E a vida continua

012 – Capítulo 12 – Julgamento e amor

Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo – CVDEE

Sala de Estudos André Luiz

Livro em estudo: E a vida continua (Editora FEB)

Autor: Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier

Tema: Capítulo 12 – Julgamento e amor

Estudos

Transcorridas algumas semanas, Ernesto e Evelina achavam-se menos bisonhos no ambiente.
Conquanto as afeições que prosseguiam entesou­rando, sentiam-se cada vez mais vinculados um ao outro. Sensivelmente melhorados, demoravam-se ainda no hos­pital, mas domiciliados em pavilhões de convalescentes, cada qual no departamento próprio, de vez que as refe­ridas construções abrigavam homens e mulheres, em vasta agremiação de lares-apartamentos para uso indi­vidual. Desfrutavam a devida permissão para se movi­mentarem na cidade, como quisessem, apenas com a ob­servação de que sômente lhes seria lícito visitar os arre­dores, onde se acomodavam milhares de Espíritos infe­lizes, com assistência adequada.
Efetivamente os dois começavam a experimentar ne­cessidade de serviço disciplinado e regular, mas, se pe­diam trabalho ou qualquer atividade no antigo lar ter­restre que ainda não haviam logrado rever, as respostas da autoridade competente eram ainda invariáveis. Que aguardassem mais tempo, que seria justo atender à im­prescindível preparação. À vista disso, frequentavam bibliotecas, jardins, instituições e entretenimentos diver­sos, figurando-se-lhes a vida, ali, uma fase longa de repouso mental em tranquila colônia de férias. Chegara porém, o dia em que Evelina realizaria um dos seus maiores anelos naquele ninho de bênçãos. Fantini prometera conduzi-la, com o preciso consentimento dos benfeitores, a um templo religioso para assistirem ao ofício da noite que se constituiria de uma pregação sob o título Julgamento e Amor», prêviamente anunciada.
Ambos ardiam em curiosidade, porqüanto ansiavam conhecer de perto como se processavam as criações religiosas, naquele mun­do para eles extremamente belo e novo.
À noitinha, puseram-se em marcha.
A senhora Serpa recordava em caminho as visitas de outro tempo ao santuário de sua fé e albergava no coração as mais doces reminiscências...
Sensibilizada, monologava intimamente: «como per­dera o convívio dos entes mais caros e porque se apoiava, ali, no braço de um homem que vira na Terra tão-sômente uma vez?»
Em torno, o vento brando carreava o perfume de jardins e praças em flor.
A Lua, a erguer-se do horizonte, era o mesmo espe­táculo de majestade e beleza a que se acostumara no mundo...
De quando em quando, permutava com Fantini uma que outra frase, observando que outros ranchos simpá­ticos caminhavam na mesma direção.
Transcorridos alguns minutos de alegre peregrinar, ei-los diante do templo que primava pela simplicidade, figurando-se enorme pombal edificado com franjas de neve translúcida, defendido, aqui e ali, por densas faixas de arvoredo.
No interior, tudo espontaneidade e harmonia.
A fila extensa de bancos deixava ver o púlpito àfrente, que assumia a feição de enorme liliácea, escul­pida em mármore alvíssimo.
Na parede muito branca, diante da assistência, sob as legendas “Templo da Nova Revelação”, “Casa Consagrada ao Culto de Nosso Senhor Jesus-Cristo», ao invés de quaisquer simbolos ou esculturas, jazia apenas uma tela, recordando o semblante presumível do Divino Mestre, cujos olhos na excelsa pintura pareciam falar de vida e onipresença.
Sentada com Fantini, lado a lado, a senhora Serpa fitou os rostos, serenos uns e ansiosos outros, que os cercavam em profundo silêncio, e mergulhou o coração em prece muda.
Em dado instante, qual se se materializasse inespe­radamente na tribuna ou até ali fôsse ter, através de porta oculta à observação do auditório, um homem, enver­gando túnica lírial, surgiu e saudou a assembléia, reve­rente.
Logo após, dirigiu-se para o Alto e, em oração co­movedora, rogou as bênçãos de Jesus para os ouvintes expectantes.
De seguida, aproximou-se de grande exemplar do Novo Testamento, aberto sobre delicado porta-livros e leu os versículos números 1 a 4, do capitulo sete do Evangelho do Apóstolo Mateus:

«Não julgueis para não serdes julgados, pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.
Porque vês tu o argueiro no olho de teu irmão, sem notares, porém, a trave que está no teu próprio? Ou, como dirás a teu irmão:
«deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu?»

Terminada a leitura, deteve-se o ministro em dila­tada concentração, qual se buscasse inspiração nas pro­fundezas da própria alma.
Ernesto e Evelina, porém, viram surpresos, que, ao revés, o pensamento dele se exteriorizava, em forma de larga auréola de luz, que se lhe alteava da cabeça, à maneira de chama, elevando-se cada vez mais...
A curto espaço de segundos, clarões jorravam de cima, lembrando as chamadas línguas de fogo do dia de Pentecostes, e o sacerdote simpático iniciou a pre­gação de que respigaremos apenas alguns trechos que lhe definem a tessitura de sabedoria e beleza:
— Irmãos, até ontem éramos parte integrante da coletividade humana — a nossa bendita família da re­taguarda — e acreditávamos no poder de julgar-nos uns aos outros. Encastelados nas idéias religiosas que supúnhamos escravizar a serviço de nossas paixões, ima­ginávamos adversários e transviados quantos não pen­sassem por nossos princípios.
Interpretávamos os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus-Cristo, conforme o nosso arbítrio, exigindo que o Senhor da Vida se nos fizesse rebaixado servidor, na estrada sombria e tortuosa que não nos cansávamos de palmilhar; entretanto, despojados hoje do corpo de ma­téria mais densa que nos acalentava as ilusões, apren­demos que todos somos consciências deficitárias perante a Lei. E compreendemos agora, para felicidade nossa, que apenas o Senhor dispõe de recursos para avaliar-nos consideradamente, porque, em verdade, ser-nos-á possí­vel tão-sômente examinar a nós próprios.
O que tenhamos sido no imo do sentimento, enquan­to na existência do corpo terrestre, somos aqui.
Neste pouso de luz que o Senhor nos faculta por moradia temporária, percebemos, sem qualquer cons­trangimento de ordem exterior, que todos os petrechos mantenedores das aparências que nos disfarçavam no mundo, para o desempenho do papel que nos cabia na ribalta humana, nos foram retirados, a fim de que sejamos aqui, na esfera da realidade espiritual, quem nos propusemos ser, com tudo o que tenhamos ajuntado em nós de bem ou de mal, durante o estágio na escola física!...
Muitos de vós outros carregais ainda hábitos e enganos da experiência carnal que, gradativamente, per­dereis por não encontrarem neste meio qualquer signi­ficação...
Vossos palácios ou casebres, títulos convencionais ou qualificações pejorativas, privilégios ou cativeiros, honras familiares ou desconsiderações públicas, vanta­gens ou prejuízos de superfície, todos os condicionamentos mentais que vos centralizavam na idéia de direitos supostos ou imaginárias reclamações, com o abandono dos deveres naturais de aperfeiçoamento espiritual para a vida eterna, desapareceram no dia em que os homens, por força da desencarnação, vos impuseram ao nome um atestado de óbito no Planeta, senhoreando-vos os patrimônios e analisando-vos os atos, para, ao depois, muitos deles, varrer-vos do pensamento, com a falsa convicção de que vos podem desterrar da memória para sempre!...
Quantos de vós viestes escutar aqui as vozes da verdade para as quais tantas vezes selastes os ouvidos do corpo terreno?
A Divina Providência não pergunta o que fostes, porque nos conhece a cada um em qualquer tempo... Entretanto, é justo investigue sobre o que fizestes dos tesouros do tempo, concedido a nós todos em parcelas iguais...
Sábios, em que aplicastes os dotes do conhecimento superior? Ignorantes, onde colocáveis o talento das ho­ras? Ricos, em que trabalho dignificastes o dinheiro? Irmãos destituídos de reservas douradas, mas tanta vez detentores de bênçãos maiores, que realizastes com as oportunidades de paciência e serviço, compreensão e humildade na esfera da obediência? Jovens, que operas­tes com a força? Companheiros encanecidos na marcha do cotidiano, em que boas obras convertestes o clarão de vosso entendimento?
Não vos iludais!...
Qual ocorreu a nós outros, os que habitamos atual­mente o Plano Espiritual desde longas décadas, trou­xestes para cá o que efetuastes de vós mesmos... Apren­destes o que estudastes, mostrais o que fizestes, entesou­rais o que distribuístes!...
Em suma, atravessada a Grande Fronteira, somos simplesmente o que somos!
Reconhecereis, assim, no curso do dia-a-dia, neste domicílio das realidades excelsas, que todos os disfarces que nos encobriam a individualidade real no mundo se extinguem naturalmente, expondo-nos à vista a esfera íntima.
Fora das constrições carnais, cada espírito se revela por si.
Mecanicamente, na residência ancestral da alma, es­tampamos nas atitudes e palavras os sentimentos e pen­samentos que nos são peculiares, sem que nos seja mais possível qualquer recurso à simulação.
Patenteando de todo o que somos e o que temos, nos recessos do ser, terá chegado para cada um de nós a hora do julgamento, porqüanto a Divina Misericórdia do Senhor nos oferece ainda, aqui como em tantas ou­tras estâncias da Espiritualidade, esta cidade-lar, como sendo antecâmara de estudo e serviço, possibilitando-nos valiosos aprestos para a ascensão à Vida Maior, em cujas províncias nos aplicaremos à conquista de dons inefáveis, na continuação da luta bendita pelo aperfei­çoamento próprio.
Quantos, porém, desprezarem as sublimes oportuni­dades do tempo, no clima de recomposição a que nos acolhemos agora, decerto que, por eles mesmos, recuarão para os distritos vizinhos, onde se afinam os agentes da perturbação e das trevas — doentes voluntários, sevi­ciando-se, em lamentável regime de reciprocidade — até que, fatigados de rebeldia, roguem à piedade das Leis Eternas a preciosa dádiva das reencarnações de sofri­mento regenerativo para o retorno a estes sítios, Deus sabe quando!...
Não aspiramos a dizer com as nossas afirmativas que o renascimento no campo fisico seja sempre cadinho de reparação aos delitos que praticamos, pois milhares de companheiros, depois de longo e honesto esforço pela própria corrigenda, entre nós, com larga quota de tempo em nossa colônia de trabalho e reforma, volvem ao corpo carnal, honrados com tarefas de abnegação e heroísmo obscuro, junto de alguém ou ao lado de grupos afins, granjeando, em louvável anonimato, concessões e vitórias dignas de apreço que, apesar de permanecerem quase sempre ignoradas pelos homens, se lhes erigem, aqui, em passaportes de libertação e acrisolamento para as Esferas Superiores!...
Ante a pausa que surgiu espontânea nos lábios do orador que se aureolava de intensa luz, Evelina e Er­nesto se entreolharam e, em seguida, através de ligeira mirada sobre os circunstantes, notaram que dezenas de rostos se banhavam de lágrimas.
— Irmãos — continuou o ministro —, não vos sin­tais num tribunal de justiça, quando nos achamos numa casa de fé!... Mãe amorosa dos nossos impulsos de me­lhoria e sublimação, diz-nos a fé, neste recanto operoso e tranquilo, que não obstante desencarnados é preciso reconhecermos que as nossas ocasiões de trabalho e progresso, retificação e aprendizagem não chegaram a termo!...
Aceitemo-nos quais somos, reconheçamos o mon­tante de nossas dívidas e coloquemos mãos fiéis no arado do serviço ao próximo, sem olhar para trás... A cidade que nos reúne está repleta de instituições bene­méritas com as portas descerradas ao voluntariado de quantos queiram colaborar no socorro aos que chegam até nós, em posição de angústia ou necessidade, todos os dias... Na Crosta Planetária, onde as criaturas ir­mãs da retaguarda travam dura batalha de evolução, entes queridos, ainda encarnados, exigem-nos os mais entranhados testemunhos de ternura humana, através do concurso espiritual que lhes possamos administrar, nos domínios da compreensão e do amor, a fim de que continuem a viver nà experiência terrestre que lhes énecessária, tranquilos e felizes, sem nós... Todo um apos­tolado de renúncia construtiva, abnegação, carinho e en­tendimento se descortina para a maioria de vós outros, no lar terrestre, onde quase todos estais ainda vinculados de pensamento e coração!...
Além disso, estamos cercados, através de quase todos os flancos, por multidões de companheiros demen­tados, a nos pedirem amor e paciência para que se re­façam!... Na arena física, multiplicávamos apelos a que se pusessem mesas dedicadas aos famintos e se acumulassem agasalhos para o socorro à nudez... Aqui, somos desafiados à formação e sustentação do devotamento e da tolerância, para que a harmonia e a com­preensão se estabeleçam na alma sofrida e conturbada dos nossos irmãos tresmalhados nas sombras de espírito.
Caridade, meus irmãos!... Amor para com o pró­ximo!...
Muitas vezes, o serviço de alguns dias pode endossar-nos valioso empréstimo de energias e meios para as empresas de recuperação e elevação que nos requisitam o esforço de muitos anos.
Oremos, suplicando ao Senhor nos inspire, a fim de que venhamos a escolher decididamente a estrada de purificação em novos e benditos avatares na estância física, ou a vereda ascendente para a Vida Maior!...
Calou-se o sacerdote em prece muda.
Do teto pendiam estrias de safirina luz, quais pé-talas minúsculas que se desfaziam ao tocar a cabeça dos presentes, ou desapareciam, de leve, atingindo o chão.
Dir-se-ia que no peito do ministro, em profunda concentração mental, se inflamara uma estrela de prata translúcida, de cujo centro se irradiava, docemente, toda uma chuva de raios liriais, inundando o salão.
Fantini estava comovido, mas Evelina, qual sucedia a muitos dos companheiros ali congregados, não conse­guia jugular o pranto que lhe vinha em onda crescente do coração aos olhos.
A senhora Serpa não saberia explicar a razão da emotividade que lhe assaltara os recessos do espírito, extremamente sensibilizada como se achava, ignorando se devia aquelas abençoadas lágrimas às aspirações para o Céu ou às saudades da Terra... Não mais ouviu as derradeiras palavras do ministro, ao encerrar o ofício da noite. Sabia apenas que se amparava agora de maneira total no braço do amigo, junto de quem se retirou do recinto, soluçando...


ESTUDO E DIÁLOGO VIRTUAL

1) Qual a diferença que Evelina e Ernesto encontram nessa igreja em que vão assistir um estudo?
2) O que acontece com os títulos conquistados após a desencarnação?
3) De que modo podemos aproveitar nosso tempo para evoluirmos?


Um abraço a todos, Karina.
Equipe LE

Conclusão

Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo – CVDEE

Sala de Estudos André Luiz

Livro em estudo: E a vida continua (Editora FEB)

Autor: Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier

Tema: Capítulo 12 – Julgamento e amor

CONCLUSÃO

1) Qual a diferença que Evelina e Ernesto encontram nessa igreja em que vão assistir um estudo?
Nesta igreja, não haviam símbolos ou esculturas, mas simplesmente o título “Templo da Nova Revelação e “Casa Consagrada ao Culto de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Neste ambiente, o sacerdote traz esclarecimentos sobre a vida após a morte do corpo físico, onde cada um é herdeiro de suas próprias conquistas ou desajustes.

2) O que acontece com os títulos conquistados após a desencarnação?
Todas as honras familiares, públicas, vantagens materiais e títulos convencionais desaparecem com a desencarnação, e o Espírito leva somente suas conquistas morais e intelectuais, não importando qual a sua posição social na Terra.
“Apren­destes o que estudastes, mostrais o que fizestes, entesou­rais o que distribuístes!...”

3) De que modo podemos aproveitar nosso tempo para evoluirmos?
Empregando a vontade em busca do próprio aperfeiçoamento moral, buscando ser útil dentro das suas possibilidades.

“Aceitemo-nos quais somos, reconheçamos o mon­tante de nossas dívidas e coloquemos mãos fiéis no arado do serviço ao próximo, sem olhar para trás...”
“Caridade, meus irmãos!... Amor para com o pró­ximo!...”
“Muitas vezes, o serviço de alguns dias pode endossar-nos valioso empréstimo de energias e meios para as empresas de recuperação e elevação que nos requisitam o esforço de muitos anos.”

Um abraço a todos,
Equipe André Luiz