Educar

037c – Tema: Relacionamento Familiar - conversa sobre com textos

Amigos,
Com a eclosão do caso Suzane...ficou uma súbita impressão de que muitas vezes os inimigos estão dentro de casa...
Muito desta situação se deve a forma de educação ou falta dela nos primeiros anos de vida, quando deveríamos coibir com disciplina amorosa as maus tendências ou imperfeições trazidos pelo espirito.
Trazendo o caso para nossa vida diária, para os nossos filhos, sobrinhos ou filhos de nossos vizinhos...paremos pra pensar nas crianças que conhecemos, visualizaram estas crianças ?ótimo... , então, nos questionemos : Que tipo de atitudes temos diante de uma criança visívelmente deseducada, agressiva ou muito agitada ? conversamos com a mãe ou o pai sobre a necessidade de acompanhar melhor as atitudes de seu filho, ou nos omitimos, adotando uma postura de indiferença, já que se trata de filhos alheios? fica a pergunta pra nossa reflexão e amanha a gente continua o bate -papo, sempre procurando focar no dia de hoje, como estamos contribuindo na formação moral de crianças que estão próximas de nós.
Assumimos uma postura partipativa na sua formação ou somos indiferentes, por mil motivos , entre eles ,a nossa eterna falta de tempo?
Amanha a gente volta a conversar sobre o assunto ok !
Eulaide
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Sobre o tema do assassinato dos Pais, recebi um texto que achei, que responde aos nossos questionamentos.
Achei ótimo. É um pouco longo, mas vale a pena ler.

Muita Paz,

Marinalda

Amor à moda antiga
por Cybele Russi de Carvalho

Definitivamente, sou uma mulher à moda antiga. E pior ainda, só sei amar à moda antiga. Hoje, mais do que nunca, acabo de me certificar disso. Refletindo sobre a barbaridade do crime de Suzane Richthofen, a estudante de 19 anos que planejou a morte dos pais com a ajuda do namorado, cheguei à conclusão acima. O caso de Suzane, na verdade, foi só um motivo a mais para refletir sobre toda a violência e desestruturação que vive nossa sociedade ocidental hoje. (Prefiro me restringir à sociedade ocidental porque pouco sei sobre a oriental.) O crime, de repente, chacoalhou as pessoas, de novo. Todo mundo está abalado e horrorizado. E, mais que isso, apavorado com a idéia de que isso possa acontecer dentro de sua própria casa. "Afinal, se aconteceu numa família igualzinha à minha, por que não
poderia acontecer na minha?"
Pois é, foi aí que meus neurônios inquietos começaram a se agitar, e a fazer perguntas e a estabelecer relações sem fim. Obviamente, não vou relatar aqui toda a malha de relações, e perguntas e idéias que me acometeram durante dois dias seguidos, porque isto viraria um manual de psicanálise de dez tomos de 1500 páginas cada um. Mas, a conclusão a que cheguei depois de tanto fritar meus miolos foi a seguinte: não, na minha família não aconteceria. E agora eu sei por que não aconteceria. Porque a
minha família, a despeito de todos os problemas e dificuldades que possa ter tido, foi uma família. Foi uma família que teve pai e mãe., e que, mesmo não atendendo aos padrões vigentes (não existe um modelo exemplar de família), cada um sabia exatamente qual era o seu papel e sua função ali. E esta, na minha humilde opinião de leiga, talvez seja a chave do sucesso das famílias "que dão certo".
Não existe a família certa, assim como não existem as pessoas certas. O que existe são pessoas claras, firmes, decididas e coerentes com seus principíos e com seus valores. Não importa muito se o casal vive junto, se é separado, se se ama apaixonadamente, ou se vive aos trancos e barrancos. Na verdade, os filhos parecem pouco se importar com o tipo de relação que existe entre os pais. (A importância das brigas dos pais para o resto de nossas vidas é tão irrelevante, que raramente nos lembramos disso depois
de adultos.) Mas, o que lhes importa diretamente e vai definir seu caráter para o resto da vida é a clareza e coerência dos pais, não importando se estes vivem juntos ou separados pelo oceano.. É a clara definição dos papéis e a delimitação dos limites que forma o caráter dos filhos. Estou certa disso. Pai é pai. Mãe é mãe. Filho é filho. Sim é sim. Não é não.
Pode, pode. Não pode, não pode. E estamos conversados. Não importa nem mesmo quem vai assumir o papel de pai ou de mãe, mas que alguém o faça de forma clara!
Foi assim na época dos nossos tataravós, dos nossos trisavós, dos nossos bisavós, dos nossos avós, dos nossos pais, e de nós mesmos. Mas, infelizmente, não é assim na época dos nossos filhos. E o que se vê hoje é isto que está aí: uma sociedade totalmente perdida, sem referenciais, sem saber para que lado correr. Os problemas intra-familiares sempre existiram. O Mundo é o mesmo, desde sempre. Violência sempre existiu. Doenças sempre existiram. Fome sempre existiu, e antigamente muito mais do
que hoje.
Dificuldades, falta de dinheiro, falta de emprego, falta de perspectiva, perdas, dores, sofrimentos, famílias desamparadas, sem-teto, sem-terra, sem-roupa, sem-remédio, sem-escola, sem-estudo, sem-educação, sem-dinheiro, sem-nada, não são invenções do Lula, nem do Fernando Henrique , nem do FMI, nem do neoliberalismo. Isto tudo sempre existiu desde que o homem está na terra. A diferença é que no passado havia uma coisa chamada LIMITE, que não existe mais hoje.
No passado, o pai podia ser um cafajeste muito do safado, mas sua palavra era lei. A mãe, podia ser a pior madrasta do mundo, mas ninguém ousava desrespeitá-la. E o filho sabia exatamente a hora de botar o rabinho entre as pernas e se retirar para o seu quarto. E quem ousasse discordar das regras vigentes era convidado a arrumar sua trouxinha de roupas e se retirar, sob o aviso de que "a porta da rua era serventia da casa."
Infelizmente, com a "evolução"(?!) da nossa sociedade, houve uma inversão total dos papéis. São os filhos que mandam na casa, que ditam as normas, que estabelecem as leis, os horários, que negociam as notas do colégio, que chantagiam, que subornam, que compram indulgências. São eles que determinam se a família vai tirar férias, ou não. E se eles entrarem em qualquer faculdade mixucura de beira de estrada, os pais têm que dar graças a deus, afinal, eles já fizeram muito!
A culpa de tudo isso não é do casamento que fracassou, nem do pai, que perdeu o emprego, nem da mulher, que foi trabalhar fora e procurar sua emancipação social. A culpa é do pai e da mãe que perderam o bom-senso, que não são capazes mais de dizer SIM; que não sabem, menos ainda, dizer NÃO; que não sabem que, para bem educar uma criança não é preciso recorrer
a nenhum manual de psicologia ou de pediatria. Basta saber distinguir SIM de NÃO e ser coerente com seus princípios e valores, independentemente do que acontece na televisão ou da opinião do vizinho.
Por excesso de zelo, de medo de errar, os pais vivem coagidos pelos filhos. Por excesso de cuidados, não sabem mais como agir, são incapazes de assumir a autoridade e, principalmente, a autenticidade de seus sentimentos. Ninguém mais ousa expressar sua raiva, sua indignação, seu descontentamento. Para tudo se tem uma justificativa fajuta. Os filhos sempre são inocentes, nós é que erramos em alguma coisa, ou em algum momento.
Erramos, sim. E muito! Erramos em não saber gritar de vez em quando e mostrar quem é que manda nesta casa. E erramos infinitamente mais em confiar mais nos manuais do que no nosso próprio amor. Quem acredita na força do seu amor não tem conflito educacional nem existencial, deixa que os cães ladrem e a caravana passe. O que não dá, e não dá mesmo, é para inverter os papéis, e deixar que a criança seja o Senhor do Castelo.
Quando a criança tem claro para si os papéis e os limites de cada um, ela sabe exatamente até onde pode ir e onde deve parar.
Arriscar e buscar o novo, não só é bom, como é essencial para o crescimento saudável da criança e para o desenvolvimento da maturidade e da autonomia do adolescente. Entretanto, só pode levantar altos vôos a ave que sabe os riscos que corre ao sair do solo. E para isso, ela foi treinada durante a vida toda, reconhecendo seus próprios limites.
Quem não tem consciência dos próprios limites, se atira no primeiro precipício da vida. E é a esse filme que todos nós estamos assistindo de camarote, de braços cruzados, sem saber o que fazer. Jovens e crianças se atirando de precipícios, porque não têm limites. E o limite é o corrimão da vida, é onde a gente se segura para não cair.
Voltando à velha tecla da comparação com o passado, precipícios sempre existiram, eles não foram inventados pela sociedade contemporânea, muito menos a curiosidade e o desejo. Quem disse que minha bisavó não tinha desejo pelo meu bisavô antes de se casar? Ela tinha sim, e muito. E a sua também tinha! Acontece que no tempo das nossas tataravós não existia a
pílula, nem a camisinha, e o aborto era uma prática altamente perigosa e impensável. A gravidez fora do casamento era uma enorme vergonha para a família e motivo de expulsão do meio social. A menina já crescia sabendo de tudo isso. Então, as nossas bisavós, que eram tão bonitas, atraentes, sedutoras e fogosas como nossas filhas o são (elas também já foram jovens um dia!),tomavam o maior cuidado para não ultrapassar os limites, porque sabiam que aquilo poderia ser um caminho sem volta. Elas tinham muito
claro para si qual era o limite. Hoje, eu sei de inúmeras mães que acompanham as próprias filhas em clínicas de aborto. (Não que eu seja
contra ou favor do aborto, não é essa a discussão.) A discussão é que a menina sabe que não vai acontecer rigorosamente nada com ela se engravidar aos quinze anos. E é por isso que a gente tem visto essa quantidade absurda de mães-crianças, que, além de engravidarem por que não tiveram seus limites delimitados, não têm a mínima condição psíquica, emocional, financeira, cultural e social de assumir essa maternidade precoce. Por que na nossa geração, a dos anos 60, nós não engravidámos antes de casar, apesar de toda a pregação existente na época do Amor-Livre? Porque se a gente engravidasse já sabia que ia ter de "puxar o carro" de casa; que o
nosso papaizinho não iria assumir a educação do netinho, como acontece hoje. A isto, por mais chocante que possa parecer, se dá o nome de LIMITE.
Nós conhecíamos os limites e as regras da casa. E a gente tinha que dançar conforme a música, se não, já sabe, "a porta da rua é serventia da casa".
Voltando ao caso da nossa protagonista, a Srta. Suzane Von Richthofen, que matou os pais e foi transar no motel em seguida. Por que ela agiu assim, em vez de se mandar da casa dos pais com o namorado, já que ela o "amava" tanto? Naturalmente, porque foi educada acreditando que podia fazer tudo o que bem quisesse, que nunca seria punida. Quem ousaria punir uma bonequinha loira, tão lindinha? Naturalmente, ela é fruto da famosa educação "liberal", em que tudo pode ser discutido e negociado, menos os
direitos dela, de namorar e sair para transar com quem quiser, desde que com o dinheiro dos pais, bem entendido, porque em nenhum momento foi dito que ela trabalhava e se auto-sustentava. Não, não adianta a gente querer
culpar a sociedade. A culpa foi dos pais, sim. Quando o pai resolveu dizer NÃO e pôr um basta na situação, já era tarde demais, a cobra já estava criada.
É duro ter de admitir, mas a sociedade não é responsável pelos crimes de nossos filhos. Nós somos os únicos responsáveis. Não adianta a gente querer agora ficar procurando os bodes expiatórios. Responsáveis somos todos nós, que um dia parimos e demos à luz uma criança. Ela é nossa responsabilidade para sempre, ad eternum, e não adianta a gente querer fugir disso. Como diria a minha velha e sábia avó, "Quem pariu Mateus, que o embale!" Sabias palavras. Traduzidas em miúdos: quem gerou que crie!
Infelizmente, esta é a dura realidade da nossa sociedade contemporânea.
Infelizmente, quem tem causado todo o estrago social a que hoje assistimos são os próprios pais, que não querem, literalmente, embalar seus filhos, e os jogam para que a escola, o berçário, a creche , o psicólogo, a psicopedagoga, o professor particular, alguém-pelo-amor-de-deus dê um jeito neles.
Ter filhos é duro. Cansa tanto! Cansa tanto ter de ficar ensinando, dizendo, repetindo, dizendo o dia todo sim, não, não, sim, não, não, sim, sim, pode, não pode. É um desgaste! É um desgaste mesmo. Mas só quem tem uma paciência de Jó deve ter filhos. Quem não tem, não deveria se atrever.

Eu estou aqui, pensando na família Richthofen, e algo me diz que, se o Sr. Manfred Alfred von Richthofen tivesse dito a sua filha Suzane "olha lindinha, já que você gosta tanto do seu namorado, pega a suas coisas, cai fora daqui e vai viver sua vida com ele, mas deixa a chave do carro e o talão de cheques em cima da mesa, porque a partir de agora, é tudo por sua conta", eles hoje estariam almoçando todos juntos, tomando um belo vinho, rindo daquele namorado tão bobo, de quem ela nem gostava tanto assim. Mas
agora é tarde, ele não soube deixar Suzane de castigo no quarto na hora certa, agora, ela vai ter que ficar de castigo por muito mais tempo.

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Minhas caras e meus caros!
Ao longo de 40 anos de exercício de advocacia criminal, trinta e cinco dos quais já como espírita, tive oportunidade de tomar conhecimento e de participar, como advogado, de mais de uma centena de casos semelhantes. Lamentavelmente, trata-se de um tipo de conduta criminosa mais comum do que se imagina. Ocorre em todas as camadas sociais, mas, quando se verifica nas classes mais elevadas da sociedade, a repercussão é maior e serve de alimento para o sensacionalismo barato dos nossos medíocres meios de comunicação, onde impera a mais absoluta falta de caridade em relação ao comportamento do próximo.Não estou defendendo as ações criminosas dos participantes do triste da família von Richthofen. Todavia, existe uma série de fatores que devem ser analisados antes de nós nos arvorarmos em severos juízes do comportamento alheio. Problemas de educação? É inegável que houve. Mas a questão se resolve neste simplismo e nos permite imputar aos pais toda a responsabilidade pelo ocorrido? Onde entra o sempre angustiante problema do livre-arbítrio, tão bem definido pelo Cristo na máxima de que a cada um será dado de acordo com suas obras?
A herança do passado, próximo ou remoto, que só a reencarnação explica, não conta? As atuações do plano espiritual inferior não têm a menor significação para nós, espiritas, diante de um fato aparentemente tão estranho e inusitado? Seria interessante uma reeleitura ( ou leitura ) das obras de André Luiz( Libertação, por exemplo ) ou de uma de Manoel Philomeno de Miranda ( Nos Bastidores da Obsessão ), para entendermos que todos somos, uns mais outros menos, as Suzanes de tempos passados e que o nosso passado criminoso não nos autoriza julgamentos cruéis e impiedosos.
O caipira da minha terra costuma dizer assim: è aonde que eu falo. Pois é. è aonde que eu falo: O caso Suzane bem que poderia fazer com que os Espiritas deixem a cômoda e igrejeira posição em que se encastelaram e resolvam partir para a discussão, à luz da Doutrina e de seus princípios, dos inúmeros problemas que a sociedade vem enfrentando, tais como violência e criminalidade insuportáveis; desagregação da família; deboche sexual, com as odes ao homossexualismo e ao relacionamento ficante, e assim por diante. Vara de marmelo, correia, chicote, porrete ou borduna não resolvem o problema. Só tendem a agravá-lo.
José Carlos
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Olá pessoal,

Esta é a primeira vez que participo nesta sala, portanto se eu falar alguma besteira vcs me corrijam, please!

Bem, ao acompanhar o caso Richtofen pela mídia minha primeira reação, como a da maioria, foi acreditar que a filha Susana era uma psicopata, louca, ou coisa que o valha. Porem reflitamos juntos. O que levaria uma pessoa a cometer tal crime? Será que uma possível demência seria uma argumentação inequivoca do caso?
Em toda a história da humanidade pessoas cometeram crimes por motivos diversos, dominados pelo obscuro caminho do egoísmo. E, obviamente, o caso em questão também reflete isto. Mas diferentemente de outras épocas nosso tempo atual requer muito mais reflexão. Longe de querer inocentar Susana, mas à minha limitada visão do mundo, ela também foi uma vítima. De certa forma, somos todos vítimas desse egoísmo no qual estamos imersos até o pescoço. É possivel presenciar diariamente a estupidez moral na qual todos nós(e nossos filhos principalmente) estamos submetidos. Avançamos muito intelectualmente no ultimo século, porem ficamos quase que estagnados moralmente. A tecnologia dominou nossas vidas como nunca, mas essa mesma tecnologia que fascina nos mostra o quão despreparados estamos para recebe-la. É possível ver todos os dias na TV, tiroteios, desgraças alheias, mortes sem motivo. Nossos filhos hoje em dia crescem se divertindo em jogos eletrônicos nos quais o objetivo final não é outro senão eliminar o oponente, o inimigo. Inimigo que atualmente pode ser seu vizinho, ou pode ser um infeliz do outro lado do mundo. Tanto faz. O que importa nesse tipo de entretenimento é ver sangue. E não adianta argumentarem que não existe influencia desses meios sobre o indivíduo, pois somos influênciados desde o dia em que respiramos pela primeira vez neste planeta, ou até antes dizem algumas pesquisas. Pessoas que matam índios, homossexuais, negros, não fazem isso senão porque foram influênciados a faze-lo. Possivelmente vcs rirão de mim, mas talvez até aquele pequeno inseto que inadivertidamente matamos em nossas casas na frente de nossos filhos, seja um tipo de influência retratória. Porque o que está em jogo na verdade é a vida. Esse bem precioso concedido por Deus e no qual pouco damos valor. De repente tanto faz o idividuo ou o ser em questão, a vida tem um valor absoluto, e na qual não temos permissão de interrompe-la em vista das nossas vaidades mundanas. O espiritismo tem como raiz doutrinária o amor ao próximo e a Deus sobre tudo. E é somente agindo assim que conseguiremos reequilibrar a balança do intelecto pela moralidade, como tudo na natureza que nos cerca. Mas pelo menos por enquanto devemos nos dignar a dar conta de Susana e CIA, nossos Frankeinteins morais do século 21.

Iuri dos Santos Jacob

(OBS: Hipócritas são todos os que, desconhecendo o próprio passado, criticam os semelhantes do presente.)
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Enviada em: quinta-feira, 21 de novembro de 2002 11:29
Assunto: Era uma família feliz...
Minha sábia mãe já dizia: "quem não faz seus filhos chorar cedo, mais tarde
chora por eles".


Era uma família feliz

Todos nós ficamos estarrecidos com a notícia de que uma filha, meiga, bem educada, bonita, sem problemas financeiros, viajada e falando três idiomas planejou e participou do assassinato dos pais. Todos nós gostaríamos de ter filhas com os predicados acima (e muitos de nós estamos neste momento trabalhando para isso). O que nos aterroriza é ver que aquilo que os pais da Suzane faziam, nós costumamos fazer também: colocamos nossos filhos nas melhores escolas, freqüentamos as reuniões de pais do colégio, os matriculamos em cursos de idiomas, valorizamos o cuidado que eles têm com o corpo, levamos eles ao exterior, damos presentes para recompensar as suas conquistas (um carro novo por entrar na faculdade), enfim, fazemos de tudo para vê-los felizes e preparados para a vida.

A pergunta que ronda as nossas cabeças é: O que houve de errado? A resposta mais fácil é afirmar que "a garota deve ser doida" Mas se você está dentro daqueles que estão se satisfazendo com essa resposta, sinto dizer que você está errado. Primeiro, não esqueça que a mãe dela era
psiquiatra e se tivesse detectado alguma patologia na filha ela estaria em algum tipo de tratamento. Não, Suzane não é doida, ela é, psiquiatricamente falando, normal. Sabendo disso, o nosso temor fica mais patente. Você, como pai, tem procurado fazer o que Marisia e Manfred
faziam, os seus filhos parecem normais, recebem educação esmerada, eles não podem reclamar de muita coisa, tem vídeo-game, cd player, os últimos lançamentos do conjunto que eles gostam, os games mais "irados", celular com capinha colorida, etc., etc. Entretanto, alguma coisa dentro de você ainda teima em dizer: "- Mas isso é coisa que não acontece todos os dias, Suzane é uma exceção, não é a regra". Se você insiste em continuar pensando assim, continue assim e perderá a oportunidade de ver isso como uma lição a aprender, como um alerta a algum tipo de comportamento, atitude ou sinalização de valor que você deverá mudar na sua família feliz.

Antes de mais nada, Suzane é um caso extremo sim, mas um caso extremo de um tipo de comportamento que não pode mais ser chamado de "anormal" ou "exceção". Existem outros jovens que, se não chegaram a matar os pais, chegaram a praticar outros atos de violência extrema. O índio Galdino foi uma dessas vítimas, o garçom de Porto Seguro foi outra. As meninas da Barra da Tijuca que foram espancadas na portaria do prédio por uma gangue
da própria escola e os diversos casos de agressão dos famosos "pit-boys", também fazem parte de um padrão de comportamento que a nossa sociedade tem presenciado cada vez com maior freqüência. Todos esses jovens eram originários de famílias como a minha (e como a sua). Nenhum deles era originário de favelas, de minorias sociais, de classes marginalizadas.
Eram "filhos da classe média" (daí para cima).

Vamos encarar a realidade com coragem e maturidade. Estamos fazendo algo de errado. Talvez você especificamente não. Mas nós, como membros da sociedade, estamos deixando a nossa classe gerar estes "monstros". Eles estão saindo de lares "normais" como o da família Richtofen, como o meu e como o seu. Não há mais tempo para desculpas infantis, temos que encarar
a realidade e tomar atitudes para que este cenário mude.

O psiquiatra que analisava na TV o comportamento da Suzane deixou uma pista bastante clara. Ele disse: "os pais tem que aprender a EDUCAR os filhos, não somente a criar os filhos." Muitos de nós pensamos que educar os filhos significa mandá-los para uma escola de renome, e que lá eles farão o seu dever (afinal de contas, não é para isso que você está pagando tão caro?). Se você pensa assim, você está no rol de pais que precisam repensar o seu papel. Escola dá instrução, não educação. Educação se aprende em casa. Passar uma educação aos filhos significa muito mais do que dar um sermão cada vez que ele vem com uma anotação por motivos disciplinares na escola. Significa você, pai, servir de padrão de comportamento para ele, e aí, meu caro, a coisa fica muito chata. Se você tem atitudes preconceituosas com as outras classes sociais, você está
colocando na cabeça do seu filho que, por algum motivo, aquele índio ou aquele garçom tinham uma vida menos valiosa que a sua, você vai precisar se policiar. Se você costuma ganhar dinheiro de maneira, digamos, pouco convencional, como espera que o seu filho aceite os padrões da sociedade para ganhar dinheiro honradamente? Se você costuma ser intolerante no trânsito, com pessoas menos favorecidas e chama o guarda que o multou de "pobre diabo, não tem onde cair morto", como você espera que o seu filho reaja quando alguém lhe pedir para deixar o restaurante por estar fazendo algazarra? Ser padrão de comportamento é muito chato, concordo, mas quem disse que ser pai era só diversão e alegria? Responsabilidade às vezes pode ser um fardo e você é responsável por aquilo que o seu filho vai aceitar como certo ou errado. Ele pode até decidir pelo errado futuramente, mas ele lembrará que esse não era o padrão que ele via em
casa.
Um outro fator que aparece constantemente nesses "filhos-problema" é verificar nos pais um comportamento quase que obsessivo em "agradar" os filhos. Alguém em algum momento falou a imbecilidade de que ser um bom pai significava agradar o filho o máximo que pudesse. Se você também está dentre os que pensam assim, então também tem algo importante para mudar.
Existe uma enorme confusão nisso ai. É claro que todos nós gostaríamos de ver os nossos filhos sempre sorrindo, alegres, contentes e o amor que temos por eles nos faz procurar deixá-los em estado constante de felicidade.

Acontece que a vida não é assim fora de casa (aliás, nem é assim dentro de casa). Viver não é sobre "tentar ser agradado o tempo todo" , viver é muito mais do que isso. Viver é sobre saber ceder, sobre saber receber um não, sobre saber perder, sobre decepcionar-se, sobre frustrar-se, sobre perder um grande amor, sobre agradar aos outros, sobre conviver com as diferenças e, é claro, sobre sorrir, sobre ser agradado, sobre divertir-se, sobre receber um sim, sobre ter um grande amor, sobre dançar, sobre cantar, sobre vencer, etc.

Uma pessoa madura é aquela que recebe com a mesma naturalidade ambas as faces de uma mesma moeda: vitória e fracasso. Óbvio que ficamos felizes com o sucesso, a expressão do nosso rosto denota imediatamente alegria, mas ao nos depararmos com um fracasso, como reagimos? Estamos preparados para isso? Se nós não estamos preparados para isso, como vamos ensinar
aos nossos filhos a lidarem com algo tão natural na vida como são as derrotas, as decepções, as tristezas?

Meu amigo, acredito firmemente que todos esses jovens que tomaram essas atitudes violentas não foram preparados para lidar com negativas às suas expectativas. Eles foram instruídos desde ternos tempos que o mundo foi feito para eles serem vencedores sempre, que todos têm a obrigação de agradá-los, que o certo é os outros se esforçarem para fazê-los felizes
e, sabe como tudo começou? Em casa mesmo, quando o seu mundo era basicamente seus pais, eles faziam de tudo para agradá-lo e evitavam que ele sofresse decepções, frustrações, traumas, stress. O perigo desta atitude reside no fato de você, pai, não perceber o mal que está fazendo,
até o momento em que você tem que tomar efetivamente uma atitude que o desagrade (como ao descobrir que a filha anda namorando um sem-vergonha).
É ali que você vai perceber que o seu filho, ou a sua filha, não foram preparados para lidar com negativas, com limitações, com autoridade, com respeito e você passará a ser o "errado", porque deixou de fazer aquilo que você sempre fazia, que era agradar os desejos dos filhos. Como será
que aquela filha vai reagir? Depende da filha, umas vão simplesmente mentir e continuar o namoro proibido, outras simplesmente deixarão de ser carinhosas com você, algumas deixarão de falar com o pai, outras fugirão de casa e outras, em caso extremo, planejarão a sua morte.

Acredito que muitos de vocês não gostem do que estão lendo aqui, e sabem por quê? Porque coloca o problema bem dentro do seu próprio lar. Não se trata de discutir um crime hediondo cometido por uma doida, nem de uma assassina que assimilou a "inversão de valores" da sociedade consumista.
Trata-se aqui de discutir o que havia de errado na família Richtofen e que pode haver também na sua, na minha. O problema deixa de ser "virtual", distante, lúdico e mais uma "loucura de fim do mundo" para ser um problema que pode estar sendo "cozinhado" bem na sua casa. Além disso,
ser pai, pelo que está escrito aqui, é complicado demais, dá trabalho demais.

Ter que ser exemplo de comportamento é chato e ensinar os nossos filhos a lidarem com negativas, stress, fracassos, decepções é muito mais trabalhoso e difícil do que simplesmente agradá-los e dar aquilo que eles estão reivindicando... Afinal de contas, temos condições para isso, não?
Mas aí a escolha é sua. Qual o tipo de pai que você vai escolher ser é um direito que você tem. O pai que diz uma coisa, mas faz outra (e ainda repete com orgulho "faça o que eu digo e não faça o que eu faço"), ou o pai que mantém um comportamento coerente com aquilo que ensina ao filho?
O pai que ensina ao filho a lidar com frustrações, negativas e derrotas (e como é trabalhoso isso!) ou o pai que resolve da maneira rápida e "eficiente" deixando o seu filho não passar por "traumas" e decepções provendo aquilo que ele deseja o mais rápido possível?

Da sua decisão vai depender se a sua família vai gerar mais jovens pit-boys e suzanes, ou se vai efetivamente ser uma família feliz. Feliz de verdade, não como o vizinho dos Richtofen declarou: "Parecia que era uma família feliz".


"Instrua ao menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer
não se desviará dele". (Provérbios 22:6)



Conclusão