Nos Domínios da Mediunidade

025 – Em torno da fixação mental

No caminho de volta procuramos, Hilário e eu, movimentar a conversação,
no sentido de recolher da palavra de nosso orientador alguma lição a
respeitos da fixação mental.
Muita vez, anotara o fenômeno, buscando estudá-lo, entretanto, para
colaborar com o amigo, mais novo que eu nos serviços da
Espiritualidade, aderi ao assunto, animando-o com o melhor interesse.
Meu colega, sem disfarçar o espanto que lhe assomara à alma desde a
manifestação do estrangulador de Toscana, falou preocupado:
- Sinceramente, por mais me esforce, grande é a minha dificuldade para
penetrar os enigmas da cristalização do Espírito em torno de certas
situações e sentimentos. Como pode a mente deter-se em determinadas
impressões, demorando-se nelas, como se o tempo para ela não
caminhasse?
Tomemos, por exemplo, o drama de nosso infortunado companheiro, há
séculos imobilizado nas idéias de vingança... Estará nessa posição
lamentável, por tantos anos, sem ter reencarnado?
Áulus ouviu com atenção e ponderou:
- E imprescindível compreender que, depois da morte no corpo físico,
prosseguimos desenvolvendo os pensamentos que cultivávamos na
experiência carnal. E não podemos esquecer que a Lei traça princípios
universais que não podemos trair. Subordinados à evolução, como avançar
sem lhe acatarmos a ordem de harmonia e progresso? A idéia fixa pode
operar a indefinida estagnação da vida mental no tempo.
Simbolizemos o estágio da alma, na Terra, através da reencarnação, como
sendo valiosa linha de frente, na batalha pelo aperfeiçoamento
individual e coletivo, batalha em que o coração deve armar-se de idéias
santificantes para conquistar a sublimação de si mesmo, a mais alta
vitória. A mente é o soldado em luta. Ganhando denodadamente o combate
em que se empenhou, tão logo seja conduzido às aferições da morte sobe
verticalmente para a vanguarda, na direção da Esfera Superior,
expressando-se-lhe o triunfo por elevação de nível. Entretanto, se
fracassa, e semelhante perda é quase sempre a resultante da incúria ou
da rebeldia, volta horizontalmente, nos acertos da morte, para a
retaguarda, onde se confunde com os desajustados de toda espécie, para
indeterminado período de tratamento. Em qualquer frente de luta
terrestre, a retaguarda é a faixa atormentada dos neuróticos, dos
loucos, dos mutilados, dos feridos e dos enfermos de toda casta.
Ante o interesse com que lhe ouvíamos a exposição, Áulus prosseguiu,
depois de ligeira pausa:
- Decerto, as legiões vitoriosas não se esquecem dos que permaneceram
no desequilíbrio e daí vemos as missões de amor e renúncia, funcionando
diligentes onde estacionam a desarmonia e a dor.
- E o problema da imobilização da alma?
- Tornou meu colega, ávido de saber.
O interpelado sorriu e considerou.
- Em nossa imagem, podemos defini-la com a propriedade possível. É que
o tempo, para nós, é sempre aquilo que dele fizermos. Para melhor
compreensão do assunto, lembremo-nos de que as horas são invariáveis no
relógio, mas não são sempre as mesmas em nossa mente. Quando felizes,
não tomamos conhecimento dos minutos. Satisfazendo aos nossos ideais ou
interesses mais íntimos, os dias voam céleres, ao passo que, em
companhia do sofrimento e da expressão, temos a idéia de que o tempo
está inexoravelmente parado. E quando não nos esforçamos por superar a
câmara lenta da angústia, a idéia aflitiva ou obsecante nos corroí a
vida mental, levando-nos à fixação. Chegados a essa fase, o tempo como
que se cristaliza dentro de nos, porque passamos a gravitar, em
Espírito, em torno do ponto nevrálgico de nosso desajuste. Qualquer
grande perturbação interior, chame-se paixão ou desânimo, crueldade ou
vingança, ciúme ou desespero, pode imobilizar-nos por tempo indefinível
em suas malhas de sombra, quando nos rebelamos contra o imperativo de
marcha incessante com o Sumo Bem. Analisemos ainda o nosso símbolo do
combate. O relógio inflexível assinala o mesmo horário para todos,
entretanto, o tempo é leve para os que triunfaram e pesado para os que
perderam. Com os vencedores, os dias são felicidade e louvor e com os
vencidos são amarguras e lágrimas. Quando nos não desvencilhamos dos
pensamentos de flagelação e derrota, através do trabalho constante
pela nossa renovação e progresso, transformamo-nos em fantasmas de
aflição e desalento, mutilados em nossas melhores esperanças ou
encafurnados em nossas chagas íntimas. E quando a morte nos surpreende
nessas condições, acentuando-se-nos então a experiência subjetiva, se a
alma não se dispõe ao esforço heróico da suprema renúncia, com
facilidade emaranha-se nos problemas da fixação, atravessando anos e
anos, e por vezes séculos na repetição de reminiscências desagradáveis,
das quais se nutre e vive. Não se interessando por outro assunto a não
ser o da própria dor, da própria ociosidade ou do próprio ódio, a
criatura desencarnada, ensimesmando-se, é semelhante ao animal no sono
letárgico da hibernação. Isola-se do mundo externo, vibrando
tão-somente ao redor do desequilíbrio oculto em que se compraz. Nada
mais ouve, nada mais vê e nada mais sente, além da esfera desvairada de
si mesma.
Revestia-se o assunto de imenso interesse para minhas observações
pessoais.
Em muitas ocasiões, sondara de perto as consciências que dormitam, após
a morte, quais múmias espirituais. E lembrei-as ao Assistente, que nos
disse, atencioso:
- Sim, a mente estacionário na deserção da Lei, durante o repouso
habitual em que se imobiliza, além do túmulo, sofre angustiosos
pesadelos, despertando quase sempre em plena alienação, que pode
persistir por muito tempo, cultivando apaixonadamente as impressões em
que julga encontrar a própria felicidade.
- E qual o remédio mais adequado à situação? _ inquiri, respeitoso.
- Muitas dessas almas desorientadas _ comentou o instrutor _ por fim se
entediam do mal e procuram a regeneração por si mesmas, ao passo que
outras, em nossas tarefas de assistência, acordam para as novas
responsabilidades que lhes competem no próprio reajuste. São os
soldados feridos buscando corresponder às missões de amor que lhes
visitam o pouso de restauração. Entendem o impositivo da luta
dignificante a que foram chamados e, ajudando aos que os ajudam,
regressam ao bom combate, em cujas linhas se acomodam com o serviço que
lhes é possível desempenhar. Outras, porém, recalcitrantes e
inconformadas, são docemente constrangidas ao retorno à batalha para
que se desvencilhem da prostração a que se recolheram. A experiência no
corpo de carne, em posição difícil, é semelhante a um choque de longa
duração, em que a alma é convidada a restabelecer-se. Para isso,
tomamos o concurso de afeições do interesse que o asilam no templo
familiar.
- Mas, nesses casos, a reencarnação será compulsória, assim como um ato
de violência? _ perguntou Hilário com atenção.
- Que fazemos na Terra _ disse o Assistente _ quando surge um louco em
nossa casa? Não passamos a assumir a responsabilidade do tratamento?
Aguardamos qualquer resolução do alienado mental, no que tange às
medidas indispensáveis à restauração do seu equilíbrio? É certo que nos
cabe o dever de honrar a consciência livre, capaz de decidir por si
mesma nos variados problemas da luta evolutiva, entretanto, à frente do
irmão irresponsável e enfermo, a nossa colaboração significa amizade
fiel, ainda que essa colaboração expresse doloroso processo de
reequilíbrio em seu favor.
Após ligeira pausa, continuou:
- A reencarnação, em tais circunstância, é o mesmo que conduzir o
doente inerte a certa máquina de fricção para o necessário
despertamento. Intimamente justaposta ao campo celular, a alma é a
feliz prisioneira do equipamento físico, no qual influencia o mundo
atômico e é por ele influenciada, sofrendo os atritos que lhe objetivam
a recuperação.
Os significativos apontamentos convidavam-nos a meditar e aprender.
Impressionado, considerei:
- Em virtude de semelhante fixações, é que vemos entidades padecendo
deplorável amnésia. Quando se comunicam com os irmãos encarnados, não
conservam exata lembrança dos assuntos em que se lhes encravam as
preocupações e, quando permutam impressões conosco, assemelham-se a
psicósicos renitentes...
- Isso mesmo. Por esse motivo, requerem habitualmente grande carinho em
nosso trato pessoal.
- E quando encaminhadas à reencarnação, no desajuste em que se vêem,
essas criaturas tornam à realidade, de súbito? _ perguntei com
interesse.
- Nem sempre.
E imprimindo novo entono à voz, o Assistente continuou:
- Na maioria das vezes, o soerguimento é vagaroso. Podemos comprovar
isso no estudo das crianças retardadas, que exprimem dolorosos enigmas
para o mundo... Somente o extremado amor dos pais e dos familiares
consegue infundir calor e vitalidade a esses entezinhos que, não raro,
se demoram por muitos anos na matéria densa, como apêndices torturados
da sociedade terrestre, curtindo sofrimentos que parecem
injustificáveis e estranhos e que constituem para eles a medicação
viável. É possível auscultar ainda a verdade de nossa assertiva, nos
chamados esquizofrênicos e nos paranóicos que perderam o senso das
proporções, situando-se em falso conceito de si mesmos. Quase todas as
perturbações congeniais da mente, na criatura reencarnada, dizem
respeito a fixação que lhe antecederam a volta ao mundo. E, em muitos
casos, os Espíritos enleados nesses óbices seguem do berço ao túmulo em
recuperação gradativa, experimentando choques benéficos, através das
terapêuticas humanas e das exigências domésticas, das imposições dos
costumes e dos conflitos sociais, deles retirando as vantagens do que
podemos considerar por _extroversão_ indispensável à cura das psicoses
de que são portadores.
A conversação era instrutiva e sugeria-nos importantes estudos,
entretanto, serviços outros aguardavam o Assistente, motivo por que a
interrompemos.


Questões para estudo:

1. Segundo o texto :
a) o que é "fixação mental" ?
b) Quais seus fatos geradores e de que forma ela ocorre ?
c) Quais suas consequencias ?


2. Uma vez estabelecido o processo da fixação mental, a alma torna-se
estacionária. Existe a reversão dessa situação ? De que forma ela pode
ocorrer ?


3. Discorra sobre a reencarnação compulsória.




Conclusão

1. Segundo o texto :

a) O que é "fixação mental"?

R - A fixação mental é o estado em que o espírito, encarnado ou desencarnado, cristaliza seu psiquismo em torno de
determinados fatos, acontecimentos ou sentimentos do passado, isolando-se do mundo externo e passando a viver
unicamente em função daquelas idéias. O espírito perde a noção de tempo e sua mente apenas enxerga esses fatos,
acontecimentos ou sentimentos que lhe causaram profundo desequilíbrio e desarmonia interior. Para ele, é como se
o tempo não tivesse passado, ficando estacionado nesta situação anos seguidos, gravitando em torno da própria
perturbação, que pode perdurar durante séculos.

Segundo o instrutor Áulus, "não se interessando por outro assunto a não ser o da própria dor, da própria ociosidade
ou do próprio ódio, a criatura desencarnada, ensimesmando-se, é semelhante ao animal no sono letárgico da hibernação.
Isola-se do mundo externo, vibrando tão-somente ao redor do desequilíbrio oculto em que se compraz. Nada mais ouve,
nada mais vê e nada mais sente, além da esfera desvairada de si mesma".


b) Quais seus fatos geradores e de que forma ela ocorre?

R - O que gera o estado de fixação mental é a perturbação interior do espírito, causada pela ocorrência de um
acontecimento vivenciado em experiência reencarnatória anterior, que lhe trouxe dor e sofrimento e desencadeou
sentimentos de ódio, paixão, ciúme ou desejo de vingança. Devido ao seu nível evolutivo ainda atrasado, o espírito não
consegue vencer a luta contra a dor e o sofrimento, entregando-se à imobilização por tempo indeterminado e vibrando
unicamente em torno desses pensamentos.


c) Quais as suas conseqüências?

R - A conseqüência dessa imobilização pela fixação mental é adiamento do processo de evolução do espírito. Quando
retorna ao mundo espiritual, o espírito leva consigo os mesmos pensamentos que cultivou durante a existência física.
Mantém-se na posição espiritual que conquistou. Tendo sustentado uma existência de tormentos, rebeldia e desejos
de vingança, o espírito volta como mais um desajustado a necessitar de tratamento, estacionado em zonas inferiores
e com perspectiva de reencarnação dolorosa no futuro.


2. Uma vez estabelecido o processo da fixação mental, a alma torna-se estacionária. Existe a reversão dessa
situação? De que forma ela pode ocorrer?

R - Essa situação dolorosa pode ser perfeitamente revertida pelo espírito. Para tanto, tem ele que aprimorar os seus
sentimentos e abrandar o coração. Isto pode ser conseguido nas reuniões de desobsessão, em que o espírito que se
encontra neste estado é recebido com muito amor e fraternidade pelo grupo mediúnico e instruído com conhecimentos
doutrinários e evangélicos. Muitos aceitam essa doutrinação, até mesmo por estarem entediados do mal e procuram
a regeneração. Outros, porém, mantêm-se aferrados em suas idéias, permanecendo recalcitrantes e inconformados.
Para estes, o recurso é a reencarnação num corpo débil, em que o choque provocado pelo ingresso compulsório na
carne poderá levá-los ao restabelecimento.


3. Discorra sobre a reencarnação compulsória.

R - Questão 337 do Livro dos Espíritos: Pode a união do espírito a determinado corpo ser imposta por Deus?

Resposta dos Espíritos: "Certo, do mesmo modo que as diferentes provas, mormente quando ainda o espírito não
está apto a proceder a uma escolha com conhecimento de causa. Por expiação, pode o espírito ser constrangido a
se unir ao corpo de determinada criança que, pelo seu nascimento e pela posição que venha a ocupar no mundo, se
lhe torne instrumento de castigo."

Esclarece, ainda, o instrutor Áulus que "a reencarnação, em tais circunstância, é o mesmo que conduzir o doente
inerte a certa máquina de fricção para o necessário despertamento. Intimamente justaposta ao campo celular, a alma
é a feliz prisioneira do equipamento físico, no qual influencia o mundo atômico e é por ele influenciada, sofrendo os
atritos que lhe objetivam a recuperação".

Portanto, a reencarnação compulsória é imposta ao espírito que se mantém em posição de rebeldia e recusa persistente
ao acatamento às leis divinas, que o levariam às esferas superiores. É um remédio amargo, porém necessário, indispensável
ao seu crescimento. Quando o próprio espírito não tem discernimento para assumir sozinho a responsabilidade pela
construção do seu destino, a misericórdia divina se faz presente. Como comparou Áulus, é uma situação semelhante a
de um louco, que não tem condições de assumir a responsabilidade pelo tratamento que o levará à obtenção da cura.
Não se trata de violação do livre-arbítrio, pois, no caso, o espírito encontra-se enfermo, incapaz de discernir o que é
necessário para pôr fim ao processo de desequilíbrio em que estacionou. O espírito nesta condição não tem alternativa.