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Obreiros da Vida Eterna

015 - Aprendendo Sempre

No presente capítulo, vamos estudar, na prática, um caso de volta do espírito, extinta a vida corporal, à vida espiritual, através dos acontecimentos ocorridos durante a preparação para o cortejo fúnebre e o sepultamento do corpo físico de Dimas. André Luiz nos relata como se deu o desligamento dos últimos laços que uniam o Espírito desencarnante ao seu corpo físico, suas reações, as transformações que se operaram no organismo físico sem vida e as circunstâncias em torno do sepultamento. Informa-nos, ainda, sobre o ambiente reinante no local, onde foram encontrados inúmeros espíritos desencarnados, em penosas condições de sofrimento. Vamos ao relato do Autor: <br> A residência de Dimas enchia-se de pessoas gradas, além de apreciável assembléia de entidades espirituais. Jerônimo, resoluto, penetrou a casa, seguido de nós outros. Encaminhou-se para o recanto onde o desencarnado permanecia abatido e sonolento, sob a carícia materna. ... Tive a impressão de que através do cordão fluídico, de cérebro morto a cérebro vivo, o desencarnado absorvia os princípios vitais restantes do campo fisiológico. ... - Graças a Jesus, melhorou sensivelmente. É visível o resultado de nossa influência restauradora e creio que bastará o desligamento do último laço para que retome a consciência de si mesmo. Jerônimo examinou-o e auscultou-o, como clínico experimentado. Em seguida, cortou o liame final, verificando-se que Dimas, desencarnado, fazia agora o esforço do convalescente ao despertar, estremunhado, findo longo sono.<br> <br> A análise do cadáver de Dimas causava tristeza. Inumeráveis germens microscópicos entravam como exércitos vorazes, em combate aberto, libertando gases ocultos que revelavam o apodrecimento dos tecidos e líquidos em geral. Os traços fisionômicos do defunto achavam-se alterados, degenerando-se também a estrutura dos membros. Os órgãos autônomos, por seu turno, perdiam a feição característica, já tumefactos e imóveis. Em compensação, Dimas-livre, Dimas espírito, despertava. Amparado pela genitora, abriu os olhos, fixou-os em derredor, num impulso de criança alarmada e chamou a esposa, aflitivamente. Dormira em excesso, mas alcançara sensível melhora. Sentia a casa cheia de gente e desejava saber alguma coisa a respeito. A mãezinha, porém, afagando-o brandamente, acalmou-o, esclarecendo: - Ouça, Dimas: A porta pela qual você se comunicava com o plano carnal, somático, cerrou-se com seus olhos físicos. Tenha serenidade, confiança, porque a existência, no corpo físico terminou.<br> <br> Logo após, ante as exclamações dolorosas dos familiares, o ataúde foi cerrado e iniciou-se o préstito silencioso. Seguíamos, ao fim do cortejo, em número superior a vinte entidades desencarnadas, inclusive o irmão recém-liberto.<br> <br> Estranha surpresa empolgou-me de súbito. ... As grades da necrópole estavam cheias de gente da esfera invisível, em gritaria ensurdecedora. Verdadeira concentração de vagabundos sem corpo físico apinhava-se à porta. Endereçavam ditérios e piadas à longa fila de amigos do morto. No entanto, ao perceberem a nossa presença, mostraram carantonhas de enfado, e um deles, mais decidido, depois de fitar-nos com desapontamento, bradou aos demais: - Não adianta! É protegido... Voltei-me, preocupado, e indaguei do padre Hipólito que significava tudo aquilo. - Nossa função, acompanhando os despojos - esclareceu ele, afavelmente -, não se verifica apenas no sentido de exercitar o desencarnado para os movimentos iniciais da libertação. Destina-se também à sua defesa. Nos cemitérios costuma congregar-se compacta fileira de malfeitores, atacando vísceras cadavéricas, para subtrair-lhes resíduos vitais.<br> <br> - Como você não ignora, as igrejas dogmáticas da Crosta Terrestre possuem erradas noções acerca do diabo, mas, inegavelmente, os diabos existem. Somos nós mesmos, quando desviados dos divinos desígnios, pervertemos o coração e a inteligência, na satisfação de criminosos caprichos...<br>. <br> Jerônimo inclinou-se piedosamente sobre o cadáver, no ataúde momentaneamente aberto antes da inumação, e, através de passes magnéticos longitudinais, extraiu todos os resíduos de vitalidade, despersando-os, em seguida, na atmosfera comum, através de processo indescritível na linguagem humana por inexistência de comparação analógica, para que inescrupulosas entidades inferiores não se apropriassem deles.<br> <br> Impressionado com os soluços que ouvia em sepulcro próximo, fui irresistivelmente levado a fazer uma observação direta. Sentada sobre a terra fofa, infeliz mulher desencarnada, aparentando trinta e seis anos, aproximadamente, mergulhava a caberá nas mãos, lastimando-se em tom comovedor. ... - Cavalheiro, preciso regressar! conduza-me, por favor, à minha residência! Preciso retornar ao meu esposo e ao meu filhinho!... Se este pesadelo se prolongar, sou capaz de morrer!... Acordem, acorde-me!... - Pobre criatura! exclamei, ... - ignora que seu corpo voltou ao leito de cinzas! não poderá ser útil ao esposo e ao filhinho, em semelhantes condições de desespero.<br> <br> - Jesus é nosso Médico Infalível - tornei - e indico-lhe a oração como remédio providencial para que Ele a assista e cure. A infeliz, entretanto, parecia distanciada de qualquer noção de espiritualidade. ... Da fúria aflita, passou ao choro humilde, ferindo-me a sensibilidade. Compreendi, então, que a desventurada sentia todos os fenômenos da decomposição cadavérica e, examinando-a detidamente, reparei que o fio singular, sem a luz prateada que o caracterizava em Dimas, pendia-lhe da cabeça, penetrando chão a dentro. Ia exortá-la, de novo, recordando-lhe os recursos sublimes da prece, quando de mim se aproximou simpática figura de trabalhador, informando-me, com espontânea bondade: - Meu amigo, não se aflija.<br> <br> - É inútil - esclareceu o prestimoso guarda, equilibrado nos conhecimentos de justiça e seguro na prática, pelo convívio diário com a dor -, nossa desventurada irmã permanece sob alta desordem emocional. Completamente louca. Viveu trinta e poucos anos na carne, absolutamente distraída dos problemas espirituais que nos dizem respeito. Gozou, à saciedade, na taça da vida física. Após feliz casamento, realizado sem qualquer preparo de ordem moral, contraiu gravidez, situação esta que lhe mereceu menosprezo integral. ... O resultado foi funesto. Findo o parto difícil, sobrevieram infecções e febre maligna, aniquilando-lhe o organismo. Soubemos que, nos últimos instantes, os vagidos do filhinho tenro despertaram-lhe os instintos de mãe e a infortunada combateu ferozmente com a morte, mas foi tarde. ... A pobrezinha, após atravessar existências de sólido materialismo, não sabe assumir a menor atitude favorável ao estado receptivo do auxílio superior. Exige que o cadáver se reavive e supõe-se em atroz pesadelo, quando nada mais faz senão agravar a desesperação. ... seria perigoso forçar a libertação, pela probabilidade de entregar-se a infeliz aos malfeitores desencarnados.<br> <br> Indiquei, porém, o laço fluídico que a ligava ao envoltório sepulto e observei: - Quem sabe chegou o momento? não será razoável cortar o grilhão? - Que diz? objetou, surpreso, o interlocutor - não, não pode ser! Temos ordens. - Por que tamanha exigência? - insisti. - Se desatássemos a algema benéfica, ela regressaria, intempestiva, à residência abandonada, como possessa de revolta, a destruir o que encontrasse. ... É da lei natural que o lavrador colha de conformidade com a semeadura. Quando acalmar as paixões vulcânicas que lhe consomem a alma, quando humilhar o coração voluntarioso, de modo a respeitar a paz dos entes amados que deixou no mundo, então será libertada e dormirá sono reparador, em estância de paz que nunca falta ao necessitado reconhecido às bênçãos de Deus. A lição era dura, mas lógica.<br> <br> E designando um velhote desencarnado, de cócoras sobre a própria campa, acrescentou: - Venha e escute-o. - Ai, meu Deus! - dizia - quem me guardará o dinheiro? Quem me guardará o dinheiro? Observando-nos a aproximação, rogava, súplice: - Quem são? querem roubar-me! socorram-me, socorram-me... Debalde enderecei-lhe palavras de encorajamento e consolação. - Não ouve - informou o sentinela, obsequioso -, a mente dele está cheia das imagens de moedas, letras, cédulas e cifrões. Vai demorar-se bastante na presente situação ...<br> <br> - Estamos diante de infelizes, aos quais não falecem proteção e esperança, porquanto outros existem tão acentuadamente furiosos e perversos que, do fundo escuro do sepulcro, se precipitam nos tenebrosos despenhadeiros das esferas subcrostais, tal o estado deplorável de suas consciências, atraídas para as trevas pesadas. ... Segundo concluímos, se há alegria para todos os gostos, há também sofrimento para todas as necessidades. Nesse instante, Jerônimo chamou-me a postos.<br> <br> Após agradecimentos mútuos e recíprocos votos de paz, sentimo-nos, enfim, em condições de partir por nossa vez. Antes, porém, minha curiosidade inquiridora desejava entrar em ação. Como se sentiria Dimas, agora? não seria interessante consultar-lhe as opiniões e os informes? Em minha esfera pessoal de observação, não pudera colher pormenores, uma vez que a morte me surpreendera em absoluto alheamento das teses de vida eterna e, no derradeiro transe carnal, minha inconsciência fora completa.<br> <br> - Sente, ainda, os fenômenos da dor física? - comecei. - Guardo integral impressão do corpo que acabei de deixar - respondeu ele, delicadamente. Noto, porém, que, ao desejar permanecer ao lado dos meus, e continuar onde sempre estive durante muitos anos, volto a experimentar os padecimentos que sofri; entretanto, ao conformar-me com os superiores desígnios, sinto-me logo mais leve e reconfortado. Apesar da reduzida fração de tempo em que me vejo desperto, já pude fazer semelhante observação. - E os cinco sentidos? - Tenho-os em função perfeita. - Sente fome? - Chego a notar o estômago vazio e ficaria satisfeito se recebesse algo de comer, mas esse desejo não é incômodo ou torturante. - E sede? - Sim, embora não sofra por isso.<br> <br> Ia continuar o curioso inquérito, mas Jerônimo, sorridente, desarmou-me a pesquisa, asseverando: - Você pode intensificar o relatório das impressões, quanto deseje, interessado em colaborar na criação da técnica descritiva da morte, certo, porém, de que não se verificam duas desencarnações rigorosamente iguais. O plano impressivo depende da posição espiritual de cada um. Sorrimos todos, ante meus impulsos juvenis de saber, e, amparando Dimas, carinhosamente, efetuamos, satisfeitos, a viagem de volta.<br> Bibliografia: - O Livro dos Espíritos, Parte Segunda, Capítulo III, questões 149 a 165 e 237 a 257. Questões para estudo e participação: O instrutor Jerônimo, como relata André Luiz ao final do capítulo, alertou que se pode tirar algumas impressões a respeito das circunstâncias em que se processa o passamento do plano físico para o plano espiritual. Salientou, todavia, que <br>não se verificam duas desencarnações rigorosamente iguais<br>, ou seja, cada caso é um caso. Podemos, porém, tirar algum aprendizado sobre o assunto, com base nos casos relatados no capítulo em estudo. Estudemos algumas questões, comparando sempre o caso de Dimas e das entidades desencarnadas que se encontravam na necrópole. l - Após a morte do corpo físico, o espírito mantém-se vivo e conserva a sua individualidade? 2 - A separação do espírito e do corpo carnal se processa imediatamente após a morte deste? Como ela se processa? 3 - O espírito sente a decomposição do seu corpo físico? 4 - O espírito tem consciência imediata de que deixou o corpo físico? 5 - Que tipos de perturbação pode sofrer o espírito ao tomar consciência de sua desencarnação? Essa perturbação é igual para todos? 6 - O espírito desencarnado sente as mesmas necessidades e passam pelos mesmos sofrimentos que os encarnados? 7 - Como podemos interpretar a presença das entidades desencarnadas encontradas dependuradas nas grades da necrópole? 8 - Após a desencarnação, o espírito mantém as sensações que tinha quando no corpo físico? Como reage a elas?


Conclusão

Questões propostas para estudo e participação: O instrutor Jerônimo, como relata André Luiz ao final do capítulo, alertou que se pode tirar algumas impressões a respeito das circunstâncias em que se processa o passamento do plano físico para o plano espiritual. Salientou, todavia, que ###não se verificam duas desencarnações rigorosamente iguais###, ou seja, cada caso é um caso. Podemos, porém, tirar algum aprendizado sobre o assunto, com base nos casos relatados no capítulo em estudo. Estudemos algumas questões, comparando sempre o caso de Dimas e das entidades desencarnadas que se encontravam na necrópole. 1 - Após a morte do corpo físico, o espírito mantém-se vivo e conserva a sua individualidade? O exemplo narrado por André Luiz nos comprova claramente a sobrevivência do espírito e a manutenção da sua individualidade após a morte do corpo físico, ambas as questões pontos doutrinários do espiritismo. Dimas manteve-se vivo e com a mesma aparência que mantinha antes da desencarnação, embora em estado de perturbação. Mais uma demonstração do equívoco das teorias materialistas, que acreditam que a morte do corpo físico e que nada subsiste e panteístas, que sustentam que o espírito retorno a um todo universal donde é extraído. 2 - A separação do espírito e do corpo carnal se processa imediatamente após a morte deste? Como ela se processa? A separação do espírito de seu corpo carnal se dá gradativamente. O que vai ditar o ritmo dessa gradação é o estado evolutivo do desencarnante. Quanto mais evoluído, mais rápido se processa o desate. No caso de Dimas, tratava-se de um espírito já com alguma conquista evolutiva, médium atuante que era, com conhecimento, portanto, da vida espiritual. Com a ajuda do instrutor Jerônimo, a separação se deu algumas horas após a falência de seu corpo físico, tendo Dimas logo retomado a consciência e até acompanhado o enterro do corpo. Vemos, no entanto, que o mesmo não aconteceu com os espíritos que foram encontrados na necrópole, uma mulher e um homem aparentando avançada idade. Em ambos os casos, espíritos pouco evoluídos, muito ligados à matéria e às questões da vida carnal, André Luiz observou que se encontravam ainda ligados ao corpo físico já enterrado, através de um cordão fluídico que os ligava ao envoltório carnal. 3 - O espírito sente a decomposição do seu corpo físico? Mais uma vez, o que vai definir a situação é o grau evolutivo do espírito desencarnante. Dimas não sentiu qualquer reação com a decomposição de seu corpo físico, que já se processava durante o velório. A mulher encontrada no cemitério, à beira do túmulo, porém, sentia seu corpo apodrecer, como ela própria declarou. 4 - O espírito tem consciência imediata de que deixou o corpo físico? Também vai depender da evolução do espírito desencarnante. Quanto mais evoluído é o espírito, mais rapidamente toma consciência de sua nova situação. Dimas, após um período de perturbação, logo foi esclarecido da sua nova condição e a compreendeu. A mulher e o homem velho encontrados, porém, ainda não tinham consciência de que haviam desencarnado. Espíritos ainda muito atrasados em suas evoluções, a mulher queria a qualquer custo voltar para casa, ao convívio da família; o velho, só pensava nos bens que amealhara durante a última existência. Ambos não tinham a menor conscientização de que haviam retornado ao mundo espiritual. 5 - Que tipos de perturbação pode sofrer o espírito ao tomar consciência de sua desencarnação? Essa perturbação é igual para todos? Imediatamente após a morte do corpo físico, o espírito passa por um período em estado de perturbação. Todos necessitam de algum tempo, por menor que seja, para tomar consciência da nova situação. Aquele que, ainda na vida física, tinha algum conhecimento da vida espiritual, mais rapidamente adquire o equilíbrio, ao contrário do que viveu unicamente em função das conquistas materiais. Esses podem levar meses ou até séculos para se conhecerem na nova realidade. Dimas logo se reequilibrou emocionalmente; os outros dois espíritos, apesar de terem desencarnado havia algum tempo, ainda se encontravam em grave estado de perturbação. 6 - O espírito desencarnado sente as mesmas necessidades e passam pelos mesmos sofrimentos que os encarnados? Uma vez desencarnado, o espírito ainda pode experimentar as mesmas necessidades e sofrimentos que sentia na vida material. Contudo, essas necessidades e sofrimentos não são mais de ordem material, mas, sim, de ordem moral. À medida que vai evoluindo, vãosendo minimizadas as necessidades e sofrimentos, até desaparecerem. Por exemplo: a fome e a sede que o espírito sente, não é mais de ordem material, pois, sem o corpo físico, não necessita ele de comida nem de bebida. Mas subsiste uma necessidade moral, fruto das sensações que mantém, que vai desaparecendo conforme ele adquire melhores condições para se desvencilhar mais rapidamente da vida material. 7 - Como podemos interpretar a presença das entidades desencarnadas encontradas dependuradas nas grades da necrópole? Eram espíritos ainda muito atrasados, que ficavam vampirizando o que restava de fluido vital nos corpos que para lá eram levados. Foi para evitar que isso acontecesse com Dimas que Jerônimo, antes que o corpo físico do desencarnante fosse enterrado, aplicou-lhe passes magnéticos, extraindo os resíduos de vitalidade que ainda existiam. 8 - Após a desencarnação, o espírito mantém as sensações que tinha quando no corpo físico? Como reage a elas? O espírito desencarnado conserva a lembrança das sensações que sentia no corpo físico. Dimas informou que sentia integral impressão do corpo físico, sentindo, inclusive, os padecimentos que experimentara, fome e sede. Todavia, bastava sua ação pelo pensamento, conformando-se com os desígnios superiores, para que se sentisse mais leve e reconfortado. Já os outros dois espíritos cuja experiência é relatada pelo Autor, também mantinham a impressão do corpo físico, porém não conseguiam aliviar seus sofrimentos, por estarem vibrando numa faixa própria de espíritos muito pouco evoluídos, com pensamentos negativos. Podemos concluir, com esses exemplos trazidos por André Luiz, que ratificam os ensinamentos contidos no Livro dos Espíritos, que o espírito, ao desencarnar, mantém as sensações do corpo físico, das quais vai se despojando à medida que marcha para a perfeição. A reação a essas sensações vai depender do grau evolutivo de cada um. Dimas sentiu fome e sede, mas isso não o fez sofrer. Já os outros dois espíritos, sofriam com as sensações do corpo físico que sentiam.