A Gênese

081 – Os seis dias - 1ª pte. (itens 1 a 7)

1.- DO PRIMEIRO LIVRO DE MOISÉS, CHAMADO GÊNESIS:

CAPÍTULO I

"1. No começo criou Deus o Céu e a Terra. - 2. A Terra era uniforme e inteiramente nua; as trevas cobriam a face
do abismo e o Espírito de Deus boiava sobre as águas. - 3. Ora, Deus disse: Faça-se a luz e a luz foi feita. - 4. Deus
viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. - 5. Deu à luz o nome de dia e às trevas o nome de noite e da tarde e
da manhã se fez o primeiro dia. 6. Disse Deus também: Faça-se o Firmamento no meio das águas e que ele separe
das águas as águas. - 7. E Deus fez o Firmamento e separou as águas que estavam debaixo do Firmamento das que
estavam acima do Firmamento. E assim se fez. - 8. E Deus deu ao Firmamento o nome de céu; da tarde e da manhã
se fez o segundo dia. 9. Disse Deus ainda: Reunam-se num só lugar as águas que estão sob o céu e apareça o
elemento árido. E assim se fez. - 10. Deus deu ao elemento árido o nome de terra e chamou mar a todas as águas
reunidas. E viu que isso estava bem. - 11. Disse mais Produza a terra a erva verde que traz a semente e árvores
frutíferas que dêem frutos cada um de uma espécie, e que contenham em si mesmas as suas sementes, para se
reproduzirem na terra. E assim se fez. - 12. A terra então produziu a erva verde que trazia consigo a sua semente,
conforme a espécie, e árvores frutíferas que continham em si mesmas suas sementes, cada uma de acordo com a
sua espécie. E Deus viu que estava bom. - 13. E da tarde e da manhã se fez o terceiro dia. 14. - Deus disse também:
Façam-se corpos de luz no firmamento do céu, a fim de que separem o dia da noite e sirvam de sinais para marcar o
tempo e as estações, os dias e os anos. - 15. Brilhem eles no firmamento do céu e iluminem a Terra. E assim se fez.
- 16. Deus então fez dois grandes corpos luminosos, um, maior, para presidir ao dia, o outro, menor, para presidir a
noite; fez também as estrelas. - 17. E os pôs no firmamento do céu, para brilharem sobre a Terra. - 18. Para presidirem
ao dia e à noite e para separarem a luz das trevas. E Deus viu que estava bom. - 19. E da tarde e da manhã se fez o
quarto dia. 20. Disse Deus ainda: Produzam as águas animais vi vos que nadem nas águas e pássaros que voem sobre
a Terra debaixo do firmamento do céu. - 21. Deus então criou os grandes peixes e todos os animais que têm vida e
movimento, que as águas produziram, cada um de uma espécie, e criou também todos os pássaros, cada um de uma
espécie. Viu que estava bom. - 22. E os abençoou, dizendo: Crescei e multiplicai-vos e enchei as águas do mar; e que
os pássaros se multipliquem sobre a Terra. - 23. E da tarde e da manhã se fez o quinto dia. 24. Também disse Deus:
Produza a Terra animai 5 vivos, cada um de sua espécie, os animais domésticos e os armais selvagens, em suas
diferentes espécies. E assim se fez. - 25. Deus fez, pois, os animais selvagens da Terra em suas espécies, os animais
domésticos e todos os reptis, cada um de sua espécie. E Deus viu que estava bom. 26. Disse, em seguida: Façamos
o homem a nossa imagem e semelhança e que ele mande sobre os peixes do mar, os pássaros do céu, os animais,
sobre toda a Terra e sobre todos os reptis que se movem na terra. - 27. Deus então criou o homem à sua imagem
e o criou à imagem de Deus e o criou macho e fêmea. - 28. Deus os abençoou e lhes disse: Crescei e multiplicai-vos,
enchei a Terra e sujeitai-a, dominai sobre os peixes do mar, sobre os pássaros do céu e sobre todos os animais que
se movem na terra. - 29. Disse Deus ainda: Dei-vos todas as ervas que trazem sua semente à terra e todas as árvores
que encerram em si mesmas suas sementes, cada uma de uma espécie, a fim de que vos sirvam de alimento. - 30. E
dei-as a todos os animais da terra, a todos os pássaros do céu, a tudo o que se move na Terra e que é vivo e animado,
a fim de que tenham com que se alimentar. E assim se fez. - 31. Deus viu todas as coisas que havia feito; eram todas
muito boas. - 23. E da tarde e da manhã se fez o sexto dia.

CAPÍTULO II

1. O Céu e a Terra ficaram, pois, acabados assim com todos os seus ornamentos. - 2. Deus terminou no sétimo dia
toda a obra que fizera e repousou nesse sétimo dia, após haver acabado todas as suas obras. - 3. Abençoou o sétimo
dia e o santificou, porque cessara nesse dia de produzir todas as obras que criara. - 4. Tal a origem do Céu e da Terra
e é assim que eles foram criados no dia que o Senhor fez um e outro. - 5. E que criou todas as plantas dos campos antes
que houvessem saído da terra e todas as ervas das planícies antes que houvessem germinado. Porque, o Senhor Deus
ainda não tinha feito que chovesse sobre a terra e não havia homem para lavrá-la. - 6. Mas da terra se elevava uma fonte
que lhe regava toda a superfície. 7. O Senhor Deus formou, pois, o homem do limo da terra e lhe espalhou sobre o rosto
um sopro de vida, e o homem se tornou vivente e animado."

2.- Estudado nos capítulos anteriores a origem e a constituição do Universo, conforme os dados fornecidos pela Ciência,
quanto à parte material e pelo Espiritismo, quanto à parte espiritual, convém ponhamos em confronto com tudo isso o
próprio texto da Gênese de Moisés, a fim de que cada um faça a comparação e julgue com conhecimento de causa.

3.- Há, sem dúvida, concordância entre alguns pontos da Gênese moisaica e a Ciência. Não basta, porém, sejam
substituídos os seis dias de 24 horas da criação por seis períodos indeterminados, para se tornar completa a analogia.
Não menor erro seria acreditar-se que, afora o sentido alegórico de algumas palavras, a Gênese e a Ciência caminham
lado a lado.

4.- Eprimeiro lugar, como vimos no estudo do capítulo VII, nº 14, o número de seis períodos geológicos é inteiramente
arbitrário, pois que se eleva a mais de vinte e cinco o das formações bem caracterizadas, número que, por sua vez,
determina apenas as grandes fases gerais. Esse número foi adotado para aproximar-se o mais possível ao texto bíblico,
numa época em que se entendia que a Ciência devia ser controlada pela Bíblia. No entanto, logo que se apoiou no
método experimental, a Ciência sentiu-se mais forte e se emancipou. Hoje, é ela que controla a Bíblia.

5.- Doutro lado, a Geologia, tomando por ponto de partida unicamente a formação dos terrenos graníticos, não abrange,
no cômputo de seus períodos, o estado primitivo da Terra. Tampouco se ocupa com o Sol, com a Lua e com as estrelas,
nem com o conjunto do Universo, assuntos esses que pertencem à Astronomia. Para enquadrar tudo na Gênese, cumpre
se acrescente um primeiro período, que abarque essa ordem de fenômenos e ao qual se poderia chamar período astronômico. Além disso, nem todos os geólogos consideram o período diluviano como formando um período distinto,
mas como um fato transitório e passageiro, que não mudou sensivelmente o estado climático do globo, nem marcou
uma fase nova para as espécies vegetais e animais.

6.- Allan Kardec apresenta um quadro comparativo, em o qual se acham resumidos os fenômenos que caracterizam
cada um dos seis períodos, adotados pela ciência e os fenômenos contidos na narrativa moisaica, permitindo se
considere o conjunto e se notem as relações e as diferenças que existem entre os referidos períodos e a Gênese bíblica:


CIÊNCIA GÊNESE


I. PERÍODO ASTRONÔMICO - Aglomeração da matéria 1º DIA - O Céu e a Terra. - A luz
cósmica universal, num ponto do espaço, em nebulosa que
deu origem, pela condensação da matéria em diversos
pontos, às estrelas, ao Sol, à Terra, à Lua e a todos os
planetas.
Estado primitivo, fluídico e incandescente da Terra. - Atmosfera
imensa carregada de toda a água em vapor e de
todas as matérias volatilizáveis.

II. PERÍODO PRIMÁRIO. - Endurecimento da superfície da 2º DIA - O Firmamento -Separação das águas que
Terra, pelo resfriamento; formação das camadas graníticas. - estão acima do Firmamento das que lhe estão
Atmosfera espessa e ardente, impenetrável aos raios debaixo.
solares. - Precipitação gradual da água e das matérias
sólidas volatilizadas no ar. - Ausência completa de vida
orgânica.

III. - PERÍODO DE TRANSIÇÃO. - As águas cobrem toda 3º DIA - As águas que estão debaixo do Firmamento se do superfície do globo. - Primeiros depósitos de sedimentos reúnem; aparece o elemento árido. - A terra e os mares. formados pelas águas. - Calor úmido. - O Sol começa a - As plantas.
atravessar a atmosfera brumosa. - Primeiros seres organizados
da mais rudimentar constituição. - Liquens, musgos, fetos,
licopódios, plantas herbáceas. Vegetação colossal. - Primeiros
animais marinhos: zoófítos, polipeiros, crustáceos. - Depósitos
de hulha.


IV. PERÍODO SECUNDÁRIO. - Superfície da Terra pouco 4º DIA - O Sol, a Lua e as estrelas.
acidentada; águas pouco profundas e paludosas. Temperatura
menos ardente; atmosfera mais depurada. Consideráveis
depósitos de calaáreos pelas águas. - Vegetação menos colossal;
novas espécies; plantas lenhosas; primeiras árvores. - Peixes;
cetáceos; animais aquáticos e anfíbios.

.V. PERÍODO TERCIÁRIO. - Grandes intumescimentos da 5º DIA - Os peixes e os pássaros.
crosta sólida; formação dos continentes. Retirada das águas
para os lugares baixos; formação dos mares. - Atmosfera
depurada; temperatura atual produzida pelo calor solar. -
Gigantescos nimais terrestres. Vegetais e animais da tualidade.
Pássaros.

DILÚVIO UNIVERSAL

VI. PERÍODO QUATERNÁRIO OU PÓS-DILUVIANO. 6º DIA - Os animais terrestres. O homem.
-Terrenos de aluvião. - Vegetais e animais da atualidade. - O
homem.

7.- Desse quadro comparativo, o primeiro fato que ressalta é que a obra de cada um dos seis dias não corresponde, de
maneira rigorosa, como o supõem muitos, a cada um dos seis períodos geológicos. A concordância mais notável se
verifica na sucessão dos seres orgânicos, que é quase a mesma, com pequena diferença e no aparecimento do homem,
por último. É esse um fato importante. Há, também, coincidência, na passagem em que se lê que, ao terceiro dia, "as
águas que estão debaixo do céu se reuniram num só lugar e apareceu o elemento árido". É a expressão do que ocorreu
no período terciário, quando as elevações da crosta sólida puseram a descoberto os continentes e repeliram as águas,
que foram formar os mares. Foi somente então que apareceram os animais terrestres, segundo a Geologia e segundo
Moisés.

8.- Kardec entende ser mais provável que, dizendo que a criação foi feita em seis dias, Moisés quis mesmo se referir a
seis períodos de 24 horas, ao contrário do que muitos sustentam, de que teria se referido a seis períodos, não só pela
palavra hebraica utilizada (iom), que se traduz dia, como também por se referir a tarde e manhã. Aliás, prossegue Kardec,
tudo na criação era miraculoso e, desde que se envereda pela senda dos milagres, pode-se perfeitamente crer que a
Terra foi feita em seis vezes 24 horas, sobretudo quando se ignoram as primeiras leis naturais.Todos o povos civilizados partilharam dessa crença, até ao momento em que a Geologia surgia a lhe demonstrar a impossibilidade.




QUESTÕES PARA ESTUDO

a) Qual a posição de Kardec diante do entendimento de que os seis dias da criação correspondem aos seis períodos
geológicos da formação da Terra, definidos pela Ciência?

b) Podemos considerar que o quadro comparativo apresentado por Kardec confirma ou desmente a suposta analogia
entre a narrativa bíblica e os conhecimentos trazidos pela Ciência?

c) Qual a posição adotada pelo Codificador quanto à intenção de Moisés ao se referir aos "seis dias"?

d) Sabendo-se, hoje, da impossibilidade da criação ter sido concluída em seis dias, como o Espiritismo deve encarar
a narrativa moisaica?


Conclusão

C O N C L U S Ã O

Há, sem dúvida, concordância entre alguns pontos da gênese mosaica e a ciência. Não basta, porém, que se substitua os seis dias de 24 horas da criação por seis períodos indeterminados, para se tornar completa a analogia. O número de seis períodos geológicos é inteiramente arbitrário, adotado para aproximar-se o mais possível ao texto bíblico. Segundo Kardec, àquela época, tudo na criação era miraculoso e, desde que se envereda pela senda dos milagres, pode-se perfeitamente crer que a Terra foi feita em seis vezes 24 horas, sobretudo quando se ignoram leis naturais. Todos o povos civilizados partilharam dessa crença, até o momento em que a Geologia surgiu, demonstrando sua impossibilidade.
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

a) Qual a posição de Kardec diante do entendimento de que os seis dias da criação correspondem aos seis
períodos geológicos da formação da Terra, definidos pela Ciência?

R - Kardec explica que o número de seis períodos geológicos é inteiramente arbitrário, pois os períodos de formação da Terra, considerados bem caracterizados pela ciência, são de mais de vinte e cinco. Assim, entende o Codificador que os fatos narrados como acontecidos nos seis dias bíblicos não correspondem fielmente aos seis períodos mais tarde adotados pela ciência. Conforme o quadro comparativo que elaborou, há mais divergências do que concordâncias entre as duas visões do mesmo assunto, a de Moisés e a da ciência.


b) Podemos considerar que o quadro comparativo apresentado por Kardec confirma ou desmente a suposta analogia entre a narrativa bíblica e os conhecimentos trazidos pela Ciência?

R - O quadro comparativo elaborado por Kardec demonstra que há poucos pontos concordantes entre os seis dias descritos na
gênese mosaica e os seis períodos de formação da Terra, adotados pela ciência para tornar compatíveis as duas versões acerca da criação do mundo e das coisas. As concordâncias se restringem, segundo Kardec, à sucessão do aparecimento dos seres orgânicos, praticamente a mesma e o fato do homem ter aparecido por último. Há concordância, ainda, destaca Kardec, se não na mesma ordem, mas quanto ao fato de, segundo a gênese mosaica, "as águas que estão no céu se reuniram num só lugar e apareceu o elemento árido", expressando o que ocorreu no período terciário, com as elevações da crosta sólida pondo a descoberto os continentes e repelindo as águas, que formaram os mares.

c) Como Kardec interpreta a intenção de Moisés ao se referir aos "seis dias"?

R - Para Kardec, a hipótese mais provável é que, ao mencionar que a criação foi feita em seis dias, Moisés quis mesmo referir-se a seis períodos de vinte e quatro horas e não aos períodos geológicos admitidos pela ciência, tendo em vista que o autor da gênese bíblica faz referência à manhã e à tarde, caracterizando o período de um dia. No texto original, em hebraico, a palavra utilizada é "iôm", que traduzida por "dia". Além disso, àquela época, sequer eram conhecidos os períodos geológicos mais tarde definidos pela ciência, não podendo Moisés a eles se referir, por desconhecê-los. Tratava-se de uma crença comum a todos os povos, que consideravam miraculosa toda a obra da criação. Somente mais tarde a Geologia veio demonstrar a impossibilidade dos fatos terem acontecidos como narrados por Moisés, num período de seis dias.


d) Sabendo-se, hoje, da impossibilidade da criação ter sido concluída em seis dias, como o Espiritismo deve
encarar a narrativa mosaica?

R - O processo da criação conforme narrado por Moisés foi escrito numa época em que tudo, na criação, era considerado miraculoso. Sob esta ótica, pode-se perfeitamente, como explica Kardec, crer que a Terra tenha sido realmente feita em seis dias de vinte e quatro horas. Àquela época, a leis naturais ainda eram quase que totalmente ignoradas. Todos os povos civilizados aceitaram essa crença até que a Geologia surgiu para demonstra sua impossibilidade.

Há, sem dúvida, concordância entre alguns pontos da gênese mosaica e a ciência. Não basta, porém, que se substitua os seis dias de 24 horas da criação por seis períodos indeterminados, para se tornar completa a analogia. O número de seis períodos geológicos é inteiramente arbitrário, adotado para aproximar-se o mais possível ao texto bíblico. Segundo Kardec, àquela época, tudo na criação era miraculoso e, desde que se envereda pela senda dos milagres, pode-se perfeitamente crer que a Terra foi feita em seis vezes 24 horas, sobretudo quando se ignoram leis naturais. Todos o povos civilizados partilharam dessa crença, até o momento em que a Geologia surgiu, demonstrando sua impossibilidade.