Nos Domínios da Mediunidade

020 – Mediunidade e oração

Mediunidade e oração -

Em estreito aposento, uma senhora apresentando setenta anos de idade, acusava aflitiva dispnéia.

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A dona da casa sentou-se rente à enferma e, acompanhada pela atenção da filhinha, pronunciou sentida prece.
À medida que orava, funda modificação se lhe imprimia ao mundo interior. Os dardos de tristeza, que lhe dilacerava a alma, desapareceram ante os raios de branca luz a se lhe exteriorizarem do coração. Desde esse instante, qual se houvera acendido uma lâmpada em plena obscuridade, vários desencarnados sofredores penetraram o quarto, abeirando-se dela, à maneira de doentes, solicitando medicação.
Nenhum deles nos assinalava a presença e, diante da nossa curiosidade silenciosa, Áulus aclarou:
- São companheiros que trazem ainda a mente em teor vibratório idêntico ao da existência na carne. Na fase em que estagiam, mais depressa se ajustam com o auxilio dos encarnados, em cuja faixa de impressões ainda respiram. Quantos se encontram em semelhante estado, dentro do raio de ação das preces de nossa amiga, recebem o toque da espiritualidade que emana do serviço dessa natureza, e quando sensíveis ao bem ou sedentos de renovação interior, dão-se pressa em responder ao apelo de elevação que os visita, aderindo à oração, de cujo sublime poder recolhem esclarecimento e consolo, amparo e benefício.
- Quanto valor num insignificante ato de fé!..
O Assistente afagou a fronte inquieta de Hilário e concordou:
- Sim o homem terrestre criou enormes complicações ao seu caminho, contudo, a morte constrange-o a regressar aos alicerces da simplicidade para a regeneração da própria vida.
A essa altura, Anésia abriu precioso livro de meditações evangélicas, acreditando agir ao acaso, mas o tema, em verdade, foi escolhido por Teonília, que lhe vigiava bondosa, os movimentos.
Com surpresa, a dona de casa notou que o texto se reportava à necessidade do trabalho e do perdão.
Dócil, correspondendo à influenciação da mentora espiritual, a esposa de Jovino começou a falar sabiamente sobre os impositivos do serviço e da tolerância construtiva, em favor da edificação justa do bem.
A voz dela, fluente e suave, transmitia, sem que ela mesma percebesse, o pensamento de Teonília que, com isso, buscava socorrer-lhe o coração atormentado.
Numa pausa mais longa, Márcia reparou com inteligência:
- Continue mãezinha! Continue...Tenho a idéia de que nos achamos à frente de enorme multidão...
E sem refletir que estava pregando, acima de tudo, para si mesma, Anésia adiantou:
- Sim, minha filha, estamos sozinhos porque a vovó, fatigada, não nos ouve. Isso, porém, é só na aparência. Muitos irmãos desencarnados, decerto, permanecem aqui conosco e acompanham nosso culto de oração.
E prosseguiu nos comentários que, efetivamente, acendiam novo animo nas alma presentes, ávidas de luz, tanto quanto sequiosas de paz e refazimento.
Terminada a tarefa, Márcia despediu-se da mãezinha com um beijo.
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Aulus fez significado gesto a Teonília e exclamou:
- Este é o momento exato.
Cuidadosamente, começaram ambos a aplicar-lhe passes sobre a cabeça, concentrando energia magnética ao longo das células corticais.
Anésia viu-se presa de branda hipnose, que ela própria atribuía ao cansaço e não relutou.
Em breves instantes, deixava o corpo denso na prostração do sono, vindo ao nosso encontro em desdobramento quase natural.
Não parecia, contudo, tão consciente em nosso plano quanto seria de desejar.
Centralizada no afeto do marido, Jovino constituía-lhe obscecante preocupação. Reconheceu Teonília e Áulus por benfeitores e lançou-nos significativo olhar de simpatia, no entanto, mostrava-se atordoada, aflita.... Queria ver o esposo, ouvir o esposo...
O Assistente deliberou satisfazê-la.
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Em vasto salão de um clube noturno, surpreendemos Jovino e a mulher que se fizera nossa conhecida nos fenômenos telepáticos, integrando um grupo alegre, em atitudes de profunda intimidade afetiva.
Rodeando o conjunto, diversas entidades, estranhas para nós, formavam vicioso círculo de vampiros que nau nos registraram a presença.
O anedotário menos edificante prendia as atenções.
Ao defrontar o companheiro na posição em que se achava, Anésia desferiu doloroso grito e caiu em prantos.
Seguida por nós, recuou ferida de aflição e assombro e tão logo nos vimos na via publica, bafejados pelo ar leve da noite, o Assistente abraçou-a, paternal.
Notando-a mais senhora de si, embora o sofrimento lhe transfigurasse o rosto, falou-lhe com extremado carinho:
- Minha irmã, recomponha-se. Você orou, pedindo assistência espiritual, e aqui estamos, trazendo-lhe solidariedade. Reanime-se! não perca a esperança!...
- Esperança? - clamou a pobre criatura em lagrimas - Fui traída, miseravelmente traia...
E o entendimento, entre os dois, prosseguiu comovente e expressivo.
- Traída por quem?
- Por meu esposo, que falhou aos compromissos do casamento...
- Mas você admite, porventura, que o casamento seja uma simples excursão no jardim da carne? Supôs que o matrimônio terrestre fosse apenas a musica da ilusão a eternizar-se no tempo? Minha amiga, o lar é uma escola em que as almas se aproximam para o serviço da sua própria regeneração, com vista ao aprimoramento que nos cabe apresentar de futuro. você ignora que no educandário ha professores e alunos? Desconhece que os melhores devem ajudar aos menos bons?
A interlocutora, chamada nos brios, sustou a lamentação. Ainda assim, apos fitar o nosso orientador com entranhada confiança, alegou, triste:
- Mas Jovino...
Áulus, porem, cortou-lhe a frase, acrescentando:
Esquece-se de que seu esposo precisa muito mais agora de seu entendimento e carinho? Nem sempre a mulher poderá ver no companheiro o homem amado com ternura, mas sim um filho espiritual necessitado de compreensão e sacrifício para soerguer-se, como também nem sempre o homem conseguirá contemplar na esposa a flor de seus primeiros sonhos, mas sim uma filha do coração a requisitar-lhe tolerância e bondade, a fim de que se transfira da sombra para a luz. Anésia, o amor não é tão somente a ventura rósea e doce do sexo perfeitamente atendido. É uma luz que brilha mais alto, inspirando a coragem da renuncia e do perdão incondicionais, em favor do ser e dos seres que nós amamos. Jovino é uma planta que o Senhor lhe confiou às mãos de jardineira. É compreensível que a planta seja assaltada pelos parasitas ou pelos vermes da morte, todavia, dada há a recear se a jardineira está vigilante...
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- Sim, sim... Reconheço...Entretanto, não me deixe sozinha...Sinto-me atribulada. Que fazer da mulher que o domina? Nela vejo a perturbação e o fel de nossa casa...Assemelha-se a um Espírito diabólico, fascinando-o e destruindo-o...
- Não se refira a ela assim, com palavras amargas! É também nossa irmã, vitimada por lastimáveis enganos!...
- Mas como aceitá-la? Percebo-lhe que a influencia maligna... Parece uma serpente invisível, trazendo consigo pavoroso monstros para junto de nós...Nosso tempo domestico, por isso, transformou-se num inferno em que não mais nos entendemos... Tudo agora é fracasso, desarmonia e insegurança... Que fazer de semelhante criatura?
- Compadeçamo-nos dela! Terrível ser-lhe-a o despertamento.
Compaixão?
-E que outra melhor represália senão essa?
-Não seria mais justo situá-la na reparação dos próprios erros?Não seria mais certo relegá-la ao lugar escuro que merece?
Áulus, porem, tomou-lhe a destra inquieta e esclareceu:
- Abstenhamo-nos de julgar. Consoante a lição do Mestre que hoje abraçamos, o amor deve ser nossa única atitude para com os adversários. A vingança, Anésia, é a alma da magia negra. Mal por mal significa o eclipse absoluto da razão. E, senão a cegueira e a morte? Por mais aflitiva lhe seja a lembrança dessa mulher, recorde-a em suas preces e em suas meditações, por irmã necessitada de nossa assistência fraterna. Ainda não readquirimos nossa memória integral do passado e nem sabemos o que nos ocorrerá no futuro... Quem sabemos o que nos ocorrerá no futuro... Quem terá sido ela no pretérito? Alguém que ajudamos ou ferimos? Quem será para nós no porvir? Nossa mãe ou nossa filha? Não condene! Ódio é como o incêndio que tudo consome, mas o amor sabe como apagar o fogo e reconstruir. Segundo a Lei o bem neutraliza o mal, que se transforma, ame e ajude sempre, porque o tempo se incumbirá de expulsar as trevas que nos visitam, à medida que se nos aumente o mérito moral.
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Volte ao alar euse a humildade e o perdão, o trabalho e a prece, a bondade e o silencio, na defesa de sua segurança. A mãezinha enferma e as filhinhas reclamam amor puro, tanto quanto o nosso Jovino, que voltará, mais experiente, ao refúgio de seu coração.
Anésia ergueu a cabeça para o firmamento constelado de luz, pronunciando uma oração de louvor e, em seguida, tornou a casa.
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Consolada e satisfeita, passou à medicação da genitora.
Hilário, admirado, exaltou os méritos da oração, ao que Áulus enunciou:
- Em todos os processos de nosso intercâmbio com os encarnados, desde a mediunidade torturada mediunidade glorioso, a prece é abençoada luz, assimilando correntes superiores de força mental que nos auxiliam no resgate ou na ascensão.
Indicando a dona de casa, agora em serviço no aposento, meu colega observou:
Vemos, então em nossa amiga preciso mediunidade a desenvolver-se...
- Como acontece a milhões de pessoas - disse o orientador - ela detém consigo recurso medianímicos apreciáveis, que podem ser inclinados para o bem ou para o mal, competindo-lhe a obrigação de construir dentro de si mesma a fortaleza de conhecimento e vigilância, na qual possa desfrutar, em pensamento, as companhias espirituais que mais lhe convenham à felicidade.
- E pela prece busca solução para os enigmas que lhe flagelam a existência...
Áulus sorriu e ajuntou:
- Encontramos aqui precioso ensinamento acerca da oração... Anésia, mobilizando-a, não conseguiu modificar os fatos em si, mas logrou modificar a si mesma. As dificuldades presentes não alteraram. Jovino continua em perigo, a casa prossegue ameaçada em seus alicerces morais, a velhinha doente aproxima-se da morte, entretanto, nossa irmã reconheceu expressivo coeficiente de energias para aceitar as provações que lhe cabem, vencendo-as com paciência e valor. E um espírito transformado, naturalmente transforma as situações.

1) Quais foram as primeiras evidencias dos efeitos da prece em Anésia?

2) É certo que quanto oramos entramos em sintonia com espiritos afins? Em que momento, neste capítulo, isso ficou claro?

3) Com que objetivo seus orientadores espirituais atenderam ao pedido de Anésia,com reclação a Jovino?

4) Como nos esclareceram os verdadeiro objetivo do casamento?

5) Qual a orientação que Anésia recebeu dos seus amigos espirituais, com relação à mulher que Jovino estava ligado telepaticamente?

6) Como Hilário exaltou os méritos da oração?

7) Podemos dizer que a prece modifica e soluciona nossas dificuldades? Qual o verdadeiro benefício na oração na nossa vida?


Conclusão

QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO


1) Quais foram as primeiras evidencias dos efeitos da prece em Anésia?

R - Tão logo colocou-se em prece, Anésia iniciou significativa mudança em seu interior. Raios de luz passaram a sair de
seu coração, afastando de si as vibrações de tristeza que lhe alcançavam o espírito. Segundo André Luiz, como o efeito
de uma luz que se acendera na escuridão, vários espíritos desencarnados, em grandes sofrimentos, apareceram diante
dela, tal qual verdadeiros enfermos em busca de medicação que lhes trouxesse algum alívio.


2) É certo que quando oramos entramos em sintonia com espíritos afins? Em que momento, neste capítulo,
isso ficou claro?

R - A prece, qualquer que seja a circunstância, nos coloca em sintonia com o plano espiritual. A natureza dos espíritos
com os quais nos sintonizamos obedecerá sempre as leis de sintonia mental que regem a comunicação entre os dois
planos de vida. De acordo com essas leis, estaremos sempre nos sintonizando com espíritos afins, que freqüentam a
mesma faixa vibratória em que nos situamos e que mantêm pensamentos da mesma natureza que os nossos. O
momento em que isto ficou claro no presente capítulo, a nosso ver, foi quando Anésia começou a orar e, imediatamente,
atraiu para sua companhia espíritos que também passavam por sofrimentos e que, igualmente, buscavam um lenitivo
para a sua dor.


3) Com que objetivo seus orientadores espirituais atenderam ao pedido de Anésia, com relação a Jovino?

R - A ida de Anésia ao encontro de Jovino, que se encontrava em ambiente de dedicação ao vício e à conversa pouco
edificante, cercado por espíritos inferiores, que sequer perceberam a presença dos benfeitores, objetivou lhe mostrar
que, na realidade, não era ela a infeliz sofredora, mas seu marido e a mulher a quem se ligara. Áulus procurou sensibilizar Anésia para que ela percebesse essa realidade, até então desconhecida por ela. Com isso, buscou
demonstrar o valor do perdão, da compreensão e do amor para com os adversários, que estão nesta condição temporariamente, pois a nossa destinação é, um dia, constituirmos uma grande família universal, onde todos se amam.


4) Como nos esclareceram os verdadeiros objetivos do casamento?

R - Num planeta de provas e de expiações, a grande maioria das uniões conjugais têm suas motivações na necessidade de reajustes entre os espíritos envolvidos, que, na maioria dos casos, endividaram-se mutuamente no passado. Foi nesse
sentido o ensinamento de Áulus. Segundo o Instrutor, o objetivo do casamento, na Terra, é servir como educandário a
esses espíritos, dando-lhes a oportunidade do reajuste perante a lei. É uma oportunidade de aprendizado visando o
aprimoramento espiritual que os levará à perfeição possível e, com ela, à felicidade definitiva.


5) Qual a orientação que Anésia recebeu dos seus amigos espirituais, com relação à mulher que Jovino
estava ligado telepaticamente?

R - A principal orientação de Áulus com relação à mulher a quem Jovino encontrava-se ligado foi para que Anésia se
abstivesse de julgá-la. Lembrou o Instrutor o ensinamento de Jesus, no sentido de que dediquemos amor aos nossos
adversários, ao invés de ódio ou desejos de vingança. Aconselhou-a a dedicar-lhe suas preces, mostrando que aquela
irmã está necessitada de assistência fraterna. Aludindo à lei de causa e efeito, lembrou-lhe a possibilidade de ser
alguém a quem feriu no passado e que, em existência futura, poderá vir a ser sua mãe ou sua filha, a quem, certamente,
dedicará o amor materno ou filial. Por fim, orientou-a a substituir o ódio pelo amor, esclarecendo que o bem neutraliza
o mal e transforma o malfeitor em servidor do bem.


6) Como Áulus exaltou os méritos da oração?

R - O Instrutor ressaltou que a prece é "abençoada luz, assimilando correntes superiores de força mental que nos
auxiliam no resgate ou na ascensão", ou seja, quando estamos expiando algum equívoco do passado, a prece nos
auxilia, nos conforta, dando-nos força e resignação para suportar a provação; quando estamos no serviço edificante
que nos elevará, não só nos fortifica para que prossigamos no trabalho, como nos dá a intuição e a inspiração para que melhor possamos desempenhar nossa missão.


7) Podemos dizer que a prece modifica e soluciona nossas dificuldades? Qual o verdadeiro benefício na
oração na nossa vida?

R - A prece, por si só, não modifica nem soluciona as dificuldades por que temos que passar, em decorrência da leis
de causa e efeito. As leis Naturais são inflexíveis e se fazem cumprir automaticamente, por força de um magnetismo
que ainda não estamos aptos a compreender inteiramente. No entanto, quando oramos, reunimos energias que nos
fortalecem para o enfrentamento das provas. Não logramos nos furtar delas, mas, certamente, estaremos nos
habilitando para poder enfrentá-las com outra disposição e, até, atenuá-las.