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073b – A Criança, o Jovem e o Esporte - textos

ESPÍRITO ESPORTIVO


É PRECISO PERCEBER QUE O ESPORTE TAMBÉM PODE LEVAR A PALAVRA EDIFICANTE DO ESPIRITISMO, ATRAVÉS DO BOM EXEMPLO DE SEUS ATLETAS DE DESTAQUE

Por Rogério Magalhães
Publicado originalmente na Revista Cristã de Espiritismo nº 14

Um dos slogans mais conhecidos que definem a prática esportiva é aquele que diz: "Esporte é vida, esporte é saúde. Pratique esporte". E esta realmente é uma verdade inquestionável, uma vez que se trata de uma atividade que, feita de forma adequada, só traz benefícios para o corpo e a mente do ser humano.
Não se questiona também o poder educativo que o esporte traz em seu contexto. Ao praticarmos qualquer modalidade esportiva, mais importante do que a vitória são os ensinamentos de companheirismo, de respeito e de solidariedade que podemos aferir. É uma boa maneira de incutir, sobretudo na cabeça de nossas crianças, que somente com o entrosamento com outros seres e o respeito às regras é que os objetivos serão plenamente alcançados.
Além do poder educativo, o esporte possui também uma grande carga social. Através dele, temos a possibilidade de unir povos, de juntar os desiguais, de dar rumo e sentido para a vida de muitas crianças e jovens que estão sem saber que caminho trilhar. São inúmeras entidades de assistência social, além de trabalhos desenvolvidos por prefeituras e governos estaduais, que usam a força do esporte para formar cidadãos, para tirar nossas crianças e jovens da marginalidade, do álcool e das drogas.
Ou seja, existe no esporte uma grande possibilidade de prestarmos, aqui na Terra, nossos deveres primordiais como espíritas, como seguidores desta doutrina consoladora e edificadora: a caridade e a busca da paz. Quantas vidas podem ser salvas com o esporte? Quantas crianças podem ser salvas das drogas, dos descaminhos, através de trabalhos exemplares pelo esporte? Quantas guerras podem ser evitadas e quantas vezes vemos a paz aflorar em tantos lugares através da prática esportiva?
Existem muitos exemplos de como o esporte pode superar fortes rancores. Na Copa do Mundo da França, em 1998, foi um marco de união e paz o jogo entre Estados Unidos e Irã, dois países notoriamente inimigos, mas que, naqueles 90 minutos de bola rolando, deixaram de lado suas diferenças em nome da paz e do espírito esportivo. Outro grande exemplo foi o famoso Santos de Pelé, Coutinho, Pepe e companhia, que chegou até a parar uma guerra na África para que todos pudessem se encantar com a magia do futebol.
Entretanto, não se percebe no movimento espírita qualquer menção neste sentido. Não se vê que o esporte, a exemplo da música, da literatura e do teatro, pode ser também uma fonte de ensinamento das virtudes cristãs. Talvez porque ainda se veja o esporte apenas por seu aspecto competitivo, sem perceber que ele dignifica e enobrece o homem, que aflora no competidor sério e bem orientado o respeito e o amor ao próximo.

A IMPORTÂNCIA DOS ÍDOLOS
Como sabemos, o esporte existe desde os tempos mais remotos no seio da humanidade. Sabe-se que o futebol, por exemplo, já era praticado de forma rudimentar há milhares de séculos antes de Cristo na China. Sem contar as grandes competições realizadas na Grécia, que muitos séculos depois vieram a inspirar a criação dos atuais jogos olímpicos.
Até há alguns anos, o esporte ainda tinha muito do espírito dessas épocas remotas, ou seja, aquele espírito amador, não no sentido pejorativo, de falta de experiência, mas no sentido de que era o amor e o prazer pela prática esportiva, pela competição pura e simples, que movia os esportistas. Como dizia o barão Pierre de Coubertain, criador dos jogos olímpicos que conhecemos atualmente, "o importante é competir".
Questionado sobre quem deveria ser o modelo, o exemplo que todo espírita deveria ter em mente para saber como conduzir sua vida e seus atos, Allan Kardec disse que tal figura era Jesus Cristo. Trazendo para o âmbito esportivo, quem deve ser esse exemplo, aquele que, através de suas virtudes, mostre às gerações seguintes como agir? Esse papel cabe aos ídolos.
Assim como um filho deve se espelhar nos exemplos de seus pais, o esportista em formação terá no ídolo, no craque, no expert da modalidade esportiva o modelo a ser seguido. Disto decorre também que, da mesma maneira que os pais devem tomar todo o cuidado para não ensinarem coisas erradas a seus filhos, os esportistas de destaque devem ter toda uma preocupação com suas vidas, lembrando que milhares de crianças e jovens vão seguir seus ensinamentos dentro e fora da prática esportiva.
No livro Um Roqueiro no Além, do médium e escritor Nelson Moraes, há uma passagem que retrata bem como funciona, no plano espiritual, essa "missão" confiada aos atletas que serão ídolos. Em uma aula para espíritos recém-resgatados de vales de sofrimentos, o espírito Helena, ao falar sobre o não aproveitamento da experiência terrena por parte destes espíritos, perguntava: "Onde estão os esportistas que figurariam nas manchetes da imprensa com exemplos dignificantes? Que fizeram dos recursos de comunicação que Deus colocou em vossas mãos"?
É isso! Em sua magnanimidade e sabedoria ilimitada, Deus oferece a estes espíritos a chance de usar uma atividade sadia para trazer bons exemplos, mostrar virtudes, enfim, educar os espíritos encarnados. Usar de sua habilidade, do dom que lhe foi concedido, para trabalhar pelo bem da humanidade, pelo bem de seu semelhante.
Desta forma, é salutar ver atletas como o tenista Gustavo Kuerten mostrando não só talento nas quadras do mundo, mas também dando exemplo de solidariedade, de amor, de abnegação pelo trabalho. Usar de seu prestígio para levar uma mensagem de vida e esperança para tantos jovens como ele, incentivar tantas crianças a seguirem seu caminho. Mesmo ganhando muito dinheiro, Guga não se deixa levar pelas aparências e pela vida do sucesso. Dá um exemplo de que é possível ser uma pessoa bem sucedida na vida e ter amor pelo próximo, de que a família é importantíssima para o bem-estar do ser humano, de que não se pode abandonar aqueles que enfrentam dificuldades, como faz com seu irmão deficiente e outras crianças que enfrentam o mesmo problema, atendidos por uma entidade criada por ele para esse fim.

AS DROGAS NO ESPORTE
Felizmente, muitos atletas possuem essa consciência da importância de sua atividade no esporte como forma de exemplificar boas atitudes para o público em geral. Porém, é claro que existe também uma grande parcela de esportistas que se deixam levar, que não entendem o esporte como cultura e educação. Da mesma maneira que os criminosos, são espíritos que precisam de uma melhor orientação, que talvez não tiveram, em sua infância ou mesmo por toda a sua vida, o contato com ensinamentos edificantes.
O esporte tem sido tratado cada vez mais como um negócio, uma forma de se ganhar muito e muito dinheiro. Assim, os princípios da competição sadia e do respeito pelo adversário são gradativamente colocados de lado em nome de uma luta desigual, que visa apenas a vitória. Por não terem recebido uma formação moral digna, muitos atletas esquecem sua missão e se entregam aos caprichos da fama e do dinheiro.
Desta forma, abre-se espaço para os chamados "bad boys", atletas que não estão nem aí para seus companheiros de profissão. Só pensam nos contratos milionários, nas mulheres, nas festas. Isso sem contar o pior dos exemplos que os atletas antenados com essa nova ordem econômico-esportiva passam: o uso de drogas ou, no jargão esportivo, o doping.
O doping nada mais é do que a utilização de substâncias para melhorar o desempenho esportivo, como desenvolver a musculatura, dar maior agilidade, maior capacidade de respiração e outros tipos de pretensas vantagens. Sim, pretensas vantagens, pois ao mesmo tempo que ganham possibilidades de superar os atletas normais, os "dopados" perdem sobretudo no que se refere à sua saúde. Quantos esportistas que fazem uso de doping acabam desencarnando por complicações de saúde? Tudo tem seu preço. Esses atletas acabam vítimas de uma versão terrena da Lei de Causa e Efeito, isso sem contar o sofrimento posterior, no plano espiritual.

HORA DE BUSCAR A FRATERNIDADE ESPORTIVA
Toda essa problemática e esses maus exemplos que o esporte dito "de competição" acarretam não só para os atletas que a ela se entregam de forma impensada e não refletida, mas também para milhares de pessoas que se inspiram nestes ídolos desviados de sua função de educadores, refletem-se infelizmente nas cenas de violência que vemos associados às competições esportivas.
Não bastassem as várias deficiências de formação familiar e até mesmo por parte da sociedade, as crianças e jovens já crescem com os exemplos negativos de brigas e confusões. Ver seus ídolos aparecerem em manchetes de jornais como autores de acidentes, de brigas, vê-los se agredirem, muitas vezes covardemente, nos campos e quadras do mundo, faz com que a vontade de liberar a violência contra o irmão que está de lado oposto aflore incontrolavelmente. A competição exacerbada faz com que o torcedor não aceite a derrota, não aceite a diferença e queira igualar tudo na base da pancada.
Cadê a fraternidade, o amor ao próximo? Com certeza, muito longe dessas pessoas. Pior ainda: não se vê na mídia o bom exemplo, só se mostra o jogador que agride o outro, dá-se destaque desmesurado para a briga entre torcidas.
É necessário que o Espiritismo abra os olhos para o esporte. É necessário que a doutrina espírita passe a trabalhar junto com entidades que atendem crianças e jovens por meio do esporte, levando até eles o amor pregado por Jesus, a palavra de consolo e de elevação do Espiritismo, através de métodos como o Evangelho no Lar.
É preciso que a doutrina espírita não vire as costas para o esporte. A prática esportiva pode ser uma grande aliada para que a Boa Nova possa conquistar cada vez mais adeptos e para que a paz brote primeiro nas praças esportivas e, depois, conquiste o mundo. Se Deus ofereceu para muitos espíritos o dom de ser um craque esportivo, de trabalhar com esporte ou mesmo a possibilidade do surgimento dessa prática tão saudável, que encampemos então essa bandeira, para ajudar o homem em sua evolução espiritual. Vamos entrar nesse jogo?

(enviado pela Lu)

Conclusão