A Gênese

133 – Sinais dos tempos (5ª pte) - itens 16 a 20

Sinais dos tempos
(5ª pte)

16 - Com a idéia de que a atividade e a cooperação individuais na obra geral da civilização se limitam à vida presente, que, antes, a criatura nada foi e nada será depois, em que interessa ao homem o progresso ulterior da Humanidade? Que lhe importa que no futuro os povos sejam mais bem governados, mais ditosos, mais esclarecidos, melhores uns para com os outros? Não fica perdido para ele todo o progresso, pois que deste nenhum proveito tirará? De que lhe serve trabalhar para os que hão de vir depois, se nunca lhe será dado conhecê-los, se os seus pósteros serão criaturas novas, que pouco depois voltarão por sua vez ao nada? Sob o domínio da negação do futuro individual, tudo forçosamente se amesquinha às insignificantes proporções do momento e da personalidade.

Entretanto, que amplitude, ao contrário, dá ao pensamento do homem a certeza da perpetuidade do seu ser espiritual! Que de mais racional, de mais grandioso, de mais digno do Criador do que a lei segundo a qual a vida espiritual e a vida corpórea são apenas dois modos de existência, que se alternam para a realização do progresso! Que de mais justo há e de mais consolador do que a idéia de estarem os mesmos seres a progredir incessantemente, primeiro, através das gerações de um mesmo mundo, de mundo em mundo depois, até à perfeição, sem solução de continuidade! Todas as ações têm, então, uma finalidade, porquanto, trabalhando para todos, cada um trabalha para si e reciprocamente, de sorte que nunca se podem considerar
infecundos nem o progresso individual, nem o progresso coletivo. De ambos esses progressos aproveitarão as gerações e as individualidades porvindouras, que outras não virão a ser senão as gerações e as individualidades passadas, em mais alto grau de adiantamento.

17. - A fraternidade será a pedra angular da nova ordem social; mas, não há fraternidade real, sólida, efetiva, senão assente em base inabalável e essa base é a fé, não a fé em tais ou tais dogmas particulares, que mudam com os tempos e os povos e que mutuamente se apedrejam, porquanto, anatematizando-se uns aos outros, alimentam o antagonismo, mas a fé nos princípios fundamentais que toda a gente pode aceitar e aceitará: Deus, a alma, o futuro, o progresso individual indefinido, a perpetuidade das relações entre os seres. Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos; de que esse Deus, soberanamente justo e bom, nada de injusto pode querer; que não dele, porém dos homens vem o mal, todos se considerarão filhos do mesmo Pai e se estenderão as mãos uns aos outros.

Essa a fé que o Espiritismo faculta e que doravante será o eixo em torno do qual girará o gênero humano, quaisquer que sejam os cultos e as crenças particulares.

18. - O progresso intelectual realizado até ao presente, nas mais largas proporções, constitui um grande passo e marca uma primeira fase no avanço geral da Humanidade; impotente, porém, ele é para regenerá-la. Enquanto o orgulho e o egoísmo o dominarem, o homem se servirá da sua inteligência e dos seus conhecimentos para satisfazer às suas paixões e aos seus interesses pessoais, razão por que os aplica em aperfeiçoar os meios de prejudicar os seus semelhantes e de os destruir.

19. - Somente o progresso moral pode assegurar aos homens a felicidade na Terra, refreando as paixões más; somente esse progresso pode fazer que entre os homens reinem a concórdia, a paz, a fraternidade.

Será ele que deitará por terra as barreiras que separam os povos, que fará caiam os preconceitos de casta e se calem os antagonismos de seitas, ensinando os homens a se considerarem irmãos que têm por dever auxiliarem-se mutuamente e não destinados a viver à custa uns dos outros.

Será ainda o progresso moral que, secundado então pelo da inteligência, confundirá os homens numa mesma crença fundada nas verdades eternas, não sujeitas a controvérsias e, em conseqüência, aceitáveis por todos.

A unidade de crença será o laço mais forte, o fundamento mais sólido da fraternidade universal, obstada, desde todos os tempos pelos antagonismos religiosos que dividem os povos e as famílias, que fazem sejam uns, os dissidentes, vistos, pelos outros, como inimigos a serem evitados, combatidos, exterminados, em vez de irmãos a serem amados.

20. - Semelhante estado de coisas pressupõe uma mudança radical no sentimento das massas, um progresso geral que não
se podia realizar senão fora do círculo das idéias acanhadas e corriqueiras que fomentam o egoísmo. Em diversas épocas, homens de escol procuraram impelir a Humanidade por esse caminho; mas, ainda muito jovem, ela se conservou surda e os ensinamentos que eles ministraram foram como a boa semente caída no pedregulho.

Hoje, a Humanidade está madura para lançar o olhar a alturas que nunca tentou divisar, a fim de nutrir-se de idéias mais amplas e compreender o que antes não compreendia.

A geração que desaparece levará consigo seus erros e prejuízos; a geração que surge, retemperada em fonte mais pura, imbuída de idéias mais sãs, imprimirá ao mundo ascensional movimento, no sentido do progresso moral que assinalará a nova fase da evolução humana.
(extraído de "A Gênese", de Allan Kardec, editora FEB)

QUESTÕES PARA ESTUDO

a) De que modo a crença na imortalidade e na vida futura contribui para o progresso da humanidade?

b) Como será a fé praticada pelo homem nessa nova fase?

c) Quais as mudanças que advirão no Planeta com o progresso moral que caracteriza essa nova fase?

Conclusão

C O N C L U S Ã O

O progresso intelectual realizado até o presente, nas mais largas proporções, constitui um grande passo e marca uma primeira fase no avanço geral da Humanidade. Porém, é impotente para regenerá-la. Somente o progresso moral pode assegurar aos homens a felicidade na Terra, refreando as paixões más. Somente esse progresso pode fazer que entre os homens reinem a concórdia, a paz, a fraternidade.
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

a) De que modo a crença na imortalidade e na vida futura contribui para o progresso da humanidade?

R - A crença na imortalidade faz o homem interessar-se pelo progresso futuro da humanidade, pois esclarece que sua atividade e sua cooperação na obra geral da civilização não se limitam à vida presente, pois para cá retornará. A crença em que nada fora antes e nada seria no futuro faz com que o homem se desinteresse pelo progresso da humanidade, pois lhe ficaria perdido para sempre. De nada serviria trabalhar pelos que lhe sucederão, uma vez que jamais os conheceria, pois seriam também criaturas novas, recém criadas e que igualmente, mais tarde, retornariam ao nada. A crença na imortalidade faz o homem compreender a sua natureza espiritual; que a vida invisível e a corpórea são modos distintos de uma mesma existência; que ele está sempre progredindo até atingir a perfeição; que trabalhando por todos está trabalhando para si mesmo e que as gerações e os homens
do futuro serão as mesmas do passado, em um grau de evolução mais adiantado.
b) Como será a fé praticada pelo homem nessa nova fase?

R - A fé ensinada pelas religiões, fundada em dogmas particulares, que mudam de tempos em tempos e criam antagonismos entre os povos, será substituída pela fé raciocinada, que se fundamenta em princípios que podem ser por todos aceitos: a existência de Deus, a alma imortal, o futuro e o progresso individual. É esta a fé que o Espiritismo propicia e que será a sustentada por todos os homens, independente dos cultos e crenças particulares que professem. Será a fé praticada quando os homens se convencerem de que Deus é único e para todos, soberanamente justo e bom, que nada de injusto pode querer, que todos são seus filhos e que o mal vem dos homens e não dele. Reinará, então, a fraternidade entre todos.

c) Quais as mudanças que advirão no Planeta com o progresso moral que caracteriza essa nova fase?

R - O progresso moral que chegará com a nova fase da Terra fará com que se reduzam as paixões inferiores, o orgulho e o egoísmo hoje ainda muito presentes na humanidade. Os preconceitos sociais e raciais e as crenças antagônicas que separam homens e povos serão derrubados, fazendo prevalecer a concórdia, a paz e a fraternidade. O progresso moral unirá os homens numa crença única, fundada em verdades eternas incontroversas, fortalecendo os laços da fraternidade universal e pondo fim a antagonismos religiosos que tornam os homens inimigos.