A Gênese
076 – Reencarnações (itens 33 e 34)
1.- O princípio da reencarnação é uma conseqüência necessária da lei de progresso. Sem a reencarnação, não há como
se explicar a diferença entre o presente estado social e o dos tempos de barbárie. Se as almas são criadas ao mesmo
tempo que os corpos, as que nascem hoje são tão novas quanto as que viviam há mil anos e nenhuma conexão haveria
entre elas.
2.- Por que, então, as de hoje haviam de ser melhor dotadas por Deus, do que as que as precederam? Por que têm
melhor compreensão? Por que possuem instintos mais apurados, costumes mais brandos? Por que têm a intuição de
certas coisas, sem as haverem aprendido? A menos se admita que Deus cria almas de diversas qualidades, de acordo
com os tempos e lugares, o que contrariaria a a idéia de uma justiça soberana, não há explicação sem que se considere
a reencarnação dos espíritos.
3.- Admitindo-se, ao contrário, que as almas de agora já viveram em tempos distantes e que, possivelmente, foram
bárbaras, mas progrediram; que, a cada nova existência, trazem o que adquiriram nas existências precedentes; que, por conseguinte, as dos tempos civilizados não são almas criadas mais perfeitas, porém que se aperfeiçoaram por si
mesmas com o tempo, teremos a única explicação plausível da causa do progresso social.
4.- Pensam alguns que as diferentes existências da alma se efetuam, passando elas de mundo em mundo e não num
mesmo orbe, onde cada espírito viria uma única vez. Seria admissível esta doutrina, se todos os habitantes da Terra
estivessem no mesmo nível intelectual e moral. Eles então só poderiam progredir indo de um mundo a outro e nenhuma
utilidade lhes adviria da encarnação na Terra. Desde que aí se notam a inteligência e a moralidade em todos os graus,
desde a selvajaria que beira o animal até a mais adiantada civilização, é evidente que esse mundo constituí um vasto
campo de progresso.
5.- Não fosse assim, Deus houvera feito coisa inútil, colocando lado a lado a ignorância e o saber, a barbaria e a
civilização, o bem e o mal, quando precisamente esse contato é que faz com que os retardatários avancem. Não há,
pois, necessidade de que os homens mudem de inundo a cada etapa de aperfeiçoamento. Longe de ser isso vantagem
para o progresso, ser-lhe-ia um entrave, porquanto o Espírito ficaria privado do exemplo que lhe oferece a observação do
que ocorre nos graus mais elevados e da possibilidade de reparar seus erros no mesmo meio e em presença daqueles
a quem ofendeu, possibilidade que é, para ele, o mais poderoso modo de realizar o seu progresso moral. Após curta
coabitação, dispersando-se os Espíritos e tornando-se estranhos uns aos outros, romper-se-iam os laços de família, à
falta de tempo para se consolidarem.
6.- O Espírito, portanto, tem que permanecer no mesmo mundo, até que haja adquirido a soma de conhecimentos e o
grau de perfeição que esse mundo comporta. Se alguns há que antecipadamente deixam o mundo em que vinham
encarnando, é isso devido a causas individuais que Deus pesa em sua sabedoria.
7.- Se a Terra se destinasse a ser uma única etapa do progresso para cada indivíduo, que utilidade haveria, para os
espíritos das crianças que morrem em tenra idade, vir passar aí alguns anos, alguns meses, algumas horas, durante
os quais nada podem haurir dele? O mesmo ocorre se pondere com referência aos idiotas e aos cretinos. Para o
progresso daqueles que cumprem na Terra uma missão normal, há vantagem real em volverem ao mesmo meio para aí continuarem o que deixaram inacabado, muitas vezes na mesma família ou em contato com as mesmas pessoas, a
fim de repararem o mal que tenham feito ou de sofrerem a pena de talião.
QUESTÕES PARA ESTUDO
a) Como o princípio da reencarnação ajuda a entender as diferenças entre os homens primitivos e a civilização atual?
b) Quais os inconvenientes de ordem moral, apontados por Kardec, para refutar a teoria segundo a qual o espírito deveria mudar de mundo a cada nova encarnação?
c) E de ordem material?
d) Por que a teoria de que a Terra é a única etapa do progresso do espírito contraria a sabedoria e a justiça divinas?
e) Quais os motivos das encarnações do espírito se cumprirem, geralmente, no mesmo mundo?
Conclusão
C O N C L U S Ã O
O princípio da reencarnação é uma conseqüência necessária da lei de progresso. Sem a reencarnação, não há como se explicar a diferença entre o presente estado social e o dos tempos de barbárie. Somente as reencarnações sucessivas podem explicar, também, as diferenças morais e intelectuais entre as criaturas, as mortes prematuras e as existências em corpos físicos portadores de idiotias, que não teriam nenhum proveito se a lei fosse da unicidade das experiências terrenas.
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
a) Como o princípio da reencarnação ajuda a entender as diferenças entre os homens primitivos e a civilização atual?
R - O fenômeno da reencarnação é chave para o entendimento das diferenças entre os primeiros habitantes da Terra e os que constituem a civilização atual. Aliás, não só para se entender essa diferença. Todas as diferenças encontradas entre os homens, quer de natureza espiritual, quer de natureza física, somente à luz da reencarnação podem ser compreendidas. Se os espíritos fossem criados no instante da concepção do corpo físico, teríamos de admitir que Deus criou com diferenças os primeiros espíritos e os atuais, privilegiando estes últimos, melhores dotados. Seríamos forçados a acreditar que o Criador dotou os mais novos de melhor compreensão, instintos mais apurados, costumes mais brandos, intuição de certas coisas. De tudo isso teria privado as almas mais antigas. Ou seja, não teria sido justo.
Se, entretanto, compreendermos a realidade do processo reencarnatório, entenderemos, com facilidade, que as almas de
hoje são mais bem dotadas de qualidades porque evoluíram. São aqueles mesmos espíritos que ontem eram seres primitivos, brutalizados, que, a cada existência física, adquiriram novas qualidades, levando-as para as existências futuras, pois as conquistas espirituais não são perdidas. Os espíritos dos tempos civilizados não foram criados mais perfeitos: são os mesmos de tempos passados que se aperfeiçoaram.
b) Quais os inconvenientes de ordem moral, apontados por Kardec, para refutar a teoria segundo a qual o espírito deveria mudar de mundo a cada nova encarnação?
R - Somente se justificaria a mudança de mundo a cada nova encarnação do espírito se todos os habitantes da Terra se encontrassem num mesmo nível intelectual e moral. Eles, então, somente poderiam progredir indo de um mundo a outro e nenhuma utilidade lhes teria a encarnação na Terra. Desde que os espíritos se encontram em diferentes graus de evolução
moral e intelectual, é evidente que este mundo possibilita um vasto campo de progresso. Se, a cada nova etapa de aperfeiçoamento no mundo corporal, o espírito houvesse mudar de mundo, ficaria ele privado do exemplo que lhe oferece os espíritos que já atingiram graus mais elevados. Os verdadeiros vínculos afetivos que mantêm com seus afins se desfariam, pois, dispersando-se, tornar-se-iam os espíritos estranhos uns aos outros, com o rompimento dos laços de família, devido à falta de tempo para se consolidarem. Por outro lado, o espírito não poderia reparar seus erros no mesmo meio e em presença daqueles a quem ofendeu, o que é indispensável para realizar o seu progresso moral.
c) E de ordem material?
R - Além destes inconvenientes de natureza moral, haveria, ainda, inconvenientes de ordem material. A natureza dos elementos dos diversos mundos, as leis orgânicas que os regem e as condições de existência variam de mundo para mundo. Em conseqüência, o aprendizado que o espírito adquirisse no campo das ciências, como a Física, a Química, a Botânica, dentre outras, de nada lhe serviria no outro mundo. A cada imigração o espírito encontraria condições adversas, nas quais não poderia aplicar seus conhecimentos, que restariam perdidos.
d) Por que a teoria de que a Terra é a única etapa do progresso do espírito contraria a sabedoria e a justiça divinas?
R - Se a Terra se destinasse a ser uma única etapa do progresso do espírito, nenhuma utilidade haveria para aqueles que desencarnam em tenra idade, ainda crianças, pois nada poderiam haurir em apenas alguns anos, meses ou mesmo horas. O mesmo ocorre com os que se vêm obrigados a habitarem corpos com idiotia ou outra enfermidade do gênero. Seria uma existência inútil, o que contrariaria os atributos da Divindade.
e) Quais os motivos das encarnações do espírito se cumprirem, geralmente, no mesmo mundo?
R - As encarnações se cumprem, geralmente, num mesmo mundo a fim de possibilitar ao espírito dar continuidade ao que deixou inacabado na existência corporal anterior. Muitas vezes, dá-se na mesma família ou em contacto com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que tenham feito ou de sofrer a pena de talião, explica Kardec. Desse modo, o espírito deve permanecer no mesmo mundo, até que haja adquirido a soma de conhecimentos e o grau de perfeição que esse mundo comporta. "Se alguns há que antecipadamente deixam o mundo em que vinham encarnando, é isso devido a causas individuais que Deus pesa em sua sabedoria", conclui o Codificador.