O Mundo Maior

003 – A casa mental


Texto base para estudo

" Retomando a companhia de Calderaro, na manhã luminosa, absorvia-me o
propósito de enriquecer noções pertinentes às manifestações da vida próxima à esfera
física.

( ... )

" Inquestionavelmente, vivíamos todos em intenso trabalho, com escassas
horas reservadas a excursões de entretenimento; demais, fruíamos ambiente de
felicidade e alegria a favorecer-nos a marcha evolutiva. Nossos templos constituíam, por
si sós, abençoados núcleos de conforto e de revigoramento. Nas associações culturais
e artísticas encontrávamos a continuidade da existência terrestre, enriquecida, porém,
de múltiplos elementos educativos. ...
Não nos faltavam determinações e deveres, ordem e disciplina; entretanto, a
serenidade era nosso clima, e a paz, nossa dádiva de cada dia.
Arremessara-nos a morte a atmosfera estranha à luta física. A primeira
sensação fora o choque. Empolgara-nos o imprevisto. Continuávamos vivendo, apenas
sem a máquina fisiológica, mas as novas condições de existência não significava subtração
da oportunidade de evolver. ...

( ... )

" Em suma, a passagem pelo sepulcro conduzira-nos a uma vida melhor; mas...
e os milhões que transpunham o estreito limiar da morte, permanecendo apegados à
Crosta da Terra?
Incalculáveis multidões desse gênero mantinham-se na fase rudimentar do
conhecimento; apenas possuíam algumas informações primárias da vida; exoravam
amparo dos Espíritos Superiores, como as tribos primitivas reclamam o concurso dos
homens civilizados; precisavam de desenvolver faculdades, como as crianças de crescer;
... guardavam da existência apenas a lembrança do campo sensitivo, reclamando a
reencarnação quase imediata quando lhes não era possível a matrícula em nossos
educandários de serviço e aprendizado iniciais. Por outro lado, verdadeiras falanges de
criminosos e transviados agitavam-se, não longe de nós, depois de haverem transposto
as fronteiras do túmulo; consumiam, por vezes, inúmeros anos entre a revolta e a
desesperação, personificando hórridos gênios da sombra, como ocorre, nos círculos
terrestres, com os delinqüentes contumazes, segregados da sociedade sadia; ...

( ...)

" Aproximei-me de Calderaro, naquela manhã, sedento de saber. Expus-lhe
minhas indagações íntimas, relatei-lhe aos ouvidos tolerantes minha expectativa ansiosa,
longamente sofreada; pretendia conhecer os que es entretinham na maldade, no crime,
na inconformação.
Meu amigo escutou calmo, sorriu benevolamente e começou por esclarecer:
- Antes de mais nada, André, modifiquemos o conceito, Para transformar-nos
em legítimos elementos de auxílio aos Espíritos sofredores, desencarnados ou não,
é-nos imprescindível compreender perversidade como loucura, a revolta como ignorância
e o desespero como enfermidade.

( ... )

" Daí a minutos, acompanhando-o, penetrei vasto hospital detendo-nos diante
do leito de certo enfermo, que o Assistente deveria socorrer. Abatido e pálido,
mantinha-se ele unido a deplorável entidade de nosso plano, em míseras condições de
inferioridade e de sofrimento. O doente, embora quase imóvel, acusava forte tensão de
nervos, sem perceber, com os olhos físicos, a presença do companheiro de sinistro
aspecto. Pareciam visceralmente jungidos um ao outro, tal a abundância de fios
tenuíssimos que mutuamente os entrelaçavam, desde o tórax à cabeça, pelo que se me
afiguravam dois prisioneiros de uma rede fluídica. Pensamento de um deles com certeza
viveriam no cérebro do outro. Comoções e sentimentos seriam permutados entre ambos
com matemática precisão. Espiritualmente, estariam, de contínuo, perfeitamente
identificados entre si. Observava-lhes, admirado, o fluxo de comuns vibrações mentais

( ... )

" Decorridos alguns momentos, concluí que, à parte a configuração das peças e o
ritmo vibratório, tinha sob os olhos dois cérebros quase idênticos. Diferia o campo mental
do desencarnado, revelando alguma superioridade no terreno da substância, que, no corpo
perispiritual, era mais leve e menos obscura. Tive a impressão de que, se lavássemos,
por dentro, o cérebro do amigo estirado no leito, escoimando-o de certos corpúsculos
mais pesados, seria ele quase igual, em essência, ao da entidade que eu mantinha em
exame. As divisões luminosas, porém, eram em tudo análogas. ...

( ... )

" ... Aqui aprendemos que o organismo perispirítico que nos condiciona em matéria
mais leva e mais plástica, após o sepulcro, é fruto igualmente do processo evolutivo. Não
somos criações milagrosas, destinadas ao dorno de um paraíso de papelão. Somos filhos
de Deus e herdeiros dos séculos, conquistando valores, de experiência em experiência,
de milênio a milênio. Não há favoritismo no Templo Universal do Eternos, e todas as
forças da Criação aperfeiçoam-se no Infinito. ...

( ... )

" - Não podemos dizer que possuímos três cérebros simultaneamente. Temos
apenasum que, porém, se divide em três regiões distintas. Tomemo-lo como se fora um
castelo de três andares: no primeiro situamos a " residência de nossos impulsos
automáticos", simbolizando o sumário vivo dos serviços realizados; no segundo localizamos
o "domicílio das conquistas atuais", onde se erguem e se consolidam as qualidades nobres
que estamos edificando; no terceiro, temos a "casa das noções superiores", indicando as
eminências que nos cumpre atingir. Num deles moram o hábito e o automatismo; no outro
residemo esforço e a vontade; e no último demoram o ideal e a meta superior a ser
alcançada. Distribuímos, deste modo, nos três andares, o subconsciente, o consciente e
o superconsciente. Como vemos, possuímos, em nós mesmos, o passado, o presente e
o futuro.

( ... )

" - Examinamos aqui dois enfermos: um, na carne; outro, fora dela. Ambos trazem
o cérebro intoxicado, sintonizando-se absolutamente um com o outro. Espiritualmente,
rolaram do terceiro andar, onde situamos as concepções superiores, e, entregando-se ao
relaxamento da vontade, deixaram de acolher-se no segundo andar, sede do esforço próprio,
perdendo valiosa oportunidade de reerguer-se; caíram, destarte, na esfera dos impulsos
instintivos, onde se arquivam todas as experiências da animalidade anterior. Ambos
detestam a vida, odeiam-se reciprocamente, desesperam-se, asilam idéias de tormento,
de aflição, de vingança. Em suma, estão loucos, embora o mundo lhes não vislumbre o
supremo desequilíbrio, que se verifica no íntimo da organização perispiritual."


Questões para estudo e participação

1.- Como o Assistente Calderaro explica o estado de sofrimento em que se encontram
inúmeros espíritos no plano espiritual?

2.- Podemos considerar o estado de loucura como doença do corpo físico ou do corpo
espiritual?

3.- Como podemos entender a divisão do cérebro em três partes, à vista da explicação
dada pelo Assistente?

4.- A relação entre o enfermo visitado pelos benfeitores e o desencarnado que com ele se
encontrava presente caracteriza um processo de obsessão?

Conclusão


Nesse capítulo III, André Luiz dá inicio ao trabalho a que se propõe nessa nova
etapa de sua vivência no plano espiritual.

Integrado à equipe do Assistente Calderaro, o Autor visitaria paciente que se
encontrava internado em hospital e que receberia a assistência espiritual dos benfeitores.
Antes da visita, porém, André Luiz fez algumas reflexões sobre os espíritos recalcitrantes
na prática do mal, que, por esse motivo, encontram-se em prolongado estado de sofrimento.

Solicitou, então, do Assistente, algumas considerações sobre as causas da
persistência desses espíritos em não se modificarem e sobre os distúrbios mentais de que
são acometidos.


Questões para estudo e participação


1.- Como o Assistente Calderaro explica o estado de sofrimento em que se encontram
inúmeros espíritos no plano espiritual?

Indagado por André Luiz sobre as razões por que inúmeros espíritos sofriam ao
persistirem na prática do mal, sem conseguirem compreender o verdadeiro sentido da
existência, Calderaro explicou que esses espíritos permaneciam no escuro da
incompreensão devido ao estado de ignorância em que se encontram, quanto às
questões espirituais. Conceituou a perversidade como loucura, a revolta como ignorância e o desespero como enfermidade. Ressaltou a necessidade de se estudar detidamente
o cérebro humano que se encontra em posição desarmônica, tanto dos que estão na carne
como fora dela. Situou aí, no cérebro, o órgão de manifestação da atividade espiritual.


2.- Podemos considerar o estado de loucura como doença do corpo físico ou do corpo
espiritual?

A doutrina espírita nos ensina que toda anomalia no corpo físico tem a sua gênese
no espírito. A questão proposta deve ser entendida como se saber se a loucura, ou
melhor, as distonias mentais, podem ser consideradas doenças do corpo físico ou do
corpo espiritual. Nesse sentido, pelas explicações do Instrutor Calderaro ao analisar o
caso do enfermo que visitou no hospital, podemos entender que a doença se localiza no
espírito. O cérebro do corpo físico funciona apenas como o veículo de manifestação
desse estado mental desarmonizado. É o órgão que manifesta o desequilíbrio e permite
o seu diagnóstico. Localizando-se na mente, as doenças psíquicas são fruto da
desarmonia do espírito, que é a sua sede. Por isso é que também o espírito desencarnado,
como demonstrou o Assistente, pode sofrer desse mal, mesmo desprovido do cérebro
físico.


3.- Como podemos entender a divisão do cérebro em três partes, à vista da explicação
dada pelo Assistente?

Pelos ensinamentos colhidos por André Luiz, o cérebro humano se divide em três
regiões distintas, embora interligadas. Na parte inferior, situam-se os impulsos automáticos,
instintivos, onde arquivamos nossas experiências pretéritas, inclusive das fases de
animalidade e do primitivismo por que passamos ao ingressarmos no reino hominal; na
parte intermediária, localizam-se as conquistas e as imperfeições que estamos vivenciando,
frutos de nossa evolução até aqui e, na parte superior, vamos encontrar os ideais e metas
a serem alcançados.
Resumindo, explicou o benfeitor espiritual que possuímos em nosso cérebro o
subconsciente, onde reside o passado; o consciente, onde encontramos o presente e o superconsciente, moradia do futuro.


4.- A relação entre o enfermo visitado pelos benfeitores e o desencarnado que com ele se
encontrava presente caracteriza um processo de obsessão?

Sem dúvida, o assédio controlador que a entidade desencarnada exercia sobre o
paciente visitado é característico de um processo obsessivo instalado. Ambos se
encontravam com o cérebro espiritual tão igualmente intoxicado que André Luiz destacou
que, se retirasse do cérebro do encarnado os corpúsculos mais pesados que nele se
achavam face a essa condição, seus cérebros seriam iguais em sua essência. Essa
condição permitia uma sintonia total entre ambos.