A Gênese

112 – Tentação de Jesus (itens 52 e 53)

Tentação de Jesus

52.- Jesus, transportado pelo diabo ao pináculo do Templo, depois ao cume de uma montanha e por ele tentado,
constitui uma daquelas parábolas que lhe eram familiares e que a credulidade pública transformou em fatos materiais.

Observação de Kardec: A explicação que se segue é reprodução textual do ensino que a esse respeito
deu um Espírito.

53.- «Jesus não foi arrebatado. Ele apenas quis fazer que os homens compreendessem que a Humanidade se acha
sujeita a falir e que deve estar sempre em guarda contra as más inspirações a que, pela sua natureza fraca, é impelida
a ceder. A tentação de Jesus é, pois, uma figura e fora preciso ser cego para tomá-la ao pé da letra. Como pretenderíeis
que o Messias, o Verbo de Deus encarnado, tenha estado submetido, por algum tempo, embora muito curto fosse este,
às sugestões do demônio e que, como o diz o Evangelho de Lucas, o demônio o houvesse deixado por algum tempo, o
que daria a supor que o Cristo continuou submetido ao poder daquela entidade? Não; compreendei melhor os ensinos
que vos foram dados. O Espírito do mal nada poderia sobre a essência do bem. Ninguém diz ter visto Jesus no cume da
montanha, nem no pináculo do Templo. Certamente, tal fato teria sido de natureza a se espalhar por todos os povos. A tentação, portanto, não constituiu um ato material e físico. Quanto ao ato moral, admitiríeis que o Espírito das trevas
pudesse dizer àquele que conhecia sua própria origem e o seu poder: «Adora-me, que te darei todos os remos da Terra?» Desconheceria então o demônio aquele a quem fazia tais oferecimentos? Não é provável. Ora, se o conhecia, suas
propostas eram uma insensatez, pois ele não ignorava que seria repelido por aquele que viera destruir-lhe o império sobre
os homens.

«Compreendei, portanto, o sentido dessa parábola, que outra coisa aí não tendes, do mesmo modo que nos casos do
Filho Pródigo e do Bom Samaritano. Aquela mostra os perigos que correm os homens, se não resistem à voz íntima
que lhes clama sem cessar: «Podes ser mais do que és; podes possuir mais do que possuis; podes engrandecer-te,
adquirir muito; cede à voz da ambição e todos os teus desejos serão satisfeitos.» Ela vos mostra o perigo e o meio de
o evitardes, dizendo às más inspirações: Retira-te, Satanás ou, por outras palavras: Vai-te, tentação!

«As duas outras parábolas que lembrei mostram o que ainda pode esperar aquele que, por muito fraco para expulsar o
demônio, lhe sucumbiu às tentações. Mostram a misericórdia do pai de família, pousando a mão sobre a fronte do filho arrependido e concedendo-lhe, com amor, o perdão implorado. Mostram o culpado, o cismático, o homem repelido por
seus irmãos, valendo mais, aos olhos do Juiz Supremo, do que os que o desprezam, por praticar ele as virtudes que a
lei de amor ensina.

«Pesai bem os ensinamentos que os Evangelhos contêm; sabei distinguir o que ali está em sentido próprio, ou em
sentido figurado, e os erros que vos hão cegado durante tanto tempo se apagarão pouco a pouco, cedendo lugar à
brilhante luz da Verdade.» - João Evangelista, Bordéus, 1862.

("A Gênese", capítulo XV, itens 52 e 53)


QUESTÕES PARA ESTUDO

a) Por que Kardec afirma que o episódio da "Tentação de Jesus" foi uma parábola por ele contada?

b) Que ensinamento quis Jesus transmitir com essa parábola?

c) Qual a identidade entre essa parábola e as parábolas do "Filho Pródigo" e do "Bom Samaritano"?



Conclusão

C O N C L U S Ã O


Jesus, transportado pelo diabo ao pináculo do Templo, depois ao cume de uma montanha e por ele tentado, constitui uma daquelas parábolas que lhe eram familiares e que a credulidade pública transformou em fatos materiais. Esta a conclusão de Allan Kardec sobre o episódio narrado no evangelho de Lucas e está conforme os esclarecimentos do evangelista João, em mensagem transcrito no item 53. Esta é a conclusão lógica diante do ensinamento dos Espíritos acerca da hierarquia no mundo espiritual.

QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

a) Por que Kardec afirma que o episódio da "Tentação de Jesus" foi uma parábola por ele contada?

R - Kardec fundamenta-se na explicação contida na mensagem de João Evangelista, por ele recebida e transcrita no item 53 do presente capítulo, a respeito deste episódio. Conforme explica João, um espírito do mal nada pode sobre a essência do bem.
Esclarece a questão 274 do Livro dos Espíritos que "os espíritos têm uns sobre os outros a autoridade correspondente ao grau de superioridade que hajam alcançado, autoridade que eles exercem por um ascendente moral irresistível." Um espírito de ordem inferior não pode exercer nenhuma ascendência sobre outro que lhe seja moralmente superior. Representando a figura metafórica de Satanás os espíritos ainda atrasados evolutivamente, não poderia um espírito dessa natureza compelir Jesus a praticar qualquer ato, muito menos arrebatá-lo a um determinado local.

Além do mais, como acentua a mensagem de João, um espírito das trevas não teria força moral bastante para dizer a um Espírito da elevação de Jesus para adorá-lo em troca do reino da Terra. Jesus era um enviado do Senhor de todos os reinos e o suposto satanás não desconheceria que tal oferecimento seria repelido. Jesus, ao contrário de a ele se submeter, veio para ensinar a humanidade a destruir a sua influência. Por essas razões, conclui Kardec que o mais provável é que este episódio não ocorreu na vida real, constituindo-se em mais uma das muitas histórias contadas por Jesus para levar à humanidade os seus ensinamentos morais, o que foi tomado como realidade pela credulidade popular.

b) Que ensinamento quis Jesus transmitir com essa parábola?

R - Jesus quis mostrar aos homens os perigos que correm ao não resistirem às tentações sugeridas pelos maus espíritos. Quando nos deixamos levar por aquela voz interna que nos impele à prática de atos contrários às leis divinas, estamos cedendo às sugestões de espíritos que se comprazem na prática do mal e que querem nos infelicitar. Como, por exemplo, quando cedemos à tentação da ambição de possuir cada vez mais valores materiais, relegando os valores espirituais.

c) Qual a identidade entre essa parábola e as parábolas do "Filho Pródigo" e do "Bom Samaritano"?

R - Comparando a parábola da tentação de Jesus com a do filho pródigo e a do bom samaritano, a mensagem de João quis demonstrar a misericórdia e a justiça divina, que sempre acolhe os que, arrependidos, retornam ao caminho certo, após se deixarem levar pela tentação. Mostra que sempre nos é possível resistir à tentação do gozo incontido das coisas materiais, a
que estamos muitas das vezes sujeitos durante a existência terrena. Na parábola da tentação de Jesus, mostra que é possível resistir à tentação intuída por espíritos das trevas. Na do filho pródigo, mostra que, mesmo quando a ela não resistimos e nos deixamos levar pelas más influências, é sempre possível o retorno ao caminho correto, pois, como o pai de família que recebeu festivamente o filho pródigo que se arrependera, a misericórdia de Deus é infinita e sempre acolherá o perdão implorado. Na parábola do bom samaritano, ensina o Evangelista que o culpado, rejeitado por seus irmãos, vale mais do eles aos olhos de Deus, por agir conforme a lei de amor ensinada por Jesus.