o acontecimento pode ser apressado ou retardado, embora o resultado haja de se produzir, daí não poderem os espíritos precisarem a data em que acontecerá.

Outra circunstância que impede que os espíritos venham a precisar a época dos acontecimentos futuros é que o tempo mede-se de modo diferente nos diversos mundos, de acordo com as revoluções astrais próprias de cada um. Por esta razão, quando a predição parte de um espírito estranho à Terra, não pode ele precisar as datas dos acontecimentos. Mesmo quando se trata de um espírito vinculado ao planeta, há que se considerar que, no espaço, o tempo é infinito, não havendo pôr de Sol a marcar os dias. De qualquer modo, para estes, é mais fácil determinar as datas dos acontecimentos futuros de que tenham conhecimento, quando lhes é permitido, pois, tendo vivido na Terra, conservam na lembrança os nossos hábitos. Por essas razões, os espíritos sérios nunca fixam épocas para determinados acontecimentos, limitando-se a prevenir-nos a respeito, ao contrário dos espíritos levianos, que fazem predições acerca de tudo, sem se preocuparem com a verdade.

c) Qual o significado do tempo para o homem e para o espírito desencarnado?

R - A contagem do tempo depende do ponto que se tome como referência para a sua divisão em períodos. Na Terra, a referência é o pôr do Sol para a divisão em dias e o movimento de translação ao seu redor para a divisão em anos. Para o espírito que se encontre vivendo no espaço, inexiste esses pontos de referência. Para ele, o espaço e o tempo são infinitos

d) Quais as diferenças apontadas por Kardec entre as antigas predições e as que são hoje feitas pelos Espíritos?

R - Geralmente, as predições são feitas de forma misteriosa, cabalística, ambígua, que as faz verdadeiros enigmas, por vezes indecifráveis, prestando-se a interpretações diversas. Essa forma lhes dá um certo prestígio perante os homens, que atribuem maior valor às predições quanto mais incompreensíveis forem, embora algumas apresentem caráter sério. Atualmente, as predições nada têm de místicas. Quando vinda dos espíritos, a linguagem usada é a comumente utilizada na Terra. As previsões são antes advertências do que propriamente predições. São quase sempre fundamentadas, pois não querem que o homem as aceite através da fé cega, anulando a razão. Muitas das vezes, resultam da dedução das conseqüências lógicas do presente; doutras, de uma faculdade especial de clarividência inconsciente ou de uma inspiração exterior.