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A Gênese

116 - Teoria da presciência (1a. Parte) - ítens 1 a 6

R E S U M O 1.- Como é possível o conhecimento do futuro? Não existem as coisas futuras, dizem; elas ainda se encontram no nada; como, pois, se há de saber que se darão? São, no entanto, em grande número os casos de predições realizadas, donde forçosa se torna a conclusão de que ocorre aí um fenômeno para cuja explicação falta a chave, porquanto não há efeito sem causa. É essa causa que vamos tentar descobrir e é ainda o Espiritismo, já de si mesmo chave de tantos mistérios, que no-la fornecerá, mostrando-nos, ao demais, que o próprio fato das predições não se produz com exclusão das leis naturais. 2.- Suponhamos um homem colocado no cume de uma alta montanha, a observar a vasta extensão da planície em derredor. Nessa situação, o espaço de uma légua pouca coisa será para ele, que poderá facilmente apanhar, de um golpe de vista, todos os acidentes do terreno, de um extremo a outro da estrada que lhe esteja diante dos olhos. O viajor, que pela primeira vez percorra essa estrada, sabe que, caminhando, chegará ao fim dela. Entretanto, os acidentes do terreno, as subidas e descidas, os cursos dágua que terá de transpor, os bosques que haja de atravessar, os precipícios em que poderá cair, as casas hospitaleiras onde lhe será possível repousar, os ladrões que o espreitem para roubá-lo, tudo isso independe da sua pessoa; é para ele o desconhecido, o futuro, porque a sua vista não vai além da pequena área que o cerca. Para o homem que está em cima da montanha e que o acompanha com o olhar, tudo aquilo está presente. Suponhamos que esse homem desce do seu ponto de observação e, indo ao encontro do viajante, lhe diz: «Em tal momento, encontrarás tal coisa, serás atacado e socorrido.» Estará predizendo o futuro, mas, futuro para o viajante, não para ele, autor da previsão, pois que, para ele, esse futuro é presente. 3.- Se, agora, sairmos do âmbito das coisas puramente materiais e entrarmos, pelo pensamento, no domínio da vida espiritual, veremos o mesmo fenômeno produzir-se em maior escala. Os Espíritos desmaterializados são como o homem da montanha; o espaço e a duração não existem para eles. Mas, a extensão e a penetração da vista são proporcionadas à depuração deles e à elevação que alcançaram na hierarquia espiritual. Nos Espíritos inferiores, a visão é circunscrita, não só porque eles dificilmente podem afastar-se do globo a que se acham presos, como também porque a grosseria de seus perispíritos lhes vela as coisas distantes, do mesmo modo que um nevoeiro as oculta aos olhos do corpo. Se tal faculdade, mesmo restrita, se pode contar entre os atributos da criatura, em que grau de potencialidade não existirá no Criador, que abrange o infinito? Para o Criador, o tempo não existe: o princípio e o fim dos mundos lhe são o presente. Dentro desse panorama imenso, que é a duração da vida de um homem, de uma geração, de um povo? 4.- Entretanto, como o homem tem de concorrer para o progresso geral, como certos acontecimentos devem resultar da sua cooperação, pode convir que, em casos especiais, ele pressinta esses acontecimentos, a fim de lhes preparar o encaminhamento e de estar pronto a agir, em chegando a ocasião. Por isso é que Deus, às vezes, permite se levante uma ponta do véu; mas, sempre com fim útil, nunca para satisfação de vã curiosidade. Tal missão pode, pois, ser conferida, não a todos os Espíritos, porquanto muitos há que do futuro não conhecem mais do que os homens, porém a alguns Espíritos bastante adiantados para desempenhá-la. 5.- Pode também semelhante missão ser confiada a certos homens, desta maneira: Aquele a quem é dado o encargo de revelar uma coisa oculta recebe, à sua revelia e por inspiração dos Espíritos que a conhecem, a revelação dela e a transmite maquinalmente, sem se aperceber do que faz. É sabido, ao demais, que, assim durante o sono, como em estado de vigília, nos êxtases da dupla vista, a alma se desprende e adquire, em grau mais ou menos alto, as faculdades do Espírito livre. Se for um Espírito adiantado, se, sobretudo, houver recebido, como os profetas, uma missão especial para esse efeito, gozará, nos momentos de emancipação da alma, da faculdade de abarcar, por si mesmo, um período mais ou menos extenso, e verá, como presente, os sucessos desse período. Pode então revelá-los no mesmo instante, ou conservar lembrança deles ao despertar. Se os sucessos hajam de permanecer secretos, ele os esquecerá, ou apenas guardará uma vaga intuição do que lhe foi revelado, bastante para o guiar instintivamente. 6.- É assim que em certas ocasiões essa faculdade se desenvolve providencialmente, na iminência de perigos, nas grandes calamidades, nas revoluções, e é assim também que a maioria das seitas perseguidas adquire numerosos videntes. É ainda por isso que se vêem os grandes capitães avançar resolutamente contra o inimigo, certos da vitória; que homens de gênio, como, por exemplo, Cristóvão Colombo, caminham para uma meta, anunciando previamente, por assim dizer, o instante em que a alcançarão. É que eles viram, essa meta, que, para seus Espíritos, deixou de ser o desconhecido. Nada, pois, tem de sobrenatural o dom da predição, mais do que uma imensidade de outros fenômenos. Ele se funda nas propriedades da alma e na lei das relações do mundo visível com o mundo invisível, que o Espiritismo veio dar a conhecer. A teoria da presciência talvez não resolva de modo absoluto todos os casos que se possam apresentar de revelação do futuro, mas não se pode deixar de convir em que lhe estabelece o princípio fundamental. QUESTÕES PARA ESTUDO a) O que é a teoria da presciência? b) É igual para todos os espíritos a faculdade de perceber o futuro? c) Com que fim Deus permite o conhecimento de determinados acontecimentos futuros? d) Quais os meios e circunstâncias mais comuns usados pela Providência para dar a conhecer o futuro?


Conclusão

C O N C L U S Ã O São em grande número os casos de predições realizadas, donde forçoso concluir que ocorre, aí , um fenômeno para cuja explicação falta a chave, porquanto não há efeito sem causa. É essa causa que o Espiritismo fornecerá, mostrando, que tais fenômenos não se produzem com exclusão das leis naturais. Nada tem de sobrenatural o fenômeno das predições, que se funda nas propriedades do espírito e nas leis que regulam as relações com o mundo invisível, que o Espiritismo veio dar a conhecer. QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO a) O que é a teoria da presciência? R - Allan Kardec deu o nome de ###teoria da presciência### à teoria que objetiva explicar as causas e o mecanismo do fenômeno das predições. Como destaca, são inúmeros os casos de predições realizadas, donde forçoso concluir que existe, aí, um fenômeno, cuja explicação a ciência terrena não consegue encontrar. Em conseqüência, como tudo que permanece incompreensível, a tendência natural do homem é atribuir ao sobrenatural esse tipo de fenômeno. Cabe, pois, ao Espiritismo, como em relação a tantos outros fenômenos até então incompreendidos, mostrar a chave que explica a predição como um fenômeno puramente natural. Segundo esta teoria, a predição se explica pelo fato de, para o espírito desmaterializado, o espaço e o tempo não existirem; o futuro e o presente se confundem. Como o homem da montanha exemplificado por Kardec, o espírito vê como se atuais fossem acontecimentos que para o homem da Terra são futuros. b) É igual para todos os espíritos a faculdade de perceber o futuro? R - A extensão e a penetração dessa visão são proporcionais à depuração e à elevação do espírito. Tanto mais elevado for o espírito na hierarquia espiritual, maior a sua capacidade de percepção das coisas que para o homem são futuras. Nos espíritos inferiores, essa visão é restrita, não só porque têm menos liberdade de movimento como também devido ao perispírito denso que ainda possuem, que lhes dificulta ver coisas distantes, do mesmo modo que um nevoeiro as oculta aos olhos do corpo. Assim, conforme o grau de perfeição que tenha atingido, um espírito pode alcançar um período de tempo de alguns anos, séculos ou milhares de anos, desenrolando-se simultaneamente perante ele os acontecimentos presentes e futuros. c) Com que fim Deus permite o conhecimento de determinados acontecimentos futuros? R - O conhecimento de algum acontecimento futuro está condicionado à sua conveniência para a humanidade. Quando esse conhecimento contribui para o progresso geral, Deus permite que o homem o pressinta, com o fim de poder agir na ocasião. Tal, porém, somente se dá com um fim útil e nunca para simplesmente satisfazer a curiosidade. Por essa razão, só aos espíritos mais adiantados é dada essa atribuição. Essas revelações, geralmente, ocorrem espontaneamente, sendo muito raro acontecer em resposta a uma pergunta neste sentido. d) Quais os meios e circunstâncias mais comuns usados pela Providência para dar a conhecer o futuro? R - Pode o homem a quem é dada essa missão receber a revelação do futuro por inspiração dos Espíritos que a conhecem, pelo sonho ou pela dupla vista. Nestes momentos, como sabemos, o espírito se desprende do corpo físico e se tornar mais ou menos livre, podendo exercer com maior liberdade as faculdades que goza como espírito livre. As circunstâncias em que mais comumente são permitidas essas revelações são nos momentos de perigos causados pelas grandes calamidades ou quando determinado homem de gênio tem de atingir uma meta. No caso, esse homem vê previamente a meta atingida, que, para ele, deixa de ser desconhecida.