A Gênese
105 – Curas - 2ª pte (itnes 16 a 23)
C U R A S ( 2ª parte )
Os dez leprosos
16 - Um dia, indo ele para Jerusalém, passava pelos confins da Samaria e da Galiléia - e, estando prestes a entrar
numa aldeia, dez leprosos vieram ao seu encontro e, conservando-se afastados, clamaram em altas vozes: Jesus,
Senhor nosso, tem piedade de nós. - Dando com eles, disse-lhes Jesus: Ide mostrar-vos aos sacerdotes. Quando
iam a caminho, ficaram curados.
Um deles, vendo-se curado, voltou sobre seus passos, glorificando a Deus em altas vozes; - e foi lançar-se aos
pés de Jesus, com o rosto em terra, a lhe render graças. Esse era samaritano.
Disse então Jesus: Não foram curados todos dez? Onde estão os outros nove? - Nenhum deles houve que
voltasse e glorificasse a Deus, a não ser este estrangeiro? - E disse a esse: Levanta-te; vai; tua fé te salvou. (S.
Lucas, capítulo XVII, vv. 11 a 19.)
17.- Os samaritanos eram cismáticos, mais ou menos como os protestantes com relação aos católicos, e os judeus
os tinham em desprezo, como heréticos. Curando indistintamente os judeus e os samaritanos, dava Jesus, ao mesmo
tempo, uma lição e um exemplo de tolerância; e fazendo ressaltar que só o samaritano voltara a glorificar a Deus,
mostrava que havia nele maior soma de verdadeira fé e de reconhecimento, do que nos que se diziam ortodoxos.
Acrescentando: «Tua fé te salvou», fez ver que Deus considera o que há no âmago do coração e não a forma exterior
da adoração. Entretanto, também os outros tinham sido curados. Fora mister que tal se verificasse, para que ele
pudesse dar a lição que tinha em vista e tornar-lhes evidente a ingratidão. Quem sabe, porém, o que daí lhes haja
resultado; quem sabe se eles terão se beneficiado da graça que lhes foi concedida? Dizendo ao samaritano: «Tua fé
te salvou», dá Jesus a entender que o mesmo não aconteceu aos outros.
Mão seca
18.- Doutra vez entrou Jesus no templo e aí encontrou um homem que tinha seca uma das mãos. - E eles o
observavam para ver se ele o curaria em dia de sábado, para terem um motivo de o acusar. - Então, disse ele
ao homem que tinha a mão seca: Levanta-te e coloca-te ali no meio. - Depois, disse-lhes: É permitido em dia
de sábado fazer o bem ou mal, salvar a vida ou tirá-la? Eles permaneceram em silêncio. - Ele, porém, encarando-
-os com indignação, tanto o afligia a dureza de seus corações, disse ao homem: Estende a tua mão. Ele a
estendeu e ela se tornou sã.
Logo os fariseus saíram e se reuniram contra ele em conciliábulo com os herodianos, sobre o meio de o prenderem.
- Mas, Jesus se retirou com seus discípulos para o mar, acompanhando-o grande multidão de povo da Galiléia e
da Judéia - de Jerusalém, da Iduméia e de além Jordão; e os das cercanias de Tiro e de Sídon, tendo ouvido falar
das coisas que ele fazia, vieram em grande número ao seu encontro. (S. Marcos, cap. III, vv. 1 a 8.)
A mulher curvada
19 - Todos os dias de sábado Jesus ensinava numa sinagoga. - Um dia, viu ali uma mulher possuída de um
Espírito que a punha doente, havia dezoito anos; era tão curvada, que não podia olhar para cima. - Vendo-a,
Jesus a chamou e lhe disse: Mulher, estás livre da tua enfermidade. - Impôs-lhe ao mesmo tempo as mãos e ela,
endireitando-se, rendeu graças a Deus.
Mas, o chefe da sinagoga, indignado por haver Jesus feito uma cura em dia de sábado, disse ao povo: Há seis
dias destinados ao trabalho; vinde nesses dias para serdes curados e não nos dias de sábado.
O Senhor, tomando a palavra, disse-lhe: Hipócrita, qual de vós não solta da carga o seu boi ou seu jumento em
dia de sábado e não o leva a beber? - Por que então não se deveria libertar, em dia de sábado, dos laços que a
prendiam, esta filha de Abraão, que Satanás conservara atada durante dezoito anos?
A estas palavras, todos os seus adversários ficaram confusos e todo o povo encantado de vê-lo praticar tantas
ações gloriosas. (S. Lucas, cap. XIII, vv. 10 a 17.)
20.- Este fato prova que naquela época a maior parte das enfermidades era atribuída ao demônio e que todos confundiam,
como ainda hoje, os possessos com os doentes, mas em sentido inverso, isto é, hoje, os que não acreditam nos maus
Espíritos confundem as obsessões com as moléstias patológicas.
O paralítico da piscina
21.- Depois disso, tendo chegado a festa dos judeus, Jesus foi a Jerusalém. -Ora, havia em Jerusalém a piscina
das ovelhas, que se chama em hebreu Betesda, a qual tinha cinco galerias - onde, em grande número, se achavam
deitados doentes, cegos, coxos e os que tinham ressecados os membros, todos à espera de que as águas fossem
agitadas - Porque, o anjo do Senhor, em certa época, descia àquela piscina e lhe movimentava a água e aquele que
fosse o primeiro a entrar nela, depois de ter sido movimentada a água, ficava curado, qualquer que fosse a sua
doença.
Ora, estava lá um homem que se achava doente havia trinta e oito anos. -Jesus, tendo-o visto deitado e sabendo-o
doente desde longo tempo, perguntou-lhe: Queres ficar curado? - O doente respondeu: Senhor, não tenho ninguém
que me lance na piscina depois que a água for movimentada; e, durante o tempo que levo para chegar lá, outro desce
antes de mim. - Disse-lhe Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e vai-te. - No mesmo instante o homem se achou curado
e, tomando de seu leito, pôs-se a andar. Ora, aquele dia era um sábado.
Disseram então os judeus ao que fora curado: Não te é permitido levares o teu leito. - Respondeu o homem: Aquele
que me curou disse: Toma o teu leito e anda. -Perguntaram-lhe eles então: Quem foi esse que te disse: Toma o teu
leito e anda? -Mas, nem mesmo o que fora curado sabia quem o curara, porquanto Jesus se retirara do meio da
multidão que lá estava.
Depois, encontrando aquele homem no templo, Jesus lhe disse: Vês que foste curado; não tornes de futuro a pecar,
para que te não aconteça coisa pior.
O homem foi ter com os judeus e lhes disse que fora Jesus quem o curara. - Era por isso que os judeus perseguiam
a Jesus, porque ele fazia essas coisas em dia de sábado. - Então, Jesus lhes disse: Meu Pai não cessa de obrar até
ao presente e eu também obro incessantemente. (S. João, cap. V, vv. 1 a 17.)
22.- «Piscina» (da palavra latina piscis, peixe), entre os romanos, eram chamados os reservatórios ou viveiros onde se
criavam peixes. Mais tarde, o termo se tornou extensivo aos tanques destinados a banhos em comum.
A piscina de Betesda, em Jerusalém, era uma cisterna, próxima ao Templo, alimentada por uma fonte natural, cuja
água parece ter tido propriedades curativas. Era, sem dúvida, uma fonte intermitente que, em certas épocas, jorrava
com força, agitando a água. Segundo a crença vulgar, esse era o momento mais propício às curas. Talvez que, na
realidade, ao brotar da fonte a água, mais ativas fossem as suas propriedades, ou que a agitação que o jorro produzia
na água fizesse vir à tona a vasa salutar para algumas moléstias. Tais efeitos são muito naturais e perfeitamente
conhecidos hoje; mas, então, as ciências estavam pouco adiantadas e à maioria dos fenômenos incompreendidos se
atribuíam uma causa sobrenatural. Os judeus, pois, tinham a agitação da água como devida à presença de um anjo e
tanto mais fundadas lhes pareciam essas crenças, quanto viam que, naquelas ocasiões, mais curativa se mostrava a
água.
Depois de haver curado aquele paralítico, disse-lhe Jesus: «Para o futuro não tornes a pecar, a fim de que não te
aconteça coisa pior.» Por essas palavras, deu-lhe a entender que a sua doença era uma punição e que, se ele não se melhorasse, poderia vir a ser de novo punido e com mais rigor, doutrina essa inteiramente conforme à do Espiritismo.
23.- Jesus como que fazia questão de operar suas curas em dia de sábado, para ter ensejo de protestar contra o
rigorismo dos fariseus no tocante à guarda desse dia. Queria mostrar-lhes que a verdadeira piedade não consiste na
observância das práticas exteriores e das formalidades; que a piedade está nos sentimentos do coração. Justificava-
-se, declarando: «Meu Pai não cessa de obrar até ao presente e eu também obro incessantemente.» Quer dizer:
Deus não interrompe suas obras, nem sua ação sobre as coisas da Natureza, em dia de sábado. Ele não deixa de
fazer que se produza tudo quanto é necessário à vossa alimentação e à vossa saúde; eu lhe sigo o exemplo.
("A Gênese", capítulo XV, itens 16 a 23)
QUESTÕES PARA ESTUDO
a) Que lição podemos extrair do episódio dos dez leprosos?
b) Como o Espiritismo pode explicar as palavras de Jesus, referindo-se à mulher curvada, dizendo que " ... Satanás
conservara atada durante dezoito anos?
c) Qual o objetivo de Jesus ao efetuar curas em dias de sábado?
d) Como o Espiritismo explica as palavras de Jesus ao paralítico da piscina: "não tornes a pecar, a fim de que não
te aconteça coisa pior"?
Conclusão
C O N C L U S Ã O
Ao dizer "tua fé te salvou" ao ex-leproso que voltara para agradecer a cura, Jesus fez ver que Deus considera o que há no interior do coração e não a forma exterior da adoração. A mulher curvada e o paralítico da piscina foram curados em dia de sábado para demonstrar que o que importa são as obras. Ao paralítico que se encontrava naquela circunstância, Jesus fez ver que sua enfermidade era decorrência do descumprimento das Leis Naturais, o que os religiosos chamavam"pecado".
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
a) Que lição podemos extrair do episódio dos dez leprosos?
R - Mais uma vez, Jesus ressalta a importância da fé para a obtenção da cura. Dos dez leprosos curados, apenas um, o samaritano, que os judeus tinham com desprezo, voltou para louvar Deus e agradecer a cura obtida, demonstrando ser o que possuía a verdadeira fé e o sentimento de gratidão. Praticava a verdadeira adoração, que é a do coração, sem preocupação de cultos exteriores, como os judeus ortodoxos o faziam. Os demais, que não demonstraram a mesma fé, foram também curados
para que Jesus pudesse ensinar a respeito da ingratidão. Ao dizer ao samaritano que "a tua fé te salvou", deu a entender que, por ser o único que era portador da verdadeira fé, somente ele obteve a cura definitiva. Os outros, como narra o Evangelho, também ficaram curados. Mas o que lhes aconteceu depois não se sabe, pois Jesus se referiu apenas ao samaritano como salvo, dando a entender que o mesmo não aconteceu aos demais.
b) Como o Espiritismo pode explicar as palavras de Jesus, referindo-se à mulher curvada, dizendo que " ... Satanás conservara atada durante dezoito anos"?
R - Àquela época, era comum atribuir-se ao demônio a maior parte das enfermidades. Ao dizer que a mulher curvada ficara dezoito anos naquela situação por obra de Satanás, Jesus falou a linguagem possível de ser entendida por aqueles homens, como sempre o fez. Deixou claro que a enfermidade resultara da ação de um mau espírito, ou seja, como hoje podemos afirmar através do conhecimento das leis espirituais trazido pelo Espiritismo, que a mulher fora submetida a um processo obsessivo de natureza grave, cujo espírito que a dominava a fazia andar curvada. À falta de conhecimento das leis espirituais, o povo atribuía semelhantes enfermidades a Satanás ou ao demônio, alegorias criadas para explicar o que não conseguiam através das leis naturais.
c) Qual o objetivo de Jesus ao efetuar curas em dias de sábado?
R - Jesus quis demonstrar que o importante são as obras e não o rigor do formalismo religioso, que impunha a guarda desse dia.
Quis demonstrar que a verdadeira piedade não reside na observância de práticas exteriores, mas nos sentimentos. Justificava seu ensinamento explicando que "meu Pai não cessa de obrar até ao presente e eu também obro incessantemente." Ou seja,
Deus não interrompe suas obras nem sua ação em dia de sábado, seguindo, então o seu exemplo.
d) Como o Espiritismo explica as palavras de Jesus ao paralítico da piscina: "não tornes a pecar, a fim de que não
te aconteça coisa pior"?
R - Com estas palavras, Jesus vinculou a paralisia de que sofria aquele homem ao descumprimento das Leis Naturais, dando-lhe a entender a sua doença era uma punição. O Espiritismo veio esclarecer esta passagem através da ação da lei de causa e efeito. Recomendou que ele não tornasse a pecar, pois poderia vir a ser de novo punido e de forma mais rigorosa.