A Gênese

126 – Sinais precursores (itens 47 e 58)

Sinais precursores

47. - Também ouvireis falar de guerra e de rumores de guerra; tratai de
não vos perturbardes, porquanto é
preciso que essas coisas se dêem; mas, ainda não será o fim - pois
ver-se-á povo levantar-se contra povo e
reino contra reino; e haverá pestes, fomes e tremores de terra em diversos
lugares - todas essas coisas serão
apenas o começo das dores. (S. Mateus, cap. XXIV, vv. 6 a 8.)

48. - Então, o irmão entregará o irmão para ser morto; os filhos se
levantarão contra seus pais e suas mães e
os farão morrer. - Sereis odiados de toda a gente por causa do meu nome;
mas, aquele que perseverar até ao
fim será salvo. (S. Marcos, cap. XIII, vv. 12 e 13.)

49. - Quando virdes que a abominação da desolação, que foi predita pelo
profeta Daniel, está no lugar santo
(que aquele que lê entenda bem o que lê); - fujam então para as montanhas
os que estiverem na Judéia (1);
- não desça aquele que estiver no telhado, para levar de sua casa qualquer
coisa; - e não volte para apanhar
suas roupas aquele que estiver no campo. - Mas, ai das mulheres que
estiverem grávidas ou amamentando
nesses dias. - Pedi a Deus que a vossa fuga não se dê durante o inverno,
nem em dia de sábado - porquanto
a aflição desse tempo será tão grande, como ainda não houve igual desde o
começo do mundo até o presente
e como nunca mais haverá. - E se esses dias não fossem abreviados, nenhum
homem se salvaria; mas esses
dias serão abreviados em favor dos eleitos. (São Mateus, cap.XXIV, vv. 15
a 22.)

50. - Logo depois desses dias de aflição, o Sol se obscurecerá e a Lua
deixará de dar sua luz; as estrelas cairão
do céu e as potestades dos céus serão abaladas.

Então, o sinal do Filho do homem aparecerá no céu e todos os povos da
Terra estarão em prantos e em gemidos
e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu com grande
majestade.

Ele enviará seus anjos, que farão ouvir a voz retumbante de suas trombetas
e que reunirão seus eleitos dos
quatro cantos do mundo, de uma extremidade a outra do céu.

Aprendei uma comparação tirada da figueira. Quando seus ramos já estão
tenros e dão folhas, sabeis que está
próximo o estio. - Do mesmo modo quando virdes todas essas coisas, sabei
que vem próximo o Filho do homem,
que ele se acha como que à porta.

Digo-vos, em verdade, que esta raça não passará, sem que todas essas
coisas se tenham cumprido. (S. Mateus,
cap. XXIV, vv. 29 a 34.)

E acontecerá no advento do Filho do homem o que aconteceu ao tempo de
Noé - pois, como nos últimos tempos
antes do dilúvio, os homens comiam e bebiam, se casavam e casavam seus
filhos, até ao dia em que Noé entrou
na arca; - e assim como eles não conheceram o momento do dilúvio, senão
quando este sobreveio e arrebatou
toda a gente, assim também será no advento do Filho do homem. (São Mateus,
cap.XXIV, vv. 37 a 39.)

51 - Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém o sabe, nem os anjos que
estão no céu, nem o Filho, mas somente
o Pai. (S. Marcos, cap. XIII, v. 32.)

52. - Em verdade, em verdade vos digo: chorareis e gemereis, e o mundo se
rejubilará; estareis em tristeza, mas a
vossa tristeza se mudará em alegria. - Uma mulher, quando dá à luz, está
em dor, porque é vinda a sua hora; mas
depois que ela dá à luz um filho, não mais se lembra de todos os males que
sofreu, pela alegria que experimenta
de haver posto no mundo um homem. - É assim que agora estais em tristeza;
mas, eu vos verei de novo e o vosso
coração rejubilará e ninguém vos arrebatará a vossa alegria. (S. João,
cap. XVI, vv. 20 a 22.)

53. - Levantar-se-ão muitos falsos profetas que seduzirão a muitas
pessoas; - e, porque abundará a iniqüidade,
a caridade de muitos esfriará; - mas, aquele que perseverar até o fim será
salvo. - E este Evangelho do reino será
pregado em toda a Terra, para servir de testemunho a todas as nações. É
então que o fim chegará. (S.Mateus,
cap. XXIV, vv. 11 a 14.)

54. - É evidentemente alegórico este quadro do fim dos tempos, como a
maioria dos que Jesus compunha. Pelo seu vigor, as imagens que ele encerra
são de natureza a impressionar inteligências ainda rudes. Para tocar
fortemente aquelas imaginações pouco sutis, eram necessárias pinturas
vigorosas, de cores bem acentuadas. Ele se dirigia principalmente ao povo,
aos homens
menos esclarecidos, incapazes de compreender as abstrações metafísicas e
de apanhar a delicadeza das formas. A fim de atingir o coração,
fazia-se-lhe mister falar aos olhos, com o auxílio de sinais materiais, e
aos ouvidos, por meio da força da linguagem.

Como conseqüência natural daquela disposição de espírito, à suprema
potestade, segundo a crença de então, não era possível manifestar-se, a
não ser por meio de fatos extraordinários, sobrenaturais. Quanto mais
impossíveis fossem esses fatos, tanto mais facilmente aceita era a
probabilidade deles.

O Filho do homem, a vir sobre nuvens, com grande majestade, cercado de
seus anjos e ao som de trombetas, lhes parecia de muito maior imponência,
do que a simples vinda de uma entidade investida apenas de poder moral.
Por isso mesmo, os judeus, que esperavam no Messias um rei terreno, mais
poderoso do que todos os outros reis, destinado a colocar-lhes a nação à
frente
de todas as demais e a reerguer o trono de David e de Salomão, não
quiseram reconhecê-lo no humilde filho de um carpinteiro, sem autoridade
material.

No entanto, aquele pobre proletário da Judéia se tornou o maior entre os
grandes; conquistou para a sua soberania maior
número de reinos, do que os mais poderosos potentados; exclusivamente com
a sua palavra e o concurso de alguns miseráveis pescadores, revolucionou o
mundo e a ele é que os judeus virão a dever sua reabilitação. Disse, pois,
uma verdade, quando, respondendo a esta pergunta de Pilatos: «És rei?»
respondeu: «Tu o dizes.»

55. - É de notar-se que, entre os antigos, os tremores de terra e o
obscurecimento do Sol eram acessórios forçados de todos
os acontecimentos e de todos os presságios sinistros. Com eles deparamos,
por ocasião da morte de Jesus, da de César e
num sem-número de outras circunstâncias da história do paganismo. Se tais
fenômenos se houvessem produzido tão amiudadas vezes quantas são
relatados, fora de ter-se por impossível que os homens não houvessem
guardado deles lembrança pela tradição. Aqui, acrescenta-se a queda de
estrelas do céu, como que a mostrar às gerações futuras, mais
esclarecidas, que
não há nisso senão uma ficção, pois que agora se sabe que as estrelas não
podem cair.

56. - Entretanto, sob essas alegorias, grandes verdades se ocultam. Há,
primeiramente, a predição das calamidades de todo gênero que assolarão e
dizimarão a Humanidade, calamidades decorrentes da luta suprema entre o
bem e o mal, entre a fé e
a incredulidade, entre as idéias progressistas e as idéias retrógradas.
Há, em segundo lugar, a da difusão, por toda a Terra, do Evangelho
restaurado na sua pureza primitiva; depois, a do reinado do bem, que será
o da paz e da fraternidade universais, a
derivar do código de moral evangélica, posto em prática por todos os
povos. Será, verdadeiramente, o reino de Jesus, pois que ele presidirá à
sua implantação, passando os homens a viver sob a égide da sua lei. Será o
reinado da felicidade, porquanto
diz ele que - «depois dos dias de aflição, virão os de alegria».

57. - Quando sucederão tais coisas? «Ninguém o sabe, diz Jesus, nem mesmo
o Filho.» Mas, quando chegar o momento, os homens serão advertidos por
meio de sinais precursores. Esses indícios, porém, não estarão nem no Sol,
nem nas estrelas; mostrar-se-ão no estado social e nos fenômenos mais de
ordem moral do que físicos e que, em parte, se podem deduzir das suas
alusões.

É indubitável que aquela mutação não poderia operar-se em vida dos
apóstolos, pois, do contrário, Jesus não lhe desconheceria o momento.
Aliás, semelhante transformação não era possível se desse dentro de apenas
alguns anos. Contudo, dela lhes fala como se eles a houvessem de
presenciar; é que, com efeito, eles poderão estar reencarnados quando a
transformação se der
e, até, colaborar na sua efetivação. Ele ora fala da sorte próxima de
Jerusalém, ora toma esse fato por ponto de referência ao
que ocorreria no futuro.

58. - Será que, predizendo a sua segunda vinda, era o fim do mundo o que
Jesus anunciava, dizendo: «Quando o Evangelho for pregado por toda a
Terra, então é que virá o fim?»

Não é racional se suponha que Deus destrua o mundo precisamente quando ele
entre no caminho do progresso moral, pela prática dos ensinos evangélicos.
Nada, aliás, nas palavras do Cristo, indica uma destruição universal que,
em tais condições, não se justificaria.

Devendo a prática geral do Evangelho determinar grande melhora no estado
moral dos homens, ela, por isso mesmo, trará o reinado do bem e acarretará
a queda do mal. É, pois, o fim do mundo velho, do mundo governado pelos
preconceitos, pelo orgulho, pelo egoísmo, pelo fanatismo, pela
incredulidade, pela cupidez, por todas as paixões pecaminosas, que o
Cristo aludia, ao dizer: «Quando o Evangelho for pregado por toda a Terra,
então é que virá o fim.» Esse fim, porém, para chegar, ocasionaria uma
luta e é dessa luta que advirão os males por ele previstos.


QUESTÕES
PARA ESTUDO

a) Por que os judeus não aceitaram Jesus como o Messias prometido?

b) Como devem ser interpretadas as calamidades previstas por Jesus?

c) Como devemos entender o "fim do mundo", alegoricamente anunciado por
Jesus?

Conclusão

O N C L U S Ã O

O quadro do fim dos tempos predito por Jesus é evidentemente alegórico, como a maioria dos que compunha. Entretanto, sob essas alegorias, grandes verdades se ocultam, como a ocorrência de calamidades de todo gênero, decorrentes da luta suprema entre o bem e o mal; a da difusão, por toda a Terra, do Evangelho, restaurado na sua pureza primitiva; depois, ao reinado do bem. Será, verdadeiramente, o reino de Jesus, pois que ele presidirá à sua implantação, passando os homens a viver sob a égide da sua lei.

QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

a) Por que os judeus não aceitaram Jesus como o Messias prometido?

R - Jesus encarnou no meio de inteligências ainda rudes. O povo de então era pouco esclarecido e esperava antes que o Messias prometido deveria vir com grande majestade, cercado de seus anjos e ao som de trombetas do que revestido de um
poder moral. Como explica Kardec, "por isso que esperavam no Messias um rei terreno, mais poderoso do que todos os outros reis, destinado a colocar-lhes a nação à frente de todas as demais e a reerguer o trono de David e de Salomão, não quiseram reconhecê-lo no humilde filho de um carpinteiro, sem autoridade material". Por essa razão rejeitaram Jesus como o Messias
esperado, o que não impediu que ele se tornasse "o maior entre os grandes, ... exclusivamente com a sua palavra e o concurso de alguns miseráveis pescadores, revolucionou o mundo e a ele é que os judeus virão a dever sua reabilitação. Disse, pois, uma verdade, quando, respondendo a esta pergunta de Pilatos: "És rei?» respondeu: «Tu o dizes.»", conclui o Codificador.

b) Como devem ser interpretadas as calamidades previstas por Jesus?

R - As calamidades previstas por Jesus nas passagens evangélicas citadas neste capítulo constituem uma das muitas alegorias de que se utilizou para impressionar aquele povo, ainda fortemente preso às coisas materiais e com dificuldades para entender abstrações. Objetivava atingir o coração dos homens, para o que necessitava utilizar-se de fatos concretos, materiais e de uma linguagem forte, que os impressionassem. Mas estas alegorias não deixam de revelar grandes verdades. Primeiro, prediz
calamidades que atingirão a humanidade, decorrentes da luta entre o bem e o mal, entre a fé e a incredulidade, as idéias
progressistas e as retrógradas. Estão aí as guerras passadas e presentes e as convulsões de vários tipos, provocadas pelas forças da Natureza, a confirmar esta predição.

Outra predição contida nesta passagem é a difusão do Evangelho por toda a Terra, restaurado na sua pureza primitiva, seguindo-
-se do reinado do bem, da paz e da fraternidade universais. Será o verdadeiro reinado de Jesus, pois ele é que presidirá à sua implantação, com a prevalência do seu código de moral evangélica, sob o qual os homens passarão a viver. Cumprir-se-ão, então, as suas palavras: "depois dos dias de aflição, virão os de alegria". Quando se dará, ninguém o sabe, afirmou o próprio Cristo. Quando chegar o momento, os homens serão advertidos por meio de sinais precursores, que não virão dos astros, mas dos fenômenos de ordem moral. É claro que semelhante transformação não poderia se operar em vida dos apóstolos. No entanto, como Jesus lhes fala como se eles a houvessem de presenciar; é que poderão estar reencarnados quando se der e, até, colaborar na sua efetivação.

c) Como devemos entender o "fim do mundo", alegoricamente anunciado pelo Cristo?

R - Como explica Kardec, não seria racional que, depois da Terra entrar no caminho do progresso moral pela prática dos ensinamentos evangélicos, como predito por Jesus, Deus viesse a destruí-la. As palavras de Jesus, portanto, devem ser
interpretadas em sentido figurado, como mais uma das alegorias de que se utilizou. Trazendo a prática do Evangelho grande melhora no estado moral dos homens, conseqüentemente, trará o reinado do bem e acarretará a queda do mal. Será, pois, o fim de um mundo velho, de um mundo governado pelos preconceitos, pelo orgulho, pelo egoísmo, pelo fanatismo, pelas paixões
inferiores, pela incredulidade. A este mundo é que o Cristo aludiu, ao dizer: "Quando o Evangelho for pregado por toda a Terra, então é que virá o fim."