A Gênese

086 – Os milagres no sentido teológico (itens 1 a 3)

1. - Na acepção etimológica, a palavra milagre (de mirari, admirar) significa admirável, coisa extraordinária, surpreendente.
Na acepção usual, essa palavra perdeu, como tantas outras, a significação primitiva. De geral, que era, se tornou de
aplicação restrita a uma ordem particular de fatos. No entender das massas, um milagre implica a idéia de um fato
extranatural no sentido teológico, é uma derrogação das leis da Natureza, por meio da qual Deus manifesta o seu poder.
Tal, com efeito, a acepção vulgar, que se tornou o sentido próprio, de modo que só por comparação e por metáfora a
palavra se aplica às circunstâncias ordinárias da vida.

2. - Um dos caracteres do milagre propriamente dito é ser inexplicável, por isso mesmo que se realiza com exclusão das
leis naturais. É tanto essa a idéia que, se um fato milagroso (admirável) vem a encontrar explicação, se diz que já não
constitui milagre, por muito espantoso que seja. O que, para a Igreja, dá valor aos milagres é, precisamente, a origem sobrenatural deles e a impossibilidade de serem explicados.

3. - Outro caráter do milagre é o ser insólito, isolado, excepcional. Logo que um fenômeno se reproduz, quer espontânea,
quer voluntariamente, é que está submetido a uma lei e, desde então, seja ou não seja conhecida a lei, já não pode haver milagres.

4. - Aos olhos do ignorante, a Ciência faz milagres todos os dias. Se um homem que se ache realmente morto for
chamado à vida por intervenção divina, haverá verdadeiro milagre, por ser esse um fato contrário às leis da Natureza. Mas,
se em tal homem houver apenas aparências de morte, se lhe restar uma vitalidade latente e a Ciência ou uma ação
magnética conseguir reanimá-lo, para as pessoas esclarecidas ter-se-á dado um fenômeno natural. Para o ignorante, o
fato passará por miraculoso.

5. - Foram fecundos em milagres os séculos de ignorância, porque se considerava sobrenatural tudo aquilo cuja causa
não se conhecia. À proporção que a Ciência revelou novas leis, o círculo do maravilhoso se foi restringindo. Mas, como a
Ciência ainda não explorara todo o vasto campo da Natureza, larga parte dele ficou reservada para o maravilhoso.


6. - Demonstrando que o elemento espiritual é uma das forças vivas da Natureza, que incessantemente atua em com a
força material, o Espiritismo faz que voltem ao rol dos efeitos naturais os que dele haviam saído, porque, como os outros,
também tais efeitos se acham sujeitos a leis. Se for expulso da espiritualidade, o maravilhoso já não terá razão de ser e
só então se poderá dizer que passou o tempo dos milagres.


QUESTÕES PARA ESTUDO

a) Qual a diferença entre o original sentido da palavra milagre e o que lhe vem sendo dado durante os diversos períodos
da história?

b) Qual a conseqüência do entendimento distorcido com que vem sendo utilizada a palavra milagre?

c) Como o Espiritismo pode contribuir para um correto entendimento desta questão?


Conclusão

A palavra milagre perdeu, como tantas outras, a sua significação primitiva. De um sentido geral, que expressava algo
admirável, extraordinário, passou a ter um sentido restrito, empregado para qualificar um fato considerado extranatural,
que contrariasse as leis da Natureza. Para os teólogos, é através desses fatos que Deus manifesta o seu poder. O
Espiritismo veio demonstrar que os fatos considerados extranaturais o são enquanto ainda não podem ser explicados,
devido ao desconhecimento das leis que o regulam e que ensejaram a sua causa. Conhecidas estas leis, deixam de
ser "sobrenaturais" e passam a ser entendidos como resultantes de efeitos naturais.


QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO


a) Qual a diferença entre o original sentido da palavra milagre e o que lhe vem sendo dado durante os diversos períodos
da história?

Na sua acepção original, a palavra milagre (de mirari, admirar) significa admirável, coisa extraordinária, surpreendente.
Com o decurso do tempo, porém, a palavra perdeu essa significação primitiva, passando a designar um fato extranatural,
no sentido teológico. Há que ser um fato inexplicável e excepcional, pois desde que conhecidas as leis que o ensejaram
ou que seja ele repetido, já não é mais considerado milagre. Assim, pelo sentido que passou a ser empregado pelos
teólogos, o termo adquiriu uma conotação de derrogação das leis da Natureza, o que seria uma demonstração do poder
de Deus. O progresso da ciência veio explicar a origem de muitos fenômenos considerados milagrosos, desmistificando-
-os. Porém, nem todos os fatos assim considerados puderam ser explicados pela ciência, pois esta somente se incumbe
do estudo experimental da matéria. Os fatos cuja origem é de natureza espiritual permaneceram inexplicáveis e, dessa
forma, foram acolhidos no campo religioso como "milagres".


b) Qual a conseqüência do entendimento distorcido com que vem sendo utilizada a palavra milagre?

Além de manter a humanidade na ignorância relativamente às leis e forças regem o princípio espiritual, a crença nos
milagres faz com que o homem tenha uma idéia equivocada da Divindade. O Deus justo, bom e onipotente, cujas leis
dele emanadas hão de ter, necessariamente, estes mesmos atributos, tem a sua imagem também distorcida, pois
estaria outorgando leis passíveis de derrogação. A certeza que o homem deve ter na sua infalibilidade fica abalada, pois
o cumprimento de suas leis estará sempre sujeito a não se fazer, pois poderiam ser revistas e derrogadas por um dos
chamados milagres. Se uma que seja de suas leis pudesse ser derrogada seria porque não era justa e Deus estaria
reconhecendo seu erro.


c) Como o Espiritismo pode contribuir para um correto entendimento desta questão?

O Espiritismo demonstra que o espírito é um dos elementos constitutivos do Universo, que atua sobre o outro elemento,
que é a matéria. Muitos dos fatos considerados contrários às leis naturais e, como tais, verdadeiros milagres no sentido
teológico, mais tarde vieram a ser explicados pela ciência, que revelou as forças e as leis que os provocaram. O
Espiritismo ampliou esses esclarecimentos, demonstrando a atuação de um outro elemento, até então ignorado pela
ciência: o espírito. Dessa maneira, o Espiritismo ensina que Deus manifesta o seu poder não pela derrogação de suas
leis, como pretendem os teólogos, mas pelo seu cumprimento. Sendo suas leis justas, perfeitas e invioláveis, como o
seu Autor, não há por que contrariá-las. Se isso fosse possível, não teriam elas nem Deus esses atributos.