Nos Domínios da Mediunidade
002 – O psicoscópio
T R E C H O S D O C A P Í T U L O
" Tornando ao convívio do Assistente, na noite imediata, dele recebemos o acolhimento gentil da véspera.
- Creio haver traçado o nosso programa - falou, paternal.
Finda a ligeira pausa em que nos registrava a atenção, prosseguiu:
- Admito que devamos centralizar nossas observações em reduzido núcleo, onde melhor despomos do fator qualidade. Temos um grupo de dez companheiros encarnados, com quatro médiuns detentores de faculdades regularmente
desenvolvidas e de lastro moral respeitável.Trata-se de pequeno conjunto, a serviço de uma instituição consagrada ao
nosso ideal cristianizante. Desse grupo-base ser-nos-á possível alongar apontamentos e coletar anotações que se façam valiosas à nossa tarefa.
" Logo após, muniu-se de pequena pasta e, talvez porque nos percebesse a curiosidade, informou, paciente:
- Temos aqui o nosso psicoscópio, de modo a facilitar-nos exames e estudos, sem o impositivo de acurada concentração
mental.
" - É um aparelho a que intuitivamente se referiu ilustre estudioso da fenomenologia espirítica, em fins do século passado. Destina-se à auscultação da alma, com o poder de definir-lhe as vibrações e com capacidade para efetuar diversas
observações em torno da matéria - esclareceu Áulus, com leve sorriso. - Esperamos esteja, mais tarde, entre os homens. Funciona à base de eletricidade e magnetismo, utilizando-se de elementos radiantes, análogos na essência aos raios
gama. É constituído por óculos de estudo, com recursos disponíveis para a microfotografia.
E enquanto demandávamos a cidade terrestre, em que nos cabia operar, o mentor continuava, explicando:
- Em nosso esforço de supervisão, podemos classificar sem dificuldade as perspectivas desse ou daquele agrupamento
de serviços psíquicos que aparecem no mundo. Analisando a psicoscopia de uma personalidade ou de uma equipe de trabalhadores, é possível anotar-lhes as possibilidades e categorizar-lhes a situação. Segundo as radiações que projetam, planejamos a obra que podem realizar no tempo.
" - Quer isso dizer que qualquer de nós pode ser submetido a exame dessa espécie?
- Sem dúvida - considerou o nosso interlocutor bem-humorado -; decerto que estamos sujeitos às sondagens dos planos superiores, tanto quanto pesquisamos agora os planos que se nos situam à retaguarda. Se o espectroscópio permite ao
homem perquirir a natureza dos elementos químicos, localizados a enormes distâncias, através da onda luminosa que
arrojam de si, com muito mais facilidade identificaremos os valores da individualidade humana pelos raios que emite. A moralidade, o sentimento, a educação e o caráter são claramente perceptíveis, através de ligeira inspeção.
- Mas - indagou Hilário, investigador -, e na hipótese de surgirem elementos arraigados ao mal, numa formação de
cooperadores do bem? de posse da ficha psicoscópica, os instrutores espirituais providenciar-lhes-ão a expulsão?
- Não será preciso. Se a maioria permanece empenhada na extensão do bem, a minoria encarcerada no mal distancia-se
do conjunto, pouco a pouco, por ausência de afinidade.
" Reajustando-se aos nossos objetivos, Hilário acentuou:
- O psicoscópio, só por si, dá margem a preciosas reflexões. Imaginemos uma sociedade humana que pudesse retratar a
vida interior dos seus membros... Isso economizaria grandes quotas de tempo na solução de inúmeros problemas
psicológicos.
- Sim - anuiu o mentor, cordial -, o futuro reserva prodígios ao senso do homem comum.
Havíamos, porém, alcançado o portão de espaçoso edifício que o Assistente nos designou como sendo o santuário que
nos competia visitar e servir.
- Esta é a casa espírita-cristã onde encontraremos nosso ponto básico de experiências e observações.
Entramos.
" - Nossos companheiros - elucidou o Assistente - fazem o serviço de harmonização preparatória. Quinze minutos de
prece, quando não seja de palestra ou leitura com elevadas bases morais. Sabem que não devem abordar o mundo
espiritual sem a atitude nobre e digna que lhes outorgará a possibilidade de atrair companhias edificantes e, por esse
motivo, não comparece aqui sem trazer ao campo que lhes é invisível as sementes do melhor que possuem.
" O Assistente armou o psicoscópio e, depois de ligeira análise, recomendou-nos a observação.
(...)
Detive-me na contemplação dos companheiros encarnados que agora apareciam mais estreitamente associados entre
si, pelos vastos círculos radiantes que lhes nimbavam as cabeças de opalino esplendor.
Tive a impressão de fixar, em torno do apagado bloco de massa semi-obscura a que se reduzira a mesa, uma coroa de
luz solar, formada por dez pontos característicos, salientando-se no centro de cada um deles o semblante espiritual
dos amigos em oração.
Desse colar de focos dourados alongava-se extensa faixa de luz violeta, que parecia contida numa outra faixa de luz
alaranjada, a espraiar-se em tonalidades diversas que, de momento, não pude identificar, de vez que a minha atenção
estava presa ao círculo dos rostos fulgurantes, visivelmente unidos entre si, à maneira de dez pequeninos sóis, imanados uns aos outros. Reparei que sobre cada um deles se ostentava uma auréola de raios quase verticais, fulgentes e móveis,
quais se fossem diminutas antenas de ouro fumegante. Sobre essas coroas que se particularizavam, de companheiro a
companheiro, caíam do Alto abundantes jorros de luminosidade estelar que, tocando as cabeças ali irmanadas, pareciam
suaves correntes de força a se transformarem em pétalas microscópicas, que se acendiam e apagavam, em miríades de formas delicadas e caprichosas, gravitando, por momentos, ao redor dos cérebros em que se produziam, quais satélites
de vida breve, em torno das fontes vitais que lhes davam origem.
Custodiando a assembléia, permaneciam os mentores espirituais presentes, cada qual irradiando a luz que lhe era própria.
" - (...) Vemo-nos aqui na companhia de quatro irmãs e seis irmãos de boa-vontade. Naturalmente, são pessoas comuns.
Comem, bebem, vestem-se e apresentam-se na Terra sob o aspecto vulgar de outras criaturas do ramerrão carnal; no
entanto, trazem a mente voltada para os ideais superiores da fé ativa, a expressar-se em amor pelos semelhantes.
Procuram disciplinar-se, exercitam a renúncia, cultivam a bondade constante e, por intermédio do esforço próprio no bem e no estudo nobremente conduzido, adquiriram elevado teor de radiação mental.
" - (...) não sabe você que um homem encarnado é um gerador de força electromagnética, com uma oscilação por
segundo, registrada pelo coração? Ignora, porventura, que todas as substâncias vivas da Terra emitem energias, enquadradas nos domínios das radiações ultravioletas? Em nos reportando aos nossos companheiros, possuímos neles
almas regularmente evolutidas, em apreciáveis condições vibratórias pela sincera devoção ao bem, com esquecimento
dos seus próprios desejos. Podem, desse modo, projetar raios mentais, em vias de sublimação, assimilando correntes superiores e enriquecendo os raios vitais de que são dínamos comuns.
- Raios vitais? - redargüiu meu colega, faminto de esclarecimento.
- Sim, para maior limpidez da definição, chamemos-lhes raios ectoplásmicos, unindo nossos apontamentos à nomenclatura
dos espiritistas modernos. Esses raios são peculiares a todos os seres vivos. É com eles que a lagarta realiza suas
complicadas demonstrações de metamorfose e é ainda na base deles que se efetuam todos os processos de materialização
mediúnica, porquanto os sensitivos encarnados que os favorecem libertam essas energias com mais facilidade. Todas as
criaturas, porém, guardam-nas consigo, emitindo-as em freqüência que varia em cada uma, de conformidade com as tarefas
que o Plano de Vida lhes assinala.
E, otimista, acrescentou:
- O estudo da mediunidade repousa nos alicerces de mente com o seu prodigioso campo de radiações. A ciência dos raios
imprimirá, em breve, grande renovação aos setores culturais do mundo. Aguardemos o porvir.
Em seguida, Áulus convidou-nos a inspeção mais direta e acompanhamo-lo, alegremente."
QUESTÕES PARA ESTUDO
1.- Como podemos entender o psicoscópio, aparelho de que nos dá notícia André Luiz, neste capítulo?
2.- Qual a sua importância para o desenvolvimento da mediunidade?
3.- Qual o objetivo da prece que precede o início do trabalho mediúnico?
4.- Por que o Instrutor Áulus elogiou o grupo mediúnico que visitavam?
5.- O que são raios vitais ou raios ectoplásmicos? Qual a sua importância nas manifestações mediúnicas?
Conclusão
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
1.- Como podemos entender o psicoscópio, aparelho de que nos dá notícia André Luiz, neste capítulo?
O psicoscópio é um aparelho existente no plano espiritual que tem a propriedade de definir a qualidade das vibrações
mentais emanadas de encarnados e de desencarnados, caracterizando os mais íntimos sentimentos de que são portadores aqueles que a ele são submetidos. O espírito, quando encarnado ou no plano espiritual, é uma fonte
irradiante de energias resultantes do seu produto mental, que vibram em torno de si, propagam-se e revelam o estado
de evolução em que ele se encontra. O psicoscópio permite que essa energia emanada seja percebida e analisada
pelos benfeitores do plano espiritual.
Dentre outras possíveis finalidades, vemos, nesta obra, a sua utilização num grupo mediúnico, com o objetivo de,
analisando a personalidade de seus integrantes, medir-lhes as reais possibilidades de trabalho. Funciona à semelhança
de aparelhos existentes na Terra, como o estetoscópio, o eletroencardiógrafo, os raios X, dentre outros. Estes
aparelhos, usados pela medicina terrena, revelam o estado orgânico do paciente, do ponto de vista fisiológico, permitindo
o acesso a informações inacessíveis senão através deles. O psicoscópio, da mesma forma, tem esse caráter revelador
e impede que os trabalhadores envolvidos no serviço mediúnico, tanto os médiuns como os espíritos comunicantes,
ocultem ou dissimulem seus sentimentos e suas intenções.
2.- Qual a sua importância para o desenvolvimento da mediunidade?
Vimos que o psicoscópio funciona como uma espécie de "detetor de mentira". Diante dele, o espírito se desnuda.
Nada pode ser escondido, com relação aos seus pensamentos. Com isso, a sua utilização nas reuniões mediúnicas
permite à espiritualidade superior uma melhor administração do intercâmbio mediúnico. O trabalho a ser desenvolvido
será programado de acordo com a aptidão do grupo mediúnico e dos espíritos que o assistem. A mediunidade se
manifestará de maneira mais organizada, compatível com as necessidades e com a capacidade de trabalho de cada
um. Os benfeitores sabem com quem podem contar e de que maneira podem os trabalhadores ser aproveitados.
Evita-se, assim, que percam tempo em reuniões que pouco ou nada de útil podem produzir. A qualidade do trabalho
mediúnico, dessa maneira, tende a ser cada vez mais qualificado, em benefício de toda a humanidade.
3.- Qual o objetivo da prece que precede o início do trabalho mediúnico?
Conforme ensina o assistente Áulus, a abordagem ao mundo espiritual deve ser precedida de atitude nobre e digna,
para permitir a atração de companhias espirituais do mesmo nível. A prece, a palestra ou a leitura de uma página
evangélica ou outra que transmita algum ensinamento moral harmonizam previamente o ambiente, procedendo a uma
verdadeira profilaxia energética do local. Como vimos no estudo do capítulo anterior, a sintonia mental está na base
de toda e qualquer comunicação mediúnica. Através da prece, buscamos o amparo e a intuição do Alto para que nos sintonizemos com espíritos que se dedicam à prática do bem, possibilitando a obtenção de mensagens sérias, que
possam trazer aos necessitados que somos o consolo e o esclarecimento que precisamos para o enfrentamento de
nossas provas.
4.- Por que o Instrutor Áulus elogiou o grupo mediúnico que visitavam?
Vimos, também, no estudo do capítulo anterior, que a sintonia, que o Instrutor Albério denominou vibrações
compensadas, isto é, a ressonância psíquica entre dois espíritos que nutrem pensamentos da mesma natureza, é
fator determinante da qualidade da comunicação mediúnica. Através dela, os espíritos encarnados e desencarnados
estabelecem entre eles uma imantação pelo pensamento, vinculando-se, magneticamente, uns aos outros. Essa troca
de energias da mesma natureza faz com que as mentes envolvidas entrem em sintonia e se alimentem mutuamente
com seus pensamentos.
O grupo visitado pela equipe de benfeitores da qual André Luiz participava não era composto de espíritos sublimados,
grandes missionários, mas de espíritos que já possuíam consideráveis conquistas evolutivas. Suas mentes estavam
voltadas aos ideais superiores de fé e ao amor pelo próximo. Pautavam-se pela disciplina e esforço na prática do bem
e se conduziam com espírito de renúncia e dedicação ao estudo doutrinário. Com esse comportamento, emanavam
de suas mentes radiações de elevado teor vibratório, atraindo para o trabalho espíritos de elevada evolução moral.
5.- O que são raios vitais ou raios ectoplásmicos? Qual a sua importância nas manifestações mediúnicas?
O ectoplasma ou raios vitais, ou, ainda, raios ectoplásmicos, é uma substância formada por uma combinação de
fluidos emanados do plano espiritual, de médiuns e de todas as formas vivas da natureza, como demais pessoas,
animais e plantas que se encontrem próximos ao local onde se realiza a reunião mediúnica.
É uma substância semi-fluídica e semi-material, como "uma pasta flexível, à maneira de uma geléia viscosa e semi-
-líquida", segundo descrição de André Luiz em outro capítulo. Emana do corpo de todas as pessoas pelos orifícios
naturais do corpo físico, como as narinas, o ouvido e a boca. Há pessoas, contudo, cujo organismo físico permite
que essa emanação fluídica se dê de maneira mais intensa e com mais facilidade. São os chamados médiuns de
efeitos físicos. Serve para a produção de fenômenos de efeitos físicos, ou seja, aqueles que podem ser percebidos
pelos sentidos do corpo material.
Nos trabalhos mediúnicos, essas energias são utilizadas para a produção de manifestações conhecidas como de
efeitos físicos (materialização, transporte, cura, dentre outras). Os espíritos extraem essa energia e a manipulam,
conforme necessitam para a obtenção do resultado pretendido.