Evolução em Dois Mundos

034 – 2ª pte - XIV - Aborto criminoso

Segunda parte
XIV
Aborto criminoso

_ Reconhecendo-se que os crimes ao aborto provocado criminosamente surgem, em esmagadora maioria, nas classes mais responsáveis da comunidade terrestre, como identificar o trabalho expiatório que lhes diz respeito, se passam quase totalmente despercebidos da justiça humana?

_ Temos no Plano Terrestre cada povo com o seu código penal apropriado à evolução em que se encontra; mas, considerando o Universo em sua totalidade como o Reino Divino, vamos encontrar o Bem do Criador para todas as criaturas, como Lei Básica, cujas transgressões deliberadas são corrigidas no próprio infrator, com o objetivo natural de conseguir-se, em cada círculo de trabalho no Campo Cósmico, o máximo de equilíbrio com o respeito máximo aos direitos alheios, dentro da mínima quota de pena.

Atendendo-se, no entanto, a que a Justiça Perfeita se eleva, indefectível, sobre o Perfeito Amor, no hausto de Deus _em que nos movemos e existimos_, toda reparação, perante a Lei Básica a que nos reportamos, se realiza em termos de vida eterna e não segundo a vida fragmentária que conhecemos na encarnação humana, porquanto, uma existência pode estar repleta de acertos e desacertos, méritos e deméritos e a Misericórdia do Senhor preceitua, não que o delinqüente seja flagelado, com extensão indiscriminada de dor expiatória, o que seria volúpia de castigar nos tribunais do destino, invariavelmente regidos pela Equidade Soberana, mas sim que o mal seja suprimido de suas vítimas, com a possível redução do sofrimento.

Desse modo, segundo o princípio universal do Direito Cósmico a expressar-se, claro, no ensinamento de Jesus que manda conferir _a cada um de acordo com as próprias obras_, arquivamos em nós as raízes do mal que acalentamos para extirpá-las à custa do esforço próprio, em companhia daqueles que se nos afinem à faixa de culpa, com os quais, perante a Justiça Eterna, os nossos débitos jazem associados.

À face de semelhantes fundamentos, certa romagem na carne, entremeada de créditos e dívidas, pode terminar com aparências de regularidade irrepreensível para a alma que desencarna, sob o apreço dos que lhe comungam a experiência, seguindo-se de outra em que essa mesma criatura assuma a empreitada do resgate próprio, suportando nos ombros as conseqüências das culpas contraídas diante de Deus e de si mesma, a fim de reabilitar-se ante a Harmonia Divina, caminhando, assim, transitoriamente, ao lado de Espíritos incursos em regeneração da mesma espécie.

É dessa forma que a mulher e o homem, acumpliciados nas ocorrências do aborto delituoso, mas principalmente a mulher, cujo grau de responsabilidade nas faltas dessa natureza é muito maior, à frente da vida que ela prometeu honrar com nobreza, na maternidade sublime, desajustam as energias psicossomáticas, com mais penetrante desequilíbrio do centro genésico, implantando nos tecidos da própria alma a sementeira de males que frutescerão, mais tarde, em regime de produção a tempo certo.

Isso ocorre não somente porque o remorso se lhes entranhe no ser, à feição de víbora magnética, mas também porque assimilam, inevitavelmente, as vibrações de angústia e desespero e, por vezes, de revolta e vingança dos Espíritos que a Lei lhes reservara para filhos do próprio sangue, na obra de restauração do destino.



No homem, o resultado dessas ações aparece, quase sempre, em existência imediata àquela na qual se envolveu em compromissos desse jaez, na forma de moléstias testiculares, disendocrinias diversas, distúrbios mentais, com evidente obsessão por parte de forças invisíveis emanadas de entidades retardatárias que ainda encontram dificuldade para exculpar-lhes a deserção.

Nas mulheres, as derivações surgem extremamente mais graves. O aborto provocado, sem necessidade terapêutica, revela-se matematicamente seguido por choques traumáticos no corpo espiritual, tantas vezes quantas se repetir o delito de lesa-

-maternidade, mergulhando as mulheres que o perpetram em angústias indefiníveis, além da morte, de vez que, por mais extensas se lhes façam as gratificações e os obséquios dos Espíritos Amigos e Benfeitores que lhes recordam as qualidades elogiáveis, mais se sentem diminuídas moralmente em si mesmas, com o centro genésico desordenado e infeliz, assim como alguém indebitamente admitido num festim brilhante, carregando uma chaga que a todo instante se denuncia.

Dessarte, ressurgem na vida física, externando gradativamente, na tessitura celular de que se revestem, a disfunção que podemos nomear como sendo a miopraxia do centro genésico atonizado, padecendo logo que reconduzidas ao curso da maternidade terrestre, as toxemias da gestação. Dilapidado o equilíbrio do centro referido, as células ciliadas, mucíparas e intercalares não dispõem da força precisa na mucosa tubária para a condução do óvulo na trajetória endossalpingeana, nem para alimentá-lo no impulso da migração por deficiência hormonal do ovário, determinando não apenas os fenômenos da prenhez, ectópica ou localização heterotópica do ovo, mas também certas síndromes hemorrágicas de suma importância, decorrentes da nidação do ovo fora do endométrio ortotópico, ainda mesmo quando já esteja acomodado na concha uterina, trazendo habitualmente os embaraços da placentação baixa ou a placenta prévia hemorragípara que constituem, na parturição, verdadeiro suplício para as mulheres portadoras do órgão germinal em desajuste.

Enquadradas na arritmia do centro genésico, outras alterações orgânicas aparecem, flagelando a vida feminina, como sejam o descolamento da placenta eutópica, por hiperatividade histolítica da vilosidade corial; a hipocinesia uterina, favorecendo a germicultura do estreptococo ou do gonococo, depois das crises endometríticas puerperais; a salpingite tuberculosa; a degeneração cística do cório; a salpingooforite, em que o edema e o exsudato fibrinoso provocam a aderência das pregas da mucosa tubária, preparando campo propício às grandes inflamações anexiais, em que o ovário e a trompa experimentam a formação de tumores purulentos que os identificam no mesmo processo de desagregação; as síndromes circulatórias da gravidez aparentemente normal, quando a mulher, no pretérito, viciou também o centro cardíaco, em conseqüência do aborto calculado e seguido por disritmia das forças psicossomáticas que regulam o eixo elétrico do coração, ressentindo-se, como resultado, na nova encarnação e em pleno surto de gravidez, da miopraxia do aparelho cardiovascular, com aumento da carga plasmática na corrente sanguínea, por deficiência no orçamento hormonal, daí resultando graves problemas da cardiopatia conseqüente.

Temos ainda a considerar que a mulher sintonizada com os deveres da maternidade na primeira ou, às vezes, até na segunda gestação, quando descamba para o aborto criminoso, na geração dos filhos posteriores, inocula automaticamente no centro genésico e no centro esplênico do corpo espiritual as causas sutis de desequilíbrio recôndito, a se lhe evidenciarem na existência próxima pela vasta acumulação do antígeno que lhe imporá as divergências sanguíneas com que asfixia, gradativamente, através da hemólise, o rebento de amor que alberga carinhosamente no próprio seio, a partir da segunda ou terceira gestação, porque as enfermidades do corpo humano, como reflexos das depressões profundas da alma, ocorrem dentro de justos períodos etários.

Além dos sintomas que abordamos em sintética digressão na etiopatogenia das moléstias do órgão genital da mulher, surpreenderemos largo capítulo a ponderar no campo nervoso, à face da hiperexcitação do centro cerebral, com inquietantes modificações da personalidade, a raiarem, muitas vezes, no martirológio da obsessão, devendo-se ainda salientar o caráter doloroso dos efeitos espirituais do aborto criminoso, para os ginecologistas e obstetras delinqüentes.

_ Para melhorar a própria situação, que deve fazer a mulher que se reconhece, na atualidade, com dívidas no aborto provocado, antecipando-se, desde agora, no trabalho da sua própria melhoria moral, antes que a próxima existência lhe imponha as aflições regenerativas?

_ Sabemos que é possível renovar o destino todos os dias.

Quem ontem abandonou os próprios filhos pode hoje afeiçoar-se aos filhos alheios, necessitados de carinho e abnegação.

O próprio Evangelho do Senhor, na palavra do Apóstolo Pedro, adverte-nos quanto à necessidade de cultivarmos ardente caridade uns para com os outros, porque a caridade cobre a multidão de nossos males.



Obs.: I Pedro, 4:8. (Nota do Autor Espiritual)

Pedro Leopoldo, 8/6/58.


QUESTÕES PARA ESTUDO


1) De acordo com André Luiz, qual o mecanismo de ação da Justiça Divina?

2) Como se explica o fato de espíritos infratores terminarem sua existência terrena sem o devido resgate dos equívocos praticados?

3) Quais as conseqüências possíveis para o futuro corpo físico da mulher que pratica o aborto criminoso?

4) E para o homem?

5) E para os profissionais envolvidos?

6) E quais as conseqüências de natureza espiritual para todos?

7) De que modo pode-se evitar o resgate expiatório pela prática do aborto criminoso ou, pelo menos, atenuá-lo?

ELUCIDAÇÃO DE TERMOS USADOS PELO AUTOR ESPIRITUAL

anexial - referente ao anexo, o qual compreende a trompa e o ovário,
considerados como dependência do útero

antígeno - substância de origem protéica, estranha ao corpo, e geralmente
patogênica

ciliada - relativo a cílios, ou seja, filamentos vibráteis e muito tênus
que se encontram inseridos na supefície de certos organismos vivos

cístico - referente ao cisto ou quisto (tumor)

cório - membrana que envolve o embrião

disendocrinia - perturbação das funçoes endócrinas, isto é, no
funcionamento das glândulas de secreção interna

ectópica - relativo ao que se realiza ou funciona fora da localização
normal

endométrio - a mucosa (membrana) que reveste a cavidade do útero

endometrítico - referente à endometrite, inflamação do endométrio

endossalpingeano - relativo ao interior da salpinge, isto é, da trompa
uterina

estreptococo - bactéria esférica, que se apresenta em cadeia, sendo que
algumas espécies são extremamente patogênicas, ou seja, geram doenças

exsudato - líquido produzido por inflamção, contendo certa quantidade de
células

gonococo - bactéria causadora de gonorréia (ou blenorragia), doença
venérea com fluxo purulento em conseqüência da inflamação da uretra; pode
passar aos órgãos interos e causar esterilidade. Às vezes produz artrite.

heterotópico - referente ao que se localiza fora da posição normal, como a
formação de tecido em local onde não se deveria encontrar

hipocinesia - diminuição da atividade motora no organismo

histolítica - relativo à histólise, destruição ou dissolução de tecidos
orgânicos

miopraxia - condição de insuficiência funcional de um órgão no conjunto
orgânico

mucíparo - que produz muco, substância viscosa e semitransparente

mucosa tubária - membrana que reveste a cavidade da trompa uterina e que
secreta muco

ortotópico - relativo à posição correta de localização ou de funcionamento

placenta - estrutura formada pelas células do embrião e da mucosa uterina

salpingite - inflamação da salpinge, isto é, da trompa uterina

salpingooforite - salpingite com ooforite (ovarite), ou seja, inflamação
da trompa uterina e do ovário simultaneamente

toxemia - intoxicação do sangue

vilosidade corial - penetração do envoltório externo do embrião na mucosa

(extraído do livro Elucidário de evolução em dois mundos, de José Marques
Mesquita, edição da USEERJ, União das Sociedades Espíritas do Estado do
Rio de Janeiro)

Conclusão

Segunda parte - XIV - Aborto criminoso (Conclusão)


QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

1) De acordo com André Luiz, qual o mecanismo de ação da Justiça Divina?

R - As transgressões às leis naturais, quando deliberadamente cometidas,
são corrigidas no próprio infrator, com o objetivo de restabelecer o
respeito ao direito alheio. Este mecanismo divino nem sempre se opera na
mesma reencarnação em que a lei foi violada, podendo ser acionado nas
reencarnações vindouras, considerando ser o espírito imortal. A finalidade
não é a de, simplesmente, infringir ao faltoso um castigo, mas, sim, de
corrigi-lo. Quando atenta contra a lei maior, causando sofrimento
a um semelhante, o espírito arquiva em si próprio as raízes do mal, que
exigem esforço próprio para serem extirpadas, através da dor expiatória,
ao lado daqueles que contribuíram para a aquisição do débito. Conforme o
ensinamento de Jesus, "a cada um é dado segundo as suas obras".

2) Como se explica o fato de espíritos infratores terminarem sua
existência terrena sem o devido resgate dos equívocos praticados?

R - Como se disse, o reparação nem sempre se dá na mesma reencarnação em
que a dívida foi gerada. Muitas das vezes, o espírito desencarna sem que o
débito contraído seja resgatado, dando a impressão de impunidade àqueles
que o cercam. No entanto, em reencarnação futura, certamente, para poder
reabilitar-se perante a lei divina, terá de suportar as conseqüências das
culpas contraídas, contando como companheiros de caminhada aqueles que
incidiram em equívocos da mesma espécie.

3) Quais as conseqüências possíveis para o futuro corpo físico da mulher
que pratica o aborto criminoso?

R - A prática do aborto criminoso ocasiona, para a mulher, desajustes das
energias psicossomáticas que se relacionam com o centro genésico. Em
conseqüência, ressurgirá para a vida física com a organização genésica em
desalinho, predispondo-a a enfermidades que dificultarão uma futura
gestação, que podem se manifestar através de esterilidade, hemorragias,
descolamento da placenta, infecções, inflamações, tumores e, até,
cardiopatias graves. Enfim, com o centro genésico gravemente alvejado por
energias negativas geradas pelo ato criminoso, na nova reencarnação, ainda
que consiga gerar uma nova vida, terá de se submeter a uma gestação que se
defrontará com inúmeros obstáculos que nem sempre poderão ser vencidos.

4) E para o homem?

R - Também sobre o homem envolvido na prática de aborto criminoso há a
incidência da lei de causa e efeito, a cobrar a reparação do erro, quase
sempre, na existência física imediata. Ressurge com o corpo físico
portando moléstias testiculares, perturbações nas funções endócrinas ou
distúrbios mentais.

5) E para os profissionais envolvidos?

R - Não apenas os pais envolvidos diretamente no aborto criminoso são
alcançados pelas conseqüências espirituais do ato praticado. Os
profissionais que colaboram para a perpetuação do delito - ginecologistas,
obstetras e aqueles que executam funções auxiliares - todos, repetimos,
são cobrados pela Justiça Divina, por meio da dor expiatória.

6) E quais as conseqüências de natureza espiritual para todos?

R - Mesmo após desencarnar, as conseqüências do ato delituoso permanecem
ativas, fazendo com que a mulher padeça de angústias permanentes, ainda
que benfeitores e amigos espirituais a amparem, reconhecendo-lhe
qualidades positivas. Sente-se moralmente diminuída e infeliz, com o
centro genésico do corpo espiritual em desordem, como uma chaga que se
denuncia. Assim acontece em face do remorso que se lhe entranha no ser e
por assimilar as vibrações de angústia, desespero, revolta e vingança dos
espíritos que seu ato impediu de retornarem à experiência terrena. No
campo nervoso, padece de hiperexcitação do cérebro, com alterações de
personalidade, geradas, muitas das vezes, por um processo obsessivo que se
apresenta.

7) De que modo pode-se evitar o resgate expiatório pela prática do aborto
criminoso ou, pelo menos, atenuá-lo?

R - Não há erro irremissível. Todos podemos renovar diariamente o nosso
destino. Aquele que incidiu nessa prática reprovável não precisa aguardar
a chegada da dor expiatória. As conseqüências da falta podem ser atenuadas
com a dedicação a crianças necessitadas de carinho e amparo. Como ensina
Pedro, é importante que cultivemos a prática da caridade, porque esta
cobre a multidão dos pecados.