A Gênese

006 – Caráter da revelação espírita (ítens 26 a 30)

Capítulo I - Caráter da revelação espírita (V) - itens 26 a 30

Caráter da revelação espírita
(V)

26. - Entretanto, o Cristo acrescenta: «Muitas das coisas que vos digo ainda não as compreendeis e muitas outras teria a dizer, que não compreenderíeis; por isso é que vos falo por parábolas; mais tarde, porém, enviar-vos-ei o Consolador, o Espírito de Verdade, que restabelecerá todas as coisas e vo-las explicará todas.» (S. João, caps. XIV, XVI; S. Mat., cap. XVII.)

Se o Cristo não disse tudo quanto poderia dizer, é que julgou conveniente deixar certas verdades na sombra, até que os homens chegassem ao estado de compreendê-las. Como ele próprio o confessou, seu ensino era incompleto, pois anunciava a vinda daquele que o completaria; previra, pois, que suas palavras não seriam bem interpretadas, e que os homens se desviariam do seu ensino; em suma, que desfariam o que ele fez, uma vez que todas as coisas hão de ser restabelecidas: ora, só se restabelece aquilo que foi desfeito.

27. - Por que chama ele Consolador ao novo messias? Este nome, significativo e sem ambigüidade, encerra toda uma revelação. Assim, ele previa que os homens teriam necessidade de consolações, o que implica a insuficiência daquelas que eles achariam na crença que iam fundar. Talvez nunca o Cristo fosse tão claro, tão explícito, como nestas últimas palavras, às quais poucas pessoas deram atenção bastante, provavelmente porque evitaram esclarecê-las e aprofundar-lhes o sentido profético.

28. - Se o Cristo não pôde desenvolver o seu ensino de maneira completa, é que faltavam aos homens conhecimentos que eles só podiam adquirir com o tempo e sem os quais não o compreenderiam; há muitas coisas que teriam parecido absurdas no estado dos conhecimentos de então. Completar o seu ensino deve entender-se no sentido de explicar e desenvolver, não no de ajuntar-lhe verdades novas, porque tudo nele se encontra em estado de gérmen, faltando-lhe só a chave para se apreender o sentido das palavras.

29. - Mas, quem toma a liberdade de interpretar as Escrituras Sagradas? Quem tem esse direito? Quem possui as necessárias luzes, senão os teólogos? Quem o ousa? Primeiro, a Ciência, que a ninguém pede permissão para dar a conhecer as leis da Natureza e que salta sobre os erros e os preconceitos. Quem tem esse direito? Neste século de emancipação intelectual e de liberdade de consciência, o direito de exame pertence a todos e as Escrituras não são mais a arca santa na qual ninguém se atreveria a tocar com a ponta do dedo, sem correr o risco de ser fulminado. Quanto às luzes especiais, necessárias, sem contestar as dos teólogos, por mais esclarecidos que fossem os da Idade Média, e, em particular, os Pais da Igreja, eles, contudo, não o eram bastante para não condenarem como heresia o movimento da Terra e a crença nos antípodas. Mesmo sem ir tão longe, os teólogos dos nossos dias não lançaram anátema à teoria dos períodos de formação da Terra?

Os homens só puderam explicar as Escrituras com o auxílio do que sabiam, das noções falsas ou incompletas que tinham sobre as leis da Natureza, mais tarde reveladas pela Ciência. Eis por que os próprios teólogos, de muito boa-fé, se enganaram sobre o sentido de certas palavras e fatos do Evangelho. Querendo a todo custo encontrar nele a confirmação de uma idéia preconcebida, giraram sempre no mesmo círculo, sem abandonar o seu ponto de vista, de modo que só viam o que queriam ver. Por muito instruídos que fossem, eles não podiam compreender causas dependentes de leis que lhes eram desconhecidas.


Mas, quem julgará das interpretações diversas e muitas vezes contraditórias, fora do campo da teologia? O futuro, a lógica e o bom-senso. Os homens, cada vez mais esclarecidos, à medida que novos fatos e novas leis se forem revelando, saberão separar da realidade os sistemas utópicos. Ora, as ciências tornam conhecidas algumas leis; o Espiritismo revela outras; todas são
indispensáveis à inteligência dos Textos Sagrados de todas as religiões, desde Confúcio e Buda até o Cristianismo. Quanto à teologia, essa não poderá judiciosamente alegar contradições da Ciência, visto como também ela nem sempre está de acordo consigo mesma.

30. - O Espiritismo, partindo das próprias palavras do Cristo, como este partiu das de Moisés, é conseqüência direta da sua doutrina. À idéia vaga da vida futura, acrescenta a revelação da existência do mundo invisível que nos rodela e povoa o espaço, e com isso precisa a crença, dá-lhe um corpo, uma consistência, uma realidade à idéia. Define os laços que unem a alma ao corpo
e levanta o véu que ocultava aos homens os mistérios do nascimento e da morte. Pelo Espiritismo, o homem sabe donde vem, para onde vai, por que está na Terra, por que sofre temporariamente e vê por toda parte a justiça de Deus. Sabe que a alma progride incessantemente, através de uma série de existências sucessivas, até atingir o grau de perfeição que a aproxima de Deus. Sabe que todas as almas, tendo um mesmo ponto de origem, são criadas iguais, com idêntica aptidão para progredir, em virtude do seu livre-arbítrio; que todas são da mesma essência e que não há entre elas diferença, senão quanto ao progresso realizado; que todas têm o mesmo destino e alcançarão a mesma meta, mais ou menos rapidamente, pelo trabalho e boa-vontade.

Sabe que não há criaturas deserdadas, nem mais favorecidas umas do que outras; que Deus a nenhuma criou privilegiada e dispensada do trabalho imposto às outras para progredirem; que não há seres perpetuamente votados ao mal e ao sofrimento; que os que se designam pelo nome de demônios são Espíritos ainda atrasados e imperfeitos, que praticam o mal no espaço, como o praticavam na Terra, mas que se adiantarão e aperfeiçoarão; que os anjos ou Espíritos puros não são seres à parte na criação, mas Espíritos que chegaram à meta, depois de terem percorrido a estrada do progresso; que, por essa forma, não há criações múltiplas, nem diferentes categorias entre os seres inteligentes, mas que toda a criação deriva da grande lei de unidade que rege o Universo e que todos os seres gravitam para um fim comum que é a perfeição, sem que uns sejam favorecidos à custa de outros, visto serem todos filhos das suas próprias obras.

QUESTÕES PARA ESTUDO

a) Por que o Cristo não ensinou tudo o que tinha para ensinar?

b) Por que Jesus denominou a nova revelação de "Consolador"?

c)Como a Ciência e o Espiritismo contribuem para a interpretação das chamadas "Escrituras Sagradas"?

c) Por que Kardec afirma que o Espiritismo é conseqüência direta da doutrina de Jesus?

Conclusão

C O N C L U S Ã O

Se o Cristo não disse tudo quanto poderia dizer, é que julgou conveniente deixar certas verdades na sombra, até que os homens chegassem ao estado de compreendê-las. Como ele próprio o confessou, seu ensino era incompleto, pois anunciava a vinda daquele que o completaria. Previra, ainda, que suas palavras não seriam bem interpretadas e que os homens se desviariam do seu ensino. Completar o seu ensino deve entender-se no sentido de explicar e desenvolver, não no de ajuntar-lhe verdades novas, porque tudo nele se encontra em estado de gérmen, faltando-lhe só a chave para se apreender o sentido das palavras.

QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

a) Por que o Cristo não ensinou tudo o que tinha para ensinar?

R - Em sua passagem pela Terra, o Cristo não disse tudo o que poderia dizer, uma vez que a humanidade não se encontrava, àquela época, em condições de compreender certas verdades. Conforme afirmou, seu ensinamento era incompleto, posto que não pôde ser desenvolvido inteiramente, por faltar aos homens conhecimentos que só podiam ser adquiridos com o tempo e sem os quais não o compreenderiam. Como ele próprio afirmou: «Muitas das coisas que vos digo ainda não as compreendeis e muitas outras teria a dizer, que não compreenderíeis; por isso é que vos falo por parábolas; mais tarde, porém, enviar-vos-ei o Consolador, o Espírito de Verdade, que restabelecerá todas as coisas e vo-las explicará todas.» (S. João, caps. XIV, XVI; S. Mat., cap. XVII.)

b) Por que Jesus denominou a nova revelação de "Consolador"?

R - Jesus denominou a nova revelação de "Consolador" porque previa que os homens necessitariam de consolações, o que as crenças que seriam fundadas não teriam como o fazer. Esse "Consolador", contudo, não deve ser entendido como a revelação
de novas verdades, mas no sentido de explicar e desenvolver o ensino do Cristo, porque é nele que se encontra toda a verdade. Faltava, apenas, a chave para entender o seu significado.

c)Como a Ciência e o Espiritismo contribuem para a interpretação das chamadas "Escrituras Sagradas"?

R - Durante longo período, os homens só puderam explicar os ensinamentos contidos no Antigo Testamento e no Evangelho com o auxílio do que até então lhes era permitido saber. Tinham sobre as leis da Natureza noções falsas ou incompletas. Os teólogos davam às Escrituras interpretações embasadas em erros e preconceitos, buscando obter a confirmação de idéias preconcebidas. Não podiam compreender causas que dependiam do conhecimento de leis que lhes eram até então desconhecidas. Tornando conhecidas algumas destas leis, a Ciência possibilita aos homens uma interpretação mais de conformidade com a razão, a lógica e o bom-senso. O Espiritismo, por sua vez, revela leis que igualmente ficaram desconhecidas durante muito tempo, relativas ao mundo espiritual. Assim, tanto as ciências positivas, como o Espiritismo, prestam grande contribuição para a inteligência dos textos das chamadas Escrituras, criando as condições necessárias à sua correta interpretação e derrogando os sistemas utópicos defendidos pelos teólogos.

d) Por que Kardec afirma que o Espiritismo é conseqüência direta da doutrina de Jesus?

R - O Espiritismo é conseqüência direta dos ensinamentos de Jesus porque partiu de suas palavras, como ele partiu das de Moisés. Kardec cita alguns dos ensinamentos trazidos pelo Espiritismo que comprovam ser ele conseqüência direta dos ensinos de Jesus, complementando-o, como ele prometera. O Cristo nos trouxe uma vaga idéia da vida futura, não podendo se estender em maiores esclarecimentos, face à incapacidade de compreensão dos homens.

O Espiritismo acrescenta ao ensino de Jesus a revelação da existência do mundo espiritual, que nos rodeia e que povoa o espaço; esclarece acerca do nascimento e da morte, mostrando aos homens de onde vem e para onde vai, por que está na Terra e por que sofre; ensina que a alma progride incessantemente até atingir a perfeição possível que a aproxima de Deus, através das vidas sucessivas; que as almas são criadas em iguais condições de aptidão para progredir; que Deus é igual para todos, não havendo criaturas deserdadas nem favorecidas; que não há seres perpetuamente destinados ao mal e ao sofrimento nem outros criados puros e perfeitos. Enfim, o Espiritismo demonstra que "não há criações múltiplas, nem diferentes categorias entre os seres inteligentes, mas que toda a criação deriva da grande lei de unidade que rege o Universo e que todos os seres gravitam para um fim comum que é a perfeição, sem que uns sejam favorecidos à custa de outros, visto serem todos filhos das suas próprias obras", completa Kardec.