A Gênese
059 – Dilúvio bíblico (itens 4 e 5)
1.- O dilúvio bíblico, também conhecido como "dilúvio asiático", cuja realidade não se pode contestar, deve ter sido
ocasionado pelo levantamento de uma parte das montanhas daquela região. É o que sugere a existência de um mar
interior, comprovada pelas observações geológicas, que ia do mar Negro ao oceano Boreal e de outros, cujas águas
são salgadas e que não têm nenhuma comunicação com outro mar, como o mar Cáspio. Os inúmeros lagos espalhados
pelas imensas planícies da Tartália e as estepes da Rússia parecem ser restos daquele antigo mar.
2.- Por ocasião do levantamento das montanhas do Cáucaso, posterior ao dilúvio universal, parte daquelas águas foi
movida para o norte, na direção do oceano Boreal; outra parte, para o sul, em direção ao oceano Índico, inundando e
devastando precisamente a Mesopotâmia e toda a região em que habitaram os antepassados do povo hebreu.
3.- Embora se tenha estendido por uma grande superfície, é atualmente comprovado que esse dilúvio foi apenas local e
que não pode ter sido causado pela chuva. Por mais torrencial que esta fosse e ainda que se prolongasse por quarenta
dias, como consta na Gênese mosaica, estudos comprovam que a quantidade de água caída das nuvens não bastaria
para cobrir toda a Terra, até acima das mais altas montanhas.
4.- Para os homens de então, que não conheciam mais do que uma extensão muito limitada da superfície do globo e
que nenhuma idéia tinham da sua configuração, desde que a inundação invadiu os lugares conhecidos, invadida fora,
para eles, toda a Terra. Além disso, há que se considerar a forma imaginosa e figurativa da descrição, peculiar ao estilo
oriental, já não surpreenderá o exagero da narração bíblica.
5.- O dilúvio asiático foi, evidentemente, posterior ao aparecimento do homem na Terra, visto que a lembrança dele se
conservou pela tradição em todos os povos daquela parte do mundo, os quais o consagraram em suas teogonias.
Nota de Kardec: A lenda indiana sobre o dilúvio refere, segundo o livro dos vedas, que Brama, transformado em peixe,
se dirigiu ao piedoso monarca Vaivaswata e lhe disse: "Chegou o momento da dissolução do Universo; em breve estará
destruído tudo o que existe na Terra. Tens que construir um navio em que embarcarás, depois de teres embarcado
sementes de todos os vegetais. Esperar-me-ás nesse navio e eu virei ter contigo, trazendo à cabeça um chifre pelo qual
me reconhecerás. "O santo obedeceu; construiu um navio, embarcou nele e o atou por um cabo muito forte ao chifre do
peixe. O navio foi rebocado durante muitos anos com extrema rapidez, por entre as trevas de uma tremenda tempestade, abordando, afinal, ao cume do monte Himawat (Himalaia). Brama ordenou em seguida a Vaivaswata que criasse todos
os seres e com eles povoasse a Terra.
É flagrante a analogia desta lenda com a narrativa bíblica de Noé. Da Índia ela passara ao Egito, como uma multidão de
outras crenças. Ora, sendo o livro dos Vedas anteriores ao de Moisés, a narração que naquele se encontra, do dilúvio,
não pode ser uma cópia da deste último. O que é provável é que Moisés, que aprendera as doutrinas dos sacerdotes
egípcios, haja tomado a estes a sua descrição.
QUESTÕES PARA ESTUDO
a) Diante das explicações de Kardec, que circunstâncias demonstram a ocorrência do chamado "dilúvio bíblico"?
b) Que razões são apontadas por Kardec para demonstrar que o dilúvio não foi universal?
c) O que, provavelmente, teria levado Moisés a adotar a interpretação constante no Antigo Testamento?
Conclusão
O dílúvio bíblico, conforme narrado no Antigo Testamento, retrata o grau de evolução intelectual da humanidade àquela época. Os conhecimentos científicos eram ainda muito precários. Pensavam os homens que a Terra era uma área plana e que sua extensão era restrita aos locais até onde lhes era permitido o acesso. Como o dilúvio inundou toda a área em que vivia os ascendentes do povo hebreu, para o povo de então toda a Terra fora inundada, idéia que passou de geração a geração, até chegar ao tempo de Moisés. Atualmente, é ponto pacífico para a ciência que, embora o dilúvio tenha se estendido por uma grande superfície, foi apenas local, naquela região onde viviam os ascendentes do povo hebreu.
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
a) Diante das explicações de Kardec, que circunstâncias demonstram a ocorrência do chamado "dilúvio bíblico"?
R - De acordo com as explicações de Allan Kardec, o chamado "dilúvio bíblico", também conhecido como "grande dilúvio asiático", encontra-se demonstrado pela existência, comprovada por pesquisas geológicas, de um mar interior que outrora se estendia do Mar Negro ao Oceano Ártico. O dilúvio teria sido provocado pelo levantamento de uma parte das montanhas daquela região. Esta ocorrência justificaria a existência do Mar Azov e do mar Cáspio, constituídos de águas salgadas, embora nenhuma comunicação tenham com algum outro mar. Também corrobora esta hipótese a existência do lago Aral e de inúmeros lagos espalhados pelas imensas planícies da Tartália e as estepes da Rússia, que parecem ser restos daquele antigo mar.
b) Que razões são apontadas por Kardec para demonstrar que o dilúvio não atingiu todo o planeta?
R - É hoje ponto pacífico por parte da ciência que esse dilúvio, embora tenha se estendido por uma grande superfície, foi apenas local e não universal nem ocasionado pela água da chuva, conforme consta na gênese mosaica. Kardec explica que, por maior que fosse a densidade da chuva, a quantidade de água, ainda que se prolongasse por quarenta dias, não poderia ser suficiente o bastante para cobrir toda a Terra, incluindo as mais altas montanhas. Pensavam os homens daquela época que a Terra era uma área plana, cuja extensão não passava dos locais até onde lhes era permitido o acesso. Como o dilúvio inundou toda a área em que vivia os ascendentes do povo hebreu, para o povo de então toda a Terra fora inundada, idéia que passou de geração a geração, até chegar ao tempo de Moisés.
c) O que, provavelmente, teria levado Moisés a adotar a interpretação constante no Antigo Testamento?
R - Além de ter recebido de seus antepassados a interpretação de uma inundação geral do Planeta, Moisés, provavelmente, foi influenciado por uma lenda indiana, constante no Livro dos Vedas, segundo a qual um poderoso monarca recebeu de Brama - uma das formas que o povo indiano via a representação da Divindade - instruções para construir uma embarcação, que serviria de abrigo para si, durante o dilúvio que viria. Deveria levar consigo sementes de todos os vegetais, para serem posteriormente replantadas. Considerando a semelhança entre o que se descreve nessa lenda e a epopéia de Noé narrada no livro de Gênesis e considerando que Moisés conviveu com os sacerdotes egípcios que cultivavam essa lenda, Kardec conclui ser provável que o legislador do povo hebreu tenha se baseado nela para escrever a sua versão sobre o chamado "dilúvio universal", que hoje a ciência mostra ter sido apenas local.