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076g – Tema: Família e Homossexualidade – texto 3

Família e Homossexualidade – texto 3

Homossexualidade
Luís de Almeida
«Revista de Espiritismo» nr. 39, Abril-Maio-Junho 1998
É difícil falar das experiências que não vivenciámos. Contudo, preside a isto a idéia não de julgar, mas sim de compreender. O que é que se passa nestes casos? Perguntar não ofende, dizia o humorista.
O espírito Emmanuel escreveu que _A Natureza é sempre um livro divino, onde as mãos de Deus escrevem a história da sua sabedoria, livro da vida, que constitui a escola de progresso espiritual do homem evoluindo constantemente com o esforço e a dedicação de seus discípulos_.
Assim, quando falamos em homossexualidade não podemos dissociar-nos da liberdade de consciência e do espírito, pois entre eles existe uma forte ligação biunívoca. Os media têm abordado com insistência o comportamento sexual do homem, dado os altos índices de desvario. As abordagens colocam questões de natureza psicológica, emocional, orgânica e biológica, na procura de respostas para estes problemas da sexualidade. Não é uma temática nova, entretanto, longe está de uma resolução, visto o homem da ciência, dita materialista, ainda não aceitar o homem integral com a sua responsabilidade como espírito reencarnado e filho de Deus, com a missão de aperfeiçoar-se rumo à angelitude.
Os geneticistas têm tentado encontrar genes que explicariam este problema como sendo um desvio de comportamento sexual. Outra corrente, na psiquiatria, tenta encontrar enzimas cerebrais que influenciariam o comportamento sexual. Dizem também, os melhores sexólogos, que é uma preferência sexual. Mas sabemos que é uma experiência a que o espírito se impõe, ou que lhe é imposta, causada por uma conduta anterior, na qual não soube manter o seu equilíbrio.
Nada tem esta tendência a ver com mudanças morfológicas de sexo por parte do espírito reencarnado, existindo casos de regresso em que ocorrem dessas mudanças, sem provocarem a homossexualidade.
O assunto é delicado. Ajuda identificar as causas. Só assim se pode tentar minimizar os seus efeitos, com o apoio de uma nova postura da psicologia e da sexologia diante destas experiências, pois parece ser um problema de foro espiritual. Nesta faixa em que o espírito se movimenta, estamos diante de um processo de evolução. Aqui, o ser terá que tentar não desperdiçar esta oportunidade, mas para isso terá que entendê-la.
Não temos condições de recriminar quem quer que seja por seus comportamentos individuais e colectivos. Compete-nos, isso sim, alertar, esclarecendo, porque a aplicação desvairada do sexo, à luz da vida e do amor, é assunto pertinente à consciência de cada criatura, recordando que todos trazemos as nossas imperfeições.
Passamos, e passaremos, por múltiplas reencarnações, quer com vestes somáticas femininas quer masculinas. Isso explica a bissexualidade. O indivíduo, ao reencarnar, trará consigo as feições sexuais que mais pesarem ao longo do processo evolutivo. Compete-lhe evoluir.
E porquê? Por causa do aprendizado que deverá assimilar, já que cada somatologia oferece educação, deveres especiais e novas experiências, pois têm tarefas, características e sensibilidades diferentes, e como o espírito é o mesmo este só atingirá o seu grau de evolução terreno quando souber reencarnar em ambos os sexos indistintamente, rumo à perfectibilidade, aprendendo desta forma, todos os estádios que essa vida lhe proporciona. Aquele que fosse sempre homem só saberia o que sabem e sentem os homens, decerto não entenderia o nobre valor da maternidade.
A sede real do sexo não se acha no veículo físico, mas no espírito, na sua estrutura complexa. A forma individual, em si, obedece ao reflexo mental dominante, notadamente no que se reporta ao sexo, manifestando-se o ser com os distintivos psicossomáticos de homem ou de mulher segundo a vida íntima, através da qual se mostra com as qualidades espontâneas acentuadamente activas ou passivas. A alma guarda a sua individualidade sexual intrínseca, a definir-se na feminilidade ou na masculinidade conforme as características passivas ou claramente activas que lhe sejam próprias.
O sexo é uma ponte que liga o homem a um despertar da consciência individual, estando ao serviço da felicidade e da harmonia do universo. Muitos ainda não alcançaram o entendimento de que o sexo é uma força essencialmente libertadora. Este define-se por um atributo não somente digno de respeito, e é fundamentalmente uma graça divina da natureza a exigir educação e controlo. Pelo sexo dimanam forças geradoras poderosas, às quais devemos neste planeta a reencarnação, o templo do lar, as alegrias revitalizadoras do amor, a riqueza inapreciável dos estímulos espirituais e as bênçãos de uma família. Desse contacto recíproco, em que cada qual deve dar-se para possuir, surge o jogo de forças morais capaz de transformar, sublimando as características individuais.
O espírito que vem vivendo do sexo pelo sexo vive em experiência ilusória, e não vê o sexo como uma porta de divina nobreza, mas sim como um gueto de miséria, de dissolução, de desvario, arruinando seus irmãos e a si próprio, confundindo o amor com paixão e instinto sexual a qualquer custo. Tais indivíduos, ao passarem para o plano espiritual pelo desencarne, e mesmo quando encarnados, tornam-se presas de obsessores, que visam implantar o sexo como lema, vampirizando-os. Reencarnam em novas experiências, uma das quais é a homossexualidade. Amargam então uma existência de humilhações e de solidão, como vemos nos dois relatos vividos por estes bons amigos (ver página a seguir), e para aprenderem, a misericórdia divina, que somente sabe amar, e nunca punir, que dá infinitas oportunidades ao espírito para se reajustar e reequilibrar-se.
Assim, este espírito é induzido amorosamente pelos benfeitores espirituais a reencarnar num corpo com um sexo contrário ao que teve antes, para reajuste dos seus sentimentos mais subtis. Outras vezes, é o próprio espírito que, com os instrutores espirituais, roga a tão desejada oportunidade de se modificar através deste processo reencarnatório. No entanto, em qualquer caso, ele (espírito) nunca está só.
Sem dúvida que o controlo dos impulsos sexuais não é uma tarefa fácil: exige disciplina, vontade férrea, superação de dificuldades presentes e vínculos provenientes de outras existências, mas é uma luta necessária na procura do equilíbrio, fazendo parte integrante da auto-educação que compete ao espírito, individualmente, realizar. E, a característica principal do espírito é a sua liberdade. Fausto eterno, insatisfeito com a realidade que o cerca, ávido de romper as barreiras do seu ser e do seu meio, vive na ânsia incontida de sair de si, de descobrir outros ambientes, outros mundos... E, se pode agir sobre os determinismos do organismo, é porque há nele um princípio super-orgânico que é uma potência de liberdade. Sejam, embora esses determinismos impostos pela hereditariedade, instintos ou hábitos, do passado ou do presente.
E se os vence, contrariando-os, fá-lo, muitas vezes, por um valor mais alto, para dar um sentido à vida moral, intelectual, à sua perfectibilidade. Não foi sem razão que os antigos gregos atribuíram ao espírito o grau mais elevado da energia e do poder. Energia e poder que o espírito encontra na transformação das tendências e na sublimação da energia instintiva em actividade espiritual, por esforço próprio.
O consolador prometido por Jesus, através da sua terapia balsâmica, racional e espiritualizante, faculta ao homem a vitória, porque lhe revela as inúmeras potencialidades que ele tem, e espera, com a imortalidade _ o nascer, viver, morrer, renascer de novo e progredir sempre _, o encontro com o amor, esse sublime sentimento que une as criaturas na caminhada ascensional.
Perguntamos se estas pessoas devem experimentar o relacionamento sexual. Compete aos indivíduos responderem conscientemente (com+ciência), com sabedoria. O espiritismo edifica posturas comportamentais. Cada indivíduo terá que justificar a sua atitude, no entanto, uma lei é incontestável: temos o dever de nos respeitarmos e de respeitarmos o nosso semelhante. Não está em causa qualquer sintomatologia ou patologia, mas uma experiência de vida. A postura mental e a conduta sexual é que irão estabelecer a moralidade ou a imoralidade destas experiências individuais. Isto parece ser seguro.
Terminamos com uma pergunta feita a Chico Xavier (1):
_ Como encara o espiritismo o problema da homossexualidade? Qual a melhor atitude da sociedade frente a essa ocorrência?
_ Acreditamos que o tempo e a compreensão humana traçarão normas sociais susceptíveis de tranquilizar quantos se vinculam a semelhante segmento da comunidade, assegurando-se-lhes a bênção do trabalho com o respeito devido a todos os filhos de Deus. (...) Até que isso se concretize, não vejo qualquer motivo para críticas destrutivas e sarcasmos incompreensíveis para com os nossos irmãos e irmãs portadores de tendências homossexuais, a nosso ver claramente iguais às tendências heterossexuais que assinalam a maioria das criaturas humanas.
Em minhas noções de dignidade do espírito, não consigo entender por que razão esse ou aquele preconceito social impedirá certo número de pessoas de trabalhar e de serem úteis à vida comunitária, unicamente pelo facto de haverem trazido do berço características psicológicas e fisiológicas diferentes da maioria. (...) Nunca vi mães e pais, conscientes da elevada missão que a Divina Providência lhes delega, desprezarem um filho porque haja nascido cego ou mutilado. Seria humana e justa a nossa conduta em padrões de menosprezo e desconsideração, perante os nossos irmãos que nascem com dificuldades psicológicas?_.
«Eu fui lésbica»
Para melhor entendermos o drama da homossexualidade, citamos depoimentos de dois espíritos (2). Isso porque poderão contribuir para esclarecer certas partes desta tendência.
CASO 1: _Eu fui lésbica. Dentro do meu corpo de mulher, sentia-me um homem. Desde pequena, os meus pendores foram todos masculinos. Menina, e os meus companheiros de peraltagem eram os meninos, tanto que minha mãe repetia: Não sei a quem me saiu a Laurinha; é peralta como um menino, está sempre no meio deles; coisa feia. E assim era: em qualquer reunião raramente me encontrava entre minhas amiguinhas. Porém, nos grupos de rapazes, lá estava eu, não como mulher, mas como homem, que intimamente me parecia ser.
Veio-me a menstruação; sofri horrores que se repetiam mês após mês. Completei 15 anos. Eu era bonita de rosto, conquanto desgraciosa de corpo. E os meus pais chamaram-me em particular:
_ De agora em diante, evita estar tanto entre os moços; tens coleguinhas... porquê isso?
_ Mas, mamãe, não gosto das conversas delas, de vestidos, de modas, de sapatos, de batons, de penteados, de namoradinhos. Eu, por mim, cortaria os meus cabelos como homem, e vestiria calças.
A minha resposta desgostou-os. Mudei: apaixonava-me facilmente por meninas e mulheres casadas. Deliciava-me frequentar o vestiário de meu clube; contemplando aqueles corpos nus, lavando-se, esfregando-se, enxugando-se, muitas vezes, surpreendia-me exclamando: Ah, se eu fosse homem! Viciei uma prima; além do prazer que ela me proporcionava, dava-me a sensação de ser verdadeiramente um homem. Descobriram-me, e passei a ser vigiada. Evitam-me. O meu pai tratava-me com rispidez.
Uma fria solidão envolvia-me. Mesmo assim, casei-me. Não lhes descreverei o horror do sofrimento íntimo que senti na minha noite de núpcias; foi pasmoso. O meu esposo tinha-me nos braços e acariciava um corpo de mulher, dentro do qual se escondia o espírito de um homem. E durante as carícias, enlaçada pelo meu marido, que me abraçava e me beijava, quantas vezes tive ímpetos de repeli-lo e gritar: Eu também sou um homem! Jamais ele o percebeu; fui-lhe fiel até ao fim. A nossa união durou 15 anos; não tivemos filhos.
O meu marido enviuvou, e contraiu segundas núpcias, desta vez com uma autêntica mulher, de corpo e alma. Desencarnado, compreendi o porquê dessa encarnação como mulher; porque eu, um espírito masculino, fora embutido _ sim, embutido é o termo certo _, num corpo feminino. Por quatro encarnações consecutivas, eu erigira o sexo como o supremo fim de um homem. A mulher para mim era um objecto, um mero instrumento de prazer, de gozo. Quando uma me saciava, atirava-a para um canto qualquer, e servia-me de outra. Jamais lhes respeitava a dignidade. Jamais as reconhecera como mães, esposas, irmãs. E nos intervalos de minhas encarnações, em vez de me corrigir, frequentando as escolas correccionais da Espiritualidade, para o que não me faltaram convites, associava-me a hordas maléficas, cujo escopo era implantar o domínio do sexo. Até que, por ordem superior, encaminharam-me de forma compulsória aos engenheiros maternais, que me agrilhoaram a um corpo feminino a fim de que eu aprendesse a valorizar a mulher. Felizmente tão dolorosa experiência valeu-me.
Corrigi-me. Não só aprendi a valorizar a mulher como a divinizá-la no seu papel de mãe, de esposa, de irmã. Voltei à minha forma masculina. Trabalho agora no sector de socorro aos náufragos do sexo. Quando soar a hora, tornarei à Terra no corpo de homem normal, e saberei respeitar a mulher no altar sagrado do casamento. Claro que o meu carma não será tranquilo, e as vicissitudes que por certo virão, em que pese gerar aflições, serão lições valiosas. E ao depararem com homens e mulheres transviados do sexo, compaixão, muita compaixão para com eles._
CASO 2: _Eu fui uma prostituta em seis encarnações sucessivas. A primeira foi num navio pirata. Apanharam-me numa razia contra nossa cidadezinha na orla do Mediterrâneo; com o saque e outros cativos, embarcaram-me numa caravela. Eu era jovem e bonita. Um dia, o comandante atraiu-me para o seu camarote. Percebi-lhe a intenção. Eu já tinha os meus planos, e antes que ele tomasse a iniciativa, adiantei-me: Saiba que sou uma virgem. Quanto dá por minha virgindade? Dirigiu-se a uma das arcas ao pé do leito, abriu-a; estava cheia de jóias preciosas, produto de pilhagens. Colocou um punhado delas sobre a mesinha à minha frente. É pouco, disse-lhe com firmeza. Mergulhou ambas as mãos na arca, e pô-las sobre as primeiras. É o bastante.
Ainda por muitas vezes lhe arranquei peças de valor. Logo que o notei farto de mim, entreguei-me aos outros marujos, a troco de ouro, que todos possuíam. Desembarquei em porto europeu, rica, e dediquei-me ao meretrício de alto luxo.
Vejo-me agora reencarnada na França, na época do I Império. Sou dama da corte. E, para obter honrarias, jóias, luxo, prostitui-me não abertamente, mas entregando-me aos cortesãos que servissem aos meus intentos.
A terceira reencarnação foi em Portugal. Casei-me com um caixeiro modesto em pequena cidade portuguesa. Abandonei-o e transferi-me para Lisboa, onde montei casa de tolerância, desgraçando mocinhas ingénuas, e desencaminhando pais de família.
Na minha quarta reencarnação, ainda em Portugal, não me sujeitando a uma pobreza digna, tão logo me emancipei, comercializei o meu corpo. E, por isso, a minha mãe finou-se de desgosto. Como cobra venenosa, atraía a mocidade da nobreza, sugando-lhe impiedosamente os haveres e até a honra, em luxuoso prostíbulo no Rio de Janeiro, no tempo do império.
Na minha quinta reencarnação, no início do século XX, ainda no Rio, aos 14 anos já me envolvia no meretrício. De nada me adiantavam os intervalos de minhas reencarnações. Não dava ouvidos a espíritos benévolos que me queriam afastar dessa vida imunda. Endurecida no vício, filiava-me a grupos de obsessores sexuais, e praticava desatinos vampirescos com encarnados que aceitavam minhas sugestões.
Até que engenheiros ma-ternais decidiram aplicar-me a corrigenda cabível. Estudaram minuciosamente o meu passado, submeteram-me a rigoroso exame psíquico, e concluíram que só havia um remédio para mim, posto que amargo: reencarnar em corpo masculino, tantas vezes quantas as necessárias. A petição seguiu para instância superior e foi aprovada.
E eu, mulher, espírito essencialmente feminino, reencarnei-me em corpo de homem, no Rio de Janeiro, como quarto e último filho de um casal da classe média, remediados.
Hoje sei dos motivos que teve este casal para me receber como filho; porém, não vem ao caso mencioná-lo. Bem cedo começaram os meus martírios. Eu adorava brincar com meninas, evitava os meninos. Na escola ouvia os ditérios dos colegas; e ao ir ao quadro dar a lição, a classe ria-se ante o meu andar feminil. Durante o recreio, escondia-me. Com a idade, mais se acentuou minha inclinação feminina: parava diante das vitrinas de modas e das de jóias, e extasiava-me a admirar os vestidos, os sapatos, as meias, os colares, os brincos, os braceletes, tudo, enfim que pertencesse à toilette da mulher. Por vezes, ansiava ir à cabeleireira maquilhar-me, e a custo reprimia-me. O meu pai não me aceitava; os meus irmãos detestavam-me e repeliam-me; a minha mãe, pobrezinha, era o meu único refúgio. Consolava-me, acariciava-me, infundia-me ânimo, abraçava-me.
A solidão embrulhou-me no seu pesado manto. Certa vez, atraído por um homem, fui com ele ao seu apartamento. O horror, o nojo que isto me causou vós não podeis imaginar. Quis tornar-me seu amante; tive dificuldades em livrar-me dele. Para vós terdes uma ideia do meu suplício de espírito feminino num corpo masculino, faço uma comparação: havia outrora um instrumento de tortura, que consistia numa caixa de ferro, mais ou menos no formato de um homem, em cuja porta, do lado de dentro, se engastavam punhais. O condenado era encaixado nessa caixa, e nela ficava por dias e dias à espera que o carrasco recebesse ordem de fechar a porta, quando era trespassado pelas lâminas. Todavia, raramente o corpo do condenado se amoldava à caixa; e então os verdugos o ajustavam à força naquele aparelho, no qual com corpo horrivelmente comprimido, aguardava o fechar da porta, cessando o seu tormento. O condenado à tortura da máscara era mais feliz do que eu: o sofrimento dele durava poucos dias; o meu durou 68 anos, que se arrastaram como uma eternidade.
Jamais me passou pela cabeça a ideia do suicídio, ou de me prostituir, felizmente. Aguentei firme o rojão, como se diz popularmente.
Uma tarde, de volta a casa, um grupinho de estudantes vadios pôs-se a chacotear-me. Para fugir deles, entrei na primeira porta que vi aberta; subi pequena escada, e achei-me num vasto salão; muitas pessoas lá estavam; sentei-me entre elas. Era a Federação Espírita Brasileira. Explicaram-me e entendi que o acaso não existe, e o facto de ali entrar é porque por certo encontraria lenitivo. Passei a frequentar aquela casa, onde conquistei muitos amigos e amigas. Os passes e a água fluidificada fizeram-me muito bem, e assim a minha solidão foi suavizada.
Eu não trabalhava; tive vários empregos, mas na ocasião, o meu problema não era tolerado como hoje em dia (embora seja uma tolerância falsa e aparente) sendo despedido de todos. Quem sempre me socorria e socorreu foi a minha mãe, fornecendo-me algum dinheiro. Os meus irmãos casaram-se; os meus pais desencarnaram. Envelheci.
Vivi penosamente de minguado benefício que me tocou por herança. Fui morar num telheiro, mal transformado em quarto, no fundo do quintal da casa de um dos meus irmãos, com ordem expressa de não me mostrar a visitas fossem quem fossem. Proibiram-me de ter intimidades com os meus sobrinhos. Mais tarde, recolheram-me a um asilo, onde desencarnei.
Acordei, não sei depois de quanto tempo, em um quarto hospitalar. Tão logo me mexi na cama acorreu uma enfermeira gentil que me disse:
_ Tudo bem, minha irmã, não se impressione!
-_ Irmã?... murmurei arregalando os olhos. Ela não me respondeu, mas ajeitou-me a coberta, sorrindo.
Hoje estou plenamente integrada nos meus predicados femininos.
Regenerei-me. Faço parte do Grupo de Socorros das Servas de Maria Madalena, que se dedica ao reerguimento das infelizes que resvalam pelo abismo escuro da prostituição.
(1) - «Lições de Sabedoria», Francisco Cândido Xavier.
(2) - Extraído do Boletim Electrónico n.º 258 de 1997 do GEAE (Grupo de Estudos Avançados de Espiritismo).
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/fep/homossexualidade.html


Conclusão