O Livro dos Espíritos
186 - Paraíso, inferno e purgatório (2a. parte)
a) O céu não é um lugar onde os bons espíritos se reúnem, sem outra preocupação que a de gozar uma  felicidade
passiva, por toda a eternidade. São os planetas, as estrelas e todos os mundos superiores, onde os espíritos gozam
plenamente suas faculdades, sem as tribulações da vida material nem as angústias peculiares à inferioridade.
 
b) Quando alguns espíritos falam em quarto, quinto ou sétimo céus exprimem seus diferentes graus de purificação e
de felicidade.
 
Comentário de Allan Kardec:
 
<br> O mesmo ocorre com outras expressões análogas, tais como: cidade das flores, cidade dos eleitos,  primeira, 
segunda ou terceira esfera, etc., que apenas são alegorias usadas por alguns Espíritos, quer como figuras,  quer, 
algumas vezes, por ignorância da realidade das coisas, e até das mais simples noções científicas. De acordo com a 
idéia restrita que se fazia outrora dos lugares das penas e das recompensas e, sobretudo, de acordo com a opinião 
de que a Terra era o centro do Universo, de que o firmamento formava uma abóbada e que havia uma região das 
estrelas, o céu era situado no alto e o inferno em baixo. Daí as expressões: subir ao céu, estar no  mais  alto  dos 
céus,  ser precipitado nos infernos. Hoje, que a Ciência demonstrou ser a Terra apenas, entre tantos  milhões  de 
outros, uns dos menores mundos, sem importância especial; que traçou a história da sua formação e lhe descreveu 
a constituição; que provou ser infinito o espaço, não haver alto nem baixo no Universo, teve-se que  renunciar  a 
situar o céu acima das nuvens e o inferno nos lugares inferiores. Quanto ao purgatório,  nenhum  lugar  lhe  fora
designado. Estava reservado ao Espiritismo dar de tudo isso a explicação mais racional,  mais  grandiosa  e,  ao 
mesmo tempo, mais consoladora para a humanidade. Pode-se assim dizer que trazemos em nós mesmos o nosso 
inferno e o nosso paraíso. O purgatório, achamo-lo na encarnação, nas vidas corporais ou físicas.<br>
 
c) Quando o Cristo disse <br>meu reino não é deste mundo<br>, quis dizer, em sentido figurado, que o seu reinado  se
exerce unicamente sobre os corações puros e desinteressados, onde quer que domine o amor do bem.
 
d) O bem reinará na Terra quando ela for habitada por espíritos predominantemente bons, que farão reine o amor
e a justiça. O homem atrairá para a Terra os bons espíritos por meio do progresso moral e praticando as leis de
Deus. Os maus espíritos se afastarão da Terra, quando estiverem banidos o orgulho e o egoísmo.
 
Dissertação de São Luís:
 
“Predita foi a transformação da Humanidade e vos avizinhais do momento em que se dará, momento cuja chegada 
apressam todos os homens que auxiliam o progresso. Essa transformação se verificará por meio da encarnação de 
Espíritos melhores, que constituirão na Terra uma geração nova. Então, os Espíritos dos maus,  que  a  morte  vai 
ceifando dia a dia, e todos os que tentem deter a marcha das coisas serão daí excluídos, pois que  viriam  a  estar 
deslocados entre os homens de bem, cuja felicidade perturbariam. Irão para mundos novos,  menos  adiantados, 
desempenhar missões penosas, trabalhando pelo seu próprio adiantamento, ao mesmo tempo que trabalharão pelo 
de seus irmãos mais atrasados. Neste  banimento de Espíritos da Terra transformada,  não  percebeis  a  sublime 
alegoria do Paraíso perdido e, na vinda do homem para a Terra em semelhantes condições,  trazendo  em  si  o
gérmen de suas paixões e os vestígios da sua inferioridade primitiva, não descobris a não menos sublime alegoria 
do pecado original? Considerado deste ponto de vista, o pecado original se prende à natureza ainda imperfeita do 
homem que, assim, só é responsável por si mesmo, pelas suas próprias faltas e não pelas de seus pais.                                   
Todos vós, homens de fé e de boa-vontade, trabalhai, portanto, com ânimo e zelo na grande obra da regeneração, 
que colhereis pelo cêntuplo o grão que houverdes semeado. Ai dos que fecham os olhos à luz! Preparam para  si 
mesmos longos séculos de trevas e decepções. Ai dos que fazem dos bens deste mundo a fonte de todas as suas 
alegrias! Terão que sofrer privações muito mais numerosas do que os gozos de que desfrutaram!  Ai,  sobretudo, 
dos egoístas! Não acharão quem os ajude a carregar o fardo de suas misérias.”                                                                     
 
                                                    QUESTÕES PARA ESTUDO: 
 
1 - O que é o céu, segundo o Espiritismo?
 
2 - Como surgiu a concepção de céu adotada por alguns segmentos religiosos?
 
3 - Podemos entender ser possível a existência do céu aqui mesmo, na Terra?
 
4 - E o paraíso? Como conceituá-lo, segundo o ensinamento dos Espíritos?
 
Conclusão
1 - O que é o céu, segundo o Espiritismo?
 
O Espiritismo nos ensina que, assim como o inferno e o purgatório, o céu não é um região previamente demarcada, 
criada por Deus para abrigar os bons espíritos. O céu é o estado consciencial a que o espírito chega após percorrer 
a senda evolutiva. Ao atingir a perfeição possível, o espírito goza, em toda a sua plenitude, das faculdades com que
foi dotado pelo Criador. Pode estar situado em um planeta ou uma estrela que constituem os mundos superiores. É,
enfim, o espaço universal, onde quer que se reunam, por afinidade, os espíritos superiores.
 
 
2 - Como surgiu a concepção de céu adotada por alguns segmentos religiosos?
 
Os antigos concebiam a Terra como sendo o centro do Universo. O céu era  uma  cobertura  côncava,  levantada 
no espaço, povoada de estrelas e que cobria a Terra. Juntamente com o inferno, que se situava na parte inferior do 
planeta, o céu era uma das regiões destinadas ao cumprimento das penas e das recompensas. Hoje, tendo a ciência
demonstrado ser a Terra não mais que um dos incontáveis planetas  que  compõem  o  Universo,  sem  nenhuma 
importância especial, sabemos que o espaço é infinito e o que pensavam ser o céu nada mais é do que  o  espaço 
cósmico. A concepção antiga do termo continua sendo utilizada por alguns espíritos apenas no sentido alegórico, 
figurativo, para melhor se fazerem entender.
 
 
3 - Podemos entender ser possível a existência do céu aqui mesmo, na Terra?
 
Conforme disserta São Luís na resposta à questão 1.019,  a  humanidade  terrena  passa  por  um  processo de 
transformação, que se opera através da encarnação de espíritos melhores em lugar de espíritos persistentes no 
mal. Estes serão excluídos do planeta, passando a reencarnar em mundos menos adiantados, onde lhes poderão  
ser atribuídas penosas missões que impulsionarão o progresso desses mundos. A Terra poderá ser transformada 
num céu quando a sua humanidade houver atingido a perfeição, quando o mal gerado pelo egoísmo dos espíritos 
que a habitam não mais existir. 
 
 
4 - E o paraíso? Como conceituá-lo, segundo o ensinamento dos Espíritos?
 
O paraíso é uma alegoria criada para se referir à região de onde provieram os espíritos que formaram  a  raça 
adâmica,  aqueles  que  vieram  para  a  Terra  impulsionar  o  seu  progresso.  Eram  espíritos  intelectualmente 
desenvolvidos, porém com o lado moral ainda pouco evoluído. Vieram para a Terra com suas paixões  e  os 
vestígios da inferioridade primitiva, que não mais comportavam no planeta de onde se originaram, que, por essa 
imagem figurativa, ficou conhecido como o paraíso perdido. Daí o surgimento de uma outra alegoria ainda hoje recepcionada por alguns segmentos religiosos: a do pecado original.