A Gênese

114 – Aparição de Jesus, após sua morte (itens 56 e 63)

Aparição de Jesus,
após sua morte

56.- Mas, Maria (Madalena) se conservou fora, perto do sepulcro, a
derramar lágrimas. E, estando a chorar,
como se abaixasse para olhar dentro do sepulcro, - viu dois anjos vestidos
de branco, assentados no lugar
onde estivera o corpo de Jesus, um à cabeceira, o outro do lado dos pés. -
Disseram-lhe eles: Mulher, por que
choras? Ela respondeu: É que levaram o meu Senhor e não sei onde o
puseram.

Tendo dito isto, voltou-se e viu a Jesus de pé, sem saber, entretanto que
fosse Jesus. - Este então lhe disse:
Mulher, por que choras? A quem procuras? Ela, pensando fosse o jardineiro,
lhe disse: Senhor, se foste tu
quem o tirou, dize-me onde o puseste e eu o levarei.

Disse-lhe Jesus: Maria. Logo ela se voltou e disse: Rabboni, isto é: Meu
Senhor. - Jesus lhe respondeu: Não
me toques, porquanto ainda não subi para meu Pai; mas, vai ter com meus
irmãos e dize-lhes de minha parte:
Subo a meu Pai o vosso Pai, a meu Deus e vosso Deus. Maria Madalena foi
então dizer aos discípulos que
vira o Senhor e que este lhe dissera aquelas coisas. (S. João, cap. XX,
vv. 11 a 18.)

57.- Naquele mesmo dia, indo dois deles para um burgo chamado Emaús,
distante de Jerusalém sessenta
estádios - falavam entre si de tudo o que se passara. -E aconteceu que,
quando conversavam e discorriam
sobre isso, Jesus se lhes juntou e se pôs a caminhar com eles; - seus
olhos, porém, estavam tolhidos, a fim
de que não o pudessem reconhecer. - Ele disse: De que vínheis falando a
caminhar e por que estais tão tristes?

Um deles, chamado Cleofas, tomando a palavra disse: Serás em Jerusalém o
único estrangeiro que não saiba
do que aí se passou estes últimos dias? - Que foi? perguntou ele.
Responderam-lhe: A respeito de Jesus de
Nazaré, que foi um poderoso profeta diante de Deus e diante de toda a
gente, e acerca do modo por que os
príncipes dos sacerdotes e os nossos senadores o entregaram para ser
condenado à morte e o crucificaram.
- Ora, nós esperávamos fosse ele quem resgatasse a Israel, no entanto, já
estamos no terceiro dia depois
que tais coisas se deram. - É certo que algumas mulheres das que estavam
conosco nos espantaram, pois
que, tendo ido ao seu sepulcro antes do romper do dia, nos vieram dizer
que anjos mesmos lhes apareceram,
dizendo-lhes que ele está vivo - E alguns dos nossos, tendo ido também ao
sepulcro, encontraram todas as
coisas conforme as mulheres haviam referido; mas, quanto a ele, não o
encontraram.

Disse-lhes então Jesus: Oh! insensatos, de coração tardo a crer em tudo a
que os profetas hão dito! Não era
preciso que o Cristo sofresse todas essas coisas e que entrasse assim na
sua glória? - E, a começar de Moisés,
passando em seguida por todos os profetas, lhes explicava o que em todas
as Escrituras fora dito dele.

Ao aproximarem-se do burgo para onde se dirigiam, ele deu mostras de que
ia mais longe. - Os dois o obrigaram
a deter-se, dizendo-lhe: Fica conosco, que já é tarde e o dia está em
declínio. Ele entrou com os dois. - Estando
com eles à mesa tomou do pão, abençoou-o e lhes deu. - Abriram-se-lhes ao
mesmo tempo os olhos e ambos o
reconheceram; ele, porém, lhes desapareceu das vistas.

Então, disseram um ao outro: Não é verdade que o nosso coração ardia
dentro de nós, quando ele pelo caminho
nos falava, explicando-nos as Escrituras? - E, erguendo-se no mesmo
instante, voltaram a Jerusalém e viram que
os onze apóstolos e os que continuavam com eles estavam reunidos - e
diziam: O Senhor em verdade ressuscitou
e apareceu a Simão. - Então, também eles narraram o que lhes acontecera em
caminho e como o tinham reconhecido
ao partir o pão.

Enquanto assim confabulavam, Jesus se apresentou no meio deles e lhes
disse: A paz seja convosco; sou eu, não
vos assusteis. - Mas, na perturbação e no medo de que foram tomados, eles
imaginaram estar vendo um Espírito.

E Jesus lhes disse: Por que vos turbais? Por que se elevam tantos
pensamentos nos vossos corações? - Olhai para
as minhas mãos e para os meus pés e reconhecei que sou eu mesmo. Tocai-me
e considerai que um Espírito não
tem carne, nem osso, como vedes que eu tenho. - Dizendo isso, mostrou-lhes
as mãos e os pés.

Mas, como eles ainda não acreditavam, tão transportados de alegria e de
admiração se achavam, disse-lhes: Tendes
aqui alguma coisa que se coma? - Eles lhe apresentaram um pedaço de peixe
assado e um favo de mel. - Ele comeu
diante deles e, tomando os restos, lhes deu, dizendo: Eis que, estando
ainda convosco, eu vos dizia que era
necessário se cumprisse tudo o que de mim foi escrito na lei de Moisés,
nos profetas e nos Salmos.

Ao mesmo tempo lhes abriu o espírito, a fim de que entendessem as
Escrituras - e lhes disse: É assim que está
escrito e assim era que se fazia necessário sofresse o Cristo e
ressuscitasse dentre os mortos ao terceiro dia; - e
que se pregasse em seu nome a penitência e a remissão dos pecados em todas
as nações, a começar por Jerusalém.
- Ora, vós sois testemunhas dessas coisas. - Vou enviar-vos o dom de meu
Pai, o qual vos foi prometido; mas,
por enquanto, permanecei na cidade, até que eu vos haja revestido da força
do Alto. (S. Lucas, cap. XXIV, vv.
13 a 49.)

58.- Ora, Tomé, um dos doze apóstolos, chamado Dídimo, não se achava com
eles quando Jesus lá foi vindo.
- Os outros discípulos então lhe disseram: Vimos o Senhor. Ele, porém,
lhes disse: Se eu não vir nas suas mãos
as marcas dos cravos que as atravessaram e não puser o dedo no buraco
feito pelos cravos e minha mão no
rasgão do seu lado, não acreditarei, absolutamente.

Oito dias depois, estando ainda os discípulos no mesmo lugar e com eles
Tomé, Jesus se apresentou, achado-se
fechadas as portas, e, colocando-se no meio deles, disse-lhes: A paz seja
convosco.

Disse em seguida a Tomé: Põe aqui o teu dedo e olha minhas mãos; estende
também a tua mão e mete-a no meu
lado e não sejas incrédulo, mas fiel. - Tomé lhe respondeu: Meu Senhor e
meu Deus! - Jesus lhe disse: Tu creste,
Tomé, porque viste; ditosos os que creram sem ver. (S. João, cap. XX, vv.
24 a 29.)

59.- Jesus também se mostrou depois aos seus discípulos à margem do mar de
Tiberíades, mostrando-se desta
forma:

Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná, na
Galiléia, os filhos de Zebedeu e dois outros
de seus discípulos estavam juntos. - Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar.
Os outros disseram: Também nós
vamos contigo. Foram-se e entraram numa barca; mas, naquela noite, nada
apanharam.

Ao amanhecer, Jesus apareceu à margem sem que seus discípulos conhecessem
que era ele. - Disse-lhes então:
Filhos, nada tendes que se coma? Responderam-lhe: Não. Disse-lhes ele:
Lançai a rede do lado direito da barca
e achareis. Eles a lançaram logo e quase não a puderam retirar, tão
carregada estava de peixes.

Então, o discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: É o Senhor. Simão
Pedro, ao ouvir que era o Senhor,
vestiu-se (pois que estava nu) e se atirou ao mar. -Os outros discípulos
vieram com a barca, e, como não estavam
distantes da praia mais de duzentos côvados, puxaram daí a rede cheia de
peixes. (S. João, cap. XXI; vv. 1 a 8.)

60.- Depois disso, ele os conduziu para Betânia e, tendo lavado as mãos,
os abençoou, - e, tendo-os abençoado,
se separou deles e foi arrebatado ao céu.

Quanto a eles, depois de o terem adorado, voltaram para Jerusalém, cheios
de alegria. - Estavam constantemente
no templo, louvando e bendizendo a Deus. Amém. (S. Lucas, cap. XXIV, vv.
50 a 53.)

61.- Todos os evangelistas narram as aparições de Jesus, após sua morte,
com circunstanciados pormenores que não
permitem se duvide da realidade do fato. Elas, aliás, se explicam
perfeitamente pelas leis fluídicas e pelas propriedades
do perispírito e nada de anômalo apresentam em face dos fenômenos do mesmo
gênero, cuja história, antiga e
contemporânea, oferece numerosos exemplos, sem lhes faltar sequer a
tangibilidade. Se notarmos as circunstâncias
em que se deram as suas diversas aparições, nele reconheceremos, em tais
ocasiões, todos os caracteres de um
ser fluídico. Aparece inopinadamente e do mesmo modo desaparece; uns o
vêem, outros não, sob aparências que não
o tornam reconhecível nem sequer aos seus discípulos; mostra-se em
recintos fechados, onde um corpo carnal não
poderia penetrar; sua própria linguagem carece da vivacidade da de um ser
corpóreo; fala em tom breve e sentencioso,
peculiar aos Espíritos que se manifestam daquela maneira; todas as suas
atitudes, numa palavra, denotam alguma
coisa que não é do mundo terreno. Sua presença causa simultaneamente
surpresa e medo; ao vê-lo, seus discípulos
não lhe falam com a mesma liberdade de antes; sentem que já não é um
homem.

Jesus, portanto, se mostrou com o seu corpo perispirítico, o que explica
que só tenha sido visto pelos que ele quis que
o vissem. Se estivesse com o seu corpo carnal, todos o veriam, como quando
estava vivo. Ignorando a causa originária
do fenômeno das aparições, seus discípulos não se apercebiam dessas
particularidades, a que, provavelmente, não
davam atenção. Desde que viam o Senhor e o tocavam, haviam de achar que
aquele era o seu corpo ressuscitado. (Cap.
XIV, nos 14 e 35 a 38.)

62.- Ao passo que a incredulidade rejeita todos os fatos que Jesus
produziu, por terem uma aparência sobrenatural, e
os considera, sem exceção, lendários, o Espiritismo dá explicação natural
à maior parte desses fatos. Prova a possibilidade deles, não só pela
teoria das leis fluídicas, como pela identidade que apresentam com
análogos fatos produzidos por
uma imensidade de pessoas nas mais vulgares condições. Por serem, de certo
modo, tais fatos do domínio público,
eles nada provam, em princípio, com relação à natureza excepcional de
Jesus.

63.- O maior milagre que Jesus operou, o que verdadeiramente atesta a sua
superioridade, foi a revolução que seus
ensinos produziram no mundo, mau grado exigüidade dos seus meios de ação.

Com efeito, Jesus, obscuro, pobre, nascido na mais humilde condição, no
seio de um povo pequenino, quase ignorado
e sem preponderância política, artística ou literária, apenas durante três
anos prega a sua doutrina; em todo esse curto
espaço de tempo é desatendido e perseguido pelos seus concidadãos; vê-se
obrigado a fugir para não ser lapidado; é
traído por um de seus apóstolos, renegado por outro, abandonado por todos
no momento cm que cai nas mãos de seus
inimigos. Só fazia o bem e isso não o punha ao abrigo da malevolência, que
dos próprios serviços que ele prestava tirava
motivos para o acusar. Condenado ao suplício que só aos criminosos era
infligido, morre ignorado do mundo, visto que
a História daquela época nada diz a seu respeito. Nada escreveu;
entretanto, ajudado por alguns homens tão obscuros
quanto ele, sua palavra bastou para regenerar o mundo; sua doutrina matou
o paganismo onipotente e se tornou o facho
da civilização. Tinha contra si tudo o que causa o malogro das obras dos
homens, razão por que dizemos que o triunfo
alcançado pela sua doutrina foi o maior dos seus milagres, ao mesmo tempo
que prova ser divina a sua missão. Se,
em vez de princípios sociais e regeneradores, fundados sobre o futuro
espiritual do homem, ele apenas houvesse legado
à posteridade alguns fatos maravilhosos, talvez hoje mal o conhecessem de
nome.

("A Gênese", capítulo XV, itens 56 e 63)


QUESTÕES PARA
ESTUDO

a) Como se explicam as aparições de Jesus?

b) Que características são apontadas por Kardec para demonstrar que essas aparições se deram com seu corpo fluídico?

c) Por que o Espiritismo considera naturais essas aparições?

d) O que podemos considerar mais importante na passagem de Jesus: os chamados milagres, vistos nos estudos anteriores
ou o seu ensinamento moral? Justifique.

Conclusão

C O N C L U S Ã O

As aparições de Jesus, após sua morte, explicam-se perfeitamente pelas leis fluídicas e pelas propriedades do perispírito. Nada de milagroso apresentam, em face de fenômenos do mesmo gênero, cujos exemplos são numerosos. Jesus se mostrou com o seu corpo perispirítico, o que explica que só tenha sido visto pelos que ele quis que o vissem. Ignorando a causa originária do fenômeno das aparições, seus discípulos, desde que o viam e o tocavam, achavam que aquele era o seu corpo ressuscitado.

O maior dos "milagres" que Jesus operou e que verdadeiramente atesta a sua superioridade, no entanto, foi a revolução que
seus ensinos produziram no mundo e que até hoje permanecem, mau grado exigüidade dos seus meios de ação que à época existiam.

QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

a) Como se explicam as aparições de Jesus?

R - As aparições de Jesus se explicam pelas leis fluídicas e pelas propriedades do perispírito. Mostrou-se com seu corpo fluídico (perispírito), daí somente ter sido visto por aqueles para os quais quis aparecer, ao contrário do que aconteceria se estivesse com o seu corpo carnal, que todos veriam.
Obs.: O fenômeno de aparição ocorre através do perispírito, instrumento pelo qual o espírito se mostra, mediante uma modificação molecular que opera por ato de vontade, condensando-o a ponto de torná-lo momentaneamente visível a quem queira se mostrar. Esta condensação se explica por ser o perispírito formado de substância etérea, plasticizada, adaptável, consciente ou inconscientemente, conforme o estado psíquico do espírito. Podem se dar sob variadas formas, conforme o grau de condensação do fluido perispiritual: de maneira vaga e vaporosa, mais nitidamente definida ou com todas as aparências da matéria tangível ou chegar à tangibilidade real, confundindo-se o espírito com um encarnado.

b) Que características são apontadas por Kardec para demonstrar que essas aparições deram-se com seu
corpo fluídico?

R - Kardec aponta como principais características que concluem que essas aparições deram-se com seu corpo fluídico as circunstâncias de aparecer repentinamente e do mesmo modo desaparecer; o fato de uns vê-lo e outros não; aparecer em recintos fechados, onde um corpo material não penetraria; a linguagem em tom breve e sentencioso, peculiar a espíritos que assim se manifestam; atitudes que denotam algo não comum ao mundo terreno. Além disso, destaca Kardec o fato de sua presença causar surpresa e medo e de seus discípulos não lhe falarem com a mesma liberdade de antes, demonstrando que já não o sentiam como um homem.

c) Por que o Espiritismo considera naturais essas aparições?

R - O Espiritismo considera naturais essas aparições por se darem de acordo com as leis fluídicas, naturais. Explica a possibilidade desses fenômenos, demonstrando serem fatos naturais, comuns, que acontecem nas mais variadas condições. Como seus discípulos não conheciam essas leis e uma vez que o viam e o tocavam, achavam que Jesus aparecia com seu corpo carnal ressuscitado.

d) O que podemos considerar mais importante na passagem de Jesus: os chamados milagres, vistos nos
estudos anteriores ou o seu ensinamento moral. Justifique.

R - O mais importante na passagem de Jesus pela Terra foi, sem dúvida, a sua doutrina, muito maior que os chamados
milagres. Sua doutrina, se corretamente entendida e praticada, é bastante para regenerar a humanidade. Sua superioridade se mostra mais pela revolução que seus ensinamentos produziram no mundo do que pelos fenômenos admiráveis com que curou enfermos e obsediados. Foi vítima da malevolência dos homens, ignorado pelos historiadores, traído por um e abandonado por muitos de seus seguidores no momento final. Pregou sua doutrina durante apenas três anos e sob implacável perseguição dos religiosos que dominavam o povo àquela época. Mas, ainda assim, apesar de tudo, seus ensinos permanecem inatacáveis até hoje, como um farol a iluminar o caminho a ser seguido. Como explica Kardec, "se, em vez de princípios sociais e regeneradores, fundados sobre o futuro espiritual do homem, ele apenas houvesse legado à posteridade alguns fatos maravilhosos, talvez hoje mal o conhecessem de nome".