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O Livro dos Espíritos

187 - C O N C L U S Ã O - Itens I e II

Estamos entrando na fase final dessa etapa do estudo do Livro dos Espíritos. Vamos estudar, agora, a conclusão apresentada por Allan Kardec, fechando a obra. Neste texto, que começamos a transcrever, o Codificador faz uma análise geral sobre os fatos que precederam o nascimento da Doutrina, seus objetivos e princípios e rebate argumentos lançados pelos seus opositores. CONCLUSÃO I Quem, de magnetismo terrestre, apenas conhecesse o brinquedo dos patinhos imantados que, sob a ação do imã, se movimentam em todas as direções numa bacia com água, dificilmente poderia compreender que ali está o segredo do mecanismo do Universo e da marcha dos mundos. O mesmo se dá com quem, do Espiritismo, apenas conhece o movimento das mesas, em o qual só vê um divertimento, um passatempo, sem compreender que esse fenômeno tão simples e vulgar, que a antigüidade e até povos semi-selvagens conheceram, possa ter ligação com as mais graves questões da ordem social. Efetivamente, para o observador superficial, que relação pode ter com a moral e o futuro da Humanidade uma mesa que se move? Quem quer, porém, que reflita se lembrará de que de uma simples panela a ferver e cuja tampa se erguia continuamente, fato que também ocorre desde toda a antigüidade, saiu o possante motor com que o homem transpõe o espaço e suprime as distâncias. Pois bem! Sabei, vós que não credes senão no que pertence ao mundo material, que dessa mesa, que gira e vos faz sorrir desdenhosamente, saiu uma ciência, assim como a solução dos problemas que nenhuma filosofia pudera ainda resolver. Apelo para todos os adversários de boa-fé e os adjuro a que digam se se deram ao trabalho de estudar o que criticam. Porque, em boa lógica, a crítica só tem valor quando o crítico é conhecedor daquilo de que fala. Zombar de uma coisa que se não conhece, que se não sondou com o escalpelo do observador consciencioso, não é criticar, é dar prova de leviandade e triste mostra de falta de critério. Certamente que, se houvéssemos apresentado esta filosofia como obra de um cérebro humano, menos desdenhoso tratamento encontraria e teria merecido as honras do exame dos que pretendem dirigir a opinião. Vem ela, porém, dos Espíritos. Que absurdo! Mal lhe dispensam um simples olhar. Julgam-na pelo título, como o macaco da fábula julgava da noz pela casca. Fazei, se quiserdes, abstração da sua origem. Suponde que este livro é obra de um homem e dizei, do íntimo e em consciência, se, depois de o terdes lido seriamente, achais nele matéria para zombaria. II O Espiritismo é o mais terrível antagonista do materialismo. Não é, pois, de admirar que tenha por adversários os materialistas. Mas, como o materialismo é uma doutrina cujos adeptos mal ousam confessar que o são (prova de que não se consideram muito fortes e têm a dominá-los a consciência), eles se acobertam com o manto da razão e da ciência. E, coisa estranha, os mais cépticos chegam a falar em nome da religião, que não conhecem e não compreendem melhor que ao Espiritismo. Por ponto de mira tomam o maravilhoso e o sobrenatural, que não admitem. Ora, dizem, pois que o Espiritismo se funda no maravilhoso, não pode deixar de ser uma suposição ridícula. Não refletem que, condenando, sem restrições, o maravilhoso e o sobrenatural, também condenam a religião. Com efeito, a religião se funda na revelação e nos milagres. Ora, que é a revelação, senão um conjunto de comunicações extraterrenas? Todos os autores sagrados, desde Moisés, têm falado dessa espécie de comunicações. Que são os milagres, senão fatos maravilhosos e sobrenaturais, por excelência, visto que, no sentido litúrgico, constituem derrogações das leis da Natureza? Logo, rejeitando o maravilhoso e o sobrenatural, eles rejeitam as bases mesmas da religião. Não é deste ponto de vista, porém, que devemos encarar a questão. Ao Espiritismo não compete examinar se há ou não milagres, isto é, se em certos casos houve Deus por bem derrogar as leis eternas que regem o Universo. Permite, a este respeito, inteira liberdade de crença. Diz e prova que os fenômenos em que se baseia, de sobrenaturais só têm a aparência. E parecem tais a algumas pessoas, apenas porque são insólitos e diferentes dos fatos conhecidos. Não são, contudo, mais sobrenaturais do que todos os fenômenos, cuja explicação a Ciência hoje dá e que parecem maravilhosos noutra época. Todos os fenômenos espíritas, sem exceção, resultam de leis gerais. Revelam-nos uma das forças da Natureza, força desconhecida, ou, por melhor dizer, incompreendida até agora, mas que a observação demonstra estar na ordem das coisas. Assim, pois, o Espiritismo se apoia menos no maravilhoso e no sobrenatural do que a própria religião. Conseguintemente, os que o atacam por esse lado mostram que o não conhecem e, ainda quando fossem os maiores sábios, lhes diríamos: se a vossa ciência, que vos instruiu em tantas coisas, não vos ensinou que o domínio da Natureza é infinito, sois apenas meio sábios. QUESTÕES PARA ESTUDO: 1 - Os sistemas de negação da Doutrina foram analisados por Kardec, mais tarde, com maior profundidade, no Livro dos Médiuns. Nesse primeiro item da conclusão, no entanto, a que tipo de negação o Codificador se refere e qual o argumento para rebatê-la? 2 - Como o Espiritismo vê a questão do <br>maravilhoso<br> e o <br>sobrenatural<br>, que servem como princípios a outros segmentos religiosos?


Conclusão

1 - Os sistemas de negação da Doutrina foram analisados por Kardec, mais tarde, com maior profundidade, no Livro dos Médiuns. Nesse primeiro item da conclusão, no entanto, a que tipo de negação o Codificador se refere e qual o argumento para rebatê-la? No ítem primeiro, Kardec trata de uma forma de negação da Doutrina muito comum ainda nos dias de hoje. É a refutação por parte daqueles que sequer a conhecem, que nunca a estudaram. Como diz o Codificador, com o bom senso que o caracteriaza, criticar algo que não se conhece, até com zombarias, é dar prova de leviandade e de falta de critério. Diríamos, também, falta de seriedade. Kardec rebate os que dirigem críticas ao Espiritismo pelo simples fato de ter ele surgido por intermédio das mesas girantes. Cita, como exemplo, a invenção do motor, nascido da observação da simples tampa de uma panela a ferver. A recomendação de Kardec é para que esses críticos se abtenham da sua origem e examinem seriamente o conteúdo da obra, habilitando-se, assim, a expressarem suas opiniões. 2 - Como o Espiritismo vê a questão do ###maravilhoso### e o ###sobrenatural###, que servem como princípios a outros segmentos religiosos? Outro tipo de crítico é aquele que, em nome da religião, combate o Espiritismo por o verem fundamentado no maravilhoso e no sobrenatural. Kardec demonstra a falsidade desse argumento, citando o fato de que toda religião se funda numa revelação expressa por um conjunto de comunicações extraterrenas. Os formuladores destas religiões, como Moisés, por exemplo, confirmam nos textos considerados sagrados essas comunicações. Falam em milagres, que, sob a ótica delas próprias, seriam fatos maravilhosos e sobrenaturais, pois derrogadores das Leis Naturais. É, portanto, mais um tipo de argumentação inconsistente. O Espiritismo, ao contrário do que esses críticos afirmam, embora respeite os que assim crêem, não compartilha com a idéia do maravilhoso e do sobrenatural. O que para essas crenças é assim considerado, o Espiritismo demonstra que resulta de leis universais até então desconhecidas. Todos os fenômenos em que se baseia não são maravilhosos nem sobrenaturais, ao contrário do que afirmam esses negadores. São tão naturais quanto outros, cuja explicação a Ciência hoje dá e que outrora, pelo desconhecimento, eram também considerados maravilhosos e sobrenaturais.