A Gênese

019 – Origem do bem e do mal - 1a. parte (itens 1 a 6)

Estudo nº. 019-4

Capítulo III - O bem e o mal

Tema: Origem do bem e do mal - 1ª parte (itens 1 a 6)

Origem do bem e do mal

1. - Sendo Deus o princípio de todas as coisas e sendo todo sabedoria, todo bondade, todo justiça, tudo o que dele procede há de participar dos seus atributos, porquanto o que é infinitamente sábio, justo e bom nada pode produzir que seja ininteligente, mau e injusto. O mal que observamos não pode ter nele a sua origem.

2. - Se o mal estivesse nas atribuições de um ser especial, quer se lhe chame Arimane, quer Satanás, ou ele seria igual a Deus, e, por conseguinte, tão poderoso quanto este, e de toda a eternidade como ele, ou lhe seria inferior.

No primeiro caso, haveria duas potências rivais, incessantemente em luta, procurando cada uma desfazer o que fizesse a outra, contrariando-se mutuamente, hipótese esta inconciliável com a unidade de vistas que se revela na estrutura do Universo.

No segundo caso, sendo inferior a Deus, aquele ser lhe estaria subordinado. Não podendo existir de toda a eternidade como Deus, sem ser igual a este, teria tido um começo. Se fora criado, só o poderia ter sido por Deus, que, então, houvera criado o Espírito do mal, o que implicaria negação da bondade infinita. (Veja-se: O Céu e o Inferno, cap. X: «Os demônios».)

3. - Entretanto, o mal existe e tem uma causa.

Os males de toda espécie, físicos ou morais, que afligem a Humanidade, formam duas categorias que importa distinguir: a dos males que o homem pode evitar e a dos que lhe independem da vontade. Entre os primeiros, cumpre se incluam os flagelos naturais.

O homem, cujas faculdades são restritas, não pode penetrar, nem abarcar o conjunto dos desígnios do Criador; aprecia as coisas do ponto de vista da sua personalidade, dos interesses factícios e convencionais que criou para si mesmo e que não se compreendem na ordem da Natureza. Por isso é que, muitas vezes, se lhe afigura mau e injusto aquilo que consideraria justo e admirável, se lhe conhecesse a causa, o objetivo, o resultado definitivo. Pesquisando a razão de ser e a utilidade de cada coisa, verificará que tudo traz o sinete da sabedoria infinita e se dobrará a essa sabedoria, mesmo com relação ao que lhe não seja compreensível.

4. - O homem recebeu em partilha uma inteligência com cujo auxílio lhe é possível conjurar, ou, pelo menos, atenuar os efeitos de todos os flagelos naturais. Quanto mais saber ele adquire e mais se adianta em civilização, tanto menos desastrosos se tornam os flagelos. Com uma organização sábia e previdente, chegará mesmo a lhes neutralizar as conseqüências, quando não possam ser inteiramente evitados. Assim, com referência, até, aos flagelos que têm certa utilidade para a ordem geral da Natureza e para o futuro, mas que, no presente, causam danos, facultou Deus ao homem os meios de lhes paralisar os efeitos.

Assim é que ele saneia as regiões insalubres, imuniza contra os miasmas pestíferos, fertiliza terras áridas e se industria em preservá-las das inundações; constrói habitações mais salubres, mais sólidas para resistirem aos ventos tão necessários à purificação da atmosfera e se coloca ao abrigo das intempéries. É assim, finalmente, que, pouco a pouco, a necessidade lhe fez criar as ciências, por meio das quais melhora as condições de habitabilidade do globo e aumenta o seu próprio bem-estar.

5. - Tendo o homem que progredir, os males a que se acha exposto são um estimulante para o exercício da sua inteligência, de todas as suas faculdades físicas e morais, incitando-o a procurar os meios de evitá-los. Se ele nada houvesse de temer, nenhuma necessidade o induziria a procurar o melhor; o espírito se lhe entorpeceria na inatividade; nada inventaria, nem descobriria. A dor é o aguilhão que o impede para a frente, na senda do progresso.

6. - Porém, os males mais numerosos são os que o homem cria pelos seus vícios, os que provêm do seu orgulho, do seu egoísmo, da sua ambição, da sua cupidez, de seus excessos em tudo. Aí a causa das guerras e das calamidades que estas acarretam, das dissenções, das injustiças, da opressão do fraco pelo forte, da maior parte, afinal, das enfermidades.

Deus promulgou leis plenas de sabedoria, tendo por único objetivo o bem. Em si mesmo encontra o homem tudo o que lhe é necessário para cumpri-las. A consciência lhe traça a rota, a lei divina lhe está gravada no coração e, ao demais, Deus lha lembra constantemente por intermédio de seus messias e profetas, de todos os Espíritos encarnados que trazem a missão de o esclarecer, moralizar e melhorar e, nestes últimos tempos, pela multidão dos Espíritos desencarnados que se manifestam em toda parte. Se o homem se conformasse rigorosamente com as leis divinas, não há duvidar de que se pouparia aos mais agudos males e viveria ditoso na Terra. Se assim procede, é por virtude do seu livre-arbítrio: sofre então as conseqüências do seu proceder. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, nos 4, 5, 6 e seguintes.)

QUESTÕES PARA ESTUDO

a) Segundo Kardec, por que o mal não pode provir de Deus?

b) Pode o mal provir de um ser especial?

c) Não provindo o mal de Deus nem de qualquer outro ser com semelhantes poderes, de onde provém?

d) Por que Deus permite a existência do mal?

e) O que faz Deus para evitar a ocorrência do mal?

Conclusão

C O N C L U S Ã O

Sendo Deus o princípio de todas as coisas e todo sabedoria, bondade e justiça, tudo o que dele procede há de ter estes mesmos atributos. Logo, o mal não pode ter nele a sua origem. Entretanto, o mal existe e tem uma causa. Não podendo o homem penetrar nos desígnios do Criador, desconhece o por quê da sua ocorrência. O que lhe parece um mal, sob a ótica material com que aprecia as coisas, Deus permite que aconteça por ser necessário ao seu progresso. Deus concedeu ao homem tudo o necessário para que se evitasse o mal e, de tempos em tempos, envia-lhe seus emissários para esclarecê-lo.


QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO


a) Segundo Kardec, por que o mal não pode provir de Deus?

R - Deus é o princípio de todas as coisas e tem como atributos a sabedoria, a bondade e a justiça, em seu grau infinito. Tudo o que dele procede contém esses atributos, porquanto o que é infinitamente sábio, justo e bom nada pode produzir que seja ininteligente, mau e injusto, conforme explica Kardec. Sendo assim, o mal não pode ter nele a sua origem.

b) Pode o mal provir de um ser especial?

Se o mal tivesse sua origem num ser especial, dedicado exclusivamente a ele, qualquer que seja o nome que se lhe dêem as religiões, este ser seria igual a Deus e, por conseguinte, tão poderoso quanto este ou lhe seria inferior. Se fosse igual à Divindade, teríamos duas potências rivais a dirigir o Universo, em luta incessante, uma pelo bem, outra pelo mal. Cada uma procuraria desfazer a obra da outra, o que seria incompatível com a harmonia que se revela no Universo. Se inferior a Deus, a ele estaria subordinado e somente poderia ser sua criatura. Teríamos, então, que Deus houvera criado o espírito do mal, o que implicaria em negação do atributo de bondade infinita.

c) Não provindo o mal de Deus nem de qualquer outro ser com semelhantes poderes, de onde provém?
R - Kardec classificou em duas categorias os males que atingem a Humanidade: aqueles que provêm de sua vontade e os que o homem não pode evitar. Estes últimos, são aqueles que provêm das leis e forças da Natureza, como os flagelos destruidores, inevitáveis e que atingem por vezes extensas áreas e um grande número de homens. Os primeiros, mais numerosos, são os que o homem cria pelos seus atos e pensamentos, os que provêm de seus vícios, como o orgulho, o egoísmo e a ambição. Enfim, dos excessos que pratica. Nestes vícios estão a causa das guerras e das calamidades que estas acarretam, das injustiças, da opressão do fraco pelo forte e da maior parte das enfermidades.

d) Por que Deus permite a existência do mal?
R - Com sua inteligência ainda restrita, o homem não pode penetrar nos desígnios do Criador, apreciando as coisas unicamente do ponto de vista do momento e de sua personalidade. Por esta razão, não compreende a ordem da Natureza, deixando de perceber que aquilo que muitas vezes se lhe afigura um mal é um meio que lhe fará progredir em conhecimento. É o que ocorre com relação aos flagelos naturais, que Deus permite aconteçam para que o homem se desenvolva em conhecimento, com o objetivo de atenuar os seus efeitos. Quanto mais se adianta o homem, tanto menos desastrosos se tornam os flagelos, neutralizando as conseqüências ou mesmo evitando a sua ocorrência. É assim que, pouco a pouco, a necessidade faz o homem criar as ciências por meio das quais melhora as condições de habitabilidade do globo e aumenta o seu próprio bem-estar.

Quanto aos males gerados pelo mau uso do livre-arbítrio pelo homem, Deus permite que aconteçam não só em respeito a esse livre-arbítrio como, também, porque, sendo o Planeta de provas e de expiações, essas situações, infelizmente, ainda são necessárias ao aprimoramento dos espíritos que compõem a sua humanidade. Os males a que se acha o homem exposto na Terra servem como "um estimulante para o exercício da sua inteligência, de todas as suas faculdades físicas e morais, incitando-o a procurar os meios de evitá-los. Se ele nada houvesse de temer, nenhuma necessidade o induziria a procurar o melhor; o espírito se lhe entorpeceria na inatividade; nada inventaria, nem descobriria. A dor é o aguilhão que o impede para a frente, na senda do progresso", completa Kardec.

e) O que faz Deus para evitar a ocorrência do mal?
R - Deus promulgou leis sábias e soberanas, que objetivam unicamente o bem. Nelas o homem encontra o necessário para evitar a ocorrência do mal. Dotou o homem das faculdades que lhe são necessárias ao seu cumprimento e escreveu na sua consciência essas leis. Além disso, de tempos em tempos, manda à Terra seus enviados, Espíritos Superiores, que encarnam com a missão de trazerem esclarecimentos e lembrar os homens de sua Lei, visando moralizá-los e melhorá-los. Se se conformasse com as leis divinas, o homem se pouparia a todos os males e viveria ditoso na Terra. Se assim não acontece, é pelo uso equivocado do seu livre-arbítrio, o que o faz sofrer as conseqüências do seu proceder.