O Mundo Maior

017 – No limiar das cavernas


Reunidos agora, Calderaro e eu, à comissão de trabalho socorrista que operaria nas cavernas de sofrimento, fui surpreendido pela expressão da Irmã Cipriana, que chefiava as atividades dessa natureza.
Constituía-se a turma de reduzido número de companheiros: ste ao todo.
Avistando-me ao lado do Assistente, perguntou Cipriana com singeleza, feitas as saudações usuais:
_ Pretende o irmão André seguir em nossa companhia?
O abnegado amigo respondeu que o próprio Instrutor Eusébio lembrara a conveniência de minha visita aos abismos purgatoriais; esclareceu que eu me achava interessado em obter informes da vida nas esferas inferiores, para os relatar aos companheiros encarnados, auxiliando-os na preparação necessária à ciência do bem viver.
A diretora ouviu, bondosa, e objetou:
_ Sim, a sugestão de Eusébio é valiosa, em se tratando de observações preliminares no Baixo Umbral. Como responsável, porém, pelos serviços diretos da expedição, não posso admití-lo, por enquanto, em todas as particularidades.
Fixou em mim o olhar lúcido e meigo, como a lastimar a impossibilidade, e acrescentou:
_ Nosso estimado André não tem o curso de assistência aos sofredores nas sombras espessas.
Afagou-me de leve, com a destra carinhosa e acrescentou:
_ Se nos é indispensável obter difíceis realizações preparatórias, a fim de colhermos o benefício das Grandes Luzes, é-nos imprescindível a iniciação, para ministrarmos esse mesmo benefício nas “grandes trevas”.
(...)
_ No entanto, (...). Cada Situação a que somos conduzidos é portadora de ocultos ensinamentos para nosso bem. Os desígnios superiores jamais nos propõem questões de que não necessitemos, na arena das circunstâncias. Se Eusébio foi elvado a sugerir esta oportunidade, é que André Luiz tem nestes sítios urgente serviço a prestar. (...)
(...)
Estacamos em enorme planície pantanosa, onde numerosos grupos de entidades humanas desencarnadas se perdiam de vista, em assombrosa desordem, à maneira de milhares de loucos, separados uns dos outros, ou aos magotes, segundo a espécie de desequilíbrio que lhes era peculiar.
(...)
Logo após, Calderaro e eu nos achamos a sós na atra vastidão povoada de habitantes estranhos.
As conversações em torno eram inúmeras e complexas. Pareceu-me que aquele “povo desencarnado” não se dava conta da própria situação, pelo que me foi possível ajuizar de início.
Enquanto densas turbas de almas torturadas se debatiam em substância viscosa, no solo, onde andávamos assembléias de Espíritos dementes enxameavam não longe, em intermináveis contendas por interesses mesquinhos.
(...)
Os grupos de infortunados agiam, ali, desconhecendo os padecimentos uns dos outros. Certos grupos volitavam a pequena altura, como bandos de corvos negrejantes, mais escuros que a própria sombra (...)
(...)
_ Será que estes míseros precitos nos vêem?
_ Alguns sim, mas não nos ligam maior importância: estão muito preocupados consigo mesmos; abrigaram no coração sentimentos rasteiros e tardarão em se libertarem deles.
_ Toda esta gente permanece, porém, desamparada, entr4egue a si mesma?
_ Não – respondeu Calderaro, paciente - ; funcionam, por aqui, inúmeros postos de socorro e variadas escolas, em que muita gente pratica a abnegação. Os padecentes e as personalidades torturadas são atendidas, de acordo com as possibilidades de aproveitamento que demonstram.
(...)
_ As regiões inferiores jamais estarão sem enfermeiros e sem mestres, porque uma das maiores alegrias dos céus é a de esvaziar os infernos.
(...)
Vendo bandos de seres a se locomoverem no ar (...) recordei que em nossa colônia as faculdades de volitação não eram comumente exercidas para não melidrarmos aqueles que as não possuiam desenvolvidas, mas...e ali? (...)
(...)
_ Não te surpreendas. A volitação depende, fundamentalmente, da força mental armazenada pela inteligência; importa, contudo, considerar que os voos altíssimos da alma só se fazem possíveis quando à intelectualidade elevada se alia o amor sublime.(...)É mais fácil recolher criaturas de maiores cabedais de amor com reduzida inteligência, e convivermos com elas, no processo evolucionário comum, do que abrigarmos pessoas sumamente intelectuais sem amor aos semelhantes; com estas últimas, a vida em comum, no sentido construtivo, é quase impraticável. (...).
(...)
_ Já vistes, (...) Aqui, no entanto, se congregam verdadeiras tribos de criminosos e deliquentes, atraídos uns aos outros, consoante a natureza de faltas que os identificam. Muitos são inteligentes e, intelectualmente falando, esclarecidos, mas , sem réstia de amor que lhes exalce o coração, erram de obstáculo a obstáculo, de pesadelo a pesadelo...(...)
(...)
_ O Érebo (...) Prisioneiros de si mesmos, cerram o entendimento às revelações da vida e restringem os horizontes mentais, movimentando-se em seu próprio interior, em ação exclusiva, nos impulsos primários, a cultivar o pretérito que deveriam expungir.(...) Autoridades mais graduadas de nossa esfera, atendendo a imperativos superiores, improvisam tribunais com funções educativas, cujas sentenças, ressumando amor e sabedoria, culminam sempre em determinações de trabalho regenerador,a través da reencarnação na Crosta Terrestre, ou de tarefas laboriosas no seio da Natureza, quando há suficiente compreensão e arrependimento nos interessados que feriram a Lei, ofendendo a si mesmos.
Deste vastíssimo arsenal de alienação da mente, ensombrada de culpas, sai o maior coeficientes das reencarnações dolorosas que povoam os círculos carnais. (...) Poucos conseguem valer-se da oportunidade terrena, no sentido de restaurar as próprias energias. É sempre fácil fugir ao caminho reto; muito difícil, porém, o retorno...
Nesse instante aproximou-se de nós enorme e bulhenta colmeia de sofredores(...)
(...)
Condoí-me . Quis deter alguns, confabular com eles fraternalmente, de modo a esclarecê-los; no entanto, o instrutor paralisou-me os braços, murmurando:
_ Que fazes? Seria inútil. Impossível é reajustar , num momento, apenas com palavras, tantas mentes em desequilíbrio cruel.
(...)"

Questões iniciais para o estudo :

01) “Nosso estimado André não tem o curso de assistência aos sofredores nas sombras espessas.”
a) Por que Cipriana informa que a ação necessita de curso específico?
b) Se é importante , qual é a importância de cursos ou de conhecimento para o desenvolvimento de qualquer ação fraterna? Por que? Justifique.

02) Comente explicando a seguinte assertiva: “Cada Situação a que somos conduzidos é portadora de ocultos ensinamentos para nosso bem. Os desígnios superiores jamais nos propõem questões de que não necessitemos, na arena das circunstâncias.”

03) Faça uma comparação entre as seguintes afirmativas e o mundo terreno em que vivemos:

03 a) “As conversações em torno eram inúmeras e complexas. Pareceu-me que aquele “povo desencarnado” não se dava conta da própria situação, pelo que me foi possível ajuizar de início.
Enquanto densas turbas de almas torturadas se debatiam em substância viscosa, no solo, onde andávamos assembléias de Espíritos dementes enxameavam não longe, em intermináveis contendas por interesses mesquinhos.”

03 b) “Alguns sim, mas não nos ligam maior importância: estão muito preocupados consigo mesmos; abrigaram no coração sentimentos rasteiros e tardarão em se libertarem deles.”

03 c) “Não te surpreendas. A volitação depende, fundamentalmente, da força mental armazenada pela inteligência; importa, contudo, considerar que os voos altíssimos da alma só se fazem possíveis quando à intelectualidade elevada se alia o amor sublime.(...)É mais fácil recolher criaturas de maiores cabedais de amor com reduzida inteligência, e convivermos com elas, no processo evolucionário comum, do que abrigarmos pessoas sumamente intelectuais sem amor aos semelhantes; com estas últimas, a vida em comum, no sentido construtivo, é quase impraticável.(...).”


03 d) “Prisioneiros de si mesmos, cerram o entendimento às revelações da vida e restringem os horizontes mentais, movimentando-se em seu próprio interior, em ação exclusiva, nos impulsos primários, a cultivar o pretérito que deveriam expungir”

04) O que é sintonia? Como ela se dá? De que forma ela age? Quais suas consequências?

05) O que é afinidade? Como ela se dá? De que forma ela interage conosco?

06) O que é vício? O que é defeito? Quais suas consequências? De que forma eliminá-los?

07) Calderaro diz a AL que “_ Que fazes? Seria inútil. Impossível é reajustar , num momento, apenas com palavras, tantas mentes em desequilíbrio cruel.” De que forma , então, pode se dar o reajuste da mente?

Bibliografia básica:

Leitura do capítulo completo do Livro No Mundo Maior
LE
ESE

Conclusão


André Luiz e Calderaro uniam-se, agora, à expedição socorrista que iria
comparecer a regiões de cavernas de sofrimento, habitadas por espíritos em estado de
alto desequilíbrio psíquico.

Cipriana, que dirigia os trabalhos, não permitiu a André Luiz o acesso às
zonas de maior sofrimento, alegando não estar ele ainda preparado para tanto. Sendo
assim, ao Autor foi permitidio, juntamente com o Assistente, que percorresse as zonas
periféricas, cujo resultado observado é relatado neste capítulo.


Questões propostas para estudo e participação


01) “Nosso estimado André não tem o curso de assistência aos sofredores nas sombras
espessas.”
a) Por que Cipriana informa que a ação necessita de curso específico?
b) Se é importante, qual é a importância de cursos ou de conhecimento para o
desenvolvimento de qualquer ação fraterna? Por que? Justifique.

Cipriana, que dirigia os trabalhos, entendia que para se ministrar qualquer benefício
em regiões das grandes trevas era necessária uma iniciação, ou seja, um processo
preparatório de aprendizado específico. Isto porque os espíritos que lá se encontravam
eram dos mais desequilibrados, todos portadores de problemas muito graves e com
suas mentes em desajuste total. Mantinham um sintonia vibracional extremamente
baixa, exigindo dos benfeitores uma evolução que André Luiz ainda não havia alcançado,
pois, como ela disse, ele ainda possuía problemas substanciais a resolver.


02) Comente explicando a seguinte assertiva: “Cada situação a que somos conduzidos
é portadora de ocultos ensinamentos para nosso bem. Os desígnios superiores jamais
nos propõem questões de que não necessitemos, na arena das circunstâncias.”

Quis a benfeitora dizer que somos sempre levados pelos desígnios superiores a
situações que, embora não sejam as por nós desejadas, são as que necessitamos para
nosso aperfeiçoamento. Esse princípio se aplica tanto no plano espiritual como nas
nossas experiências na carne.


03) Faça uma comparação entre as seguintes afirmativas e o mundo terreno em que
vivemos:

03 a) “As conversações em torno eram inúmeras e complexas. Pareceu-me que aquele
“povo desencarnado” não se dava conta da própria situação, pelo que me foi possível
ajuizar de início." ... "Enquanto densas turbas de almas torturadas se debatiam em
substância viscosa, no solo, onde andávamos, assembléias de Espíritos dementes
enxameavam não longe, em intermináveis contendas por interesses mesquinhos.”

Sendo o mundo terreno uma cópia do mundo espiritual e os espíritos permanecendo
com o mesmos valores morais e intelectuais que possuíam ao desencarnarem, é
natural que a nossa sociedade desencarnada assemelhe-se com a encarnada. Tal como
aqui, no plano da matéria, lá, também, os espíritos afins se congregam em torno de
seus interesses. Estando numa região de baixíssima vibração, a população não poderia
ser de outra qualidade, pelo que os seus interesses não poderiam ser dos mais nobres.
No nosso plano, também vamos encontrar esse tipo de situação, onde espíritos ainda
muito apegados aos interesses mesquinhos se encontram para disputarem a prevalência
de suas vontades.

03 b) “Alguns sim, mas não nos ligam maior importância: estão muito preocupados
consigo mesmos; abrigaram no coração sentimentos rasteiros e tardarão em se
libertarem deles.”

Isto vemos cotidianamente na Terra. Pessoas há que apenas consigo mesmas se
preocupam, ignorando as necessidades do próximo. Como no caso desses espíritos
a que Calderaro se refere, muitos dos que aqui se encontram encarnados também se
fecham em torno de seus interesses, deixando prevalecer em seus corações o reinado
do egoísmo, que Emmanuel chamou de "chaga da humanidade".

03 c) “Não te surpreendas. A volitação depende, fundamentalmente, da força mental
armazenada pela inteligência; importa, contudo, considerar que os vôos altíssimos da
alma só se fazem possíveis quando à intelectualidade elevada se alia o amor sublime.
(...) É mais fácil recolher criaturas de maiores cabedais de amor com reduzida
inteligência, e convivermos com elas, no processo evolucionário comum, do que
abrigarmos pessoas sumamente intelectuais sem amor aos semelhantes; com estas
últimas, a vida em comum, no sentido construtivo, é quase impraticável.(...).”

É a afirmação da supremacia da importância da evolução moral sobre a intelectual.
O benfeitor destaca ser preferível conviver com pessoas possuidoras de inteligência
reduzida mas portadora do sentimento de amor ao próximo, do que com pessoas intelectualmente mais desenvolvidas sem, contudo, portarem o amor em seus corações.
Isso vale tanto para a vida no plano espiritual como para a vida material.

03 d) “Prisioneiros de si mesmos, cerram o entendimento às revelações da vida e
restringem os horizontes mentais, movimentando-se em seu próprio interior, em ação
exclusiva, nos impulsos primários, a cultivar o pretérito que deveriam expungir”.

São espíritos que não estão ainda preparados para receberem a mensagem divina.
Recusam-se a aceitar a luz que os tirará das trevas, preferindo manter-se em seu próprio
mundo interior, voltados para si mesmos. Comprazem-se em cultivarem as idéias e ações delituosas praticadas no passado, ao invés de expurgá-las de suas mentes. Como nas
passagens anteriores, é uma situação comum aos dois planos de vida.


04) O que é sintonia? Como ela se dá? De que forma ela age? Quais suas conseqüências?

Sintonia é a identidade de freqüência entre dois circuitos ou, figuradamente, significa
harmonia, reciprocidade. Em Doutrina Espírita, sintonia é a identidade de pensamentos
e interesses entre dois ou mais espíritos. Como vivemos mergulhados num mar de fluidos
e regidos pela lei de ação e reação, o pensamento e o interesse de agir do espírito é que
vai qualificar o tipo de influência que ele sofrerá de outros espíritos. É a sintonia espiritual,
que tem como conseqüência a ação e a influência que uns espíritos exercem sobre
outros.

05) O que é afinidade? Como ela se dá? De que forma ela interage conosco?

Afinidade é a coincidência de gostos ou pensamentos entre duas pessoas. É a
afinidade que vai definir a sintonia do espírito. Espíritos afins no pensar e agir sintonizam-se
entre si, promovendo uma troca de influência recíproca. É o caso dos espíritos encontrados
por André Luiz e Calderaro. Sendo todos ainda recalcitrantes na prática do mal, tinham
uma identidade de agir e pensar, ou seja, uma afinidade, que determinava uma sintonia
irresistível entre eles.


06) O que é vício? O que é defeito? Quais suas conseqüências? De que forma eliminá-los?

Vício é um costume enraizado da prática de um ato reprovável e defeito tudo aquilo
que é oposto à perfeição. As suas conseqüências estão diretamente ligadas à afinidade
e à sintonia entre os espíritos. A forma de eliminá-los é, em primeiro lugar, o desejo de
fazê-lo. É preciso uma vontade determinante de se modificar e buscar força nos
benfeitores espirituais que estão aí para nos ajudar. A doutrina espírita, como nenhuma
outra, nos dá a receita para essa transformação interna que todos necessitamos operar, esclarecendo as conseqüências danosas que nossos vícios e defeitos podem nos causar,
nessa e nas encarnações vindouras.


07) Calderaro diz a André Luiz que “ Que fazes? Seria inútil. Impossível é reajustar, num
momento, apenas com palavras, tantas mentes em desequilíbrio cruel.” De que forma ,
então, pode se dar o reajuste da mente?

O ponto de partida é a vontade do espírito desequilibrado em se reequilibrar. Sem que
o enfermo se conscientize dessa necessidade e procure modificar-se internamente, todo o
esforço que os benfeitores venham fazer para socorrê-lo resultaria inútil. É uma questão de
sintonia.