Entre a Terra e o Céu

010 – Preciosa conversação

Caros amigos,

Segue mais um esclarecedor capítulo da excelente obra de André Luiz.

Um grande abraço a todos !



Livro: Entre a Terra e o Céu
Capítulo X _ Preciosa Conversação


Blandina, que parecia bastante versada nas questões da infância,
associando-se à conversação que Clarêncio desenvolvia, considerou, com
interesse:

- Efetivamente, a Lei é invariável, contudo, a criança desencarnada
muitas vezes é problema aflitivo. Quase sempre dispõe de afeiçoados que
a seguem, de perto, amparando-lhe o destino, entretanto tenho observado
milhares de meninos que, pela natureza das provações em que se
envolveram, sofrem muitíssimo, à espera de oportunidades favoráveis
para a aquisição dos valores de que necessitam.

E sorrindo, bondosa, acrescentou:

- O caso de Júlio não é para mim dos mais dolorosos. Tenho visitado
departamentos de reajuste em que demoram irmãos nossos, arrancados à
carne, violentamente, como frutos verdes da árvore em que se
desenvolvem... Processos de mente enfermiça que só abençoadas estações
regenerativas na carne conseguem curar...

(...)

(...) _ temos para demonstração mais prática os absurdos da megalomania
intelectual. Há pessoas, na Terra, que não se acautelam contra os
desvarios da inteligência e fazem da astúcia e da vaidade o clima em
que respiram. Insistem na inércia do coração, abominam o sentimento
elevado que interpretam por pieguismo e transformam a cabeça num
laboratório de perversão dos valores da vida. Não cuidam senão dos
próprios interesses, não amam senão a si mesmos. Não percebem, contudo,
que se ressecam interiormente e nem imaginam os resultados cruéis da
cerebração para o mal. Freqüentemente, na luta mundana, avultam na
condição de dominadores poderosos, com vastíssimo potencial de
influência sobre amigos e adversários, conhecidos e desconhecidos. Mas,
esse êxito é ilusório. Caem sob o guante da morte com grande alívio dos
contemporâneos e passam a receber-lhes as vibrações de repulsa.
Semelhantes criaturas naturalmente são vítimas de si mesmas e sofrem os
mais complicados desequilíbrios mentais. Depois de períodos mais ou
menos longos de purgação, após a transição da morte, voltam à carne,
necessitados de silêncio e solidão para se desvencilharem dos
envoltórios inferiores em que se enredaram, assim como a semente
precisa do isolamento em cova escura para desintegrar os elementos
pesados que a constringem, para novo desabrochar.


(...)

- Imaginemos que a terra se recusasse a auxiliar as sementes que
esperam reviver. O solo expulsa-las-ia, e, em vez dos germens
libertados para a vitória da plantação, teríamos tão somente pevides
secas, em aflitiva inquietude, desorientando a lavoura. Em verdade, a
maioria das mães é constituída por sublime falange de almas nas mais
belas experiências de amor e sacrifício, carinho e renúncia, dispostas
a sofrer e a morrer pelo bem-estar dos rebentos que a Providência
Divina lhes confiou às mãos ternas e devotadas, contudo há mulheres
cujo coração ainda se encontra em plena sombra. Mais fêmeas que mães,
jazem obcecadas pela idéia do prazer e da posse e, despreocupado-se dos
filhinhos, lhes favorecem a morte. O infanticídio inconsciente e
indireto é largamente praticado no mundo. E como o débito reclama
resgate, as delongas na solução dos compromissos assumidos acarretam
enormes padecimentos nas criaturas que se submetem aos choques
biológicos da reencarnação e vêem prejudicadas as suas esperanças de
quitação com a Lei.

Ante a pausa que se fizera natural, inquiri:

- Mas a Lei não traçará princípios inamovíveis ? Pretenderá a irmã
dizer que uma criança pode desencarnar, fora do dia indicado para sua
libertação ?

- Sim, sem dúvida _ atalhou o Ministro, que nos escutava -, há um
programa estruturado na Espiritualidade para as nossas tarefas humanas,
entretanto, pertence-nos a condução dos próprios impulsos dentro delas.
Em regra geral, multidões de criaturas cedo se afastam do veículo
carnal, atendendo a serviços de socorro e sublimação, mas, em numerosas
circunstâncias, a negligência e a irreflexão dos pais são responsáveis
pelo fracasso dos filhinhos.

- Aqui _ explicou Blandina, delicada _ recebemos muitas solicitações de
assistência, a benefício de pequeninos ameaçados de frustração. Temos
irmãs que por nutrirem pensamentos infelizes envenenam o leite materno,
comprometendo a estabilidade orgânica dos recém-natos; vemos casais
que, através de rixas incessantes, projetam raios magnéticos de
natureza mortal sobre os filhinhos tenros, arruinando-lhes a saúde, e
encontramos mulheres invigilantes que confiam o lar a pessoas ainda
animalizadas, que, à cata de satisfações doentias, não se envergonham
de ministrar hipnóticos a entezinhos frágeis, que reclamam desvelado
carinho... Em algumas ocasiões, conseguimos restabelecer a harmonia,
com a recuperação desejável, no entanto, muitas vezes somos
constrangidas a assistir no malogro de nossos melhores propósitos.

- Nesses casos... _ interferi, buscando maiores esclarecimentos.

(...)

- Nesses casos, ainda e sempre, a Lei é invariável. As provas e tarefas
sofrem dilação no tempo, mas serão cumpridas, afinal. Aquilo que não se
realiza num século, pode efetuar-se em outro. Nossa boa vontade e nossa
aplicação aos Desígnios Divinos podem abreviar qualquer espécie de
serviço. Quem persiste na direção do bem, mais cedo atinge a vitória.

(...)

- Não vale fugir às responsabilidades, porque o tempo é inflexível e
porque o trabalho que nos compete não será tranferido a ninguém.

Hilário, que acompanhava a conversação com extremo interesse,
considerou:

- Antigamente, na Terra, conforme a teologia clássica, supúnhamos que
os inocentes, depois da morte, permaneciam recolhidos ao descanso do
limbo, sem a glória do Céu e sem o tormento do inferno, e, nos últimos
tempos, com as novas concepções do Espiritualismo, acreditávamos que o
menino desencarnado retomasse, de imediato, a sua personalidade de
adulto...

- Em muitas situações, é o que acontece _ esclareceu Blandina, afetuosa
-; quando o Espírito já alcançou elevada classe evolutiva, assumindo o
comando mental de si mesmo, adquire o poder de facilmente desprender-se
das imposições da forma, superando as dificuldades da desencarnação
prematura. Conhecemos grandes almas que renasceram na Terra por
brevíssimo prazo, simplesmente com o objetivo de acordar corações
queridos para a aquisição de valores morais, recobrando, logo após o
serviço levado a efeito, a respectiva apresentação que lhes era
costumeira. Contudo, para a grande maioria das crianças que
desencarnam, o caminho não é o mesmo. Almas ainda encarregadas no
automatismo inconsciente, acham-se relativamente longe do autogoverno.
Jazem conduzidas pela Natureza, à maneira das criancinhas no colo
maternal. Não sabem desatar os laços que as aprisionam aos rígidos
princípios que orientam o mundo das formas e, por isso, exigem tempo
para se renovarem no justo desenvolvimento. É por esse motivo que não
podemos prescindir dos períodos de recuperação para quem se afasta do
veículo físico, na fase infantil, de vez que, depois do conflito
biológico da reencarnação ou da desencarnação, para quantos se acham
nos primeiros degraus da conquista de poder mental, o tempo deve
funcionar como elemento indispensável de restauração. E a variação
desse tempo dependerá da aplicação pessoal do aprendiz à aquisição de
luz interior, através do próprio aperfeiçoamento moral.

Encantava-nos a exposição clara e simples de nossa interlocutora, cuja
palavra tangia com tanta felicidade graves problemas da vida.

Em suas formas verbais singelas e acessíveis, penetrávamos inquietantes
enigmas da puericultura.

Blandina sabia associar a compreensão e a graça, instruindo-nos com
discernimento.

Comovido, diante das anotações que lhe definiam a valiosa posição
cultural, ponderei:

- Usando semelhantes apontamentos, podemos entender, com mais
segurança, os processos dolorosos das enfermidades congênitas e das
moléstias insidiosas que assaltam a meninice no mundo. Sempre fui
possuído de aflitivo assombro, à frente do mongolismo e da epilepsia,
da encefalite letárgica e da meningite, da lepra e do câncer, na tenra
organização infantil...

- E que dizer dos desastres irremediáveis _ considerou Hilário, com
emoção -, dos desastres que arrebatam adoráveis flores do lar, deixando
inconsoláveis pais e mães ? Por vezes numerosas, procurei resposta às
terríveis inquirições que nos atormentam, perante corpinhos
dilacerados, nos hospitais de sangue, sem conseguir ausentar-me do
escuro labirinto.

- Sim _ esclareceu a enfermeira, bondosa -, as reparações nos
martirizam na carne, mas, sem elas, não atingiríamos o próprio
reajustamento.

- Cada qual de nós renasce na Terra _ apreciou o Ministro _ a exprimir
na matéria densa o patrimônio de bens ou males que incorporamos aos
tecidos sutis da alma. A patogenia, na essência, envolve estudos que
remontam ao corpo espiritual, para que não seja um quadro de conclusões
falhas ou de todo irreais. Voltando à Terra, atraídos os acontecimentos
agradáveis ou desagradáveis, segundo os títulos de trabalho que já
conquistamos ou conforme as nossas necessidades de redenação.

Bem humorado, acrescentou:

A carne, de certo modo, em muitas circunstâncias não é apenas um vaso
divino para o crescimento de nossas potencialidades, mas também uma
espécie de carvão milagroso, absorvendo-nos os tóxicos e resíduos de
sombra que trazemos ao corpo substancial.

Reparei, então, com mais insistência, a figura suave de Blandina.
Porque se dedicara ela, assim, a trabalhos tão complexos ? Não seria
mais justo ouvir aquela conversação dos lábios da simpática Mariana,
que ali se achava, junto de nós, em sua posição de matrona respeitável
? Externei os meus pensamentos, perguntando, com discrição, à jovem o
porquê da grave tarefa de que se incumbia.

Blandina apagou a luz do sorriso que lhe adornava o semblante, como
flor aberta que se fechasse, de súbito.

Pesado silêncio pairou no recinto.

Mas, generosa e simples, adoçou a expressão fisionômica e falou, quase
conselheiral:

- Fui casada em minha última existência e somente há três anos
terrestres me vejo, de novo, na vida espiritual. Não pude acariciar um
filhinho, em meus sonhos recentes de mulher, mas hoje sei que preciso
reeducar-me no amor de mãe, consoante os débitos que contraí no
passado. Realmente, sinto grande afeição pelas crianças, contudo, tenho
igualmente enormes dívidas morais para com elas...

O assunto descambava para um círculo particular, que devia ser sagrado
aos nossos olhos.

Por isso mesmo, Clarêncio fez mudo sinal para mim e a conversação foi
canalizada para outro rumo.

Questões para estudo:

1) Neste capítulo, verificamos a importância do comportamento cristão
dos pais no que se refere ao tratamento, zelo e dedicação aos seus
filhos (decisivos para a sobrevivência dos pequenos). Comente:

2) Uma criança pode desencarnar fora do dia indicado para sua
libertação. Como isso é possível ? Quais as consequencias para os pais
?

3) Comente as seguintes frases:

a) _O infanticídio inconsciente e indireto é largamente praticado no
mundo. E como o débito reclama resgate, as delongas na solução dos
compromissos assumidos acarretam enormes padecimentos nas criaturas que
se submetem aos choques biológicos da reencarnação e vêem prejudicadas
as suas esperanças de quitação com a Lei._

b) _A carne, de certo modo, em muitas circunstâncias não é apenas um
vaso divino para o crescimento de nossas potencialidades, mas também
uma espécie de carvão milagroso, absorvendo-nos os tóxicos e resíduos
de sombra que trazemos ao corpo substancial._

4) Qual a diferença do desencarne de uma criança com espírito já
evoluído, daquela relativamente longe de seu autogoverno ?


Que Jesus, nosso mestre ilumine a todos em nossos estudos !

(Alexandre Paoli – colaborador de estudos Nosso Lar CVDEE)

Conclusão

Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo - CVDEE

www.cvdee.org.br - Sala Virtual de Estudos Nosso Lar

Estudo das obras de André Luiz


Livro em estudo: Entre a Terra e o Céu
Tema: Preciosa conversação
Referência: Capítulo X
Dia: 14/03/02




C O N C L U S Ã O


Prosseguindo a visita ao "Lar da Bênção", instituição que se dedica ao amparo e tratamento de espíritos que
desencarnam quando o corpo físico ainda se encontra na condição de criança, André Luiz e a equipe de benfeitores
dirigida por Clarêncio travam interessante conversa com Blandina, a benfeitora responsável pelos serviços. O tema
da conversa versou sobre a desencarnação de crianças, dando oportunidade a que o Autor nos transmita os valiosos
ensinamentos que recebeu a respeito do assunto.


QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO


1) Neste capítulo, verificamos a importância do comportamento cristão dos pais no que se refere ao tratamento, zelo
e dedicação aos seus filhos (decisivos para a sobrevivência dos pequenos). Comente.

No livro "Conduta Espírita", no capítulo referente à criança, André Luiz traça algumas normas que devemos adotar na
educação dos nossos filhos. Recomenda o Autor, dentre outras coisas:

"Na meninice corpórea, o Espírito encontra ensejo de renovar as bases da própria vida. Os pais
espíritas podem e devem matricular os filhos nas escolas de moral espírita cristã, para que os
companheiros recém-encarnados possam iniciar com segurança a nova experiência terrena.

Distribuir incessantemente as obras infantis da literatura espírita, de autores encarnados e
desencarnados, colaborando de modo efetivo na implantação essencial da Verdade Eterna. O
livro edificante vacina a mente infantil contra o mal.

A noção de responsabilidade nos deveres mínimos é o ponto de partida para o cumprimento das
grandes obrigações.Não permitir que as crianças participem de reuniões ou festas que lhes
conspurquem os sentimentos, e, em nenhuma oportunidade, oferecer-lhes presentes suscetíveis
de incentivar-lhes qualquer atitude agressiva ou belicosa, tanto em brinquedos quanto em
publicações.

A criança sofre de maneira profunda a influência do meio."


2) Uma criança pode desencarnar fora do dia indicado para sua libertação. Como isso é possível? Quais conseqüências
para os pais?

Conforme explicou Clarêncio, embora haja uma programação traçada na espiritualidade antes da reencarnação, muitos
espíritos deixam o veículo físico antes do tempo previsto, em idade ainda infantil, em conseqüência da negligência e da
irresponsabilidade dos pais. O relacionamento conflituoso dos pais, o cultivo de pensamentos contrários à Lei Natural,
a invigilância e o tratamento hostil dedicado aos filhos são circunstâncias que provocam nos menores uma impregnação
de fluidos deletérios que somatizam em seus corpos físicos, causando-lhes danos à saúde.


3) Comente as seguintes frases:


a) "O infanticídio inconsciente e indireto é largamente praticado no mundo. E como o débito reclama resgate, as
delongas na solução dos compromissos assumidos acarretam enormes padecimentos nas criaturas que se submetem
aos choques biológicos da reencarnação e vêem prejudicadas as suas esperanças de quitação com a Lei."

A desencarnação prematura do menor, quando não se dá em obediência a um programa previamente elaborado, quando
ocorre na hipótese acima descrita, frustra o espírito que está retornando para satisfazer resgate de débito contraído em
passagem pretérita. Esse débito, no entanto, não se apaga. Permanece pendente de acerto de conta e, inevitavelmente,
deverá ser saldado em futura reencarnação. A demora em obter a quitação para com a Lei causa ao espírito enormes
padecimentos, pois prolonga o sofrimento por que passam todos os endividados, ficando estagnada sua evolução.


b) "A carne, de certo modo, em muitas circunstâncias não é apenas um vaso divino para o crescimento de nossas potencialidades, mas também uma espécie de carvão milagroso, absorvendo-nos os tóxicos e resíduos de sombra que
trazemos ao corpo substancial."

O corpo físico que recebemos graças à misericórdia de Deus não serve apenas para o espírito desenvolver suas potencialidades, evoluindo em direção ao progresso. Funciona, também, como que uma espécie de esponja, que absorve
as lesões perispirituais causadas pelo descumprimento da Lei no passado. Purgando essas feridas de seu perispírito, o
espírito se livra de suas conseqüências danosas, ficando liberado para, em encarnação vindoura, plasmar um corpo físico
sadio, que lhe servirá de instrumento para desenvolver as potencialidades que o levarão à evolução.


4) Qual a diferença do desencarne de uma criança com espírito já evoluído, daquela relativamente longe de seu auto-
-governo?

Quando o espírito já alcançou alguma elevação, exercendo pleno domínio de sua mente, consegue, mais rapidamente,
libertar-se das impressões físicas da última existência terrena. Nesse caso, superando sem maiores dificuldades o
trauma que a desencarnação prematura pode ocasionar, pela força do seu pensamento recobra a forma com que se
apresentava anteriormente à reencarnação. Segundo a benfeitora Blandina, todavia, essa não é a situação na maioria
dos casos. A grande maioria das crianças que desencarnam ainda se encontram sujeitas ao automatismo inconsciente,
sem condições de se auto-governar. Com seu psiquismo preso aos acontecimentos do passado, não possuem força
mental para, de pronto, retomarem a forma anterior. Permanecem, no plano espiritual, psiquicamente infantis,
requerendo tratamento restaurador para se recuperarem, através de seu aperfeiçoamento moral, do choque biológico da reencarnação e da desencarnação, dois momentos que, como sabemos, causam perturbação para o espírito.


Muita paz a todos.

Sala Nosso Lar
CVDEE