O Livro dos Espíritos
193 – C O N C L U S Ã O - Item IX
IX
" Os adversários do Espiritismo não se esqueceram de armar-se contra ele de algumas divergências de opiniões sobre certos pontos de doutrina. Não é de admirar que, no início de uma ciência, quando ainda são incompletas as observações e cada um a considera do seu ponto de vista, apareçam sistemas contraditórios. Mas, já três quartos desses sistemas caíram diante de um estudo mais aprofundado, a começar pelo que atribuía todas ascomunicações ao Espírito do mal, como se a Deus fora impossível enviar bons Espíritos aos homens: doutrina absurda, porque os fatos a desmentem; ímpia, porque importa na negação do poder e da bondade do Criador.
Os Espíritos sempre disseram que nos não inquietássemos com essas divergências e que a unidade se estabeleceria. Ora, a unidade já se fez quanto à maioria dos pontos e as divergências tendem cada vez mais a desaparecer. Tendo-se-lhes perguntado: Enquanto se não faz a unidade, sobre que pode o homem, imparcial e desinteressado, basear-se para formar juízo? Eles responderam:
_Nuvem alguma obscurece a luz verdadeiramente pura; o diamante sem jaça é o que tem mais valor: julgai, pois, dos Espíritos pela pureza de seus ensinos. Não olvideis que, entre eles, há os que ainda se não despojaram das idéias que levaram da vida terrena. Sabei distingui-los pela linguagem de que usam. Julgai-os pelo conjunto do que vos dizem. Vede
se há encadeamento lógico nas suas idéias; se nestas nada revela ignorância, orgulho ou malevolência; em suma, se suas palavras trazem todas o cunho de sabedoria que a verdadeira superioridade manifesta. Se o vosso mundo fosse inacessível ao erro, seria perfeito, e longe disso se acha ele. Ainda estais aprendendo a distinguir do erro a verdade. Faltam-vos as lições da experiência para exercitar o vosso juízo e fazer-vos avançar. A unidade se produzirá do lado em que o bem jamais esteve de mistura com o mal; desse lado é que os homens se coligarão pela força mesma das coisas, porquanto reconhecerão que aí é que está a verdade.
_Aliás, que importam algumas dissidências, mais de forma que de fundo! Notai que os princípios fundamentais são os mesmos por toda parte e vos hão de unir num pensamento comum: o amor de Deus e a prática do bem. Quaisquer que se suponham ser o modo de progressão ou as condições normais da existência futura, o objetivo final é um só: fazer o bem. Ora, não há duas maneiras de fazê-lo._
Se é certo que, entre os adeptos do Espiritismo, se contam os que divergem de opinião sobre alguns pontos da teoria, menos certo não é que todos estão de acordo quanto aos pontos fundamentais. Há, portanto, unidade, excluídos apenas os que, em número muito reduzido, ainda não admitem a intervenção dos Espíritos nas manifestações; os que as atribuem a causas puramente físicas, o que é contrário a este axioma: Todo efeito inteligente há de ter uma causa inteligente; ou ainda
a um reflexo do nosso próprio pensamento, o que os fatos desmentem. Os outros pontos são secundários e em nada comprometem as bases fundamentais. Pode, pois haver escolas que procurem esclarecer-se acerca das partes ainda controvertidas da ciência; não deve haver seitas rivais umas das outras. Antagonismo só poderia existir entre os que querem o bem e os que quisessem ou praticassem o mal. Ora, não há espírita sincero e compenetrado das grandes máximas morais ensinadas pelos Espíritos que possa querer o mal, nem desejar mal ao seu próximo, sem distinção de opiniões. Se errônea for alguma destas, cedo ou tarde a luz para ela brilhará, se a buscar de boa-fé e sem prevenções. Enquanto isso não se dá, um laço comum existe que as deve unir a todos num só pensamento; uma só meta para todas. Pouco, por conseguinte, importa qual seja o caminho, uma vez que conduza a essa meta. Nenhuma deve impor-se por meio do constrangimento material ou moral e em caminho falso estaria unicamente aquela que lançasse anátema sobre outra, porque então procederia evidentemente sob a influência de maus Espíritos.
O argumento supremo deve ser a razão. A moderação garantirá melhor a vitória da verdade do que as diatribes envenenadas pela inveja e pelo ciúme. Os bons Espíritos só pregam a união e o amor ao próximo, e nunca um pensamento malévolo ou contrário à caridade pode provir de fonte pura. Ouçamos sobre este assunto, e para terminar, os conselhos do Espírito Santo Agostinho:
_Por bem largo tempo, os homens se têm estraçalhado e anatematizado mutuamente em nome de um Deus de paz e misericórdia, ofendendo-O com semelhante sacrilégio. O Espiritismo é o laço que um dia os unirá, porque lhes mostrará onde está a verdade, onde o erro. Durante muito tempo, porém, ainda haverá escribas e fariseus que O negarão, como negaram o Cristo. Quereis saber sob a influência de que Espíritos estão as diversas seitas que entre si fizeram partilha do mundo? Julgai-o pelas suas obras e pelos seus princípios. Jamais os bons Espíritos foram os instigadores do mal; jamais aconselharam ou legitimaram o assassínio e a violência; jamais estimularam os ódios dos partidos, nem a sede das riquezas
e das honras, nem a avidez dos bens da Terra. Os que são bons, humanitários e benevolentes para com todos, esses os Seus prediletos e prediletos de Jesus, porque seguem a estrada que este lhes indicou para chegarem até ele". (SANTO AGOSTINHO)
QUESTÕES PARA ESTUDO
1 - Podem as divergências de conceitos afetar a unidade doutrinária do Espiritismo?
2 - Como devemos proceder para avaliarmos as comunicações dos espíritos?
3 - Como o Espiritismo pode contribuir para pôr fim às divergências entre os homens a respeito de Deus?
Conclusão
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
1 - Podem as divergências de conceitos afetar a unidade doutrinária do Espiritismo?
R - O Espiritismo jamais terá sua unidade doutrinária afetada porque, quanto aos pontos que constituem os seus princípios, não há qualquer divergência de opinião. Nos primeiros momentos em que a Doutrina foi revelada pelos Espíritos, surgiram opiniões divergentes entre os seus adeptos, sobre certos pontos, como acontece em toda nova ciência. No entanto, à medida que as revelações foram sendo melhor compreendidas, esses pontos divergentes foram sendo eliminados, erigindo-
-se uma base doutrinária forte, inabalável. Eventuais conceitos ainda hoje divergentes, como vemos, principalmente, em algumas obras mediúnicas, da lavra de espíritos pseudo-sábios, que se apresentam como superiores, com interpretações e conceituações diferentes das esposadas pelos Espíritos codificadores e por Kardec, devem ser tomados como opiniões pessoais, não recepcionadas pela Doutrina, que não podem com ela ser confundidos.
2 - Como devemos proceder para avaliarmos as comunicações dos espíritos?
R - Segundo a recomendação de Santo Agostinho, citada por Kardec nesse ítem, devemos avaliar, primeiramente, se a comunicação está de acordo com a razão. Em seguida, cumpre examinar se o seu conteúdo não expressa uma intenção contrária à prática da caridade, examinar a linguagem que usam e se há encadeamento lógico nas suas idéias. Os bons Espíritos jamais aconselham ou legitimam o mal, jamais estimulam a violência e o ódio nem exaltam a avidez pelos bens da Terra. "Os que são bons, humanitários e benevolentes para com todos, esses os Seus prediletos e prediletos de Jesus, porque seguem a estrada que este lhes indicou para chegarem até ele", conclui Santo Agostinho.
3 - Como o Espiritismo pode contribuir para pôr fim às divergências entre os homens a respeito de Deus?
R - O Espiritismo, quando compreendido por todos, mostrará onde está a verdade e onde o erro. É o futuro das religiões, disseram os Espíritos. Conhecendo a realidade da nossa existência espiritual, os homens melhor compreenderão a Divindade.O caminho, porém, é longo, pois ainda aparecerão falsos cristos e falsos profetas, como os que negaram Jesus.