A Gênese

113 – Prodígios por ocasião da morte de Jesus (itens 54 e 55)

54.- Ora, desde a sexta hora do dia até à nona, toda a Terra se cobriu de trevas.

Ao mesmo tempo, o véu do Templo se rasgou em dois, de alto a baixo; a terra tremeu; as pedras se fenderam;
- os sepulcros se abriram e muitos corpos de santos, que estavam no sono da morte, ressuscitaram; - e, saindo
de seus túmulos após a ressurreição, vieram à cidade santa e foram vistos por muitas pessoas. (S. Mateus, cap.
XXVII, versículos 45, 51 a 53.)


55.- É singular que tais prodígios, operando-se no momento mesmo em que a atenção da cidade se fixava no suplício
de Jesus, que era o acontecimento do dia, não tenham sido notados, pois que nenhum historiador os menciona. Parece impossível que um tremor de terra e o ficar toda a Terra envolta em trevas durante três horas, num país onde o céu é
sempre de perfeita limpidez, hajam podido passar despercebidos.

A duração de tal obscuridade teria sido quase a de um eclipse do Sol, mas os eclipses dessa espécie só se produzem
na lua nova, e a morte de Jesus ocorreu em fase de lua cheia, a 14 de Nissan, dia da Páscoa dos judeus.

O obscurecimento do Sol também pode ser produzido pelas manchas que se lhe notam na superfície. Em tal caso, o
brilho da luz se enfraquece sensivelmente, porém, nunca ao ponto de determinar obscuridade e trevas. Admitido que
um fenômeno desse gênero se houvesse dado, ele decorreria de uma causa perfeitamente natural. (V. obs.)

Quanto aos mortos que ressuscitaram, possivelmente algumas pessoas tiveram visões ou viram aparições, o que não é excepcional. Entretanto, como então não se conhecia a causa desse fenômeno, supuseram que as figuras vistas saíam
dos sepulcros.

Compungidos com a morte de seu Mestre, os discípulos de Jesus sem dúvida ligaram a essa morte alguns fatos
particulares, aos quais noutra ocasião nenhuma atenção houveram prestado. Bastou, talvez, que um fragmento de
rochedo se haja destacado naquele momento, para que pessoas inclinadas ao maravilhoso tenham visto nesse fato um
prodígio e, ampliando-o, tenham dito que as pedras se fenderam.

Jesus é grande pelas suas obras e não pelos quadros fantásticos de que um entusiasmo pouco ponderado entendeu
de cercá-lo.

Observação de Kardec: Há constantemente, na superfície do Sol, manchas físicas, que lhe acompanham o
movimento de rotação e hão servido para determinar-se a duracão desse movimento. Às vezes, porém, essas
manchas aumentam em número, em extensão e em intensidade. É então que se produz uma diminuicão da luz
e do calor solares. O aumento do número das manchas parece coincidir com certos fenômenos astronômicos
e com a posicão relativa de alguns planetas, o que lhes determina o reaparecimento periódico. É muito variável
a duracão daquele obscurecimento; por vezes não vai além de duas ou três horas, mas, em 535, houve um que
durou catorze meses.

("A Gênese", capítulo XV, itens 54 e 55)


QUESTÕES PARA ESTUDO

a) Segundo Kardec, teria realmente ocorrido o fenômeno da escuridão que se abateu sobre toda a Terra no momento da
morte de Jesus?

b) E quanto ao episódio narrado no Evangelho em que "os sepulcros se abriram e muitos corpos desantos, que estavam
no sono da morte, ressustaram; - e, saindo de seus túmulos após a ressurreição, vieram à cidade santa e foram vistos
por muitas pessoas"? Como o Espiritismo pode explicar?




Conclusão

C O N C L U S Ã O

É pouco provável que tenham acontecido daquela forma os prodígios por ocasião da morte de Jesus, narrados no Evangelho. Tais acontecimentos não poderiam deixar de ser registrados pelos historiadores da época. A obscuridade narrada, as pedras se fenderem e as aparições descritas são resultados de fenômenos naturais que foram tomados como maravilhosos e sobrenaturais pelos homens da época, que, por ignorarem as suas causas, eram inclinados a tudo considerarem prodigioso.

QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

a) Segundo Kardec, teria realmente ocorrido o fenômeno da escuridão que se abateu sobre toda a Terra
no momento da morte de Jesus?

R - Kardec considera pouco provável a ocorrência desse fenômeno, da forma como se encontra narrada no Evangelho, pois um fato dessa natureza não poderia passar despercebido pelos historiadores, que não o mencionam. Um tremor de terra e o envolvimento de todo o planeta em trevas seria um acontecimento notável, principalmente no momento em que a crucificação
de Jesus se consumava. O mais provável é que tenha ocorrido o obscurecimento do Sol, fenômeno natural, que ocorre freqüentemente e que é produzido por manchas que lhe cobrem a superfície. Este fenômeno, contudo, tem como efeito apenas
o enfraquecimento do brilho da luz solar, sem chegar ao ponto de ocasionar uma escuridão total. Esta impressão foi causada pela comoção que a crucificação de Jesus provocou no povo, que, sensibilizado com o acontecimento, deu ao fato uma dimensão maior que a real.

b) E quanto ao episódio narrado no Evangelho, em que "os sepulcros se abriram e muitos corpos de santos,
que estavam no sono da morte, ressuscitaram; - e, saindo de seus túmulos após a ressurreição, vieram à cidade
santa e foram vistos por muitas pessoas"? Como o Espiritismo pode explicar?

R - Sensibilizados com a morte daquele a quem consideravam seu Mestre, os discípulos de Jesus atribuíram a esse fato alguns acontecimentos absolutamente naturais e freqüentes, que, não fora aquela circunstância, nenhuma notoriedade teriam adquirido. Os mortos que teriam ressuscitado, saídos de seus túmulos, provavelmente, foram visões que algumas pessoas tiveram de espíritos que se lhes mostraram. Foram aparições, cujo fenômeno é totalmente natural e freqüente, mas cujas leis que os regem eram, à época, ainda desconhecidas pela humanidade.

O mesmo se pode dizer com relação à narrativa dando notícia de que as pedras se fenderam. Possivelmente, ocorreu que algum fragmento de pedra tenha se deslocado naquele momento, fato que foi ampliado pelo povo num momento de comoção e tomado como um prodígio.