Nos Domínios da Mediunidade
012 – Clarividência e clariaudiência
Trechos do Capítulo
(...) a reunião atingia a fase terminal.
Raul Silva consultou o relógio e cientificou os companheiros de haver chegado o momento das preces de despedida.
Os amigos sofredores, aglomerados no recinto, poderiam receber vibrações de auxilio, enquanto os elementos do grupo recolheriam, através da oração, o refazimento das próprias forças.
Pequeno cântaro de vidro, com água pura, foi trazido à mesa.
[...]
(...) o Assistente explicou, afável:
_ (...) A água potável destina-se a ser fluidificada. O líquido simples receberá recursos magnéticos de subido valor para o equilíbrio psicofísico dos circunstantes.
... Clementino se abeirou do vaso e, de pensamento em prece, aos poucos se nos revelou coroado de luz.
Daí a instantes, de sua destra espalmada sobre o jarro, partículas radiosas eram projetadas sobre o líquido cristalino que as absorvia de maneira total.
_ Por intermédio da água fluidificada _ continuou Áulus _, precioso esforço de medicação pode ser levado a efeito. Há lesões e deficiências no veículo espiritual a se estamparem no corpo físico, que somente a intervenção magnética consegue aliviar, até que os interessados se disponham à própria cura.
[...]
_ Nosso amigo _ esclareceu o Assistente _ procura ajudar aos nossos companheiros de mediunidade, favorecendo-lhes o campo sensório. Não lhes convêm, por agora, a clarividência e a clariaudiência demasiado abertas. Na esfera dos Espíritos reencarnados, há que dosar observações para que não venhamos a ferir os impositivos da ordem. Cada qual de nós deve estar em sua faixa de serviço, fazendo o melhor ao seu alcance. Imaginemos um aparelho radiofônico terrestre, coletando todas as espécies de onda, em movimento de captação simultânea, O proveito e a harmonia da transmissão seriam realmente impraticáveis, e não haveria propósito construtivo na mensagem. Um médium, pois, não deve demorar-se com todas as solicitações do meio em que se situa, sob pena de arrojar as suas impressões ao desequilíbrio, a menos quando, por sua própria evolução, consiga sobrepairar ao campo do trabalho, dominando as influências do meio e selecionando-as, segundo o elevado critério de quem já consegue orientar-se para o bem e orientar aqueles que o acompanham.
[...]
Notando o cuidado que o irmão Clementino empregava na preparação dos médiuns, meu colega inquiriu (...):
_ A clarividência e a clariaudiência acaso estão localizadas exclusivamente nos olhos e nos ouvidos da criatura reencarnada?
Áulus acariciou-lhe a cabeça e acentuou:
Os olhos e os ouvidos materiais estão para a vidência e para a audição como os óculos estão para os olhos e o ampliador de sons para os ouvidos _ simples aparelhos de complementação. Toda percepção é mental. Surdos e cegos na experiência física, convenientemente educados, podem ouvir e ver, através de recursos diferentes daqueles que são vulgarmente utilizados - A onda hertziana e os raios X vão ensinando aos homens que há som e luz muito além das acanhadas fronteiras vibratórias em que eles se agitam, e o médium é sempre alguém dotado de possibilidades neuropsíquicas especiais que lhe estendem o horizonte dos sentidos.
Meu companheiro fixou o gesto de quem aproveitara a lição, mas objetou, reverente:
_ Desejava, porém, saber se Dona Celina, por exemplo, está enxergando o irmão Clementino e ouvindo-o, tão-somente pelo processo curial de percepção na Terra.
[...]
Celina pensa ouvir o supervisor, através dos condutos auditivos, e supõe vê-lo, como se o aparelho fotográfico dos olhos estivesse funcionando em conexão com o centro da memória, no entanto, isso resulta do hábito.
(...) ela vê e ouve com o cérebro, e, apesar de o cérebro usar as células do córtex para selecionar os sons e imprimir as imagens, quem vê e ouve, na realidade, é a mente. Todos os sentidos na esfera fisiológica pertencem à alma, que os fixa no corpo carnal, de conformidade com os princípios estabelecidos para a evolução dos Espíritos reencarnados na Terra.
Sorrindo, ajuntou:
_ Vocês possuem uma prova disso, quando o homem se encontra naturalmente desdobrado, cada noite, durante o sono, vendo e ouvindo, a despeito da inatividade dos órgãos carnais, na experiência a que chamam «vida de sonho».
[...]
_ Centralizemos mais atenção na prece, adestrando-nos para o serviço do bem!
Essa frase foi pronunciada por Clementino, em voz clara e pausada, como a oferecer uma base única para a convergência de nossas cogitações.
Atento, porém, aos nossos objetivos de estudo, acompanhei os médiuns mais diretamente interessados no apelo.
[...]
Observei que sutilmente ligados à faixa fluídica de Clementino, os três médiuns, cada qual a seu modo, lhe acusavam a presença.
Dona Celina anotava-lhe os mínimos movimentos, à maneira do discípulo diante do professor, Dona Eugênia lhe assinalava a vizinhança com menos facilidade, qual se o distinguisse imperfeitamente, através dum lençol de nebulosidade, e Castro, embora o visse com perfeição, parecia completamente alheio à influência do instrutor.
_ As possibilidades de Celina e Castro, na clarividência e na clariaudiência, são por enquanto mais vastas que em nossa irmã Eugênia _ esclareceu Áulus, prestimoso _ Acham-se os três levemente submetidos ao comando magnético de Clementino e podem identificar-lhe a presença com analogia de observações, porque, nas circunstâncias em que operam, estão agindo como pessoas comuns, utilizando-se da percepção habitual.
_ Entretanto _ aduziu Hilário _, se o trio foi colocado sob a ordenação magnética do supervisor, por que motivo nossas amigas lhe acataram o convite, enquanto Castro se mantém visivelmente impermeável a ele?
_ O mentor do recinto exerce apenas branda influência, abdicando de qualquer pressão mais forte, suscetível de provocar viciosa imanação, em desfavor de nossos amigos _ disse Áulus, convicto. _ Além disso, a mente de Castro passou, de súbito, a alimentar propósitos diferentes - Incapaz de concentrar a atenção, de modo irrepreensível, na região superior do trabalho que nos compete levar a efeito, de momento não mais se revela interessado em satisfazer ao programa de Clementino, mas sim em provocar um reencontro com a progenitora desencarnada. Enxerga o orientador do conjunto, como quem é constrangido a ver alguém de passagem, todavia, sem qualquer preocupação de escutá-lo ou servi-lo, confinado como se encontra às emoções do jardim doméstico. Basta a indiferença mental para que nada ouça do que mais interessa agora ao esforço coletivo da reunião.
[...]
Clementino, à cabeceira da assembléia, estendeu os braços e colocou-se em prece.
Cintilações de safirino esplendor revestiam-lhe agora o busto, dando-nos a impressão de que o abnegado benfeitor se convertera num anjo sem asas.
Em momentos ligeiros, verdadeiro jorro solar desceu do Alto, coroando-lhe a fronte e, de suas mãos, passou a irradiar-se prodigiosa fonte de luz, que nos alcançava a todos, encarnados e desencarnados, prodigalizando-nos a sensação de indescritível bem-estar.
[...]
O êxtase do mentor impelia-nos a respeitosa mudez.
Aqueles minutos de vibração sem palavras representavam precioso manancial de energias restauradoras para quantos lhe abrissem as portas do espírito.
[...]
Terminada que foi a operação inesquecível, Raul solicitou ainda alguns instantes de tranqüilidade e expectativa.
Competia ao grupo aguardar a manifestação de algum dos orientadores da casa, à guisa de instrução geral no encerramento.
Dona Celina rogou licença para notificar que vira surgir no recinto um ribeiro cristalino, em cuja corrente muitos enfermos se banhavam, e Dona Eugênia seguiu-a, explicando que chegara a contemplar um edifício repleto de crianças, entoando hinos de louvor a Deus.
Registramos semelhantes comunicados com surpresa.
Nada víramos ali que pudesse recordar sequer de longe um córrego de águas curativas ou algum pavilhão de serviço à infância.
[...]
Fitando-me, intrigado, Hilário parecia perguntar se as duas médiuns não estariam sob o influxo de alguma perturbação momentânea.
Assinalando-nos a estranheza, o Assistente considerou, prestimoso:
_ Importa não esquecer que ambas se encontram reunidas na faixa magnética de Clementino, fixando as imagens que a mente dele lhes sugere. Viram-lhe os pensamentos, relacionados com a obra de amparo aos doentes e com a formação de uma escola, que a instituição pretende, em breve, mobilizar ao socorro ao próximo. Idéias, elaboradas com atenção, geram formas, tocadas de movimento, som e cor, perfeitamente perceptíveis por todos aqueles que se encontrem sintonizados na onda em que se expressam. Não podemos olvidar que há fenômenos de clarividência e clariaudiência que partem da observação ativa dos instrumentos mediúnicos, identificando a existência de pessoas, paisagens e coisas exteriores a eles próprios, qual acontece na percepção terrestre vulgar, e existem aqueles que decorrem da sugestão que lhes é trazida pelo pensamento criador dos amigos desencarnados ou encarnados, estímulos esses que a mente de cada médium traduz, segundo as possibilidades de que dispõe, favorecendo, por isso mesmo, as mais díspares interpretações.
_ Oh! _ exclamou Hilário, entusiasmado _ temos aí a técnica dos obsessores quando improvisam para as suas vítimas variadas impressões alucinatórias.
_ Sim, sim _ confirmou o Assistente.
Questões para estudo e diálogo virtual
1 - Para fluidificar a água é preciso de um recipiente especial?
2 - Um médium alheio na atividade mediúnica pode contribuir ou atrapalhar?
3 - Um médium clarividente pode ser considerado mais importante numa sessão mediúnica por ver os espíritos e os clariaudientes ser considerados menos importantes por apenas ouvir a espiritualidade?
4 - Um médium mal sintonizado com os mentores da casa podem receber os mesmos fluidos recebidos pelos demais médiuns nas sessões mediúnicas?
5 - Comente o seguinte trecho: "Clementino, à cabeceira da assembléia, estendeu os braços e colocou-se em prece.
Cintilações de safirino esplendor revestiam-lhe agora o busto, dando-nos a impressão de que o abnegado benfeitor se convertera num anjo sem asas."
6 - Comente o trecho seguinte: "Dona Celina anotava-lhe os mínimos movimentos, à maneira do discípulo diante do professor, Dona Eugênia lhe assinalava a vizinhança com menos facilidade, qual se o distinguisse imperfeitamente, através dum lençol de nebulosidade, e Castro, embora o visse com perfeição, parecia completamente alheio à influência do instrutor."
Conclusão
1 - Para fluidificar a água é preciso de um recipiente especial?
Ensina o Dr. Bezerra de Menezes que "a água, em face da sua constituição molecular, é elemento que absorve e conduz
a bioenergia que lhe é ministrada. Quando magnetizada e ingerida, produz efeitos orgânicos compatíveis com o fluido de
que se faz portadora" (em "Loucura e Obsessão).
Portanto, como um grande condutor de energia, a água é o líquido indicado para que os benfeitores espirituais derramem
os fluidos magnéticos necessários ao nosso refazimento físico e espiritual. Quanto ao recipiente em que deve ser depositada, qualquer um dos utilizados em nossas residências serve para esse fim. Não importa se de vidro, transparente,
de metal, aberto ou tapado. Onde quer que esteja a água, os espíritos benfeitores nela depositarão os fluidos magnéticos
que buscamos, pois a matéria não lhes opõe qualquer resistência.
Vale citar essas belas palavras de Emmanuel:
" Se desejas, portanto, o concurso dos Amigos Espirituais, na solução
de tuas necessidades físico-psíquicas ou nos problemas de saúde e
equilíbrio dos companheiros, coloca o teu recipiente de água cristalina à
frente de tuas orações, espera e confia. O orvalho do Plano divino
magnetizará o líquido, com raios de amor em forma de bênçãos e estarás,
então, consagrando o sublime ensinamento do copo de água pura,
abençoado nos Céus." (em "Segue-me")
2 - Um médium alheio na atividade mediúnica pode contribuir ou atrapalhar?
Uma reunião mediúnica, para produzir efeitos positivos, deve ser norteada pela homogeneidade de sentimentos,
pensamentos e propósitos entre seus participantes. A influência do meio, como ensina Kardec no Livro dos Médiuns,
é fundamental para definir a natureza dos resultados a serem obtidos nas manifestações. Um médium que não se concentra
nos propósitos da reunião atrapalha a homogeneidade do grupo. Como esclarece o instrutor Áulus, basta a indiferença
mental do médium para que ele se veja impedido de sintonizar-se com o objetivo da reunião.
3 - Um médium clarividente pode ser considerado mais importante numa sessão mediúnica por ver
os espíritos e os clariaudientes ser considerados menos importantes por apenas ouvir a espiritualidade?
A importância de um médium não se mede pelo tipo de fenômeno mediúnico que se encontre capacitado a produzir.
Todos os tipos de mediunidade podem ser valiosos. O fenômeno em si é neutro. Não é bom nem ruim. A qualificação
reside nos objetivos de sua utilização. O que qualifica um médium é a sua moral, é a sua capacidade de se sintonizar
com bons espíritos. A faculdade mediúnica pode ser idêntica em várias pessoas. Porém, cada uma a empregará conforme
o seu adiantamento moral.
4 - Um médium mal sintonizado com os mentores da casa pode receber os mesmos fluidos recebidos
pelos demais médiuns nas sessões mediúnicas?
Um médium que se mantenha distante da sintonia com os dirigentes espirituais da reunião, pelo distanciamento mental
em que se situa, não conseguirá se sintonizar na mesma onda dos demais e não perceberá a atuação dos mentores.
Como ocorreu com Castro, que, por um momento, fixou-se mentalmente no desejo de reencontrar a genitora desencarnada, desligando-se dos objetivos do trabalho. Embora a ação magnetizadora de Clementino tenha sido idêntica em relação aos
três médiuns, em Castro ela praticamente não surtiu efeito.
5 - Comente o seguinte trecho: "Clementino, à cabeceira da assembléia, estendeu os braços e colocou-se
em prece. Cintilações de safirino esplendor revestiam-lhe agora o busto, dando-nos a impressão de que o
abnegado benfeitor se convertera num anjo sem asas."
Clementino buscou sintonizar-se com o plano superior, em busca de fluidos benéficos vindos do Alto. Recebida essa
energia através do centro coronário, coroando-lhe a fronte, segundo relato de André Luiz, irradiou, pelas mãos, aos demais
presentes, encarnados e desencarnados, a fonte de luz recebida do Alto. De imediato, segundo o Autor, os presentes
foram beneficiados com uma indescritível sensação de bem-estar proporcionada pelo passe.
6 - Comente o trecho seguinte: "Dona Celina anotava-lhe os mínimos movimentos, à maneira do discípulo
diante do professor, Dona Eugênia lhe assinalava a vizinhança com menos facilidade, qual se o distinguisse
imperfeitamente, através dum lençol de nebulosidade, e Castro, embora o visse com perfeição, parecia
completamente alheio à influência do instrutor."
Neste trecho, André Luiz demonstra a diferença de sintonia entre os três médiuns, com resultados igualmente diferentes.
Dona Celina, mais disciplinada, sintonizava-se perfeitamente com o Mentor, percebendo todos os seus movimentos; Dona Eugênia, embora também concentrada nos objetivos da reunião, não mantinha a mesma sintonia da companheira. Percebia
Clementino com menos facilidade; Castro, que se distanciara mentalmente dos propósitos do trabalho, apenas o percebia
mecanicamente. Sua sintonia com o mentor era nenhuma.
SOBRE A CLARIVIDÊNCIA E A CLARIAUDIÊNCIA
Clarividência, também denominada vista psíquica, vista espiritual ou dupla vista, é a visão com os olhos da alma (espírito encarnado). Manifesta-se através da emancipação do espírito em relação ao seu corpo físico, quando ele se desprende
da matéria, quer em estado de sono, sonambúlico, extático ou mesmo em vigília. As pessoas dotadas dessa faculdade
vêem à distância, pois a visão não se opera com os olhos do corpo físico. O clarividente desloca-se no espaço e no tempo,
vendo o mundo material em outro local ou em outra época, passada ou futura. É a alma a atuar fora do corpo, segundo
Kardec, em A Gênese (cap. XI, item 22).
Ainda na mesma obra, Kardec explica que, não se operando por meio dos olhos do corpo, a visão não se verifica mediante
a luz ordinária, mas pela luz espiritual, que não é embaraçada pela distância nem pela matéria. Pode ela se dar, prossegue
Kardec: " 1. pela percepção de certos fatos materiais e reais, como o conhecimento de alguns que ocorrem a grande
distância, os detalhes descritivos de uma localidade, as causas de uma enfermidade e os remédios convenientes; 2. pela
percepção de coisas igualmente reais do mundo espiritual, como a presença dos espíritos; 3. imagens fantásticas criadas
pela imaginação , análogas às criações fluídicas do pensamento".
É, um fenômeno anímico, como o desdobramento, por exemplo, e, como este ou o sonambulismo, pode ser utilizado para
uma manifestação mediúnica, como no caso narrado no capítulo em estudo. Difere-se da vidência, que é um fenômeno
mediúnico, que depende da intervenção dos espíritos e que consiste na faculdade de ver o mundo espiritual, de ver espíritos
desencarnados. O vidente é necessariamente um médium; o clarividente, não. A vidência depende de uma manifestação mediúnica, da ação de um espírito; a clarividência depende tão somente do estado de emancipação da alma.
A clariaudiência é faculdade idêntica à clarividência, ambas pertencendo à categoria dos fenômenos anímicos e decorrentes
do sentido espiritual da pessoa. O clariaudiente ouve com os ouvidos da alma, tanto o que se diz no ambiente, quanto à distância, inclusive com relação a fatos passados ou futuros. Como a clarividência, pode ser usada nas manifestações
mediúnicas.