Entre a Terra e o Céu
016 – Novas Experiências
TRECHOS DO CAPÍTULO:
"(...)
Mário Silva, estirado nos lençóis, debalde procurava dormir.
O sonho da véspera castigava-lhe o pensamento.
Ruminando as impressões da manhã, refletia de si para consigo: _ "Seria
realmente Amaro , o rival, quem lhe surgira na forma de um criminoso? E
aquela mulher , Zulmira, a companheira de infância, que ainda lhe feria as
recordações? Onde o motivo de semelhante reencontro? Teimava em afastar para
longe as reminiscências da mocidade... por isso não acreditava estivesse
nele próprio a causa de estranho pesadelo... Permanecia convicto de que
alguém o chamara, nitidamente, pronunciando palaras que o constrangiam a
atender... (...) A chaga do brio retalhado ainda lhe sangrava no coração.
Não seria justo acudi-la nem mesmo a pretexto de socorrer. Conhecia-lhe o
esposo de relance, mas o suficiente para detestá-lo, com todas as reservas
de ódio de que se sentia capaz.(...)
(...)
Se as almas podiam efetivamente reencontrar-se, fora do corpo - prosseguia
divagando -, decerto conseguiria rever o adversário e revidar... Se fora
invocado em sonho, era lícito invocar quem quisesse... Chamaria o renegado
esposo de Zulmira a explicar-se. Concentraria nele o poder do pensamento.
Buscá-lo-ia onde estivesse."
O Ministro contemplava-o, compadecido.
Valendo-se dos minutos para ensinar-nos algo proveitoso, observou:
_ A paixão cega sempre. Nossa vida mental é a nossa vida verdadeira e, por
isso, quando a paixão ocupa a fortaleza íntima nada vemos e nada registramos
senão a própria perturbação.
(...)
_ Qual acontece ao nosso amigo Leonardo, o novo companheiro padece
angustioso complexo de fixação. Embora tenha o seu caso particular, algo
suavizado pelas lutas da carne, que, por vezes, constituem abençoado
entretenimento, não consegue diluir a obcecante recordação do inimigo. A
mágoa é-lhe inquietante ferida mental. Enquanto se distrai nas tarefas
comuns, alheia-se, de alguma sorte, ao tormento oculto que transporta
consigo, mas, em se vendo espiritualmente a sós, dá curso ao ódio coagulado,
desde muito, no coração. Observemo-lo!
(...)
Silva caminhava semi-ébrio, sem direção, contudo, areemessava as palavras no
ar, comveemência e segurança.
Havíamos dobrado esquinas diversas e eis que, quando menos esperávamos,
surge alguém ao encontro dele, em plena via pública.
Copiando o impulso do ferro atraído pelo ímã, o esposo de Zulmira, em seu
corpo sutil, correspondia ao chamado estranho do inimigo, desligado
parcialmente da carne.
(...)
_ Se ainda consagras amor à criatura que desposei, ajuda-nos com a tua
compreensão!... Se te fiz algum mal, inconscientemente, perdoa-me! Perdoa-me
pelas angústias da minha existência de condenado a horríveis provas
morais!...
Mário Silva, com espanto nosso, retribuiu com escandalosa gargalhada.
_ Desculpar? Nunca! - exclamou jactancioso. _ Pelo tom da conversa, concluo
que a justiça começou a expressar-se , devidamente, mas abreviá-la-ei com as
minhas próprias mãos... Meu desforço é certo, meu ódio inexorável!...
Amaro não mais respondeu.
Vimo-lo curvar a cabeça em oração fervorosa(...)
_ Porque silencias, covarde? Fala, fala! Explica-te!... Reage! Dominaste
Zulmira, mas não me dobrarás um milímetro!... Criminosos de tua laia não
merecem compaixão!...
Nessa altura do diálogo Clarêncio convocou-nos , paternal:
_ Respondamos à prece de Amaro, com o auxílio fraterno.
Arrastados pela simpatia e pela emoção, acompanhamos o nosso orientador, sem
hesitar."
QUESTÕES INICIAIS PARA O ESTUDO:
Observamos neste capítulo que o pensamento, o campo mental levou Mário
Silva, durante o sono físico, a procurar seu inimigo. Vamos conversar um
pouco sobre:
1 . Pensamento. O que é? Tem ele força? Qual?
2.. Campo mental é o mesmo que pensamento? Falar sobre campo mental.
3. Mente. O que é? Qual sua importância? Por que?
4. O que é e qual a conseqüência da fixação mental?
5. Como entender a seguinte colocação: "Copiando o impulso do ferro atraído
pela ímã, o esposo de Zulmira, em seu corpo sutil, correspondia ao chamado
estranho do inimigo, desligado parcialmente da carne"?
6.Quais as conseqüências dos sentimentos de: brio, ódio, rancor, mágoa,
desculpa, perdão?
Conclusão
Na noite seguinte, retornando ao lar de Mário Silva, o Esteves do drama originário, os benfeitores Gúbio, André
Luiz e Hilário encontraram-no em busca do sono físico, que somente alcançou após o Ministro aplicar-lhe passes
balsamizantes. Desmembrado do corpo físico, Mário Silva saiu à rua no intento de encontrar Amaro, que
considerava seu desafeto. Os benfeitores acompanharam-no com o propósito de prestar-lhe o auxílio espiritual de
que tanto necessitava, propiciando-nos o episódio a oportunidade de estudarmos alguns fatores importantes que
fazem parte da nossa existência.
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
1.- Pensamento. O que é? Tem ele força? Qual?
O pensamento é uma manifestação do espírito, que, para tanto, utiliza-se de seu livre-arbítrio. Quando o emitimos,
ele se materializa e ganha o espaço, por intermédio do fluido cósmico em que estamos mergulhados. Uma vez
exteriorizado por esse fluido, pode ser recepcionado por outro espírito, encarnado ou desencarnado. Porém, os desencarnados têm maior facilidade de captá-lo, devido ao fato de sua capacidade perceptiva não se encontrar
embaraçada pela matéria densa. Alguns, contudo, têm essa faculdade desenvolvida o bastante para lhes permitir
que, embora encarnados, tenham a percepção do pensamento de outrem.
2.- Campo mental é o mesmo que pensamento? Falar sobre campo mental.
O campo mental ou corpo mental, como preferem alguns autores, tem a sua sede no espírito. Segundo André
Luiz, em outra de suas obras, o livro "Evolução em Dois Mundos", é "o envoltório sutil da mente", ainda não
suscetível de ser definido. Por ora, limitando-nos ao quanto nosso estágio evolutivo permite depreender, podemos
dizer que é a parte do espírito que envolve a mente, mais sutil ainda do que o perispírito. Segundo alguns autores,
seria um quarto elemento de que se compõe o homem, ao lado dos três outros que os Espíritos informaram a
Allan Kardec (espírito, perispírito e corpo físico).
3.- Mente. O que é? Qual sua importância? Por quê?
Em poucas palavras, podemos definir a mente como sendo a parte do espírito que o dirige. É o elemento de maior
importância para ele, chegando, mesmo, alguns, a confundi-la com o próprio espírito. É a responsável pela
produção do pensamento e pela formação do corpo espiritual (perispírito), que a espelha e que, por sua vez, vai
servir de molde à formação do corpo físico. Por tudo isso, podemos dizer que somos o resultado da nossa mente
ou, até, que somos a mente.
4.- O que é e qual a conseqüência da fixação mental?
Podemos entender como fixação mental o pensamento permanente do espírito em determinado sentido, no caso,
um ato do passado. Em geral, ocorre quando o espírito se fixa num ato que praticou contrário às leis naturais e em
detrimento de outrem. Quando o espírito se deixa levar por esse estado, abstrai-se de tudo o mais que acontece
em sua existência, mantendo seu psiquismo fixado unicamente em torno desse fato. É o resultado do julgamento
realizado pelo verdadeiro e único juiz das nossas ações: a nossa consciência.
Quando se encontra nessa situação, a presença da vítima é constante no pensamento do espírito, com o ato
recriminado aparecendo com freqüência em sua tela mental. É inevitável a visita da dor reparadora.
5.- Como entender a seguinte colocação: "Copiando o impulso do ferro atraído pela ímã, o esposo de Zulmira, em
seu corpo sutil, correspondia ao chamado estranho do inimigo, desligado parcialmente da carne"?
Trata-se de imagem figurada criada por André Luiz para demonstrar a força da sintonia espiritual. Tal como o ferro
que é atraído pelo imã, como se expressou o Autor, Amaro, o esposo de Zulmira, foi atraído ao encontro de Mário
Silva pela força do pensamento deste. Como se encontrava extremamente fragilizado, espiritualmente, como ele
próprio afirmou, devido aos problemas enfrentados no lar conjugal, não se encontrava em condições de enfrentar a
força do pensamento do desafeto, deixando-se atrair ao seu encontro. É uma lição que nos ensina que não devemos
nos deixar abater pelas circunstâncias desfavoráveis da vida, pois isso nos enfraquece espiritualmente, abrindo as
para a sintonia com espíritos de baixa faixa vibratória, o que só nos prejudica.
6.- Quais as conseqüências dos sentimentos de: brio, ódio, rancor, mágoa, desculpa, perdão?
São sentimentos inteiramente diferentes. O brio, a desculpa e o perdão são sentimentos nobres, que nos elevam.
O brio sustenta o espírito no enfrentamento das provas, dando-lhe bom ânimo; a desculpa e o perdão o liberam do
vínculo de ressentimento para com alguém que tenhamos eventualmente prejudicado. Já o ódio, o rancor e a mágoa
são sentimentos característicos de espírito ainda muito atrasado em seu processo evolutivo. Intoxicam o perispírito
e, em conseqüência, além de atrasarem a evolução, somatizam para o corpo físico os efeitos deletérios que
produzem.